Em tempo de férias, avaliar a QJ Motor SRT 900 é como pensar num hotel excelente, num destino paradisíaco, a bom preço e em sistema de ‘tudo incluído’. O que faz ainda mais sentido para quem, além do atraente valor total, quer evitar complicações ou surpresas desagradáveis que sempre surgem quando se opta pelos ‘extras’. No caso da QJ Motor SRT 900, seja na versão S ou SX, é como ter a pulseirinha mágica que, além de um bom quarto e uma boa praia, garante acesso aos melhores daiquiris, gins tónicos, cubas livres e caipirinhas sempre que apetecer.
- Texto: Paulo Ribeiro
- Fotos: Roger Rovira e Isaac Farrés
O preço é, por norma, o argumento decisivo em toda e qualquer compra. E quanto mais acessível mais atenção desperta. Claro que, quando é muito atrativo, quiçá demasiado baixo, levanta outras dúvidas, nomeadamente quanto ao nível de qualidade. Ou de equipamento. É por isso que, ao partir à descoberta da QJ Motor SRT 900, tentamos descobrir o truque que a torna a mais acessível da categoria. Afinal é anunciada como uma máquina versátil mas potente, superequipada mas com um valor extremamente competitivo. Mas será que é apenas uma moto barata ou estaremos perante uma proposta imbatível no mercado em termos de relação qualidade-equipamento-preço?
Qualidade e equipamento é algo que não falta. Desde as soldaduras dos tubos de aço que forma o quadro aos diversos elementos em alumínio que completam a ciclística, passando pelo nível dos equipamentos ditos periféricos ou por uma dotação eletrónica referencial… incluída de série. Este é, aliás, o argumento superlativo da QJ Motor SRT 900 S e da versão mais aventureira SX: o ARAS ou Advanced Rider Assistance Systems. Estreia de apoio eletrónico à condução (montado de série, nunca é demais referi-lo!), e cujo custo noutras marcas daria para gasolina para fazer mais de 10 mil quilómetros! E não, não é exagero! Pesquisem e façam as contas…
Contributo de peso para deslocações mais seguras que consiste na ligação de vários sensores, radares e circuitos integrados, geradores de avisos em situações de potencial perigo. Como, por exemplo, quando um veículo se aproxima demasiado depressa da traseira da QJ Motor SRT 900, ligando o stop de forma intermitente para alertar o outro veículo e dando indicações visuais e sonoras ao condutor através do painel de instrumentos. Há também informações no painel e nos retrovisores quando um veículo está escondido nos ângulos mortos nos espelhos, bem como a assistência à mudança de faixa, sendo que os avisos sonoros podem ser desligados no menu principal.
Uma caixa de boas surpresas
Mas há outros equipamentos montados de série, ou seja, incluídos no valor final a pagar pela QJ Motor SRT 900, e que reforçam a ideia de um excelente negócio. O ‘quick shifter’ funciona de tal forma bem que, em determinadas alturas da apresentação ibérica do modelo, por terras galegas das Rias Baixas em redor de Pontevedra, tivemos de olhar para o painel para confirmar se a velocidade estava efetivamente engrenada! No entanto, e como a perfeição não existe, o sistema mostrou-se sensível a uma utilização desajustada em termos de rotação e, sobretudo, face à posição do seletor.
Que também interfere com a utilização convencional, bastando um pequeno ajuste no pedal das mudanças para mudar completamente o carácter e usufruir de uma caixa extremamente suave e bem escalonada, mantendo a eficácia e facilidade ao utilizar a embraiagem assistida e deslizante que equipa a QJ Motor SRT 900. Caixa de velocidades que casa na perfeição com o motor de dois cilindros paralelos, com refrigeração líquida, duas árvores de cames à cabeça e 4 válvulas por cilindro. Que, mau grado algumas vibrações que conseguem escapar ao veio de equilíbrio, responde de forma despachada desde baixas, com médias poderosas e uma capacidade de alongamento surpreendente.
Bloco de 904 cc, oferecedor de um máximo de potência de 95 cavalos às 9000 rpm e um binário de 90 Nm às 6500 rpm, que é controlado por um acelerador eletrónico com um tato agradável, desaparecendo a impressão do pequeno ‘gap’ existente no início do curso do punho direito depois de cumpridos os primeiros quilómetros.
Acelerador Ride by Wire que permitiu a montagem do Cruise Control, fácil de acionar a partir da 4ª velocidade e de ajustar através de bem posicionado botão dedicado. Ainda no capítulo motriz destaque para o controlo de tração, que pode ser desconectado, tal como o ABS Bosch nas 2 rodas para uma utilização em fora de estrada ou numa condução mais agressiva. Situação que fez sentir um dos pontos em que a QJ Motor SRT 900 precisa ser melhorada, com alguns cortes mais abruptos da ignição/injeção. Algo que os responsáveis da marca garantiram vir alterado já nas primeiras máquinas a chegar ao mercado, com novos ajustes da injeção eletrónica fornecida pela Bosch.
Segurança a quanto obrigas
Motor que oferece, naturalmente, comportamentos distintos para melhor enquadramento com a atitude de condutor, com três modos (Rain, Normal e Sport) que proporcionam mudanças vincadas de carácter e no comportamento. Assim, o ‘quick shifter’ funciona melhor no modo Sport e o motor tem um comportamento mais linear e de resposta mais eficaz em Normal. Já o Rain serve, para além de dias de chuva ou para maior confiança em estradas de aderência duvidosa, quando se quer optar por um ritmo realmente sereno com a QJ Motor SRT 900 em estradas secas, com acelerações pachorrentas para apreciar as paisagens sem pressas.
No entanto, e por questões de segurança, só é possível proceder à mudança com a moto parada, tal como a todas as outras funções do menu, levantando maiores dificuldades não só na hora de mudar os modos de condução como de fazer alguns ajustes. Como, por exemplo, alterar o brilho do ecrã que, nos níveis mais baixos, fica muito pouco legível quando o Sol incide diretamente no painel TFT de 7 polegadas.
Janela digital bastante completa, mas com um design demasiado virtual, mais próprio de um videojogo, e que complica a leitura, não só por ter alguns dados e algumas informações em caracteres muito pequenos como pela incidência de luz solar tornar, que torna difícil a leitura de luzes de aviso, nomeadamente dos piscas. Painel de instrumentos com conetividade e função de espelhamento (“mirroring”) através da app Carbit Ride, permitindo projetar o ecrã do telemóvel, gerir navegação, receber chamadas e outras funções. Controlo que é feito através de um novo conjunto de comandos, junto ao polegar esquerdo, que agrega praticamente todas as funcionalidades – e são muitas! – da nova QJ Motor SRT 900.
Luxos de menina bem-comportada
Com um motor potente e divertido – a potência máxima foi limitada a 70 kW para permitir adaptação legal para carta A2, podendo ser restringida a 35 kW (47 cavalos às 6500 rpm) enquanto o binário é reduzido para 77 Nm (às 4250 rpm) para aumentar o equilíbrio e facilidade de condução a pensar nos condutores menos experientes – a QJ Motor SRT 900 tem uma ciclística condizente com os níveis de eficácia e diversão. O quadro em tubos de aço utiliza o motor como elemento de esforço e, com a ajuda do conjunto de amortecimento Marzocchi, garantiu um bom comportamento em todo o tipo de estradas.
A forquilha invertida de 43 mm de diâmetro, de funções separadas, é ajustável em pré-carga, compressão (na bainha esquerda) e extensão (à direita), enquanto atrás a afinação pode ser feita na pré-carga – através de comando remoto na versão SX – e em extensão. E mesmo se não exploramos convenientemente a capacidade de ajuste, deu para perceber que será fácil melhorar o conforto na parte inicial do curso, eliminando as rugosidades da estrada, bem como a dureza na compressão para evitar o afundamento da forqueta em travagens mais fortes. E que força podem ter as travagens!
A qualidade do equipamento denota todo o cuidado posto na conceção e desenvolvimento desta QJ Motor SRT 900 com conjunto da Brembo, com dois discos de generosas dimensões (320 mm), pinças de 4 pistões e fixação radial e, não menos importante, bomba radial. Atrás surge um disco de 260 mm com pinça Brembo de pistão simples e o resultado global é, para além de fortíssimo poder de travagem, uma elevada capacidade de controlo. Extremamente doseável sobretudo na roda dianteira, permite uma condução relaxada, com acertos de velocidade fáceis em curva, independentemente do curso da suspensão e dos pneus montados. É que a nova QJ Motor SRT 900 chega ao mercado em duas versões.
QJ Motor SRT 900 para todos… os gostos
E se é verdade que, tal como a grande maioria das atuais ‘big trail’, a QJ Motor SRT 900 será utilizada maioritariamente em estrada, os adeptos de uma utilização mais aventureira podem optar pela versão SX. Igual em quase tudo, tem as principais diferenças expressas na maior altura do banco ao solo (+20 mm entre a S – 815 mm – e a SX – 835 mm mm), ditada pelo maior curso da suspensão dianteira (de 152 mm na SRT 900 S face aos 161 mm da SX) e pelo diferente tamanho da roda dianteira.
Que é de 19 polegadas e monta pneus Maxxis Maxventure na versão mais aventureira (110/80 à frente e 150/70 x 17” atrás), e de 17” com Pirelli Angel Pilot GT na mais ágil versão estradista (120/70 e 180/55). O que acaba por não ter reflexos significativos na agilidade das QJ Motor SRT 900, apoiada numa distância entre eixos de 1540 mm que proporciona excelente estabilidade, ajudando ao bom controlo dos 257 quilos em ordem de marcha e com depósito cheio. E se é fácil apoiar os pés no solo ao conduzir a QJ Motor SRT 900, também não é muito complicado o controlo em parado da versão SX.
Rodas diferentes no diâmetro dianteiro como na construção, em alumínio com seis braços em Y na S e de raios com aro dourado na SX, e que marcam, de forma indelével, a estética das duas versões da QJ Motor SRT 900. Onde ressalta o grande depósito de 24, referencial na categoria e que permite autonomias superiores a 400 km – a marca anuncia consumo de 5 L/100 km –, e um banco cuja forma acabou por revelar-se melhor que a função. Parece muito confortável nos primeiros metros, acabando por revelar-se algo mole com o passar dos quilómetros, levando o condutor a descair para diante e deparar-se com um depósito algum largo na zona de junção com o assento.
Ainda do exterior da QJ Motor SRT 900 é possível aperceber-nos das (eficazes) proteções para os punhos, de série tal como os plásticos montados abaixo do ecrã que defendem os braços da pressão aerodinâmica. E que ajudam o pequeno ecrã montado de série no capítulo do conforto, que apenas a velocidades bem elevadas denota apenas algumas limitações na parte superior da cabeça.
No entanto, a lista de argumentos para colocar a QJ Motor SRT 900 em boa posição entre as trail de média/alta cilindrada não se fica por aqui, com um equipamento de série que conta ainda descanso central, proteção de cárter, manetes de travão e embraiagem reguláveis, porta-bagagens e conjunto de fixação de malas, punhos e assento aquecidos em 3 níveis, sistema de monitorização da pressão dos pneus (TPMS) e tomada USB.
Mas há mais: as ‘crash-bars’ surgem na lista de equipamento standard tal como o conjunto de malas em alumínio, tendo a esquerda 37 litros de capacidade enquanto a direita, por força da saída de escape, tem 30 L. e o top-case oferece 45 L. o que permite guardar um capacete integral, sendo todas operadas pela mesma chave. Equipamento premium que contempla ainda uma câmara de vídeo, integrada na dianteira e de elevada resolução, e a que se junta a garantia de seis anos, única no mercado.
Tudo somado, e com preços de 8690 € para a QJ Motor SRT 900 S e 8990 € para a versão SX, este é, definitivamente, um relevante salto qualitativo e de performances face à QJ Motor SRT 700X, num modelo que chegará apenas em duas decorações talvez demasiado sóbrias, em preto ou cinzento.
Partilha este artigo!
