Aprilia RS 457. Sonhos de juventude
Autor: Paulo Ribeiro
Agosto 5, 2024
A Aprilia RS 457 é um verdadeiro sonho para os mais jovens adeptos das motos desportivas. Tem o genuíno ADN de uma marca que conquistou 54 títulos mundiais (‘and counting’…), das 125 cc às Superbikes, e que dá cartas no Mundial de MotoGP. Mas tem mais, muito mais, das linhas modernas ao novíssimo motor. Perfeitamente…
A Aprilia RS 457 é um verdadeiro sonho para os mais jovens adeptos das motos desportivas. Tem o genuíno ADN de uma marca que conquistou 54 títulos mundiais (‘and counting’…), das 125 cc às Superbikes, e que dá cartas no Mundial de MotoGP. Mas tem mais, muito mais, das linhas modernas ao novíssimo motor. Perfeitamente enquadrado com a legislação das cartas de condução A2 e que tanto pode brilhar nas ligações interurbanas como num qualquer circuito.

- Texto: Paulo Ribeiro
- Fotos: Nuno Feliz
Sabe o que têm em comum Alessandro Gramigni, Loris Capirossi, Valentino Rossi, Jorge Lorenzo, Casey Stoner, Max Biaggi e Marco Simoncelli? Ou Álvaro Bautista, Aleix Espargaró ou Maverik Viñales e o nosso Miguel Oliveira? Todos ganharam corridas e alguns campeonatos aos comandos de Aprilia! Um historial vitorioso que exponencia a curiosidade sobre cada novo lançamento da casa de Noale. Sobretudo aquelas que, como esta Aprilia RS 457, ostentam as letrinhas que remetem para o departamento de competição. O RS, de Racing Squad, que se estende até à RS-GP de MotoGP.

Na gama da casa de Noale, porém, existia um hiato notório entre a ágil RS 125 e a todo-poderosa RSV4. Que agora é colmatado, tanto numa lógica de gama como de evolução do motociclista. Máquina que herda o inegável ADN de família nascida nas pistas, mas que está longe de ser um mero ‘downsizing’ da espetacular supersport Aprilia RS 660. Mesmo se a imagem tem muitos traços em comum, aproveitando todos os ensinamentos recolhidos em termos de ergonomia e aerodinâmica.
Corridas para todos
Filiação estética que é recordada desde o primeiro momento pela assinatura luminosa do farol triplo, que tal como o elemento traseiro ou os piscas, é integralmente em LED. Quanto às carenagens, são resultado de longas horas em túnel de vento, refinando e adaptando as teorias conhecidas às novas exigências de um motor e ciclística diferentes. Linhas acutilantes, nascidas das necessidades ditadas pela função, mas esmeriladas pela inconfundível elegância italiana. Planos sobrepostos que não escondem o belíssimo quadro em alumínio e favorecem o escoamento de ar quente do motor, ao mesmo tempo que proporcionam uma estabilidade acrescida.

Além de uma boa proteção ao condutor, tanto ao nível das pernas como da cabeça, bastando um ligeiro baixar da cabeça para enfrentar as velocidades mais altas. Em autoestrada ou no final da reta da meta dos autódromos do Estoril ou do Algarve! Piloto que encontra um banco cuja dureza inicial, digna de uma desportiva que se preze, esconde uma grande surpresa em termos de conforto.
O formato alargado na parte posterior garante bom apoio, enquanto a menor largura na frente permite um bom encaixe dos joelhos e facilita a colocação dos pés no solo. Além de que o assinalável comprimento ajuda a encaixar condutores de todos os tamanhos e permite puxar o corpo atrás para minimizar o impacto aerodinâmico.

Assento com uma altura de 800 mm que é ponto de partida para a boa ergonomia, bem conjugado com os avanços e com os poisa-pés elevados. Que, sem dobrar excessivamente os joelhos, ficam suficientemente afastados do solo. E, assim, contribuindo para uma condução desportiva da Aprilia RS 457, sem atirar em demasia o peso do corpo sobre os pulsos. É até bastante confortável para uma máquina que não deslustrará em qualquer pista por esse mundo fora.
Desportiva com conforto
Também o/a passageiro/a foi levado em linha de conta, com um assento individual que, sem ser muito grande (estamos a falar de uma desportiva…) é bem cómodo. E conta com umas pegas extremamente bem integradas e de grande cuidado aerodinâmico, numa traseira afilada, mas sem exageros. Cuidados com os fluxos de ar particularmente importantes numa moto pensada para chegar (e capaz de o fazer!) aos 200 km/h em circuito
Para o bem-estar a bordo contribui ainda uma embraiagem de acionamento bem suave ou os retrovisores facilmente ajustáveis. Garantem uma boa visibilidade embora sejam um pouco ‘curtos’ no limite exterior, com um ângulo morto gerado pelo facto de não terem um espelho convexo.






Claro que, neste particular de apreciação, não se deve esquecer os comandos, com conjuntos conhecidos de outros modelos do Grupo Piaggio e que se revelam de boa ergonomia geral. Apenas a buzina, infelizmente cada vez mais necessária em cidade, fica um pouco escondida. Também o painel é partilhado por irmãs e primas italianas, um TFT a cores de 5 polegadas bastante completo e de boa legibilidade, pecando apenas por alguma complexidade para alcançar certas funções. Nada que os futuros proprietários não resolvam após uma ou duas semanas de convivência!
Estamos a falar, por exemplo, o desligar do controlo de tração ou do ABS traseiro que, para serem ligados de novo exigem que se volte ao painel, não alterando essas definições quando a ignição é desligada.
Painel que pode ser conectado a smartphone para fazer ou receber chamadas ou ouvir música e navegar. Ainda que para isso precise da plataforma multimédia da Aprilia MIA PMP 3.0.
Rápida em pista, segura em estrada
Um motor competente que é exponenciado pela dotação eletrónica que torna a Aprilia RS 457 verdadeira referência no segmento. E que assenta no ‘ride-by-wire’ de que a marca foi pioneira em 2007, instalando o primeiro acelerador eletrónico na Aprilia Shiver 750. Isto depois de também ter sido a primeira a usá-lo na competição, então na RS3 de MotoGP, na temporada de 2002. Sistema que permite a instalação de três modos de utilização do motor na Aprilia RS 457, com diferenças apenas na entrega de potência, sendo que Rain, Eco ou Sport oferecem a mesma potência máxima.

Claro que existem diferenças bem percetíveis no comportamento, a começar pela agressividade desportiva, que pode ser sublinhada com a mudança do nível de intervenção do controlo da tração. Que mesmo no nível máximo (3) não se revelou demasiado intrusivo, não minimizando a diversão, antes acrescentando bastante segurança. Característica única no segmento que é possível graças à adoção da centralina eletrónica Marelli 11MP, a mesma utilizada, por exemplo, na superbikes RSV4. Excelência num equipamento que obrigou a milhares de horas de para encontrar a calibração mais ajustada numa ampla gama de utilizações.

Motor de dois cilindros paralelos (457 cc) com ordem de ignição desfasada a 270º que é completamente novo. A possibilidade de adotar um monocilíndrico foi colocada de parte logo no início do projeto devido às maiores vibrações face ao maior equilíbrio do ‘twin’ paralelo E não, não é uma versão revista e encolhida do bloco da 660 cc embora tenha sido aproveitada a experiência adquirida nesse motor. Uma confirmação facilmente entendida através das dimensões internas dos dois blocos. Uma relação de diâmetro x curso de 81 x 63,9 mm para a RS 660 contra os 69 x 61,9 mm da Aprilia RS 457.
Aprilia RS 457 pensada para carta A2
O pico de 35 kW (47,6 cv) às 9400 rpm foi pensado para cumprir os limites para a carta A2, existindo assim um aproveitamento máximo de todas as potencialidades. Ao contrário do que muitas vezes surge quando os motores são descafeinados a partir de versões mais potentes.


Não menos importante, o valor de binário máximo de 43,5 Nm atingido às 6700 rpm estando a entrega de força bem distribuída ao longo de toda a faixa de rotações. Segundo os técnicos da casa italiana, 82% daquele total, qualquer coisa como 35,6 Nm está disponível por voltas das 3000 rpm! Ou seja, muito próximo do máximo oferecido por algumas das concorrentes.
Na prática, torna a condução em cidade bastante fácil ao mesmo tempo que é muito agradável fora dela. Utilização divertida desde baixas, bastando reduzir uma ou duas velocidades quando queremos mudar o registo. O que é pago com acelerações bem mais fortes, com direito a troco sob a forma de algumas vibrações nos pés.

Doses de diversão bem acompanhadas por uma caixa precisa e bem escalonada, que evidencia a boa entrega do motor, e que não esconde um tato de metálico racing. Relações bastante próximas entre si, mas com uma capacidade de alongamento que facilita uma utilização mais tranquila. Afinal nem todos os dias são dias de corrida mesmo se a Aprilia RS 457 respira a filosofia #BeARacer por todos os poros. Claro que a maior agressividade no punho direito vai ter consequências diretas e imediatas nos consumos. Que são bastante honestos, com médias reais de 4,64 L/100 km. Algo que garante que os 13 litros de gasolina que o depósito comporta permitam tiradas acima dos 250 quilómetros entre paragens na bomba.
Quadro único na categoria
Contudo, apenas a excelência do motor seria incapaz de criar uma moto completa e eficaz como a Aprilia RS 450. Nesse sentido, a casa de Noale apelou a toda a enorme experiência desportiva e juntou-lhe um novo quadro. Uma dupla trave, tal como o braço oscilante, fabricada em alumínio. Único na categoria, utiliza o motor como elemento portante e que garante agilidade e precisão e é ponto de partida para uma ciclística de eleição.
Um conjunto extremamente compacto, garantido pela menos distância entre eixos do segmento, com apenas 1350 mm entre as duas rodas. O que garante boa agilidade, com mudanças de direção sem esforço, muito rápidas e intuitivas. E permitindo fáceis correções a meio da curva. Elevada desenvoltura também em cidade. Ambiente que a penaliza pela brecagem limitada e pelos retrovisores muito saídos, em potencial conflito com os automóveis.


Quanto à travagem, entregue a um único disco de 320 e pinça de 4 pistões fixa radialmente fabricada pela Bybre, a marca da Brembo vocacionada para as pequenas e médias cilindradas. Conjunto que revelou uma progressividade de muito bom nível, permitindo uma boa gestão da capacidade de desaceleração.
E mostrou também potência elevada quando é necessária, embora o facto de ter um disco simples revele, como é normal, ligeiríssimo desequilíbrio quando as travagens são realmente fortes em entrada da curva e, sobretudo, já em inclinação. Algo que apenas se nota, porém, quando levamos a Aprilia RS 457 para lá dos limites do aceitável na condução em estrada… O melhor mesmo é conjugar a ação do disco traseiro de 220 mm, com pinça de pistão simples, para aconchegar em curva e ajudar no desenho das melhores trajetórias.
Quando a lógica é mais forte
Sendo a mais potente e mais leve do segmento, com 159 kg a seco e cerca de 175 kg em ordem de marcha, a Aprilia RS 457 denota outra situação de compromisso no amortecimento. É que, tanto a forquilha de 41 mm (120 mm de curso) como o mono amortecedor traseiro (130 mm) possuem apenas ajuste de pré-carga.
Decisão justificada não apenas por uma questão de economia (quanto mais possibilidades de afinações, maior o preço) mas por uma lógica de utilização. Criada para os mais jovens, a bem-sucedida aposta na eficácia e economia, juntou-se a outro argumento. Quantos dos condutores destas motos vão, efetivamente, procurar os melhores ‘settings’ para uma utilização normal? E quantos estariam dispostos a pagar mais para ter algo que nunca iriam utilizar? Pelo menos de forma realmente eficaz.


Algo semelhante acontece com o equipamento pneumático da Aprilia RS 457. Com um desenho muito aliciante, os pneus montados nas jantes de alumínio (110/70 à frente e 150/60 atrás) são de uma marca pouco conhecida… em Portugal. Os Eurogrip Protorq Extreme são um produto bastante evoluído de uma das maiores marcas indianas. Apesar de criada apenas em 2021, pertence ao grupo TVS Srichakra Limited, que está há mais de 40 anos no mercado.


Uma longa experiência na conceção e fabrico de borrachas para todo o tipo de veículos, com mais de 25 000 funcionários espalhados por 25 países em 6 continentes. Sem possibilidade de comprovar o funcionamento em piso molhado, fica a certeza da boa capacidade nas mudanças de direção. Muito redondos, facilitam a transição e os acertos em curva, mostrando ainda bom conforto. E, claro, uma boa aderência, sobretudo depois de bem quentes, ultrapassando a desconfiança dos quilómetros iniciais.
A senhora que se segue
Leve, rápida e ágil, muito divertida e transmitindo grandes doses de confiança, a Aprilia RS 457 mostrou ser uma máquina fácil de controlar. Assim sendo, bem à medida dos condutores que chegam das cilindradas mais baixas e acalentam sonhos desportivos. Com a imagem racing de uma marca com fortes tradições no mundo das corridas exaltada pelas três combinações cromáticas disponíveis.
Do cinzento (Prismatic Dark) ou branco (Opalescent Light), sempre com peças em negro, até ao preto com listas vermelhas e lilases (Racing Stripes). Cores que poderão dar lugar ao conjunto de carenagens em branco que faz parte do kit para o troféu monomarca que terá lugar em 2025, para já só em Itália. Assim, a estreia, ou melhor uma corrida de demonstração, está marcada para 8 de setembro, em Cremona. É provável que estreiem ainda novas ECU, os escapes SC Project e os filtros de ar específicos para esta competição.

Máquina incapaz de passar indiferente em qualquer ambiente e que tem um preço de 7190 €, bastante competitivo tendendo à dotação da Aprilia RS 457. Não só no novo motor e quadro em alumínio, mas sobretudo ao nível da eletrónica. Certamente um conjunto de elevada qualidade que seria excelente ponto de partida para uma trail à imagem da Aprilia Tuareg 660. Seria, sem dúvida, uma entrada em grande no novo segmento da moda…
Partilha este artigo!