Jorge Viegas: as grandes conquistas e novidades que nos reserva a FIM

Maio 19, 2022

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Jorge Viegas: as grandes conquistas e novidades que nos reserva a FIM 12

A terceira e última parte da nossa conversa com o Presidente da FIM é a mais vibrante. As revelações e surpresas são muitas da parte de quem pensou em tudo e executou ao milímetro, não obstante as vagas alterosas que o foram surpreendendo ao longo do mandato.

A reeleição do gestor português está cada vez mais no horizonte e a obra tem vindo a ficar feita. Mas o que falta ainda contar?

  • Texto: Fernando Pedrinho
  • Fotos: KTM Racing, Ducati Corse, Ten Kate Yamaha, Discovery, Suzuki Racing, GP One, ETS Racing, FIM e Fernando Pedrinho
Manuel Lettenbichler Red Bull KTM Factory Racing EC300 TPI @ HEWC Getzenrodeo Drebach ALEM 2021 10 30 1 - MotoX
Manuel Lettenbichler com a KTM 300EXC no Erzbergrodeo.

Os assuntos discorreram como uma folha levada pela brisa. E do mototurismo ou da mobilidade urbana nem deu tempo para falar. Tocámos no extinto campeonato paralelo WESS, que agora está chancelado pela FIM sobre o nome de ‘Hard Enduro’. “Tomou-me dois anos de conversações com a KTM e a Red Bull para conseguir trazê-los até nós”, revelou Jorge Viegas.

O natural de Faro não se tem cansado, por outro lado, de investir na parte técnica, pois “era uma área praticamente inexistente no seio da FIM. Contratei o Ludovic Reignier, que era o responsável da parte eletrónica de todo o universo Yamaha, desde o Dakar ao MotoGP, o qual iniciou funções há muito pouco tempo e já esteve nas 24 Horas de Le Mans”, como coordenador técnico.

Nicolo Bulega Auraba.it Racing WorldSSP Panigale V2 @ WSSP teste Jerez de la Frontera ESPA 2021 11 24 1 - MotoX
Nicolò Bulega e a Ducati V2 Panigale, um dos modelos da Nova Geração do Mundial de Supersport.

Supersport Nova Geração: sucesso à primeira?

Tive o privilégio de ouvir da boca de Jorge Viegas e publicar, em primeira mão, que o Mundial de Supersport iria mudar a sua regulamentação de uma forma substancial, de forma a melhor refletir a realidade. Foi há três e o Presidente da FIM cumpriu a promessa. Os modelos homologados como ‘Nova Geração’ estão a entrar bem no campeonato e é expectável que mais marcas queiram também aderir. “A Honda vai vir, quase de certeza”, rematou Jorge Viegas, “e a KTM também tem modelos competitivos. Estamos muito abertos a alterar o regulamento a meio da época se for necessário. Se virmos que há preponderância de um modelo face aos restantes, nós atuaremos. Tem de haver equilíbrio, senão não vale a pena”.

Mas qual foi a filosofia por detrás do câmbio mais radical de sempre alguma vez experimentado pelas Supersport? “Muito simplesmente, agarrar nas motos que se vendem e pô-las a correr! De outra forma, só iríamos ter Yamaha e Kawasaki a vida toda. Por outro lado, deixa de haver o tabu da cilindrada: nenhuma destas motos novas tem motor de 600cc. As 600cc deixaram de se vender. Foi tudo feito em concertação com a Dorna e a FIM, mas ainda há alguma contestação, nomeadamente da Yamaha.

Dominique Aegerter Ten Kate Yamaha YZF R6 @ WSSP Mandalika Lombok INDO 2021 11 20 by Ten Kate Yamaha 1 - MotoX
Por quanto mais tempo irá a Yamaha YZF-R6 dominar a cena mundial das Supersport?

Recebi cartas com um conteúdo violentíssimo enviadas pelo Éric de Seynes, o presidente da Yamaha Motor Europe, contra a entrada das Ducati com mil de cilindrada, as Triumph e MV Agusta, com motores de 800cc. O pessoal da Ducati ficou chateado por chegarem e não vencerem logo de entrada. Ainda assim, a Yamaha [com a campeoníssima YZF-R6] ainda está no topo da categoria com corridas muito giras de seguir. Tive oportunidade de dar os parabéns ao Éric depois da primeira corrida do Mundial e ele ficou um pouco encalacrado”.

Corridas equilibradas são o ponto fundamental de qualquer categoria que integre um mundial. “Nas Superbike é uma loucura”, anuiu Jorge Viegas “e quando estive agora nas 24 Horas de Le Mans, e nas primeiras quatro horas, os seis primeiros lugares eram ocupados por modelos de outras tantas marcas. É raríssimo que isto aconteça. Em MotoGP consegue-se ter três ou quatro marcas, mas seis fabricantes nos seis primeiros lugares durante tanto tempo é uma coisa rara de se ver”.

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Enduro com toque nacional, Speedway vai arrasar

“Temos um novo promotor do Mundial de Enduro, que por acaso até é uma empresa portuguesa: a Prime Stadium. Estou esperançado que vai ser um grande campeonato e a adesão dos patrocinadores tem sido considerável. Realizámos um grande trabalho nos dois últimos anos para levantar o Mundial de Enduro, ao ponto de termos sido o promotor do mesmo nesse período.

Temos, também, um novo promotor, que é só a maior empresa do mundo de entretenimento, a Discovery, para o Mundial de Speedway. Vocês nem imaginam o que vão ser as boxes e o ‘paddock’ deste campeonato. Eles levam toneladas de material para cada prova e vai ter uma imagem… ao nível do MotoGP. Depois da Dorna é o maior patrocinador que temos e os pilotos ficaram maravilhados com o que viram na apresentação que fizemos na Polónia. Vai ser uma coisa de primeiríssima qualidade”.

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Reabastecimento da Suzuki GSX-R1000R da Yoshimura SERT, em Le Mans.

Mundial de Resistência a subir de forma incrível

A Discovery junta assim ao EWC, o Mundial de Resistência, a fórmula dedicada às longas derrapagens em ovais de terra. “O Mundial de Resistência também tem vindo a subir de uma forma incrível”, recordou Jorge Viegas. “É cada vez menos francês e quando olhas para a classificação já não vês aquela hegemonia das equipas gaulesas”, mesmo tendo sido uma equipa do país do galo, a Yoshimura SERT a vencer a última edição das 24 Horas de Le Mans. “A Yoshimura SERT é uma equipa nipo-francesa que encerra um pormenor deveras interessante. Numa vitória toca o hino francês, mas na vitória seguinte será a vez do hino japonês. Só para veres, na vitória que alcançaram nas 24 Horas de Le Mans, subiram ao pódio e soou o hino japonês. Mas tens lá a BMW, a Ducati, equipas alemãs, austríacas e italianas. É verdade que o ADN da resistência ainda tem muito de francês, mas se olhares para as equipas da frente há algumas que só têm um piloto dessa nacionalidade, ou mesmo nenhum”.

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Os combustíveis de competição não fósseis perdem apenas um cavalo

A Dorna e a FIM apresentaram já perto do final do ano passado,  a intenção de terem as motos de MotoGP a utilizarem combustíveis de origem não fóssil: 40% da composição já em 2024 e 100% sintético a partir de 2027. Simples manobra de marketing ou já está algo de concreto a ser feito para se atingirem esses objetivos? “Bem pelo contrário, até é possível que se venham a antecipar essas metas”, revelou o Presidente da FIM. Cada uma das marcas que integram a respetiva associação, a MSMA, tem uma companhia petrolífera associada e estão todos a trabalhar nestes e-combustíveis, chamados de sintéticos, cuja combustão é quase isenta de emissões. Ainda ontem falava com o Hervé Poncharal que me disse que com os 40% de componente sintética perderam apenas um cavalo de potência e aumentaram o consumo em somente 1%, tudo isto numa fase ainda embrionária de desenvolvimento. Mas repara numa coisa: a competição motociclista representa ‘zero’ em termos de emissões.

Capture Shell - MotoX
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Qualquer Jumbo a voar para os EUA, qualquer jogo de futebol, com todos os espetadores a deslocarem-se para o estádio, emitem muito mais emissões que qualquer um dos nossos campeonatos. Contudo, nós temos de mostrar o exemplo, que somos líderes de tecnologia e de forma alguma alheios ao problema do aquecimento global, pois nenhum de nós quer acabar como o frango no espeto. Temos de fazer a nossa parte, como te dizia antes em relação à Rússia, porque nós somos olhados com muito mais atenção que uma qualquer empresa ou um simples cidadão. Por isso, vamos mesmo avançar com os combustíveis sem emissões e tenho, simultaneamente, muita confiança que a questão do hidrogénio verde se desenvolva muito mais depressa do que se imagina. Hoje não é possível optar pelo hidrogénio, porque as motos necessitariam de ter um depósito com o dobro da capacidade para garantir a mesma autonomia, mas acredito muito na tecnologia e havemos de lá chegar. Os maiores investimentos mundiais do setor energético estão a ser feitos no hidrogénio”.

FIM sede - MotoX
A sede da FIM, em Mies, na Suíça

O que ainda falta fazer

Apesar de se encontrar a caminho do final de mandato, o ‘road map’ de Jorge Viegas permanece inalterado e com coisas ainda por fazer. “Em Agosto vamos começar a construção da nova sede da FIM, para permitir que a atual seja transformada no Museu da Moto Desportiva. Eu sempre quis fazer um museu porque há muitos colecionadores que querem doar as motos de competição, fatos, capacetes e muitas histórias. Foi aí que olhámos para o edifício atualmente ocupado pela FIM, que tem um formato cilíndrico e não está, de todo, adaptado para a utilização para escritórios. Tem problemas de climatização e de espaço, pois crescemos muito. Por isso, decidimos ao contrário, antes pela transformação desse cilindro num museu, pois tem o formato ideal para um museu de motos”, um pouco ao estilo do Barber Motorsports Museum, em Leeds, no Alabama, ou do Museu BMW, em Munique. “Onde temos o atual parque de estacionamento, vamos então edificar uma sede que vai ser fabulosa, com um laboratório técnico como deve ser e condições ótimas para toda a gente. Curiosamente, o arquiteto é português, apesar de viver em Lausanne”.

FIM logo - MotoX

O projeto é para estar concluído em 2024, o ano em que a FIM comemora 120 anos de existência. Para além da nova sede e do já referido museu, “também iremos apresentar um novo logotipo, o livro dedicado aos 120 anos e uma novidade, quando ainda não te posso revelar porque não foi apresentada à direção, mas que se trata de uma nova competição desportiva. É um projeto que tenho desde há 20 anos, mas que só agora viu reunidas todas as condições para andar para a frente. Pretendo apresentá-lo na Assembleia Geral, depois das reuniões, e tenho a certeza que irá perdurar durante muitos anos”.

Jorge Viegas não esconde de ninguém que quer ficar na atual posição por mais quatro anos e “vou fazer por isso. Apenas gostava de ter um mandato mais sossegado”. Boa sorte, Jorge!

JV FIM - MotoX
Estacionamento à vista… por mais quatro anos.

Pode ler as partes anteriores desta entrevista em:

Primeira parte – https://motox.pt/jorge-viegas-e-o-estado-da-nacao-fim/

Segunda parte – https://motox.pt/jorge-viegas-do-novo-mundial-de-supercrosse-a-seguranca-dos-pilotos/

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