
Mais do que uma apresentação dinâmica da retocada Macbor Montana XR5 510, o Montana Experience 2025 XR Transpirenaica serviu para confirmar a paixão que a Motos Bordoy coloca em todas as máquinas que produz e comercializa. Ao longo de três intensos dias, com muita chuva e nevoeiro através dos Pirenéus, tivemos a prova cabal das capacidades da pequena trail. Mais do que uma surpresa, a confirmação da versatilidade da XR5 e eficácia em todo o tipo de terrenos.

- Texto: Paulo Ribeiro
- Fotos: Motos Bordoy
É certo que a XR5 510 traz novidades para 2025, mas, mais do que confirmar o acerto do novo motor ou a funcionalidade do novo painel de instrumentos TFT, o Montana Experience 2025 recordou-nos o prazer que é possível encontrar em motos de cilindradas mais pequenas e substancialmente mais acessíveis do que as grandes ‘globe-trotters’. Que, quando chega a hora da verdade, mostram as lacunas inerentes às suas próprias virtudes, limitadas pela peso e motores nem sempre fáceis de utilizar em situações extremas.

Pois bem, neste Montana Experience 2025, com mais de 700 quilómetros entre Puigcerdà e San Sebastian, com paragens em Ansia e Otxagabia, atravessamos mais de 200 km em pisos de terra, por vezes com lama e muita pedra, montando os originais Metzeler Tourance de perfil claramente vocacionado para uso asfáltico. Limitação que acabou por exaltar outros trunfos desta máquina, nomeadamente a suavidade na entrega de potência e o bom equilíbrio do chassis perante alguns lamaçais encontrados no Montana Experience 2025 que, à primeira vista, pareciam intransponíveis para uma máquina de vocação utilitária.

Mas, para lá do aventureiro passeio com um grupo onde reinou a camaradagem e boa disposição, o Montana Experience 2025 serviu para descobrir o novo motor da XR5 510. Bloco cumpridor da normativa Euro5+ que agora é fornecido pela Zongshen (o anterior era da Loncin), com uma cilindrada maior, passando de 471 para 498 cc, mas com outras diferenças relevantes. Apesar de ter a mesma potência máxima, de 47 cv às 7250 rpm, a mudança na relação diâmetro x curso está na origem de um comportamento diferente.

Mais binário igual a mais diversão
Da anterior configuração de motor quadrado (67 x 66,8 mm) passou-se a um bloco superquadrado (72 × 61,2 mm), cotas que beneficiam uma subida de rotação e entrega de potência mais rápida. A facilidade de subir de regime criou maior vivacidade, bem patente nas reviradas estradas asfaltadas do Montana Experience 2025 como nos troços de terra mais despachados. Único senão perante esta atitude mais entusiasmada prende-se com o facto de o acelerador demonstrar alguma brusquidão quando se corta gás e volta a acelerar com determinação.

Não menos importante, é que o novo motor oferece mais binário além de o disponibilizar de forma mais… divertida. Descomplexado até às 4000 rotações por minuto, oferece, a partir daí, um crescendo de aceleração, embora a verdadeira diversão comece às 6000 rpm. Claro que para usufruir de todo o potencial de entretenimento convém andar com o motor sempre em regimes mais elevados, não deixando cair muito a rotação. O que se consegue graças ao escalonamento da caixa, com uma 1ª velocidade bastante curta e as 3 seguintes boas para cidade ou para utilização em ‘off-road’ como comprovámos no Montana Experience 2025.

Uma caixa de velocidades que privilegia a precisão em detrimento da máxima suavidade, mesmo depois de ajustar o seletor para melhor utilização com botas de todo-o-terreno. Algo notório ao longo das muitas paragens durante o Montana Experience 2025 foi o ‘clank’ ao engatar a primeira velocidade e o ressalto na passagem para a segunda relação. A partir daí, estando na rotação certa e mesmo não sendo um primor de suavidade, as velocidades entram sem falhas com ajuda de uma embraiagem deslizante que é bastante macia. E que muito ajudou nas imensas zonas técnicas dos caminhos pirenaicos, evitando qualquer fadiga na mão esquerda.
Referência incontornável num segmento animado
Lançada em 2020 e marcando a estreia da Macbor nas médias cilindradas, a XR5 continua a ser uma importante referência no segmento, mantendo a atualidade tanto do conceito como do equipamento. Por isso, na ciclística, as únicas mudanças residem nos pontos de fixação do motor ao quadro, fabricado em aço Q34, mais leve e mais resistente. Com montagem feita pela Colove (fabricante que é proprietário da marca Kove), também o amortecimento se manteve inalterado, com forquilha Kayaba, completamente ajustável, com 41 mm de diâmetro e 195 mm de curso, enquanto atrás o monoamortecedor do sistema progressivo oferece regulação em todos os parâmetros.

A suspensão poderia estar mais macia, notando-se algo saltitona em zonas de mau piso, como aconteceu no início do segundo dia do Montana Experience 2025, na zona de Escalona. Algumas vibrações sem, no entanto, causarem desconforto ou colocarem em causa a eficácia dinâmica. Funções que não ajustamos durante o Montana Experience 2025, mas que tínhamos testado durante a participação com a Macbor XR5 500 no 7.º Portugal de Lés-a-Lés Off-Road, e que, juntamente com a boa distância livre ao solo (210 mm) permite a passagem tranquila mesmo em zonas mais degradadas, com pedras ou grandes regos.

Outro ponto que o Montana Experience 2025 permitiu testar de forma exaustiva foi a travagem, tanto nas muitas curvas das estradas pirenaicas como nas longas descidas com pedras ou piso escorregadio. Um conjunto Nissin, com dois discos de 298 mm e pinças de 2 pistões na dianteira e disco de 240 mm com pinça de pistão simples atrás, que mostrou potência suficiente em todas as ocasiões mas um tato algo estranho. O travão dianteiro revelou-se pouco progressivo na fase inicial, o que é tanto mais surpreendente atendendo à montagem de dois discos, exigindo força acrescida na manete direita para tirar partido da boa potência de desaceleração.





Um comportamento que é justificado, de forma simples, por Jordi Bordoy, responsável máximo da marca e ex-piloto. “Todas as motos feitas pela Motos Bordoy, incluindo naturalmente esta Montana XR5, são sempre desenvolvidas com algum pensamento na competição. É algo que está no coração desta casa. Por isso, e a pensar numa utilização fora de estrada, o travão não prende tanto no início, não entra logo em ação, para dar mais confiança na travagem em ‘off-road’”.
Algo que fomos percebendo melhor no decorrer do Montana Experience 2025, controlando melhor a travagem, mesmo nas muitas descidas em pedra solta que enfrentamos nesta travessia dos Pirenéus. Saliente-se ainda o bom equilíbrio da travagem que, mesmo em asfalto seco mas muito escorregadio, e com ritmos bem despachados, nunca levou o ABS a entrar em funcionamento.

Novidade na XR5 510 testada no Montana Experience 2025 é o painel TFT de 5 polegadas com conetividade, uma exigência ditada pelo mercado, cada vez mais interessado nestes gadgets e que aqui conta com outras mais-valias. É o caso da indicação da pressão dos pneus, através do sistema TPMS montado de série, o mesmo sucedendo com o controlo de tração, pouso usual em propostas desta cilindrada.
Ecrã de informações desenvolvido pela Colove, muito semelhante aos utilizados em modelos da Kove, bastante completo e de boa leitura, embora alguns dados pudessem ser apresentados em cores mais contrastantes. Algo que informaram estar já a ser estudado para implementação próxima, o mesmo sucedendo com a colocação a zeros do Trip. Isto porque é necessário entrar no menu para reiniciar a contagem parcial de quilómetros.

Por outro lado, numa máquina sem mudanças a nível estético, sobressai a qualidade dos retrovisores, oferecedores de boa visibilidade e sem grandes vibrações, bem como da montagem de série das proteções laterias e do descanso central. Nota positiva também para o assento, que, apesar de uma altura ao solo de 840 mm aparentemente alta, permite fácil apoio dos dois pés no chão, mesmo a condutores com 1,70 m, oferecendo uma boa posição de condução, tanto sentado, sem dobrar as pernas em demasia, como de pé. E, mesmo fora de estrada, como sucedeu no Montana Experience 2025 permite ir comodamente sentado, aproveitando a boa distribuição de massas e o equilíbrio geral.

Boa é também a proteção aerodinâmica garantida pelo formato do depósito de combustível de 20 litros, pelas proteções de mãos montadas de série e pelo para-brisas ajustável em duas posições, através do desaperto de 4 parafusos. Na posição mais alta afastou do capacete a muita chuva que nos acompanhou durante o Montana Experience 2025, notando-se apenas uma ligeira vibração por voltas das 6000 rpm.
A coragem de fazer o Montana Experience 2025
Com um emblema assumidamente espanhol, a Macbor, marca própria do grupo Motos Bordoy, começou em 1999, com motos infantis, e em 2017 lançou a gama de 125 cc, tendo desde sempre a capacidade de decisão no desenvolvimento das suas motos. E se, entre 2017 e 2023, os modelos espanhóis eram criados a partir das adaptações e alterações efetuadas em modelos já existentes, desde esta data toda a engenharia e design é feita em Barcelona, reforçando o estatuto de moto espanhola.

Algo que ficou bem patente com as presenças no Salão de Milão de 2023 e 2024, com um número crescente de modelos próprios e um posicionamento diferenciado no mercado. O que levou, agora, à opção de expansão para o mercado francês com a criação da sucursal MB Motor France (tal como em Portugal) ao invés da opção mais simples de entregar a representação a um importador estabelecido.
Uma opção que reforça um posicionamento diferente, atitude reforçada com o Montana Experience 2025 XR Transpirenaica, onde a ideia de colocar à prova a XR5 510, com pneus mistos, mas claramente mais vocacionados para uso em estrada, poderia parecer, no mínimo, deveras arriscada. No entanto, com um peso de 178 quilos a seco e 199 kg em ordem de marcha, bem distribuídos, a XR5 mostrou ser resistente e estar equipada para verdadeira utilização TT.
Além de contar com um preço de acrescida competitividade, de 5999 € e um desconto de 50% no kit de três malas, a Macbor Montana XR510 mostrou ser uma bebedora bastante contida, com consumo médio de 4,41 L/100 km. E isto respeitando a filosofia desportiva da casa catalã, com a maior diversão em estrada como fora dela.
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