Honda CMX1100T Rebel. A irmã rebelde
Autor: Paulo Ribeiro
Junho 5, 2023
À primeira vista, a Honda CMX1100T Rebel não tem nada a ver com a maxi-trail Africa Twin ou com a turística NT1100. As linhas baixas e alongadas, musculosas e minimalistas, remetem para uma utilização bem diferente. Mas o ADN está lá, refletido numa personalidade vincada, com um motor perfeitamente adaptado a um ‘cruiser’. Que, graças…

À primeira vista, a Honda CMX1100T Rebel não tem nada a ver com a maxi-trail Africa Twin ou com a turística NT1100. As linhas baixas e alongadas, musculosas e minimalistas, remetem para uma utilização bem diferente. Mas o ADN está lá, refletido numa personalidade vincada, com um motor perfeitamente adaptado a um ‘cruiser’. Que, graças às malas laterais e carenagem frontal, ganha filosofia ‘bagger’.

- Texto: Paulo Ribeiro
- Fotos: Zep Gori e Ciro Meggiolaro
É certo que partilham o ADN e muito mais, mas têm atitudes bem diferentes perante a vida. E mesmo tendo um estilo diferente, uma abordagem única na forma de abordar qualquer viagem, a Honda CMX1100T Rebel é uma ‘touring’. Tudo é mais relaxado, permitindo absorver a paisagem de forma serena, sentindo o vento no rosto. Bem, na verdade um pouco menos de brisa face à conhecida Rebel, já que o T, de Touring, é materializado na nova carenagem frontal. Larga e baixa, confere uma imagem americanizada, acompanha na perfeição pelas malas rígidas laterais.



Mas o destaque vai mesmo para o bloco de motor, com caráter adequado às novas funções e um timbre que não destoa. Isto além de dotação eletrónica que segue os mais modernos parâmetros de ajuda à segurança e eficácia dinâmica. Do controlo de tração (Honda Selectable Torque Control) com Wheelie Control integrado, até ao Cruise Control passando pelos três modos de condução pré-definidos (Rain, Standard e Sport), cujas diferenças são bem percetíveis, e um totalmente personalizável. O User que permite ajustar os parâmetros de entrega da potência do motor, do efeito de travão-motor e o controlo de tração.
O mesmo coração…
Máquina que experimentamos ao longo dos dois dias do Touring Secret Portugal, ligando as duas maiores cidades portuguesas. Iniciativa da Honda quer permitiu uma espécie de comparativo entre as máquinas que partilham o bloco de dois cilindros paralelos de 1084 cc. E que, no caso da Honda CMX1100T Rebel, ajudou a perceber também as diferenças para a versão ‘normal’. Afinal o T no final da sigla aporta mudanças significativas no espírito, bem apreciadas no último troço dos 630 quilómetros pensados para um teste diferente.
Os 87 cavalos de potência máxima obtidos às 7000 rpm, contra os 102 cv (às 7500 rpm) da NT e Africa Twin, são suficientes para todo o tipo de utilização e, sublinhe-se, diversão. Além de contar com binário de 98 Nm disponibilizado tão cedo quando as 4650 rpm, Mudanças reforçadas pelas diferenças na abertura das válvulas, importante contributo para o reforço dinâmico em baixas e médias rotações.
Motor que foi devidamente adaptado para oferecer um ‘punch’ diferente, ganhando mais alma em médias e baixas rotações e uma sonoridade de escape distinta. Uma resposta nos regimes inferiores que foi ainda favorecida pelo aumento da massa do volante do motor, com aumento de inércia que reforça o caráter. Tal como a cambota com moentes desfasados a 270º que, devidamente apurado, garantem aquele ‘poum-poum-poum’ característico de uma configuração em V. E que, em jeito de brinde, oferece algumas vibrações por voltas das 4000 rpm, condizentes, afinal com o espírito ‘cruiser’.




Nota ainda para as vantagens aportadas pela adoção deste bloco, que, graças à tecnologia Unicam e ao cárter semi-seco, apresenta dimensões compactas e permite um centro de gravidade bastante baixo. Particularmente quando combinado com o quadro da Rebel.
…almas diferentes
Com roda dianteira de 18” e traseira de 16”, suspensão Showa regulável em pré-carga, tanto na forquilha de 43 mm de diâmetro e 140 mm de curso. como nos dois amortecedores posteriores, a Honda CMX1100T Rebel é fácil de conduzir (dentro do registo próprio…). É verdade que, ao abusar um pouco, como quando decidimos seguir o ritmo das África Twin e NT1100, nota-se em demasia a flexibilidade do chassis. Bem como as limitações da suspensão posterior, com escassos 95 mm de curso. Mas sem nunca comprometer um nível de segurança que permite curvar bastante depressa, sendo fácil a entrada nas viragens. Bem como manter uma boa velocidade em curva, sem bater com os poisa-pés no chão, graças às dimensões reduzidas e à colocação em posição bem central. Mas que, em contrapartida, levam as botas a rasparem no asfalto com alguma facilidade.

Partindo do Picoto da Melriça, as retas maiores e curvas mais largas, longe do rendilhado das estranhas mais a Norte, foram palco bem-adaptado à mais rebelde das três irmãs. Que, graças à carenagem frontal montada de série, oferece razoável proteção às mãos e braços, reforçando estilo vincadamente ‘custom’. Que é exaltado pelas malas laterais, encaixando perfeitamente nas linhas da moto, criando uma agradável ‘bagger’. E mesmo se a capacidade é exígua, os 35 litros que permitem acomodar são, afinal, condizentes com o espírito despojado de quem aprecia o vento na cara e a viagem sem destino.
Lobo com pele de cordeiro
A posição mostrou-se confortável para os 240 km realizados, com braços estendidos sem exageros, enquanto as pernas, pouco dobradas, ajudam na estabilidade do corpo, ligeiramente atirado sobre a dianteira. Já o banco, baixo de apenas 700 mm ao solo, mostrou-se competente na primeira centena de quilómetros, confortável q.b. mas revelando uma consistência algo ‘desportiva’. Acabando por mostrar as naturais limitações face às ‘irmãs’ quando o conta-quilómetros parcial se aproxima dos 200 km. Felizmente a viagem terminou pouco depois…
Utilizando a versão de caixa ‘normal’, apreciamos a suavidade e precisão no engate das seis relações, bem escalonadas e bem apoiadas por uma embraiagem suave. Para uma próxima oportunidade fica a versão com DCT, dupla embraiagem, que deverá assentar como uma luva neste modelo, vocacionado para um turismo mais contemplativo.

Pouco dada a grandes velocidades, a Honda CMX1100T Rebel pode mostrar-se, porém, verdadeiro lobo em pele de cordeiro. Por isso nada melhor que uma travagem à altura das maiores solicitações. Assim, na dianteira foi montado um generoso disco de 330 mm de diâmetro acionado por pinças de 4 pistões, fixas radialmente. Que, juntamente com o disco de 265 mm igual ao conhecido das ‘irmãs’, garante uma travagem bem suficiente, bastante potente e, não menos importante, facilmente doseável.
Dupla personalidade
Oferecedora de dupla personalidade, a Honda CMX1100T Rebel, cujo vídeo pode ver aqui, garante uma viagem descontraída, de relaxante apreciação da paisagem. Ou, se o estado de espírito assim o apontar, uma condução mais rápida. Desportiva mesmo, aproveitando um troço de estrada mais sinuoso.
Para os menos experientes, vindos de motos mais pequenas e que passaram o tirocínio da carta A2, ressaltará a acessibilidade e facilidade de condução, com um estilo ímpar. Já os mais rodados poderão tirar partido de um motor de performances deveras interessantes e de um conjunto ciclístico bem resistente. Mesmo se, quando levado para lá dos limites do conceito ‘bobber’, é possível sentir a sua flexibilidade.

Além do mais, a Honda CMX1100T Rebel é capaz de brilhar de forma intensa à frente de qualquer esplanada e despertar atenções enquanto passa na estrada. A carenagem frontal, oferecedora de razoável proteção às mãos, braços e parte do tronco (que não à cabeça) reforça, juntamente com as malas laterais, o estilo ‘custom’. Linhas que são bem acompanhadas pelo sistema de iluminação integralmente em LED ou pelo pequeno display de instrumentos em LCD negativo. E que são exaltadas pela decoração em preto Gunmettal Mettalic. Quanto a valores, a versão de caixa manual custa 12 250 €, enquanto a equipada com DCT tem preço de 13 250 € e um peso acrescido em 10 kg, para total de 233 kg.
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