Mutt DRK-01 250. Urbana destemida

Mutt DRK-01 é o título do mais recente capítulo da história da marca sedeada em Birmingham. Um estilo mais moderno e agressivo que deixa para trás, de forma algo tímida, os traços de puro classicismo, e que abraça um novo motor. Bloco de refrigeração por líquido, com duas árvores de cames à cabeça e 4 válvulas, além de, não menos importante, passar a contar com caixa de 6 velocidades. Novo é também o quadro bem como as espetaculares jantes, fabricadas em casa. Tem muita pinta, é certo, mas será que é máquina para todo o serviço?

  • Texto: Paulo Ribeiro
  • Fotos: Delfina Sordo

Após vários anos dedicados à customização de motos de outros fabricantes, a criação da marca Mutt permitiu oferecer ‘café-racers’ e ‘scramblers’, com muito estilo e preços contidos. Uma década de bons e louváveis serviços que despertaram a paixão de muitos novos motociclistas. Agora, com a Mutt DRK-01, a casa britânica dá um passo significativo rumo à afirmação enquanto construtor mais exclusivo. Modelo que é fruto das importantes mudanças vividas em 2020, com a mudança de instalações e o reforço da equipa de desenvolvimento. Novos designers e engenheiros apostados em reformular os produtos sem beliscar a filosofia que esteve na criação da marca por Benny Thomas.

Inspirada na Revolução Industrial

Criada a partir de uma folha em branco, a Mutt DRK-01 desperta um misto de sensações. Desde logo pela brutalidade que ressalta das linhas, resultado da mais pura inspiração industrial encontrada em Birmingham. Traços vincados separando superfícies ora planas, ora curvas, que a decoração em negro torna mais intrigante e portentosa. Não se pense, porém, que os cuidados ergonómicos estiveram ausentes deste estudo estilístico. Antes pelo contrário, foram bem aproveitados os ensinamentos colhidos ao longo dos anos em máquinas que se querem distintas, mas sem abdicar do bem-estar a bordo.

O assento, por exemplo, com uma textura ousada, mais própria de um moto de motocrosse, revelou inusitado conforto. Transmitindo uma primeira impressão de grande dureza, acabou por mostrar-se muito mais amigável do que parecia à primeira vista. Assim, é possível ir bem para lá das curtas ligações urbanas de todos os dias e ousar umas viagens de fim de semana. Desde que haja um pouco de paciência que esta Mutt DRK-01 não é uma turística pura…

Mutt DRK-01

É, isso sim, uma urbana pronta a desafiar cânones pré-estabelecidos e partir à descoberta daqueles locais surpreendentes que resistem mesmo nas grandes cidades. De forma simples e descontraída, num estado de espírito que começa com a posição de condução. O assento, já se disse, oferece um bom apoio e a distância ao solo (795 mm) associada às linhas estreitas ao nível dos joelhos permite um fácil apoio dos pés nas paragens. Fator de confiança acrescida e descontração a que se junta um guiador bem ajustado. Com largura suficiente para uma condução intuitiva, permite boa alavancagem nas mudanças de direção, mas sem ser demasiado intrusivo em ambiente urbano. Tal como os retrovisores, de bem clássica forma redonda e com visibilidade bastante razoável.

Detalhes que marcam a diferença

Parados num qualquer semáforo, tempo para analisar outros pormenores. A começar pelas manetes de bom recorte e facilmente ajustáveis na distância aos punhos. Também eles confortáveis e com boa aderência, com um desenho que exalta o minimalismo da Mutt DRK-01. Filosofia levada ao extremo no minúsculo painel de instrumentos, que mais parece ter sido montado apenas para cumprir os requisitos legais. De formato redondo, claro está, destaca as rotações feitas pelo motor, deixando pequeno espaço para a velocidade instantânea, a relação engrenada e o totalizador de quilómetros. Apenas o indispensável e nada de supérfluo, ainda assim com legibilidade q.b.

Mutt DRK-01

Faltou falar do indicador do nível de combustível que permite saber quanta gasolina resta no depósito de 16 litros de capacidade. Bonita peça fabricada em aço estampado, de imagem sólida e com vistoso tampão tipo aviação. Mas que peca pela estrutura interna que dificulta o reabastecimento. Obrigando a cuidados acrescidos para evitar salpicos de gasolina que mancham com alguma facilidade a pintura em negro mate.

Detalhes de grande importância estética e, alguma, funcional, são o grande protetor do cárter em aço que protege motor e escape e os guarda lamas. De pequenas dimensões e linhas vincadas, reforçam o aspeto rude e musculado da Mutt DRK-01. Num excelente contraste com o minimalista farol traseiro, bem integrado sob o banco, e o farol dianteiro, em LED. Uma peça redonda, oferecedora de boa iluminação, que se destaca na imagem mostrando forte assinatura luminosa.

Motor, esse velho conhecido

Colocando o motor de 249,2 cc (72 x 61,2 mm) em funcionamento através do arranque elétrico, logo se percebe ao que vem a Mutt DRK-01. O som metálico saído pela cuidada ponteira de escape é forte sem incomodar. Deixa o motor respirar livremente e permite adivinhar um comportamento vivo. O que rapidamente é confirmado ao engatar a primeira das 6 relações da precisa e suave caixa de velocidades. Bem apoiada numa embraiagem muito fácil de utilizar, a caixa acabou apenas por deslustrar na capacidade de alongamento. Mostrou ser algo curta para o potencial do motor, chegando ao limite de rotações apenas depois de muita insistência com o acelerador. Ainda assim com velocidade de ponta que supera o máximo legal nas estradas lusitanas!

Mutt DRK-01

Com a força entregue de forma suave e linear desde baixas rotações, tem o pico de potência de 26 cv às 9500 rpm, e um binário de 22 Nm às 7000 rpm. Intervalo de rotação onde, de forma esperada, transmite algumas vibrações aos poisa pés e punhos, mas sem nunca revelar um funcionamento ruidoso. Outra das vantagens do arrefecimento por líquido!

Motor desenvolvido pela KTM e fabricado pela chinesa CFMOTO, conhecido das NK ou SR 250, além de equipar modelos de outras marcas. E que revelou enorme à vontade em cidade, com a caixa curta a tornar a condução divertida e rápida.

Bem como, imagine-se, numa escapada em fora-de-estrada! Havia que experimentar os pneus no seu habitat natural (já lá vamos…) e a maior surpresa acabou por sair do bloco térmico. A suavidade nos regimes mais baixos e a forma como a potência é entregue, permite uma condução fácil quando a estrada acaba. Mesmo os menos experientes poderão aventurar-se, sem necessidade de andar de pé.

África fica para a próxima…

No entanto, em ambientes mais hostis, a suspensão revela os seus limites, com resposta algo seca na recuperação. Mesmo que a imponente forquilha invertida, com jarras exteriores de 51 mm de diâmetro permita um curso de 107 mm. Suficiente em cidade e mesmo em off-road ligeiro, batendo no limite apenas quando os obstáculos, buracos ou ressaltos, são mais próprios de uma pista de motocrosse. E aqui, tal como nas lombas urbanas, torna-se visível a menor capacidade de recuperação do hidráulico, sentindo-se maioritariamente o trabalho das molas.

Atrás, boa nota para o estilo e simplicidade, com dois amortecedores, dotados de reservatório de expansão externo e ajuste em pré-carga. Igualmente saltitões, estão naturalmente mais vocacionados para o conforto do que para as grandes aventuras transafricanas. Até porque os 65 mm de curso, a distância livre ao solo de 130 mm e os 166 kg de peso (com líquidos e 90% de gasolina no depósito), deixam bem claro qual o ambiente favorito da Mutt DRK-01.

Mutt DRK-01

Por isso, descontraiam e apreciem os sobredimensionados pneus de 120 mm de largura, com um perfil bem aventureiro, montados nas espetaculares jantes de 18 polegadas. Rodas iguais nos dois eixos e que são a menina dos olhos dos técnicos da Mutt. Sobretudo porque os aros e cubos foram inteiramente desenvolvidos em King’s Norton, na parte sul da cidade de Birmingham, e maquinados a partir de blocos de alumínio. Os dentes salientes permitem fixar os curtos raios externamente e assim utilizar pneus tubeless. Borrachas oriundas da gama de off-road do gigante chinês Timsun, os TS 818 ambos na medida 120/90 x 18”. Que mostraram comportamento razoável em todas as circunstâncias, mesmo em piso húmido. Mas que imprimem à roda dianteira um caráter próprio, obrigando a alguma habituação para contrariar a tendência em cair para o interior da curva.

Quando o tamanho é mais importante…

Não sendo nada de problemático, é apenas um tique que exige um cuidado acrescido na descoberta da nova Mutt DRK-01. Aliás, tal como a travagem dianteira. Que fica aquém do prometido pelo gigantesco disco de 320 mm de diâmetro e pinças de 4 êmbolos com fixação radial. A manete oferece um tato de pouca sensibilidade, sem feeling para uma travagem progressiva. Tem potência, é certo, mas apenas quando se aperta com imensa força, o que parece denotar pastilhas demasiado duras. Ou a necessidade de tubagens do sistema de travagem mais fortes!

Bem melhor a unidade traseira, com disco de 240 mm e pinça duplo pistão, fácil de utilizar em todas as situações. Com efeito, tanto nas travagens mais fortes como nos simples toques para ajustar a trajetória, oferece uma sensibilidade muito superior ao disco dianteiro. Apesar de, abusando um pouco, ser notória a entrada em ação do ABS Bosch, mesmo em piso seco.

Uma coisa é certa! São estes detalhes que tornam a Mutt DRK-01 250 uma máquina única. Estes e outros, como a bonita e sinfónica saída de escape ou os diversos componentes maquinados em CNC. Das manetes aos topos da forquilha.

Qualidade explícita que torna o preço (5100 €) bastante atrativo, sendo que para os mais jovens ou detentores da carta automóvel, existe a versão 125 cc. Que também pode ser vista e experimentada na Garagem Central e custa 4250 €. Outra das boas surpresas prende-se com o consumo, sendo bastante real a média de 2,9 L/100 km anunciada pela marca. É que, mesmo sem grande rigor consumista, gastamos 3,1 litros por cada centena de quilómetros percorridos com ritmos vivos e por vezes com passageiro.

Mutt DRK-01

Comments are closed.