Ducati Panigale V2S. A moto de Marquez e Bagnaia

Autor:  Paulo Ribeiro

Abril 7, 2025

A nova Ducati Panigale V2S é uma surpresa de facilidade e conforto. E não, não estamos equivocados ou a falar de uma qualquer máquina de ambições turísticas. Esta é uma supersport à moda antiga! Daquelas que brilhavam nas pistas ao fim de semana e que, no dia-a-dia, permitiam ir para o emprego ou para a faculdade de forma prática e serena. A diferença para aquelas que então tinham apenas um ‘R’ na designação é que esta Ducati Panigale V2S é ainda mais monstruosa em pista.

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  • Texto: Paulo Ribeiro
  • Fotos: Alex Photo

Com o mesmo motor da Multistrada V2S e também da mais pequena das Streetfighter, a Ducati Panigale V2S é assim como um puto atrevido. Daqueles miúdos cujos caracóis loiros e olhos claros dão uma face de anjinho, pouco condizente com as tropelias que protagonizam mal os adultos viram costas por um segundo. Comportamento que, abreviando a história, ditou a escolha de Marc Marquez e de Francesco Bagnaia para moto de treinos.

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Afinal, e mesmo destacando-se pela enorme facilidade de utilização, a Ducati Panigale V2S é uma verdadeira moto de corridas. Que, na configuração utilizada pelos pilotos da equipa oficial de Borgo Panigale, debita 126 cavalos e pesa 169 quilos. Números que garantem elevada eficácia e diversão sem as exigências das mais potentes superbikes…

O bom momento desportivo e financeiro, ultrapassando a fasquia dos mil milhões de euros de faturação pelo terceiro ano consecutivo e com um resultado operacional (EBIT) de 91 milhões de euros, evocado por Carlos Panisello, Diretor Geral da Ducati Espanha e Portugal, leva a marca a não abrandar no ritmo de lançamento e evolução da gama. Ultrapassando um ano complexo no sector das duas rodas, a Ducati garantiu na rentabilidade de 9,1% sobre as vendas apesar de uma ligeira inflexão do número de unidades vendidas, com 54.495 unidades face às 58.224 motos entregues em 2023.

Carlos Panisello Ducati Panigale V2S
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Abordagem financeira que reflete o cuidado com o futuro por parte da casa italiana que, pensando também na melhor adaptação às necessidades do mercado e no acerto estrutural da gama – criando mais espaço entre as duas Panigale – desenvolveu uma moto completamente nova. A começar por um bloco V2 a 90º, com 890 cc de capacidade e uma distribuição que abandona o sistema desmodrómico optando pela variação na abertura das válvulas em função das necessidades de respiração e alimentação.

A Ducati Panigale V2S conta assim com um motor inteiramente novo, aqui com mais 5 cavalos face à Multistrada para um total de 120 cv no mesmo regime (10 750 rpm) sendo o binário também um pouco superior (+ 1,3 Nm), agora de 93,3 Nm às 8250 rpm. Números que poderão deixar os mais céticos com um expressivo franzir de sobrancelhas. Afinal, são menos 35 cavalos face ao bloco Superquadro de 955 cc que equipava a anterior versão da desportiva italiana!…

A verdade da matemática

Mas os números valem o que valem! Ou melhor, têm o valor que queiramos atribuir-lhes. E mesmo sem colocar em causa indesmentíveis verdades matemáticas, a realidade é que este novo bloco tem um potencial enorme. Mas vamos a mais números!

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Mantendo uma configuração de motor superquadrado, o mais leve V2 desde sempre fabricado em Bolonha (54,4 kg) apresenta um diâmetro dos cilindros de 96 mm para um curso dos pistões de 61,5 mm. Desenho que permite elevadas rotações, podendo facilmente entrar no ‘red-line’, cortando às 11.350 rpm na 5ª e 6ª relações.

Sempre em linha com as ciências que estudam os números, entender que, apesar de inferiores, os valores apresentados pela Ducati Panigale V2S surgem de uma forma muito mais progressiva e utilizável. Basta ver que 70% do binário está disponível desde as 3000 rpm e a marca anuncia que entre as 4000 e as 11000 rpm o binário nunca desce dos 80% do valor máximo. O que reflete o importante papel da distribuição variável, com mais potência no topo do regime e acrescido binário em baixas e médias das rotações, a que se soma uma entrega de potência mais suave e controlável.

Equação de prazer

Em termos práticos isto traduz-se numa equação de enorme facilidade de utilização e grande controlo. É fácil rodar em cidade, podendo arrancar apenas um pouco acima do ralenti e trocar de caixa sempre nas mais baixas rotações que o V2 não reclama. Tal como tínhamos realçado no teste da Multistrada V2S, com este novo motor a Ducati ganha preponderância num terreno que estava longe de ser a sua praia.

Em clima urbano é agora possível andar sem grande stress, sempre com força disponível e sem grande ruído. Além do escoamento do calor gerado pelo motor (menor que anteriormente) ter sido particularmente cuidado para ser afastado das pernas do condutor. O que é particularmente notório assim que a velocidade passa dos 40 ou 50 km/h.

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Um motor de grande suavidade, oferecedor de caráter distinto consoante… o estado de espírito do condutor/piloto! É possível rodar calmamente no meio do trânsito ou apreciando a paisagem, para, no instante seguinte, reduzir uma ou duas velocidades e usufruir de uma autêntica moto de corridas. A quase linear curva de entrega de potência, com força disponível e facilmente utilizável numa larga gama de rotações, reduz grandemente o esforço na condução e aumenta a versatilidade.

De série na Ducati Panigale V2S surgem então as acelerações decididas e vigorosas, e mesmo se não são daquelas de levantar a roda à mínima rotação do punho direito, permitem um andamento verdadeiramente rápido e divertido. Ritmo desportivo que pode ser exponenciado com a rapidez, precisão e bom feeling proporcionados pelo sistema Ducati Quick Shift 2.0 que acompanha a caixa de 6 velocidades. Que, com alguma surpresa, mostrou ter um escalonamento bem-adaptado à utilização em estrada, mesmo no modo turistando-num-fim-de-tarde-de-domingo.

A explicação reside no caráter redondo e cheio do motor, como apontou Carlos Riaza, Responsável de Produto Ducati para os mercados ibéricos. E que, em termos práticos, permite utilizar uma velocidade mais baixa para utilização mais desportiva ou subir de caixa para um andamento mais descontraído, mas sempre sem hesitações ou soluços do motor.

Carlos Riaza 01 - MotoX
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Os luxos eletrónicos da Ducati Panigale V2S

Um comportamento que nos obriga, claro está, a falar da completa eletrónica que começa nos modos de motor (Wet, Road, Sport e Race) e, além do quickshifter DQS 2.0, estreado na todo-poderosa Panigale V4, disponibiliza uma panóplia de configurações e ajustes. Assim, e com a imprescindível ajuda da unidade de medição inercial (IMU) de seis eixos, é possível tirar partido do ABS regulável e com função Cornering para maior segurança em curva.

Ecrã com três configurações diferentes, Road, RoadPro e Track, sendo que nesta é possível ajustar todos os parâmetros eletrónicos ao pormenor. E com o opcional Lap Timer Pro até podemos aferir os tempos não apenas por volta, mas em cada setor do circuito, percebendo onde melhoramos as performances através de informação cromática que faz lembrar as transmissões televisivas de MotoGP. E isto, note-se, recorrendo a um evoluído sistema de GPS que reconhece o traçado e funciona sem qualquer intervenção do piloto, evitando distrações desnecessárias.

O pacote de ajudas da Ducati Panigale V2S contempla ainda o controlo de tração (DTC), de cavalinhos (DWC), do efeito de travão-motor (EBC), todos regulados facilmente a partir do novo painel TFT de 5″ e do joystick de cinco eixos. Nota ainda para o sistema de aviso de travagem de emergência Ducati Brake Light EVO e dos apoios para as pistas Ducati Power Launch e Ducati Pit Limiter (DPL).

Continuando ainda a falar do bloco motriz da Ducati Panigale V2S, de notar o posicionamento do bloco inclinado 20º para trás, beneficiando a distribuição de peso e o equilíbrio geral. Mudança face ao tradicional ‘L’ que foi possível graças ao novo quadro: uma estrutura monocoque em alumínio de 3 mm de espessura, funcionando o motor como elemento estrutural. Ganha-se em peso e, sobretudo, num melhor controlo da rigidez, o mesmo sucedendo com a secção traseira ou o braço oscilante, também em alumínio fundido.

Eficácia escondida numa ‘caixa de cartão’?

A forma mais simples de perceber como funciona este inovador quadro é pensar numa caixa de cartão que, fechada, garante uma resistência muito mais elevada face à apresentada pela soma de todas as seis faces de cartão. E, tentando rodar os cantos diametralmente opostos dessa caixa, é possível perceber como funcionam a acrescida resistência torsional desta configuração e de como é mais fácil controlá-la em função das necessidades. Afinal, tal como no capítulo do motor, também na ciclística a meta foi a redução de peso e aumento da simplicidade. E para melhor se compreender isto, atente-se ainda no facto de o quadro ser utilizado como caixa de ar, minimizando o número de componentes necessários.

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O feeling transmitido pela Ducati Panigale V2S em estrada – o único habitat em que a testámos – é inspirador de enorme confiança, permitindo perceber tudo o que se passa com a dianteira como com a traseira. E isto sem perder a neutralidade de comportamento exigida quando optamos pelo ‘attack mode’.

Curiosamente – ou talvez não! – a sensação na condução remete-nos de alguma forma para os quadros de treliça que marcaram a história da Ducati. A forma como se sente a traseira a trabalhar, buscando a maior aderência sem prejudicar a facilidade de entrada em curva é digna de ser mencionada, tal como a saída sob aceleração forte. Mas contando agora com uma bem maior solidez na passagem por curva e, não menos importante, nas mudanças abruptas de direção, saltando de curva em curva de forma ágil e precisa.

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Comportamento equilibrado da Ducati Panigale V2S que tem, naturalmente, outras justificações. Desde logo um conjunto de amortecimento de luxo, com forquilha Öhlins NIX30 de 43 mm de diâmetro e 120 mm de curso na dianteira e um mono amortecedor TTX36 que permite um curso à roda traseira de 140 mm. Ainda por cima ancorado a um belíssimo braço oscilante em alumínio fundido, semelhante ao utilizado na Panigale V4! Combinação de amortecimento que, apesar de um comportamento irrepreensível em carga máxima, quando procuramos os limites, disponibiliza uma dose de conforto pouco usual nesta categoria.

E isto mesmo nas travagens mais fortes garantidas pelas pinças Brembo M50, oriundas da competição, de 4 pistões e montadas radialmente, que mordem os generosos discos de 320 mm. Desacelerações que podem variar entre uma aveludada suavidade e uma estonteante potência, sempre bem controlada, apenas com um ou dois dedos, graças à souplesse da bomba radial.

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Fortes e equilibrados, os travões dianteiros da Ducati Panigale V2S permitem dosear facilmente a força necessária em cada situação, enquanto o elemento traseiro (245 mm e pinça de dois pistões) pode ser acariciado para ajustes de pormenor em curva, afinando a trajetória de forma milimétrica. Ou, desligando as ajudas eletrónicas, permite vestir a pele de piloto de MotoGP em travagens derrapantes para uma entrada em curva mais rápida. Mas atenção, este exercício deve ser executado, por conta e risco, apenas por quem sabe…

À procura do segundo perdido…

Altura de colocar os Pirelli Diablo Rosso IV, montados em jantes Marchesini, de alumínio fundido com desenho de 6 raios em Y, a fumegar. Sobretudo o traseiro com uma medida (190/55 x 17”) condizente com comportamentos mais agressivos além de existir uma maior quantidade de opções no mercado face ao mais convencional 180/60.

Claro que os mais experimentados ou aqueles que procuram maior exclusividade podem enriquecer a Ducati Panigale V2S com conjunto de opcionais acertadamente designado de Time Attack. Que conta com o escape completo da Termignoni, ganhando 6 cv e mais binário, mas também amortecedor de direção Öhlins, poisa-pés ajustáveis em alumínio maquinado, proteções para as tampas do motor e avanços mais baixos. Além de um peso reduzido para 169 kg em ordem de marcha (175 Kg na V2S de série), mas sem gasolina no depósito de 15 litros.

Ducati Panigale V2S Time Attack

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Avanços com particular relevância na posição de condução que sublinham a busca de maior facilidade e conforto para todos os condutores da Ducati Panigale V2S. É que com os avanços ligeiramente mais altos de série é exigido um esforço substancialmente menor, nomeadamente nos pulsos e com natural reflexos ao nível das costas. Ora, menor esforço gera menor cansaço na condução, o que significa maior frescura física e, dessa forma, um andamento mais rápido, divertido e seguro durante mais tempo.

O que nos leva a outro ponto de análise. O banco, estando a uma elevada altura do solo (837 mm) contribui para um bom posicionamento que nos permitiu largos quilómetros sem qualquer nota de desconforto. Detalhe que teve ainda o importante contributo do já falado escoamento de ar quente, para longe das pernas.

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Substituindo a descontinuada V2 de 955 cc, a nova Ducati Panigale V2S procura leveza máxima e preço competitivo, mas sem abdicar da eficácia e fiabilidade. Pode até ter uma menor velocidade de ponta e acelerações inferiores, mas é mais leve (-17 kg), bastante superior na travagem, como na eficácia em entrada e saída de curva.

O que a coloca numa posição realmente intermédia, de filosofia verdadeiramente Supersport, com comportamento desportivo de eleição, é certo, mas com todos os atributos onde é conduzida por 99% dos utilizadores: apenas em estrada! E aí tem tudo para brilhar. Como brilharam antes dela e desde 1994, a 748, a 848 e a 959. Da facilidade de condução e grande controlo por parte do condutor, ao peso reduzido e conforto a bordo, passando por um desenho aprimorado.

Linhas bonitas que não dispensam o sentido prático de um objeto para utilização intensa. O trabalho neste capítulo foi bastante extenso e entre gabinetes de design e o túnel de vento foram afinadas as linhas de indesmentível ADN familiar. Traços particularmente cuidados nas secções laterais, para a saída de ar quente, e no depósito, para permitir total liberdade de movimentos na pilotagem. Linhas que remetem, de forma natural, para a Panigale V4, começando na assinatura luminosa criada pelos faróis em LED e com DRL e prolongando-se até uma traseira curta, esguia e elevada.

Apesar de alta, a Ducati Panigale V2S é fácil de abordar e, depois de sentados e em andamento, é mais evidente a evolução ergonómica. Boa posição, sem demasiado peso sobre os pulsos e com os comandos ali bem à mão. Sobretudo o conjunto de botões do lado esquerdo que comando grande parte das funções com visualização no novo painel TFT de 5 polegadas.

Além desta Ducati Panigale V2S (19 760 €) surge no mercado a versão standard, mais acessível (17 410 €) por força de um equipamento de caráter menos exclusivo. Dessa forma o amortecimento troca o conjunto Öhlins por uma forquilha Marzocchi e um monoamortecedor KYB, exatamente com as mesmas medidas de diâmetro e curso e sendo também ajustável em todos os parâmetros, tem um peso superior em 3 quilos (179 kg) graças, entre outros detalhes a uma bateria convencional de ácido e chumbo e não de iões de lítio.

E, ao contrário da Ducati Panigale V2S, o sistema de arranque rápido (Ducati Power Launch) e o limitador de velocidade na ‘pit lane’ (Pit Limiter) não estão incluídos de série, podendo ser montados como opcional pensado para os adeptos dos ‘track-days’. A última diferença prende-se com a configuração do assento do passageiro, com banco duplo na versão standard e apenas para o condutor da V2S, sendo que ambas estão homologadas para dois ocupantes e a configuração pode ser alterada através da lista de acessórios.

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Com chegada por estes dias ao mercado nacional, a Ducati Panigale V2S pode ser vista e experimentada nos concessionários nacionais da Ducati no Porto, Leiria, Lisboa ou Faro, ou marcando aqui um test-drive. Depois é só escolher os acessórios entre os quais se destacam o ‘cruise control’, navegação ponto a ponto, sistema de controlo da pressão dos pneus (TPMS) e tomada USB. Quanto à cor, é possível escolher entre o vermelho e… o vermelho!

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