O campeão do mundo de Superbike, Toprak Razgatlioglu, ainda não digeriu bem a prova inaugural do Mundial de Superbike. De tal forma que sem pejos acusa o WorldSBK de se ter tornado num ‘Troféu Ducati’. O fim das superconcessões, que foram uma boa ajuda para o título mundial, resultaram numa moto que ainda tem pouco tempo de pista e cujo o aperfeiçoamento, ao nível da base campeã, ainda vai tardar algum tempo. Tudo isto numa altura em que é dada a sua presença no MotoGP do próximo ano. “Para que equipa achas que eu deveria ir”, perguntava-nos ontem à tarde no AIA Portimão.
- Texto: Fernando Pedrinho
- Fotos: Marcas, WorldSBK e Fernando Pedrinho

Tudo isto se passou numa exclusiva conversa com Toprak e Michael van der Mark, na ´Hospitality´da RokIt BMW Motorrad e a que MotoX.pt teve acesso. O turco esta conformado mas não está convencido.
“Conseguimos melhorar a afinação da moto e agora temos um bom conjunto”, referia com a sua proverbial calma. E é sabido que pelas suas características, o traçado do AIA torna-o na pista (quase) favorita do otomano, pois não podemos descartar a sua predileção por Donington, onde ganhou pela primeira vez.

Trabalhámos muito no teste de Inverno que aqui efetuámos na afinação de corrida, o tempo da melhor volta foi bom e o mesmo sucedeu com o ritmo na simulação de corrida. Mas isso foi no teste. Este fim-de-semana vai estar mais quente e o nível de aderência da pista altera-se. O que te posso dizer é que agora temos um melhor conjunto do que aquele que estreámos em Phillip Island”.
“Não alterámos nada!”
Paradoxalmente, Toprak disse-o taxativamente: “não alterámos nada na moto!”. O trabalho residiu exclusivamente “em torno da afinação da moto”. E o turco foi mesmo mais longe. “Sinto a moto muito melhor nesta pista, porque tem algumas curvas lentas, é uma montanha russa com zonas em que não vês a saída da curva. É por isso que gosto tanto de Portimão. Por isso e com a evolução que alcançámos com a afinação da moto, acho que tenho reunidas as condições para um bom fim-de-semana de corridas”.

Contudo não se coíbiu de deixar um recado: “só depois desta corrida [mais concretamente em Assen] é que poderemos tirar conclusões”.
“Não se pode mexer em coisa alguma!”
Perante um investida sobre outras possíveis modificações após a corrida inaugural, Razgatlioglu encolheu os ombros e abriu muito os olhos, exclamando: “não se pode fazer nada! São as regras!”. E neste ponto, Michael van der Mark saiu interviu em ‘socorro’ do seu colega de equipa. “Tal como ele [Toprak] disse, não se pode modificar nada e esta pista é totalmente distinta de Phillip Island, com travagens fortes e curvas lentas. Neste traçado a afinação que temos funciona muito bem. Mas o problema mantém-se: [sem as superconcessões] este ano não podemos mexer na moto e temos de viver com isso! Por sorte, Portimão é uma pista que tanto o Toprak e eu gostamos imenso, o que torna tudo mais fácil”.

Troféu Ducati?
Numa pista em que chegou a vencer com a Yamaha YZF-R1, Toprak logrou conseguir o segundo lugar na superpole e na primeira corrida de Phillip Island, atrás de um inalcançável Nicolo Bulega. Isto deixou o turco frustradíssimo, a ponto de dizer que o Mundial de Superbike se tornou num ´Troféu Ducati´. Mas porquê? “Tens aí a classificação da segunda corrida?”, questionou.
Com efeito, os seis primeiros tripulavam uma das muitas Panigale V4R que compõem a grelha do mundial deste ano. “Então é fácil de entender, por isso não entendo porque me colocam esta questão!” Mesmo apesar de ter ritmo para poder subir ao pódio. “Tenho dúvidas”, voltou a contrariar, “porque o Álvaro [Bautista] estava mais forte do que eu e talvez tivesse dado para acabar em quarto, ou mesmo quinto.
Mas queres saber mesmo porque digo que se tornou num troféu Ducati? É que não me lembro, em anos recentes, de ver todas as Ducati na frente. No máximo eram duas, normalmente o [Nicolò] Bulega ou o Álvaro [Bautista]. E não falo só por mim, mas também por marcas como a Yamaha ou a Honda.

Eu andei quatro anos com a YZF-R1 e sei bem a dificuldade que é lutar com uma Ducati! Se isto continuar assim as pessoas vão desinteressar-se. Toda a gente está preocupada com o equilíbrio [de prestações] mas ele atualmente não existe. Eu sei que de momento não tenho um chassis que funcione, mas é problema meu e tenho de continuar a trabalhar para o fazer funcionar corrida após corrida.
Mas agora a Ducati não tem limitação do regime de rotação, aliás ninguém tem, e já no ano passado era uma moto muito rápida em reta. Geralmente, o melhor ´pacote´ é o da Ducati. Toda a gente o sabe e o MotoGP não é exceção. O que não entendo é como se pode retirar o quadro da melhor moto, por ter sido campeã mundial, e a Ducati beneficia de mais abertura dos regulamentos. É por isto que estou irritado! Eu sei que sou rápido, mas e as outras marcas? Onde está o equilíbrio entre as diversas e os construtores?”

Restrição do fluxo de combustível
Todas as marcas sabem que o processo de equalização passa pela restrição do caudal de combustível ao motor, caso no final de três provas se verifique que há uma marca que está claramente acima em prestações. É por isso que importará saber até que ponto as Ducati manterão a vantagem demonstrada no circuito victoriano, cujo traçado tem sido tradicionalmente favorável às ´balas´de Bolonha.
Perante um Toprak descrente, foi Michael van der Mark que levantou a eterna questão. “Porque é que demorou tanto tempo para nos dizerem que que não podiamos utilizar o mesmo quadro, estávamos já bem dentro dos testes de inverno? Porquê?”, numa situação a fazer lembrar a limitação de rotação dos motores da ZX-10RR de Jonathan Rea e Alex Lowes há não muito tempo atrás.

E tudo isto perante a perspetiva de uma nova Panigale V4R que se anuncia para o final deste ano, que promete ser algo de verdadeiramente revolucionário. A Kawasaki contornou parte das dificuldades com a Bimota, a Honda continua a batalha de fazer funcionar a Fireblade e a Yamaha não vai ter uma nova YZF-R1 para o próximo ano. Por isso, a limitação do caudal de combustível vai ser, ou terá de ser, a bala de prata para a equailização de prestações, algo que não funcionou totalmente com a limitação de rotação dos motores. Afinal, manter toda a gente contente é quase o prenúncio de uma missão impossível… ou talvez não.

“Tudo definido com antecipação”
Christian Gonschor, o diretor técnico da BMW Motorrad Motorsport, assistia atento a esta conversa. Esperava o final da mesma para poder falar comigo. Não resistiu a intervir para esclarecer a situação que se havia criado e ‘matar’ o assunto. “A limitação da alimentação de combustível como modo de equilibrar prestações foi anunciada com bastante antecedência”, fez questão de frisar. “Não é questão de dizer se está certo ou errado, se é branco ou preto. Foi claramente anunciada durante a época passada para que todas as marcas e equipas se pudessem preparar. Portanto, não surge como uma surpresa. “Os regulamentos para esta época estão bem definidos e agora só temos de nos concentrar em correr a cada fim de semana”.
Ainda sobre a questão do desconforto de Toprak em Phillip Island, Gonschor foi taxativo. Olhem para o resultado da primeira corrida e a distância que separou o vencedor dos restantes. “A questão não é ficar em segundo, terceiro ou quarto. Como engenheiro, e não como piloto, prefiro terminar em quarto a um segundo de distância do primeiro, do que segundo classificado mas a seis segundos de distância”, explicou. “Já fechei o capítulo de Phillip Island”, completou Toprak. “Compete-me a mim mostrar na pista aquilo que valemos como equipa”.

MotoGP: sim ou não?
Os artigos que revelam Toprak apontado, finalmente, ao MotoGP, têm-se sucedido nos últimos dias. Há quem diga que o turco já assinou com a Honda, para o lugar de Luca Marini, “e que fará até as últimas três corridas do campeonato, dizia no meio de uma risada Michael van der Mark”.
“Nada disso é verdade, disse o piloto da BMW, e só me faz sorrir porque até o meu irmão me ligou a perguntar o que se passava. Não sei quem escreve estas coisas, mas não é verdade. É certo que estou livre para o ano e não sei se vou continuar com a BMW ou não”.
Kenan Sofuoglu, o mentor e agente da nova fornada de pilotos turcos, tem publicamente afirmado que somente interessa a passagem para este campeonato se Toprak estiver numa equipa de fábrica. O único lugar livre no próximo ano é precisamente o de Marini na Honda oficial (se não considerarmos a Pramac como tal, pois nesse caso Miguel Oliveira tem apenas contrato para um ano). O que tem Toprak Razgatlioglu a dizer sobre o tema? “Tudo isso é muito interessante mas de momento não sei nada sobre o meu futuro”, disse. “Tenho o sonho de ingressar no MotoGP, isso não é novidade”.

“Que equipa me recomendam?”
Já conhecendo bem a palestra de inquisidores, o piloto da Rokit não se coíbiu de disparar uma pergunta provocatória: “Que equipa me recomendam”?
Que fiques aqui, foi a resposta unânime. “Porquê? Porque devo ficar?”, ripostou Toprak. Andrea Dovizioso terá efetuado variados testes com o motor V4 da Yamaha, mas a marca decidiu nada mexer para este ano. O certo é que Fabio Quartararo manteve nos níveis do ano passado e a KTM, mesmo com a super-estrela Pedro Acosta, anda afastado dos lugares da frente e a Honda andou razoavelmente, mas com Johan Zarco.
Ou seja, ou se tem uma Ducati ou então vale mais ficar em casa. “Toda a gente tenta saltar para o lado da Ducati, que tem a melhor moto da grelha”, anuiu. “Mas em 2027 tudo vai mudar e a Pirelli também vai entrar neste campeonato”, pelo serão mais as perguntas do que as repostas na cabeça do natural de Alanya.
E isto sem sabermos o que anda a aprontar Marc Bongers, o anterior diretor desportivo da BMW Motorrad, que nos dizem estar envolvido num ‘projeto especial’ para a marca de Munique. Com Toprak?

Em Portimão de Africa Twin
Depois de um voo intercontinental, foi apenas tempo de recolher a Honda CRF1100L Africa Twin DCT, cedida pela Honda Ibérica, com que na madrugada de Quinta-feira me meti à estrada ligando Madrid a Portimão.
A parte pior foi o frio que se manteve até o sol despertar de forma lenta e preguiçosa. Com uma passagem pelo circuito de Monteblanco, onde orgulhosamente pude ver o meu rapaz em atuação como diretor técnico de um dos GMA T50S experimentais a concluir duas semanas consecutivas de testes, ao final de 800 quilómetros chegava ao AIA.
Nada de novo, mas apenas a confirmação da ´gémea africana´ como uma estradista nata, em que apenas basta meter gasolina e andar. É sem sombra de dúvida uma moto de exceção e uma incansável companheira de viagem, para os mais variados tipos de pisos e situações.
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