Com a Streetfighter V2S a Ducati continua a oferecer máquinas de enorme eficácia tecnológica e dinamicamente eficazes, juntando-lhes maior facilidade de condução e até inusitadas doses de conforto. Depois da Multistrada e da Panigale, o novo motor V2 chega à reformulada gama naked, que, com a saída do motor Superquadro de 955 cc, oferece agora um espaçamento maior entre a equilibrada Streetfighter V2S e a brutal V4. Uma proposta de surpreendente equilíbrio, na base de um verdadeiro brinquedo para máxima diversão.

- Texto: Paulo Ribeiro
- Fotos: Alex Photo/Ducati
Mantendo os princípios da bem-sucedida ‘formula fight’, a Ducati Streefighter V2S deriva diretamente do conjunto conhecido da supersport Panigale V2S, refinada para ser ainda mais fácil de guiar, proporcionando enorme controlo ao condutor. Que, buscando a polivalência de uma naked e com a certeza de ter passado ao lado de uma grande carreira no MotoGP, vê nesta Streetfigther V2S uma moto particularmente cativante. Desenvolvida com os olhos postos na estrada, o habitat natural onde é utilizada por 99% dos condutores, possui uma parafernália eletrónica que a torna mais segura e empolgante. Mas com a pitada de irreverência que a torna única. Assim se saiba tirar partido de todo o potencial!…

No entanto, que fique desde já bem claro, que mesmo dispensando as roupagens desportivas da Panigale, a Streetfighter V2S não fica, porém, nada atrás da irmã carenada. Aliás, aquilo que perde em proteção aerodinâmica ganha em facilidade de condução em estradas sinuosas, graças a um guiador alto e largo, com um acrescido poder de alavancagem que torna as mudanças de direção mais rápidas e divertidas. O que proporciona um cocktail único de eficiência, facilidade e diversão.
O ponto de partida da Ducati Streetfighter V2S é o já conhecido V2 de 890 cc, com os cilindros em V a 90º, duas árvores de cames à cabeça acionando 8 válvulas, sendo as de admissão de abertura variável, ajustando o tempo em que estão elevadas para deixar entrar maior ou menor quantidade de ar/gasolina em função das necessidades.

Motor que mostrou nesta Streetfighter V2S ser muito amigável e, simultaneamente, divertido. Capaz de proporcionar bons momentos de condução relaxada e descontraída como, no minuto seguinte, revelar a alma de verdadeiro lutador de rua, com potencial de campeão absoluto. É caso para dizer que nunca uma Ducati foi tão abrangente, tão fácil de conduzir e tão divertida, mantendo, ainda e sempre, o carácter provocatório.
Menos pode ser mais?
Facilidade que rima com leveza e agilidade, exponenciando as características do novo bloco V2, que abandona a tradicional colocação em L, ou seja, com o cilindro dianteiro paralelo ao solo, sendo rodado 20º para trás. Fica a ganhar a distribuição de massas e o equilíbrio geral, reforçando a maneabilidade para melhor aproveitar um motor que aparece muito cedo na rotação. Tem uma resposta pronta desde as 3000 rpm, altura em que, diz a casa bolonhesa, a Streetfighter V2S disponibiliza cerca 70% do valor máximo de binário.




De caráter afável, revelou-se muito fácil de utilizar à medida que íamos enrolando o acelerador, notando-se por essa altura, uma ligeira vibração que mais não é do que o próprio pulsar da ignição. A partir das 4000 rpm apresenta-se verdadeiramente ao condutor, quase questionando o que fazer a seguir.

Para continuar no modo de relaxamento turístico o melhor é aproveitar o novo Ducati Quick Shift 2.0, de enorme precisão e suavidade, rapidez e excelente feeling graças ao sensor no interior que determina o corte de ignição, substituindo o micro interruptor junto ao seletor, para subir de relação praticamente sem acelerar. Mas, se for impossível resistir à tentação, nada como reduzir uma ou duas velocidades e usufruir de uma autêntica besta de corrida, e sempre com uma sonoridade verdadeiramente ímpar.
Comportamento bipolar?
A explicação para esta dualidade de comportamento está na linearidade na entrega de potência, com força disponível e facilmente utilizável numa larga gama de rotações. Tudo graças à importante ajuda do sistema de admissão variável da Ducati Streetfighter V2S que ajusta o tempo de abertura das válvulas de admissão em função de parâmetros como a velocidade, rotação, abertura do acelerador etc. E, assim tem mais binário em baixas e médias rotações e mais potência em altas, com uma entrega sempre suave e, não menos importante, bem controlável.

Nesta altura, quando se explora o potencial da nova Streetfighter V2S, usufruindo dos 120 cv de potência máxima às 10.750 rpm e do pico de binário de 93,3 Nm às 8250 rpm, questionamos se é mesmo verdade que tem menos 33 cavalos face ao bloco de 955 cc. É que as subidas de rotação, mesmo não tendo a brutalidade da antecessora, são superdivertidas, com acelerações decididas e vigorosas. E, mesmo não sendo a Ducati Streetfighter V2S daquelas de levantar a roda ao mínimo toque, permitem, na verdade um andamento realmente rápido e divertido.
Comportamento desportivo que assenta num motor que, apesar da configuração super quadrada, (96 mm de diâmetro e 61,5 mm de curso) apto a subidas de rotação fulminantes e permitindo acelerar até ao corte de rotações às 11.350 rpm em 5ª e 6ª velocidade, é extremamente fácil de aproveitar graças ao carácter redondo e sempre cheio.

Em termos práticos, a Streetfighter V2S apresenta agora algo que era pouco comum na Ducati: às emoções fortes em altas junta-se agora um perfil bem mais fácil de usufruir em baixas. Ou dito de outra forma, permite utilizar uma relação mais baixa para condução mais desportiva ou subir de caixa para um andamento mais descontraído, mas sempre sem hesitações ou soluços do motor. E com uma resposta em saída de curva que é, simplesmente, viciante…
Campeã com conforto
Sempre com muito binário disponível (80% entre as 8000 e as 11 000 rpm), uma embraiagem super macia (de acionamento hidráulico, assistida e deslizante) para facilitar a vida urbana e uma caixa de velocidades bem escalonada para todo o tipo de utilizações permitindo explorar ao máximo o V2, a Ducati Streetfighter V2S conta com uma ciclística de eleição.

O motor, mais leve (-9,5 kg para total de 54,4 kg) e compacto que o anterior Superquadro, funciona como elemento estrutural estando diretamente ligado a um inovador quadro tipo monocoque em alumínio, de 3 mm de espessura e que alberga também a caixa do filtro de ar. Numa ciclística onde, tal como no motor, foi procurado o baixo peso e máxima simplicidade, destacam-se ainda, na Streetfighter V2S, a secção traseira em alumínio fundido e o braço oscilante simétrico no mesmo material.



O mesmo conjunto da Panigale V2 mas com ligeiras diferenças na inclinação da coluna de direção (+0,5º para 24,1º) e no trail (+10 mm para 103 mm) bem como na distância entre eixos (+28 mm para 1493 mm) que aumentam a estabilidade em estrada. Medidas a que se junta um braço oscilante 30 mm mais comprido, contrariando o efeito do menor peso sobre a roda dianteira por força da posição de condução mais direita.
Melhor pisar em reta como em curvas rápidas a que a Ducati Streetfighter V2S junta um acerto de suspensão ligeiramente mais suave, capaz de digerir melhor as irregularidades do asfalto, mas sem nunca mostrar a mínima falta de agilidade. Pelo contrário, tudo somado encontramos uma moto que surpreende pela leveza e facilidade de colocação em curva, mais parecendo uma de gazela a saltar entre uma viragem e outra, diluindo os 175 kg de peso anunciados em ordem de marcha, mas sem gasolina.
Claro que, nesta altura, tiramos o melhor partido do amortecimento completamente ajustável fornecido pela especialista Öhlins. Da forquilha invertida NIX30, de 43 mm de diâmetro, 120 mm de curso e tratamento em nitreto de titânio, ao amortecedor TTX36 (140 mm). E que, além da indiscutível capacidade desportiva, mesmo em pisos longe da aveludada perfeição do asfalto, é capaz de lidar de forma extremamente competente com a extremamente potente travagem conferida pelo conjunto Brembo.
Streetfighter V2S é convite ao exagero?
Uma capacidade de desaceleração brutal, garantida pelas pinças monobloco Brembo M50, fixas radialmente, que mordem os dois discos de 320 mm, mas de controlo muito fácil graças à presença da bomba principal radial, Brembo PR16/21. Isto mesmo se é aconselhável um curto período de habituação ao seu funcionamento para descobrir a dose certa de pressão a exercer na manete.


Maior simplicidade na traseira onde surge montado um disco de 245 mm e pinça de dois pistões, suficiente para as necessidades em uso egoísta embora talvez venha a revelar-se algo escasso para proporcionar algum conforto ao pendura em caso de improvável e desaconselhada boleia. Até porque, com os Pirelli Diablo Rosso IV (127/70 e 190/55) montados em jantes Marchesini de 17”, em alumínio fundido e com desenho de 6 raios em Y, a Ducati Streetfighter V2S mostrou ser muito atrevida.
Pneus que são uma escolha acertada pelo aquecimento rápido e suavidade nas viragens, gerando maior confiança e facilidade em curva. E se o piloto vai bem apoiado, já o pendura poderá ficar numa posição mais periclitante. Talvez por isso, e apesar da homologação para dois ocupantes, o banco de passageiro seja vendido como opcional para a versão S e apenas montado de série no modelo standard…

No entanto, mesmo havendo algum exagero, seja na travagem como na aceleração, a Ducati Streetfighter V2S tem uma dotação eletrónica tão completa que vai do controlo de tração DTC ao ‘wheelie control’ DWC, ambos ajustáveis em 8 níveis e podendo ser desligados, ao obrigatório ABS com função Cornering e ajustável em 3 patamares de intervenção. E que, espante-se, excetuando o nível 3, para pisos molhados ou mais escorregadios, oferece a funcionalidade ‘slide by brake’ para travagens com direito a escorregadelas laterais, ‘à la MotoGP‘.
Geradores de confiança absoluta que permitem travagens para lá de tardias e acelerações ainda em inclinação sem risco de surpresas desagradáveis. Chega a ser assustadora a capacidade de limitar e corrigir excessos de confiança com a Ducati Streetfighter V2S!
Eletrónica refinada
Eletrónica completa que é gerida através do painel de 5” com três modos de visualização (Road, Road Pro e Track), excelente visibilidade e boa leitura, podendo ser ligado ao smartphone, disponibilizando navegação curva a curva. E que, no seu formato compacto, oferece soluções como o conta-rotações que fica iluminado em verde quando chega o momento ideal de trocar de caixa, passando a vermelho quando esse regime é ultrapassado. Além disso, na configuração Track pode disponibilizar um sistema de cronometragem automática (opcional Lap Timer Pro) que, sem qualquer intervenção do piloto, oferece tempo por volta, tempos parciais e comparação evolutiva face a voltas anteriores e com recurso a cores, tal como no MotoGP.
Ecrã de fácil controlo através do novo conjunto de comandos, tipo pétalas de flor, bem junto ao punho esquerdo da Streetfighter V2S. Conjunto que, com o patrocínio da IMU de 6 eixos, permite tirar o melhor partido das ajudas que se juntam aos quatro modos de condução (Race, Sport, Road e Wet, este limitado a 95 cv). Que entre outras variantes jogam com o efeito de travão motor (EBC), ajustável em 3 níveis, podendo ainda escolher entre os 3 níveis de entrega de potência (High, Medium e Low, com 95 cv) atuados através do acelerador Ride by Wire.
Com um motor que foi desenhado a partir de folha em branco, buscando leveza e facilidade de utilização, a Ducati Streetfighter V2S buscava um preço competitivo, mas sem beliscar a fiabilidade. E, tão pouco uma imagem exclusiva, que começa no acutilante e inconfundível farol ‘full LED’ com DRL, e nas linhas inclinadas que atiram o peso para a dianteira e terminam na imagem leve e esguia da traseira. Mas os maiores cuidados da equipa de design da Streetfighter V2S foram dedicados à ergonomia do condutor, com muitas horas de trabalho em redor do depósito de 15 litros de capacidade.






O resultado foi uma posição naturalmente inclinada para a frente, mas sem demasiado peso sobre os pulsos, graças ao guiador alto e largo e as pernas encaixadas no bem modelado depósito de gasolina. O triângulo de condução garante ainda que os joelhos não estema demasiado dobrados (pelo menos para condutores até 1,80 m), com uma boa distância entre os poisa-pés e o assento colocado a 838 mm do solo, e que, apesar de permissivo em termos de movimentos de pilotagem, mostrou-se algo rijo.
O preço e a concorrência da Streetfighter V2S
Claro que, apesar dos esforços para criar um produto premium a um preço acessível, a Ducati Streetfighter V2S, vendida apenas no inconfundível Ducati Red, é naturalmente penalizada pelos 18.800 € pedidos em qualquer stand da rede nacional de concessionários! Mesmo que justificado pela qualidade dos componentes, dotação tecnológica e exclusividade da marca, é substancialmente mais elevado do que as concorrentes diretas como as novas Kawasaki Z900 SE (124 cv/12.690 €), Yamaha MT-09 SP (119 cv/13.150 €) ou Triumph Street Triple 765 RS (130 cv/13.495 €).
Mais acessível é a versão standard (16.530 €) que abdica, obviamente, de alguns componentes, nomeadamente no capítulo do amortecimento, com forquilha Marzocchi e amortecedor traseiro Kayaba, além de ser 3 kg mais pesada, em boa parte devido à utilização de uma bateria de ácido/chumbo e não de iões de lítio. Ainda menos importante para o dia a dia será a ausência do limitador de velocidade para a ‘pit-lane’ ou o Ducati Power Control, oriundos dos mundiais de MotoGP e Superbikes e montados de série na Streetfighter V2S.

Mas para estes, os verdadeiros amantes das corridas que pensam fazer uns ‘track-days’, existem vários opcionais, incluindo a saída de escape da Termignoni não homologada para estrada, que permite reduzir o peso e ganhar mais binário e potência (-4,5 kg; +6 cv). A que se juntam outros opcionais mais estradistas, como o Cruise Control, sistema de controlo da pressão dos pneus TPMS, sistema multimédia com navegação ponto a ponto ou a tomada USB.
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