Piaggio 1 Active. Juventude eletrizante

Autor:  Paulo Ribeiro

Janeiro 27, 2022

É básica. Leve. Fácil de utilizar. Urbana. Silenciosa. Ecológica. É Piaggio. E é a 1. Isso mesmo: UM (ou ONE), a primeira. A estreia da casa italiana na propulsão elétrica. Ou melhor, sem ser estreia absoluta, depois do Ape E e da Vespa Electric, é a primeira incursão nas duas rodas sob o signo Piaggio.…

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Iluminação é integralmente em LED e o comando tem função ‘bike finder’ que faz a Piaggio 1 apitar ao premir um botão

É básica. Leve. Fácil de utilizar. Urbana. Silenciosa. Ecológica. É Piaggio. E é a 1. Isso mesmo: UM (ou ONE), a primeira. A estreia da casa italiana na propulsão elétrica. Ou melhor, sem ser estreia absoluta, depois do Ape E e da Vespa Electric, é a primeira incursão nas duas rodas sob o signo Piaggio. E sim, apesar de algumas limitações, tem pernas para andar. Ou melhor, rodas!

  • Texto: Paulo Ribeiro
  • Fotos: Delfina Brochado

Lembram-se de Rumble Fish (Juventude Inquieta), esse fabuloso drama cinematográfico dirigido por Francis Ford Coppola e com um elenco de luxo  que incluía Mickey Rourke, Matt Dillon, Nicolas Cage, Diane Lane, Laurence Fishburne ou Sofia Coppola entre muitos outros? Estávamos em 1983, na América profunda, e as motos tinham outra conotação. Eram símbolos de liberdade e irreverência, de fuga ao ordinário, capazes de criar todo um universo de individualidade, mas com uma imagem demasiado… agressiva.

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Mas os tempos mudaram. Mudam sempre. Da verdadeira loucura dos anos ’80 do século passado à crescente indiferença dos mais jovens pelas motos foi um pequeno passo. É verdade que os números de vendas continuam em alta e 2021 parece ter sido recordista para quase todas as marcas. Pelo menos assim o anunciam.

Mas nem todos são ‘petrolheads’, adeptos da mobilidade sensorial, onde vibrações e ruídos reforçam prazeres de aceleração e velocidade. Há o cuidado ambiental, a economia, o politicamente correto e a necessidade de ir do ponto A ao ponto B da forma mais simples e económica.

Revolução elétrica

Aqui entra a eletricidade e a mobilidade elétrica. Silenciosa e aparentemente inócua, impôs-se de forma quase insidiosa numa sociedade pretensamente mais verde. Tomou de assalto as formas possíveis de deslocação de pessoas e objetos.

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Espaço sob o banco permite arrumar um jet dos mais pequenos, desde que o carregador fique em casa

Comboios e metropolitanos primeiro. Até porque era fácil fazer chegar o ‘combustível’ elétrico. Automóveis depois. Mais tarde, os veículos de duas rodas. Por motivos facilmente compreensíveis. O volume e peso das baterias para garantir autonomia e velocidade aceitáveis tornava complicado criar ciclomotores ou motociclos com características competitivas e preços decentes face à evoluída concorrência a gasolina.

Mas a evolução não para e, independentemente de todas as discussões em redor do tema, a generalidade das marcas olha para o elétrico como o futuro. Pelo menos o imediato! Até porque a sociedade a isso obriga…

Aos poucos, ainda de forma tímida, todas as marcas instaladas no mercado vão oferecendo propostas a pilhas. E vão-se unindo na tentativa de uniformizar conceitos para maior rentabilização e sentido prático destes veículos. Baterias que podem ser utilizadas por vários veículos, compatíveis para várias marcas, é um dos pontos da ordem de trabalhos.

Por isso, Yamaha, Honda, KTM e Piaggio assinaram um acordo de normalização das baterias de molde a reduzir preços e permitir, por exemplo, sistemas de carregamento universais. Onde seja, tornando possível trocar a bateria e seguir, como se de um normal reabastecimento se tratasse.

Exigências da Geração Z

Vem toda esta introdução, longa mas necessária, a propósito do lançamento da Piaggio 1, pensada para a geração Z, os que nasceram no final do século passado e na primeira década do XXI. Para quem facilidade e economia, descomprometimento e partilha, respeito ambiental e imagem cool, são tão importantes como a última geração do iPhone.

Os motores de combustão interna são poluentes e o reabastecimento obriga a levar com o aroma nem sempre apreciado da gasolina. As baterias elétricas podem ser carregadas como um telemóvel. Em casa, no escritório ou mesmo num shopping.

Ora, juntar esta simplicidade à facilidade de utilização de uma scooter foi a grande aposta da Piaggio que, tal como muitas outras marcas, procura cativar a juventude para as rodas. Por isso a 1, em versão de ciclomotor, equivalente a uma 50 cc, que pode ter baterias de maior capacidade (1+), ou semelhante a um motociclo de 125 cc (1 Active), foi desenvolvida para uma experiência de mobilidade onde a facilidade se sobrepõe às emoções, em que a o sentido prático relega as performances para segundo plano.

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A velocidade máxima anunciada, de 60 km/h no caso da 1 Active é perfeitamente suficiente para uma utilização urbana, embora possa ser limitadora ao optar por uma autoestrada ou via rápida. E se, a descer, pode mesmo chegar aos 73 km/h, já a subir e apenas com um adulto a bordo, dificilmente passará dos 40 km/h.

Pede-se, pois, alguma paciência que pode ser aproveitada para desfrutar da paisagem e descobrir pormenores que, de outra forma, passariam despercebidos.

Reabastecer em casa

E depois há a questão da autonomia. A casa italiana anuncia 85 quilómetros no modo Eco, o mais económico, com velocidade limitada a 30 km/h, ou 50 km no mais dinâmico modo Sport. O que, em bom rigor, corresponde à verdade mesmo se dificilmente se conseguirá usufruir de toda essa autonomia. De acelerador sempre a fundo foi possível fazer 40 quilómetros com 90% da carga da bateria o que, em termos citadinos, não deixa de ser uma excelente marca. Curiosamente os primeiros 12,5 km consumiram exatamente 25% da carga. Ora façam as contas!

Tanto mais que, chegados a casa ou ao escritório, é possível retirar a bateria e transportá-la de forma prática (apesar dos 15 kg) até junto de uma tomada doméstica para recarregar. Além de funcionar como excelente antirroubo! É que sem bateria, a Piaggio 1 não vai a lado algum…

Ligada à corrente, são necessárias, teoricamente, 6 horas para uma carga completa. Mas, na realidade, nunca a bateria deverá estar a zeros. Além de desaconselhável em termos de longevidade, é um risco levar a carga a níveis tão reduzidos, correndo o risco de ficar pelo caminho. Na prática, e com a bateria a 9%, foram precisas 3 horas e 53 minutos para atingir o valor máximo.

O painel de bordo ajuda a controlar o consumo energético de forma eficaz, indicando o gasto instantâneo ou a recuperação (caso se corte gás) bem como o nível de carga. Quer através da percentagem em valor numérico, quer através da coloração do pequeno ícone, mesmo ao lado, que vai mudando do azul ao vermelho (- de 10%), passando pela amarelo e laranja, à medida que a bateria vai esvaziando.

Facilidade exponenciada

Mais um pequeno apartado técnico antes das considerações dinâmicas. As baterias de iões lítio do tipo 18650 (padrão na indústria automotiva e utilizadas, por exemplo, nos Tesla) com uma potência de 2,3 kWh e 48 Ah de capacidade, alimentam um motor de 2 kW colocado no centro da roda traseira. A Piaggio garante uma vida útil de 3000 ciclos, embora alerte que após cerca de 800 cargas possa ficar limitada a 70% da capacidade em nova.

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Detalhes técnicos que só interessarão na hora da compra. Depois é mais importante a simplicidade, na utilização como na manutenção, sem necessidade de revisões periódicas ao motor ou mudanças de óleo. Simplicidade que se prolonga à utilização de uma scooter de dimensões pequenas, geradora de grande confiança mesmo nos menos experientes, com a vantagem do banco baixo permitir fácil apoio dos pés no chão durante as paragens.

Os 94 kg de peso são fáceis de controlar porquanto muito bem distribuídos e o conjunto oferece uma condução simples e bastante agradável. Fácil de colocar em curva e intuitiva nas manobras mais rápidas, a Piaggio 1 Active é dona de uma estabilidade que até faz esquecer as rodas de pequena dimensão. As 10 polegadas das jantes queixam-se dos buracos ou irregularidades das ruas mais degradadas, mas a suspensão revelou-se capaz de aguentar todas as agruras das vias urbanas.

A rigidez que denotou nos piores tratos não colocou em causa um nível de conforto mais do que suficiente atendendo à extensão das deslocações e a posição de condução revelou-se ajustada para um grande universo de utilizadores. Nota muito positiva.

Fácil para os mais baixos, com banco a 77 cm ao solo que permite apoiar bem os pés no chão, tem espaço suficiente para as pernas dos mais altos, mesmo na casa do metro e 80, podendo ainda, com jeitinho, transportar passageiro. Que pode aproveitar os bons poisa-pés rebatíveis para contrapor ao espaço limitado no banco.

Segurança acima de tudo

Alguns pontos de destaque na Piaggio 1 prendem-se com o sentido prático e de segurança em cidade. Além de uma buzina com potência suficiente para fazer saltar o mais distraído dos peões, que não ouve o aproximar sorrateiro da scooter, possui uma excelente capacidade de travagem. Sistema de travagem combinada (CBS) que aciona sobre os dois discos de 175 mm de diâmetro ao apertar a manete esquerda e que é capaz de evitar, de forma muito rápida, os mais inusitados obstáculos.

E quando se desacelera, tem um sistema de regeneração de energia idêntico aos utilizados na Fórmula 1 (KERS: Kinetic Energy Recovery System) que permite ganhar mais algumas centenas de metros de autonomia. Quiçá quilómetros!

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Painel tem odómetro total e dois parciais, leitura de consumo instantâneo (por barras) e médio (numérico), temperatura ambiente, relógio, tempo de viagem, autonomia, e pode ser conectado via Bluetooth através da App MIA.

Informações que podem ser controladas no painel LCD colorido de 5,5 polegadas, e com sensor de luz que se adapta automaticamente às condições de iluminação ambiente, mudando na passagem por túneis ou na chegada à garagem. Ecrã com indicações que vão da velocidade instantânea ao nível de carga das baterias e autonomia remanescente ao modo utilizado. Sendo que, neste caso, existe, além dos já mencionados Eco e Sport, o modo Reverse, que ajuda nas manobras de estacionamento sobretudo em locais inclinados. Que poucas deverá ser utilizado tal a facilidade de movimentar a 1 bem como colocá-la no descanso central.

Mobilidade tecnológica

Facilidade que parece ser leitmotiv de toda esta Piaggio e que continua na chave inteligente, com comando à distância e que permite fazer todas as operações (ligar, desligar, bloquear a direção e abrir o banco) sem retirar o comando do bolso. Pena que não funcione por proximidade e obrigue a premir um botão para desbloquear as funções do botão existente na parte posterior do escudo frontal. Onde existe também um prático suporte para sacos/mochilas e uma tomada USB. Mas sem espaço para colocar um smartphone durante a carga!

Com materiais de evidente qualidade, bons acabamentos e bastante atenção dispensada aos detalhes, a Piaggio 1 Active é uma clara e atrativa oferta de mobilidade tecnológica. Destinada a quem compra um veículo para deslocações urbanas, uma moto, da mesma forma que adquire o mais recente gadget. Mas que é mais do que um brinquedo grande. Quanto mais não seja pelo preço (3649 €), em linha com as 125 cc referenciais do mercado nacional, esgrimindo trunfos como a economia (de combustível) ou respeito ambiental para fazer esquecer a menor velocidade ou autonomia.

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