Precursora de uma nova abordagem à mobilidade urbana no virar do milénio, a marca italiana renova agora a Piaggio Beverly 310, reforçando os argumentos de uma polivalente urbana, que junta a agilidade de uma scooter, a estabilidade de uma roda grande e o conforto de uma GT. E que monta agora um motor hpe ainda mais potente e elástico, respeitador da norma Euro5+, que é uma boa alternativa para quem procura mais performances para alargar o raio de ação.

- Texto: Paulo Ribeiro
- Fotos: Alberto Pires
Dona de surpreendente agilidade na cidade, capaz de enfrentar as ligações interurbanas sem aborrecimentos e com performances que permitem divertidas escapadas de fim de semana, mesmo a dois, a Piaggio Beverly 310 é daquelas scooters a quem o mercado não presta as honras devidas. Mesmo com números de matriculações bastante interessantes ao longo das duas últimas décadas, esta italiana tem tudo para brilhar ainda mais. Desde logo pela elegância em todas as passarelas, capaz de deslizar discretamente mas com requinte por entre o tráfego urbano, como de revelar toda a firmeza e harmonia no passo, em qualquer via rápida.

As rodas de maior diâmetro (16 polegadas à frente e 14” atrás) reforçam a sensação de fineza da Piaggio Beverly 310 conferida por linhas fluídas e superfícies com tanto de musculado como de elegante, mantendo, afinal, a melhor tradição da escola italiana do design motorizado. A alta parte frontal tem largura suficiente para garantir uma boa proteção aerodinâmica às pernas, mas deixa a descoberta o cabeça do condutor, alvo fácil do vento quando a velocidade cresce até aos limites em vias rápidas e autoestradas. Nada que um dos para-brisas opcionais, integrados na recheada lista de acessórios, não resolva com (mais) uma boa dose de estilo…

Um extra para a Piaggio Beverly 310 que ajudará também a uma melhor postura corporal, evitando o curvar do tronco para minimizar os efeitos da pressão aerodinâmica, único óbice numa posição de condução excelente, com acertado triângulo ergonómico entre o guiador, assento e apoio dos pés. Patamar cujo desenho, ainda e sempre de linhas discretas, ajuda na hora da paragem, facilitando o apoio dos dois pés no chão para condutores na casa do metro e 70.

Sublinhe-se porém, e tal como acontece em todas as scooters de roda grande, que esta placa oferece apenas uma posição para os pés, com os joelhos a 90º, não permitindo lançar as pernas para diante, numa atitude mais relaxada. Ou seja, conforto sim, mas sempre com uma dose ampliada de aprumo e elegância. Tanto mais que existe espaço suficiente para todas as pernas, mesmo as dos condutores mais altos, além de um bom apoio lombar no assento de dois patamares.
Painel LCD melhor que muitos TFT
Ainda no posto de condução da Piaggio Beverly 310, nota surpreendentemente positiva para o painel de instrumentos, cujo ecrã LCD de 5,5”, para muitos fora de moda, garante uma excelente visibilidade. E quando digo excelente, é porque tem todas as informações necessárias e oferece uma leitura fácil e imediata em todas as situações. Mesmo com o sol intenso que, por vezes, rouba o brilho aos ecrãs TFT.

Com punhos de bom toque e acabamento irrepreensível e comandos elegantes e bem posicionados, nota para o assento da Piaggio Beverly 310 cuja boa impressão inicial pode dar lugar a uma sensação estranha. Isto porque, na passagem por ressaltos mais salientes ou buracos maiores, sente-se um ‘efeito mola’ devido, muito provavelmente, à contração da estrutura interior do assento. Uma peça em plástico injetado, com uma configuração que ajuda a guardar mesmo um capacete integral – incluindo um modular – e mais alguns objetos no espaço iluminadi sob o banco, mas cuja resistência (para adaptar-se melhor à configuração da calota do capacete) leva a essa flexão.
Sensação que logo é esquecida, focando a atenção no bom trabalho do amortecimento. E falamos tanto da forquilha hidráulica Showa (35 mm de diâmetro), com uma boa sensibilidade desde os primeiros dos 100 mm de curso e uma resposta mais enérgica na parte final, garantindo estabilidade absoluta a velocidades maiores, como dos dois amortecedores traseiros.

Aliás uma das surpresas da Piaggio Beverly 310 S, graças aos 94 mm de curso e 5 possibilidade de ajuste em pré-carga, que garantem uma passagem exemplar em pisos de paralelo ou asfalto em mau estado. Conforto e controlo que se estendem até às maiores lombas e passadeiras sobrelevadas, chegando ao limite do curso apenas em situações extremas e com duas pessoas a bordo.
Componentes de segurança absoluta
Ainda no capítulo da ciclística, de notar uma travagem condizente com as prestações do novo motor, com um disco de 300 mm – o maior da categoria – e pinça de dois pistões na dianteira, oferecedor de desacelerações facilmente controláveis graças a uma boa sensibilidade. Além de uma potência que garante a paragem imediata da Piaggio Beverly 310 mesmo perante os mais inusitados obstáculos urbanos.

Claro que aqui conta com o apoio do elemento traseiro, de 240 mm e pinça de dois pistões, bem como de um ABS vigilante sem ser demasiado intrusivo, sobretudo na dianteira, e de um bom equipamento pneumático. Pneus que, no caso da versão S, são os excelentes Michelin City Grip 2, nas medidas 110/70 x 16” e 140/70 x 14” nas desportivas rodas de sete braços duplos, permitindo tirar o melhor partido da agilidade da Piaggio Beverly 310. E sempre com elevada aderência em todos os tipos de piso, incluindo no empedrado mais irregular.

Claro que aqui, em situações potencialmente mais ‘derrapantes’ podemos contar com segurança acrescida graças ao elevado patrocínio do controlo de tração (ASR). Que pode parecer de somenos importância numa máquina com 27,7 cavalos de potência, mas que, sobretudo em meio urbano, acaba por revelar-se de grande utilidade. Afinal, quem é que nunca apanhou o paralelo molhado com a água da lavagem de uma esplanada mesmo à saída de uma curva? Ou um monte de folhas outonais à passagem por um insuspeito jardim?…

Equipamento que reforça o equilíbrio estrutural da Piaggio Beverly 310 conseguido com uma boa distribuição dos 185 kg apoiada, também, na colocação do depósito de 12 litros por debaixo do túnel central. Posicionamento que contribuiu ainda para a ‘descoberta’ de mais espaço sob o banco de dois níveis, cuja forma e altura (800 mm) permite um bom apoio dos pés no solo durante as paragens e onde o pesponto em cinzento confere mais um toque de distinção.
Piaggio Beverly 310 cresceu em todos os sentidos
Nível de equipamento e componentes que sublimam a evolução motriz, com um bloco que, segundo a marca italiana, foi renovado em 70% das peças, nomeadamente a injeção eletrónica, o sistema de arranque, cárter com novo desenho que diminui o ruído de funcionamento do motor e da correia de transmissão, além do cilindro de eixo descentrado. Menor atrito que favorece um funcionamento mais silencioso e eficiente, além de contribuir para a redução do consumo e aumento da resposta ao acelerador.

Na prática, fica bem claro a evolução das prestações da Piaggio Beverly 310 com o crescimento de 278 para 310 cc, substituindo o anterior bloco que equipava também a Vespa GTS 300, conseguido à custa do aumento do curso do pistão de 63 para 70,1 mm, mantendo o diâmetro de 75 mm. Com uma potência máxima de 27,7 cv às 7500 rpm, e um binário de 29,5 Nm às 6000 rpm, é notória a acrescida capacidade de arranque nos semáforos, fazendo frente nos primeiros metros a scooters bem maiores. E quanto a motos de caixa nem se fala… Mas, por paradoxal que possa parecer, não foram só as saídas canhão a ganhar, melhorando também a suavidade na resposta.

O motor da Piaggio Beverly 310 sente-se desde o primeiro movimento do acelerador bem como nas recuperações em regimes intermédios. Isto é, quando se corta gás e volta a acelerar, situação recorrente em ambiente urbano, a resposta é decidida mas, ainda assim, bem controlável. Diria quase confortável, sem exageros desportivos na hora de entregar a potência, proporcionando uma condução rápida mas relaxada, eficaz mas cómoda.

Uma elasticidade que é trunfo de peso dentro da cidade mas também nas ‘circulares’ e ‘vias rápidas’ permitindo tirar partido da reserva de potência para uma ultrapassagem mais apertada. É que, com velocidades de cruzeiro confortáveis na casa dos 120 km/h ainda tem um pico para deixar para trás algum carro que, para seguir a essa velocidade, largue um pouco mais de fumo. E isto mesmo com passageiro a bordo, reforçando a polivalência da Piaggio Beverly 310 em situações tão diversas como as deslocações urbanas ou os passeios mais longos.
Equipamento pode ser recheado com muitos acessórios
Neste particular, nas viagens para lá da zona de conforto da Piaggio Beverly 310, sobressai um motor à altura de todas as solicitações, mas também um nível de equipamento requintado que, de série, inclui o descanso central, uma prática luz de cortesia no espaço sob o banco e o sistema Keyless, de chave inteligente. Que pode também funcionar na opcional ‘top case’ de 52 litros que tal como a versão de 36 L pode ter as tampas à cor da carroçaria, ambas integradas numa completa lista de acessórios.
Rol que inclui os punhos e assento aquecido, cobertura para as pernas, antirroubo mecânico em forma de cabo entre o banco e o guiador, antirroubo eletrónico, ou a exclusiva cobertura para a Piaggio Beverly 310 além de dois para-brisas desportivo e Urban.


Isto sem esquecer o sistema de conetividade MIA que permite ligar o telemóvel à Piaggio Beverly 310 através de Bluetooth, com a nova APP, para iOS ou Android, a permitir visualizar as chamadas e mensagens recebidas e fazer a gestão da música. A aplicação tem outras funcionalidades, nomeadamente a possibilidade de mostrar a rotação, a potência e o binário instantâneos do motor, consumo instantâneo e médio, a carga da bateria, bem como as funções ‘find me’ e ‘follow me’ que ativam os piscas e a buzina para descobrir a scooter mesmo nos parques de estacionamento mais concorridos.

Quanto às diferenças entre a sóbria Piaggio Beverly 310 (5799 €) e a versão S (+ 100 €), residem nas cores, com tons brilhantes (branco Luna e negro Cosmo) para a primeira. Já a alma desportiva de GT da S fica patente nas decorações em mate (cinzento Mercury, preto Meteor, verde Jungle e azul Sapphire), de toque mais elegante, e pormenores em cinza grafite nas jantes, pegas do passageiro e molduras do painel de instrumentos e farol, além de detalhes em azul no logo S, na entrada de ar e nas jantes.
Já agora, e para aqueles que buscam performances superiores à Piaggio Beverly 310, há sempre a opção da Beverly 400, com motor de 399 cc e 35,4 cavalos, além de pneus ligeiramente mais largos e comprimento total um nadinha superior. E com um consumo também mais elevado que os 3,8 L/100 km que fizemos de média, com máximo de 6,8 L/100 km a fundo em autoestrada e mínimo de 3,18 L/100 km a uma velocidade estabilizada de 90 km/h. Valores instantâneos aferidos no computador de bordo cujas medições revelaram uma precisão assinalável, também em termos de velocidade média.
Partilha este artigo!