WorldSBK: soltas do Estoril
Autor: Fernando Pedrinho
Maio 21, 2022
O Mundial de Superbike está de regresso a Portugal, com a terceira ronda a decorrer no traçado do Estoril, encaixado entre as praias da Linha e a serra de Sintra. O campeão do mundo, Toprak Razgatlioglu, chega com sede de sangue, depois de seis corridas em que ainda não ganhou, mas com cinco pódios, algo…


O Mundial de Superbike está de regresso a Portugal, com a terceira ronda a decorrer no traçado do Estoril, encaixado entre as praias da Linha e a serra de Sintra. O campeão do mundo, Toprak Razgatlioglu, chega com sede de sangue, depois de seis corridas em que ainda não ganhou, mas com cinco pódios, algo bem melhor que o arranque da temporada do passado ano. O Estoril é do seu agrado e também da proverbial capacidade das Yamaha YZF-R1 em curvarem. É um dos principais favoritos à vitória.
- Texto: Fernando Pedrinho
- Fotos: WorldSBK
O turco já deitou para trás das costas o incidente de Assen, protagonizado com Jonatan Rea, bem como a pressão da placa que o número um que ‘carrega’ no frontal da sua Yamaha exerce sobre qualquer campeão mundial. “Eu gosto deste circuito, mas ainda estamos em busca das melhores afinações”, disse o piloto turco. As enormes “éguas” que são a sua marca registada, estão de volta. “Estou com muita confiança e agora tenho pela frente as minhas pistas favoritas, como o Estoril. Preciso de me divertir em cima da moto e é por isso que estou a pilotar melhor”, em clara referência ao que se passou na prova inaugural do Mundial de Superbike, realizada em Aragão.

Questionado sobre o que necessita para a sua Yamaha, respondeu ‘à Toprak’, de forma curta e concisa: ” a travagem. Preciso de maior capacidade de travagem (risos)”. E a pressão do número 1? “Senti na primeira corrida, mas já passou, especialmente depois da queda de Assen. Esqueci o número e só me quero concentrar em fazer o meu trabalho”. E de tal maneira o fez que bateu por duas vezes o recorde do Estoril, rodando mesmo em 1’36” 233 na manhã de Sábado.
Toprak vai, finalmente, ensaiar a YZR-M1 em Junho, conforme anunciou o ‘patrão’ do programa desportivo da Yamaha, Lin Jarvis. “Sim, mas não te vou dizer em que pista (risos). Mas isso não importa, agora tenho é de concentrar-me nas Superbike. Tenho de ver se gosto da moto ou não”. Em conversa posterior com o seu chefe de equipa, Phil Marron, o irlandês disse-me que a adaptação a um protótipo de MotoGP não vai ser problema. “O Toprak é o maior talento que alguma vez vi neste ‘paddock’”, rematou.

Bautista chega na frente
Capitalizando a guerra de galos da prova neerlandesa, Álvaro Bautista veio de carro para prova portuguesa e trouxe a família. Sem nunca ter pilotado a Panigale V4R no Estoril, o talaverano é apontado com um dos favoritos, dada a maturidade que trouxe para o reencontro com a tetracilíndrica italiana e a velocidade atingida pela moto vermelha na longa reta do circuito da Linha: 323 km/h – ainda que Xavi Vierge tenha alcançado os 330 na CBR1000RR-R Fireblade SP oficial. Ainda esta semana, Ben Spies, o primeiro campeão mundial de Superbike pela Yamaha, afirmou que nenhum piloto consegue pilotar a Ducati como Álvaro, e ser capaz de extrair tamanha capacidade de tração do poderoso V4.

“Arranquei com o ‘set-up’ de Domingo que utilizámos em Assen e à tarde alterei as relações de caixa, pois não tenho qualquer referência com esta moto nesta pista, optando pelas afinações dos testes de Inverno”, pois nos últimos dois anos alinhou com a Honda do Team HRC. “Nesta pista é mais importante ter um bom ritmo de corrida do que ser capaz de fazer a volta mais rápida”, salientou. “O pneu traseiro não decai muito de rendimento”, ao contrário de outras pistas, “pelo que se conseguires uma ou duas décimas de vantagem por volta, fica complicado para os adversários recuperarem ao longo da corrida”. Ombreando com Toprak, a prestação de Álvaro não o surpreendeu. “Conheço bem o circuito e as suas referências. É a nossa posição: entre os três primeiros”.

Jonathan Rea à espreita
O hexa-campeão mundial vem à espreita de um bom resultado, tendo vencido em ambas as rondas anteriores, depois do incidente de Assen. “A Dorna tentou criar um teatro à volta disso”, disse Jonathan. “Esperavam um confronto na conferência de imprensa, mas cheguei atrasado de propósito para me cruzar com o Toprak. Dei-lhe um aperto de mão e um breve abraço, como sempre fazemos e ficámos a falar sobre travagem e coisas do género. Trocámos algumas mensagens e o assunto foi encerrado: foi um acidente de corrida. Ele é tão duro quanto eu. Temos de nos respeitar na pista, mas o mais chato é que ambos perdemos pontos para o campeonato. Não há nada de dramático e ele também está bem com isso.”
A gestão dos pneus é aspeto fundamental para a qualificação e corrida. “Com o lote de pneus que tens à disposição, com um a menos face ao ano passado, pode acontecer que nem sempre tenhas o melhor à tua disposição, pelo que a estratégia de gestão das borrachas é muito importante. O ritmo está lá e como esperávamos com o Álvaro e o Toprak”. Jonathan frisou que “é fundamental aproveita o potencial de um pneu novo, sobretudo na qualificação, pois só assim se pode garantir um lugar na linha da frente. Perdemos este potencial na nossa moto e ainda não percebemos a razão. Conseguimos utilizar o pneu traseiro por mais voltas, o que é bom para a corrida, mas não o ideal para a qualificação”. A tal ponto que Rea acredita que o problema entre as duas situações poderá estar na “rigidez da moto em áreas específicas. Talvez outro braço oscilante possa ajudar” a extrair todo o potencial do pneu traseiro logo de início na qualificação”.
Mas o contentamento na cara do norte-irlandês era evidente. “Quando vi 1’36”2 disse: f***-se isto é andar muito rápido. Ainda tentei melhorar mas nem por sombras”. Se o vento não foi problema para Jonathan, já o mesmo não se pode dizer do asfalto do Estoril, opinião que Loris Baz também partilhou comigo em privado. “A saída da chicane e depois a direita e esquerda”, que levam à Parabólica, “estão cheias de ressaltos, mas fora isso, tudo bem”. A proverbial consistência de Rea e da Kawasaki – “o melhor Jonathan de sempre”, com dizia Pere Riba – podem fazer a diferença.

Pole para Rea
No Sábado o vento mudou, passou a soprar de sul, a temperatura ambiente desceu para os 18ºC (32 na sexta) e a do asfalto para 26ºC. Condições ideais para Jonathan Rea pulverizar o recorde da pista do Estoril (Toprak havia feito 1’36″584 e Jorge Lorenzo, com a Yamaha YZR-M1 800 havia rodado, em 2012, em 1’39″909). Jonathan conseguiu, assim, utilizar todo o potencial da borracha de qualificação na primeira volta com o Pirelli SCQ, com Razgatlioglu a ficar a umas meras 91 milésimas.

Lesionados
O Estoril está a mostrar-se aziago para a grelha das Superbike, com uma razia autêntica a dizimar alguns pilotos. Roberto foi o primeiro a falhar o evento português, depois de um embate com um piloto que circulava devagar numa sessão de treinos em Itália. Acabou por ser substituído pelo homem da YART, Marvin Fritz, no seio da Yamaha MotoXracing.
A FP1 revelou-se dramática para Michael van der Mark, cujo ‘high side’ após a curva da variante, que resultou na fratura do colo do fémur esquerdo. “Mickey” que vinha de uma lesão séria no tornozelo, também esquerdo, após uma queda enquanto treinava de bicicleta. A sua época está definitivamente comprometida, algo que também prejudica seriamente o desenvolvimento da M1000RR da equipa oficial, que terá de de se valer de Scott Redding e dos dois recrutas da Bonovo MGR, Loris Baz e Eugene Laverty.

Na FP2 ficou Philipp Öetl, da GoEleven, onde um ‘high side’ na Parabólica lhe provocou a fratura da clavícula direita. Acabou por ser substituído, à última hora, por um piloto da equipa Ducati do Mundial de Resistência, Xavi Forés.

Já no Sábado de manhã, o azar bateu à porta de Garrett Gerloff, da GYTR GRT Yamaha, que viu a sua YZF-R1 deitá-lo fora na parte final da Parabólica, lesionando o joelho esquerdo.
O Mundial está ao rubro e o Estoril não constitui a exceção à regra.
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