A questão dos veículos elétricos está na ordem do dia. Por isso questionamos e investigamos todas as variáveis. Terá a transição para a mobilidade elétrica um efeito tangivel na diminuição do consumo de petróleo? Será que por cada automóvel ou motociclo elétrico que entra em circulação, a dependência direta do País por combustíveis derivados do petróleo diminui de forma tangível? Qual é a sua opinião?
- Texto: Fernando Pedrinho
- Fotos: Honda, Yamaha e Volvo
- Infografia: Elements Visual Capitalist
Quem visitou uma cidade chinesa nos últimos anos terá reparado numa notável alteração na qualidade do ar respirável. Na minha última passagem por Nanquim (ou Nanjing, como dizem os locais), na zona este da China, cerca de 300 km para o interior de Shangai, a nuvem de fumo produzida pelo enxame de motorizadas e velocípedes com motor que se formava em cada passagem a verde de um semáforo, simplesmente se havia transformado em coisa do pasado.
O que se assiste atualmente é a um enxame de abelhinhas elétricas que circula sem ruído nem fumos ou odores de hidrocarbonetos aromáticos contidos na gasolina. O ambiente melhorou consideravelmente nas grandes urbes graças aos veículos elétricos, sabendo-se que a maioria das cidades asiáticas move-se literalmente em duas rodas.
Mas tal pode apenas indicar que se deslocou a fonte de poluição da área de consumo, a cidade, para a zona de geração de eletricidade. E sobretudo na China, que ainda utiliza o carvão em quantidades consideráveis para esse efeito.
Já no mundo ocidental, é visível a transição ao nível das quatro rodas para veículos elétricos ou híbridos. Qualquer Tesla é hoje um modelo presente numa cidade europeia, e até mesmo em Dallas, no Texas, o estado petrolífero por excelência dos Estados Unidos.
Mas e nas duas rodas? Nem é tanto assim, porque os veículos elétricos ou são dedicados a um ambiente puramente urbano (autonomia) ou têm um preço de venda que ainda os condena a uma competitividade miserável face a um equivalente movido por combustíveis convencionais. Contudo, com a delimitação de algumas áreas urbanas a veículos não poluentes (ou de emissões muito reduzidas) a conversão aos eletrões torna-se imprescíndivel para quem não quiser prescindir da mobilidade própria em favor do transporte coletivo.
O impacto no consumo de petróleo
Mas há algum impacto tangível na diminuição do consumo de petróleo, de cada vez que um veículo de motor a combustão é substituído por veículos elétricos? Na verdade, cada um dos veículos elétricos em circulação é utilizado para substituir um congénere a combustão, ou tratando-se de uma simples adição ao parque de veículos em circulação, tem o seu contributo no deslocamento da necessidade energética do petróleo para a eletricidade.
Algumas cifras partilhadas pelos colegas da BloombergNEF indicam que as vendas de automóveis elétricos ‘plug-in’ (ou carregamento por cabo elétrico) deverão subir dos 6,6 milhões de unidades registadas em 2021 para os 20,6 milhões que se estimam vender este ano. Ou seja, praticamente o triplo em apenas quatro anos!
Da mesma forma, e olhando para a infografia, a poupança mundial no consumo de petróleo por parte dos veículos elétricos estimou-se em 726 mil barris de petróleo diários. Ou seja, falamos de 115 milhões de litros diários de petróleo que não foram queimados, com a consequente libertação de dióxido de carbono para a atmosfera. No final desse ano, a poupança ascendia à impressionante cifra de 42 mil milhões de litros de petróleo. Só para terem uma ideia, este seria o volume para encher a barragem do Roxo, ali para os lados de Aljustrel, até metade da sua capacidade!
Com a conversão à mobilidade elétrica verificada em dez anos, espera-se que a dependência de petróleo para a referida mobilidade individual, coletiva e comercial, ascenda a uns impressionantes 2,465 milhões de barris de petróleo diários. Bom, mais do que suficente para galgar a barragem do Roxo ao fim de algum tempo…
A relevância das duas rodas
Mas o aspeto mais interessante, para nós motociclistas, está relacionado com o impacto verificado por esta conversão no que respeita a motociclos, velocípedes com motor e triciclos (de lado ficam as bicicletas elétricas, ou e-bike, por razões óbvias).
A conversão antecipada destes veículos, como referia na entrada do artigo, nas grandes urbes asiáticas, simplesmente se traduzia num impacto provavelmente inesperado pela maioria: em 2015, os veículos elétricos de duas e três rodas eram responsáveis por 92% da eliminação da dependência petrolífera, com um valor acumulado de 674.300 barris de petróleo diários. Se há algum aspeto tangível nos benfícios da adoção das duas rodas para a mobilidade individual, este é um deles.
E, mais impressionante ainda, é que apesar do aumento de automóveis, autocarros e veículos comerciais eletricamente motorizados em 2025, as duas rodas continuam ainda a ser o maior contribuinte para a eliminação da dependência do petróleo. As nossas queridas motos e scooters elétricas quase duplicaram a poupança diária em barris de petróleo, ascendendo dos 674.300 mil barris diários para os 1,1 milhões esperados este ano. Não obstante a eletrificação acelerada dos restantes segmentos da mobilidade, as duas rodas representarão ainda pouco menos de metade, ou 44%, da eliminação da dependência de combustíveis não sustentáveis por parte do setor.
Obviamente, esta é apenas uma análise muito direta de um benefício verificado no imediato com a conversão aos veículos elétricos. Como se sabe, se para gerar a energia necessária se recorrer a combustiveis altamente poluentes, como a lenhite, estaremos perante um caso real de poupar na farinha para gastar no farelo. Já para não falar na intensidade energética relacionada com a produção de baterias, a sua reciclagem, ou até a progressiva eleminação paradoxal das centrais nucleares para geração de eletricidade. Assunto mais que suficiente para outros artigos sobre veículos elétricos e a mudança de paradigma da mobilidade. Ou de como é necessário estar atento a todas as formas de encontrar formas de energia alternativas.
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