Lambretta G350. Estilo e atitude intemporal

A Lambretta G350 assinala o regresso em força a Portugal da icónica marca criada em 1957, nas margens do rio Lambro. Mas não chega sozinha ao mercado nacional, sendo acompanhada pela família V, que vai dos 50 cc aos 200 cc, e pela X300. A Moteo Portugal é a responsável pela volta do emblema recuperado pelo holandês Walter Scheffrahn, que tem nesta G350 um excelente cartão de visita.

Lambretta G350
  • Texto: Alberto Pires
  • Fotos: Paulo Ribeiro e Rui Jorge/Moteo

A pandemia da Covid-19 adiou muitos projetos de vida. Pessoais ou empresariais, muitos foram os sonhos que ficaram no limbo, esperando melhores dias. Foi o caso da Lambretta G350, antevista pela primeira vez na edição de 2019 do Salão de Milão. Chamava-se, então, G325 Special e apontava claramente o segmento premium. O ‘stand-by’ provocado pela questão sanitária a nível mundial deu tempo para evoluir o projeto, revendo o motor, que cresceu até aos 330,1 cc. A designação ultrapassou esse crescimento que ajudou a obter a potência máxima entre as clássicas, destronando a rival de sempre.

Lambretta G350

Vendo a luz do dia em 2022, a Lambretta G350 foi apresentada como verdadeiro ícone de moda no Fuorisalone, integrado na Semana do Design de Milão. Uma das mais importantes mostras de criatividade artística a nível mundial no âmbito da decoração e interiores, mas que abarca muitos outros universos. Celebrando o 75º aniversário, a casa italiana associou-se à iniciativa sob o tema Entre o Espaço e o Tempo, com a exposição Infinity – Herança para o Futuro. No Pavilhão Brera, localizado nos claustros da basílica de San Simpliciano, a Lambretta juntou os modelos clássicos ao novo lançamento. E surpreendeu o mundo, com uma proposta de estrutura em painéis e tubos de aço, com painéis laterais intercambiáveis, mantendo a tradição da casa milanesa.

A importância da história

Respeito pela história que é mantido no sistema de suspensão dianteira progressivo a que se juntam coloridas pinceladas de inovação. Tudo isto numa aventura que começou ainda antes do nascimento da Lambretta. Era o ano de 1922 quando Ferdinando Innocenti, esse mesmo, o dos automóveis, criou, em Roma, uma indústria especializada em tubos de aço. O negócio correu tão bem que, em 1931, contruiu uma nova fábrica, maior, em Milão, empregando centenas de trabalhadores.

Lambretta G350

O negócio ia de vento em popa, mas, com o eclodir da II Guerra Mundial, as instalações foram bombardeadas e reduzidas a escombros. Em vez de atirar a toalha ao chão, Innocenti pensou nos milhares de scooters Cushman que o exército americano utilizara em Itália. Inspiração que o levou a falar com o General Corradino D’Ascanio. O engenheiro aeronáutico, responsável pela criação do helicóptero moderno, foi contatado para desenvolver um veículo económico, que pudesse ser conduzido por homens e mulheres, transportar duas pessoas sem sujar as roupas. D’Ascanio, que não gostava de motos, criou um veículo verdadeiramente inovador, com um chassis em aço estampado.

Ora este era um grande problema para Innocenti que tinha feito fortuna antes da guerra com a fabricação de tubos de aço. E, apesar de querer ajudar a reconstruir Itália e dar aos italianos uma forma acessível de locomoção, não iria desperdiçar todo o conhecimento e experiência industrial. A rotura levou D’Ascanio a procurar Enrico Piaggio, dando origem à primeira scooter da Vespa, a MP6, nascida em abril de 1946.

Até aos dias de hoje

Uma vez mais, Ferdinando Innocenti, que não era homem de desistir, refez o projeto, contratando dois outros engenheiros aeronáuticos. O diretor técnico da fábrica de aviões Caproni, Cesare Pallavicino, e o projetista de motores Pierluigi Torre. Que, em tempo recorde, concretizaram as ideias de Innocenti fazendo as primeiras Lambretta saírem da fábrica de Milão em 1947. Ou seja, um ano após a Vespa ter lançado a sua primeira scooter.

Os 75 anos seguintes foram recheados de muitos altos e baixos, com várias mudanças de propriedade e batalhas de propriedade intelectual até ao ressurgimento. Com os primeiros modelos da nova era a verem a luz do dia em 2017.

Uma resenha histórica que poderá ajudar a perceber melhor a nova Lambretta G350. Dotada de um quadro híbrido, uma coque que junta partes em aço estampado a tubos do mesmo material, destaca-se por uma agilidade razoável e, sobretudo, uma elevada estabilidade. Mesmo em autoestrada ou vias rápidas. Um equilíbrio bem conseguido entre rigidez e torção, entre diversão, conforto e segurança, é certo, mas com natural reflexo no peso, de 173 kg a seco.

E, claro está, que acaba por sacrificar as performances daquela que é a scooter mais potente da categoria. Com pico de 25,8 cv às 7500 rpm enquanto o valor mais elevado de binário, de 25,5 Nm, surge às 6250 rpm. Ainda assim, e apesar de alguma timidez nos arranques, com saída pouco superior a uma 125 cc, oferece boas recuperações. E uma velocidade máxima que vai acima dos limites legais em Portugal, ao levar este bloco de 4 válvulas perto do regime máximo.

Motor… adulto

Um motor vivo, de tato agradável, oferecedor de algumas sensações mecânicas sob a forma de vibrações e que responde de forma direta e percetível às rotações do punho direito. E que é bem acompanhado pelos componentes de ligação ao asfalto. Seja nos pneus Pirelli Angel Scooter (120/70 e 130/70) montados nas rodas de 12” seja no capítulo do amortecimento. Onde se destaca, de forma natural, o sistema de duplo paralelogramo no trem dianteiro, oferecendo grande estabilidade mesmo nos pisos mais degradados. E um nível de conforto muito superior ao previsível ao olhar unicamente para o curso dos amortecedores. Atrás, os dois amortecedores ajudam a obviar o peso e, apesar de um comportamento algo seco, aguentam todas as pancadas. Bem como as travagens mais fortes proporcionadas pelos discos de 240 mm de diâmetro, naturalmente controlados por sistema ABS que se revelou de acionamento acertado.

Lambretta G350

Mas há outros pontos de avaliação que ganham preponderância sobre as prestações neste segmento de scooters GT. É o caso do bem-estar a bordo que, nesta Lambretta G350 é garantido por um assento confortável, com bom enchimento e melhor cobertura. Mas que, por força de um perfil estreito na dianteira e dos 790 mm de altura ao solo, ajuda a uma fácil colocação dos pés no chão em caso de paragem. Banco de excelente acabamento, que esconde um espaço onde cabe um capacete, mas apenas se for um jet e com calota pequena. Espaço que fica a ganhar pela segunda tomada USB, juntando-se à outra existente no porta-luvas por detrás do avental dianteiro.

Estilo e sentido prático

Importante é também, tal como na década de 1949, o estilo e o sentido prático. A que se junta agora a indispensável modernidade. No caso do primeiro, basta atentar nas linhas que enaltecem uma scooter comprida, com quase dois metros. São 1956 mm de fio a pavio, com uma distância entre eixos de 1400 mm que garantem que todos, mesmo os mais altos, terão sempre bastante espaço para as pernas. E que o/a passageiro/a tem sítio confortável para viajar, com bom apoio nos poisa-pés retráteis e nas pegas para as mãos. Uma peça tão bonita que é pena estar tão engenhosamente disfarçada sob a parte posterior do assento.

Já no que ao sentido prático diz respeito, basta atentar na completa lista de evidentes sinais de modernidade. A começar pelo prático comando que permite abrir o banco à distância ou dar sinal de onde está, acompanhando a chave mecânica, ou pelo painel TFT. Que tem conetividade por Bluetooth, um formato pouco usual, mas que é extremamente bem-educado. É que nem faltam mensagens de boas-vindas e despedida sempre que se ativa a ignição. Bonito e completo, mas com uma legibilidade prejudicada pelos muitos reflexos, que ganha particular ênfase na leitura da temperatura e do nível de gasolina. É que as cores utilizadas nestes indicadores, azul e verde-claro, tornam-se pouco legíveis, sobretudo debaixo de luz intensa. Vá lá que o aviso de reserva de combustível é num laranja vivo!

Pormenores de classe

Mas a classe da Lambretta G350 está bem patente em muitos outros pormenores. A começar pelos painéis laterais em alumínio, intercambiáveis, à iluminação integralmente em LED e com detalhes de grande exclusividade. É que, tanto o farol dianteiro, com o tradicional formato hexagonal, como o traseiro, sobressaem pelo nome da marca, enquanto o logótipo do fabricante Innocenti ganha destaque no painel frontal. Mas também nos acabamentos de elevada qualidade, nos punhos, demasiado grossos para as mãos mais pequenas, mas debruados com o nome ou nos espelhos cromados, de formato redondo e boa visibilidade. Ou ainda nos comandos de bom design e excelente toque, mau grado o posicionamento do botão da buzina, causador de apitadelas desnecessárias.

Num design clássico, onde as superfícies arredondadas são quebradas por linhas vincadas, nota ainda para os discretos piscas embutidos, oferecedores de boa visibilidade. Da mesma forma, a entrada de ar frontal, por cima de um guarda-lamas, mantém fidelidade absoluta à história, sendo fixo ao corpo da scooter. Em branco ou preto com o assento em laranja ou em vermelho com o banco da mesma cor, a Lambretta G350 está à venda nos concessionários Moteo por 6999 €. Valor que, sublinhe-se, fica abaixo da concorrência direta, numa comparação em que nada tem a temer, num desafio que começou na Expomoto 2024.

Lambretta G350

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