Walter Scheffrahn. A Lambretta é eterna
Autor: Alberto Pires
Julho 27, 2024
A presença de Walter Scheffrahn no relançamento da Lambretta em Portugal através da Moteo, permitiu mergulhar na história do renascer da marca em 2017. Que tem um valor histórico referencial patente no museu Lambretta, em Milão. Onde uma coleção única oferece não só uma viagem pelo universo das scooters como, seguramente, define as fronteiras do…

A presença de Walter Scheffrahn no relançamento da Lambretta em Portugal através da Moteo, permitiu mergulhar na história do renascer da marca em 2017. Que tem um valor histórico referencial patente no museu Lambretta, em Milão. Onde uma coleção única oferece não só uma viagem pelo universo das scooters como, seguramente, define as fronteiras do seu espírito. Uma conversa interessante para os amantes da histórica marca italiana, mas não só.

- Por: Alberto Pires
- Fotos: Rui Jorge/Moteo
MotoX – A afirmação estética para a nova vida da Lambretta começou por ser entregue ao estúdio de design de Gerald Kiska. Qual a razão para terem preferido outro rumo?
Walter Scheffrahn – Acho muito importante que as pessoas que estão, ou venham a estar ligadas a este projeto, compreendam a marca, que se envolvam e que a vivam. A ligação com a Lambretta tem de assemelhar-se à de um matrimónio. Quando algo corre mal tem de ser resolvido, mas onde aos poucos se cria algo profundo e único. Por vezes isso não é entendido, não ultrapassando a componente empresarial, e isso, na Lambretta, não funciona.

MotoX – Uma espécie de ligação espiritual…
W. S. – Tenho que ser cuidadoso com as palavras, mas acredito que é algo mais do que um produto que se coloca no mercado e que temos de o trabalhar.
MotoX – Quem ficou então com a responsabilidade de definir o seu design?
W. S. – Devendo ser humilde, tenho de dizer que estive na sua criação. Fizemos desenhos, escolhemos os desenhos, criámos o modelo à escala e eu tive a última palavra no final.
Questão de conceitos
MotoX – Ou seja, Walter Scheffrahn esteve presente em todas as fases do projeto…
W. S. – Sim, e apenas porque não conseguia transmitir com exatidão o que queria. Dessa maneira protegi-me de eventuais rumos que seriam depois difíceis de gerir ou de voltar atrás. O design é uma área muito difícil porque há coisas que podem ser aceites agora e mais tarde já não. Pode parecer muito agradável agora, mas um ano depois já não. Ou seja, o design tem de ser intemporal.
MotoX – Qual foi o elemento mais importante para o conceito da nova Lambretta?
W. S. – Eu não consigo individualizar apenas uma parte da minha ideia, trata-se de um conjunto que se homogeneíza. Visitando o museu da marca é possível perceber a sua origem e de que forma é que se interliga. A minha função é preencher os espaços vazios por forma a que se unam, respeitando permanentemente a herança, que acaba por ser o fio condutor de todo o projeto.
Eu tive algumas dificuldades com o meu designer pois ele queria ir numa direção e eu noutra. Por vezes dizia-me que a minha opinião era apenas a minha, que havia outras, mas eu dizia-lhe que, no final, quem tinha de prestar contas era eu. Assumi o seu desenvolvimento como se de um filho se tratasse, umas vezes deixava que fosse mais além, outras vezes travava e voltava para trás.
MotoX – A Lambretta segue um caminho Classic ou Vintage?
W. S. – O conceito Vintage, para mim, mais não é que uma cópia do passado, ou seja, não acrescenta nada. É como se a Ferrari fizesse um Testarossa agora, novo. Ninguém o comprava. O estilo é algo que evolui com o tempo, e cada produto deve refletir essa evolução.





Eternidade clássica
MotoX – Devemos então depreender que o estilo clássico deve permitir essa eternidade?
W. S. – Sim, algo que perdure, que seja reconhecível, que nos apaixone. Tem algo de manufaturado, no qual sentimos que foi proveniente do esforço e atenção de alguém. Hoje há demasiadas coisas provenientes da AI, não há muito tempo havia artesãos, que faziam a diferença.

MotoX – O que é que Walter Scheffrahn acha que os potenciais clientes vão apreciar nesta scooter. Vão querer mostrar algo ou sentir algo?
W. S. – Decerto que é uma combinação das duas. A atenção que lhe dedicámos deve refletir-se no seu dono. Não se tratará apenas de um cliente que comprou uma scooter e quer utilizá-la. Não, vai passar a ser um ‘lambrettista’, vai viver o seu espírito. Quando apresentamos a Lambretta G350 em Milão ficámos rodeados e sorrisos, de memórias. Havia orgulho no que estavam a ver, e isso é muito difícil de conseguir num produto. É evidente que a qualidade tem depois de corresponder, tem que ser a melhor das melhores. E isso está patente não só nessa máquina como no resto da gama agora apresentada em Portugal.

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