Fórum de segurança. Educar é preciso!

Autor:  Paulo Ribeiro

Março 30, 2025

A necessidade de criar nos mais novos uma verdadeira cultura de mobilidade terá sido a conclusão mais relevante do 4.º Fórum de Segurança, Sensibilização e Prevenção Rodoviária para Motociclistas. Ao longo de um profícuo dia de apresentações, debates e trocas de experiências, as mais diversas entidades ligadas ao fenómeno rodoviário levaram ao palco do Auditório da Biblioteca Municipal Almeida Garret, nos bem portuenses Jardins do Palácio de Cristal, todo o seu saber em prol de um problema sempre atual: a sinistralidade em duas rodas.

4.º Fórum de Segurança Sensibilização e Prevenção Rodovária para Motociclistas
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  • Texto: Paulo Ribeiro
  • Fotos: P.R.

A educação, de uma forma genérica e abrangendo conceitos como o conhecimento e a pedagogia, o civismo e o desenvolvimento, foi a linha condutora das diversas intervenções na quarta edição do Fórum de Segurança, organizado pela Associação Bênção dos Capacetes com o apoio do Moto Clube do Porto. Educar os mais novos para os problemas do trânsito, mas também dar a maior atenção ao ensino da condução foram ideias abrangentes ao longo dos quatro painéis. Mas que começaram ainda antes da ordem de trabalhos com uma apresentação oferecedora de uma visão diferente neste Fórum de Segurança, feita por alunos do ensino básico do Agrupamento de Escolas Dom Pedro I, de Vila Nova de Gaia.

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O mote estava lançado e o recém-empossado presidente da Autoridade Nacional de Segurança Rodoviária, Pedro Clemente rematou a Sessão de Abertura alertando para o facto de “a sinistralidade com motociclos ter aumentado mais do que o parque de motociclos, e em contraciclo com a generalidade da sinistralidade”. E realçou a importância da “Estratégia Nacional de Segurança Rodoviária Visão Zero 2030, para tornar segura a mobilidade de moto nas estradas portuguesas”. Conjunto de boas ideias, alinhado com a política de segurança rodoviária da Comissão Europeia, e que tem como meta a redução em 50% do número de mortos e feridos graves na estrada até 2023, mas que, apesar de ter sido entregue ao Governo em 2023, ainda não foi aprovado.

Causas e consequências da sinistralidade com motociclos

Num debate tão abrangente como o proposto no 4º Fórum de Segurança, a melhor forma de começar foi, de forma natural, pela identificação das “Causas da Sinistralidade com Motociclos”. Nomeadamente as criadas pelo estado das estradas nacionais, como reconheceu António Viana, coordenador da Estrutura de Missão para a Redução de Sinistralidade no seio da Infraestruturas de Portugal (IP). Responsável pela gestão “de cerca de 15000 km do universo de cerca de 100 mil km de rede viária nacional, a IP assume erros na manutenção e estado das estradas”, mas recorda que “a redução do investimento na construção tem reflexos óbvios e naturais na qualidade da rede”.

Claro que, num fórum de segurança onde foram explanados estudos de acidentes, elencadas necessidades de melhoria de vias, a dotação com mais eficazes equipamentos de intervenção de emergência, também foi abordada a “utilização da tecnologia como forma de minimizar problemas criados pelas infraestruturas”.

Aspeto muito focado no fórum de segurança, a Visão Zero 2030 abarca, naturalmente, questões relacionadas com as estruturas rodoviárias. O problema, nesta particular como em muitos outros, é que “apesar de muito se ter falado, não há nada concretizado relativamente a esta visão estratégica de segurança”, referiu Augusto Torbay, da Autoridade Nacional de Segurança Rodoviária. Para o Chefe de Divisão do Observatório de Segurança Rodoviária a culpa é dos atrasos (indiferença?) políticos. É que, como sublinhou no fórum de segurança “esta estratégia está montada desde 2022 mas é preciso fazer mais do que dizer que se vai fazer! E isso não é uma responsabilidade da ANSR mas sim do estado português”.

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Ideia defendida também por Paulo Andrade, Subdiretor Regional dos Transportes Terrestres da Região Autónoma dos Açores que, metendo o dedo na ferida, apontou ainda “a falta de formação desde jovem como causa de acidentes”. Sublinhando que “a chave está na pedagogia, devendo seguir os exemplos de países com melhor resultados na luta contra a sinistralidade, é necessário mudar mentalidades desde muito jovem”. Para rematar e socorrendo-se de um dito açoriano, mostrou pouca crença na redução de acidentes porque “quem semeia nabos não colhe melancias”.

A “formação e pedagogia, evitando comportamentos de risco” foram também ideias-base defendidas pro Rolando Silva, comandante da 1.ª Esquadra Motociclistas do Comando Metropolitano da PSP do Porto. Que acrescentou que “quando estas atitudes não são suficientes há que reforçar a prevenção e só numa última fase usar a repressão”.

Matemáticas (bem) aplicadas no fórum de segurança

De forma bem diferente começou o segundo painel do 4.º Fórum de Segurança, Sensibilização e Prevenção Rodoviária para Motociclistas, com uma abordagem matemática, altamente científica, na análise dos dados de acidentes fornecidos pela ANSR. Para Sara Correia, professora no Centro de Investigação em Território, Transportes e Ambiente da Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto, a “exploração matemática com variáveis diversas permite perceber a importância dessas variáveis nos acidentes”. E assim entender, de forma objetiva, a intervenção de fatores como a chuva, a idade ou até o sexo do condutor, na acidentologia, ajudando a reduzir ou pelo menos controlar, situações de risco acrescido.

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O que é cada vez mais necessário face ao aumento do parque motociclístico em Portugal que, após anos sucessivos de vendas recordistas e várias campanhas de incentivos, soma 520 mil motociclos em circulação. Dados apresentados pelo diretor do Departamento Económico e Estatístico da Associação Automóvel de Portugal (ACAP). “Aumento acrescido no período pós-COVID 19, com o aumento de frotas de entregas de encomendas e comida ao domicílio, incluindo o importante reforço do parque de motociclos de empresas como os CTT”.

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Mas António Cavaco proporcionou ainda uma visão diferente, lembrando que apesar “do aumento do número de mortes em 30% no 1º semestre de 2023 (os dados disponíveis até ao momento) a taxa de sinistralidade diminuiu 15,4% porque o parque circulante aumentou”. E foi mais longe ao aconselhar um “melhor enquadramento da sinistralidade com a realização o estudo seja feito tendo em conta o número de veículos em parque e não por 100 000 habitantes, devendo ainda ser também levados em linha de conta os quilómetros percorridos”.

Num debate onde a evolução tecnológica foi muitas vezes referida, no que às vias e aos veículos dizia respeito, uma nota para um ponto importante abordado por Igor Cunha. Para o Técnico de Emergência Hospital do INEM (Instituto Nacional de Emergência Médica) que faz da moto o seu instrumento de trabalho, “além da importância da prevenção e, sobretudo, da educação desde as mais tenras idades, é fundamental investir em bons equipamentos para minimizar as lesões resultantes de acidentes”.

Falta educação desde a mais tenra idade

Educação, conhecimentos e preparação foram também abordados no painel do Fórum de Segurança dedicado à “Formação. A condução de Motociclos e Ciclomotores” logo após a agradável pausa de almoço. Com a conversa a manter a mesma tónica de troca de experiências e conhecimentos nas mesas d’O Mundo da Luísa, o restaurante da Biblioteca Almeida Garret.

Desde logo pelo exemplo de formação na condução proporcionado por Óscar Reis, o Major que é diretor do Centro de Formação de Condução Auto da Escola da Guarda, dando a conhecer alguns dos ensinamentos ministrados aos motociclistas da GNR. E logo depois por Lurdes Bernardo, Chefe do Departamento de Habilitação de Condutores do Instituto da Mobilidade e dos Transportes (IMT), que abordou as mudanças previstas para as cartas de condução. Que privilegiam, de forma mais evidente, a evolução na aprendizagem e na experiência acumuladas desde a licença AM até à A e com especificidades na vertente da formação prática.

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Um tema caro ao Presidente da Direção da Associação Nacional de Escolas de Condução Automóvel (ANIECA) que evidenciou neste fórum de segurança a “necessidade de evoluir e adaptar os conteúdos programáticos”. Tanto para uma melhor adaptação à evolução tecnológica dos motociclos como, não menos importante, às exigências ditadas por um ambiente rodoviário em grande e acelerada mutação.

Ideia acompanhada por Alain Areal, com o presidente da da Direção da Prevenção Rodoviária Nacional (PRP) a reconhecer que “é preciso mudar o paradigma do ensino da condução”. E que só com importantes alterações pedagógicas será possível aumentar a segurança dos motociclistas.

Fórum de segurança termina em festa

Valores de edução e consciencialização que voltaram a imperar derradeiro painel do 4.º Fórum de Segurança, Sensibilização e Prevenção Rodoviária para Motociclistas com uma analítica intervenção de Humberto Carvalho, diretor do ACP Formação. Que apresentou diversas ações do Automóvel Clube de Portugal como exemplos para a melhoria do ambiente rodoviário.

Algo que ganhou uma dimensão acrescida ao atentar nos números de sinistralidade apresentados por Paulo Areal, com o presidente da Associação Nacional dos Centros de Inspeção Automóvel (ANCIA). Valores que ajudaram a enquadrar a realidade da sinistralidade em vários países e enquadramentos legais diferentes.

Abordando ainda o tema global “A Segurança dos Motociclistas”, o autor destas linhas, Paulo Ribeiro, presente neste Fórum de Segurança em representação do Moto Clube do Porto, recordou que “os motociclistas são parte integrante do ecossistema rodoviário” e que “a resolução dos problemas de sinistralidade com veículos de duas rodas deve, obrigatoriamente, contar com as associações dedicadas à defesa dos interesses dos motociclistas, nomeadamente a entidade federativa que agrega os moto clubes”. E presidente da Assembleia-geral do MCP recordou ainda o trabalho desenvolvido pelo clube na “educação e enquadramento de novos motociclistas, transmitindo ensinamentos e, sobretudo, a experiência acumulada em muitos quilómetros de estrada”.

Destacando que “o prazer de condução, o envolvimento com o meio ambiente ou a adrenalina” são indissociáveis da condução de motociclos, frisou ainda a “importância da correta utilização de equipamentos de proteção homologados e a segurança acrescida em meio urbano aportada pela utilização das faixas BUS”. Equipamentos que a piloto Rafaela Peixoto, madrinha do Fórum de Segurança e da Benção dos Capacetes 2025, está bem habituada, deixando uma mensagem clara de que “as corridas são para os circuitos”.

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Um dia de análise e debate de temas fulcrais para os utilizadores de veículos de duas rodas no 4.º Fórum de Segurança, Sensibilização e Prevenção Rodoviária para Motociclistas e que foi rematado, com boa disposição e muita irreverência, pela Tuna de Engenharia da Universidade do Porto. Com músicas que devolveram os sorrisos aos presentes, em número inexplicavelmente inferior ao esperado pela organização, terminou mais um fórum de segurança que terá nova edição, a quinta, em março de 2026, na açoriana ilha de São Miguel.

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