Ducati Monster+. O monstro saiu do armário
Autor: Paulo Ribeiro
Janeiro 5, 2022
A Monster é modelo icónico na história da Ducati, tendo, aos 30 anos, reforçado os argumentos de facilidade e eficácia desportiva

Na Ducati Monster+ espírito está lá! Mantém-se a irreverência que esteve na origem de história de enorme sucesso na indústria mundial das duas rodas. Mas a imagem mudou! Desapareceu o quadro em treliça com linhas descendentes acompanhadas pelo depósito. Dizem que é para recuperar os jovens, que sopram novos ventos no universo motociclístico. Na 4.ª geração, a Monster sofreu mudanças radicais, em rejuvenescimento com ganhos em potência, em peso (-18 kg!) e muita eletrónica rumo a maior facilidade de condução e paz de espírito.

- Texto. Paulo Ribeiro
- Fotos. Delfina Brochado
Haverá modelo mais icónico na história da marca do que a Ducati Monster? Podem argumentar com a mítica 851, a irreverente Paso, a belíssima 916 ou a referencial Panigale, claro que sim. Mas a verdade é que, sem a Monster, a história da casa de Borgo Panigale nunca teria sido a mesma. E nem falo apenas pelas mais de 350 mil unidades produzidas, que a tornam no modelo da Ducati mais vendido de sempre.





Sempre que se fala de Monster é obrigatório recuar ao Salão de Colónia de 1992, quando Miguel Galluzi, sem ainda o saber, inaugurava o moderno segmento das naked. O designer argentino defendia que a M900 tinha tudo o que era preciso. “Um banco, depósito, motor, duas rodas e guiador”. Nascia um conceito onde simplicidade rimava com eficácia, juntando o motor em L, de 904 cc, da Supersport Desmodue, ao quadro em treliça das 851/888 Superbike. Com um depósito inspirado no dorso de um bisonte, um guiador baixo e um farol redondo, nascia ‘Il Mostro’. As linhas compactas, resumindo o essencial de uma moto, haveriam de perdurar ao longo das inúmeras versões, evoluções e derivações. O passar do tempo, tão ingrato para muitos modelos, serviu essencialmente para reforçar o carisma da Monster.
Sinal dos tempos
Agora, aos 30 anos de vida, está mais afoita que nunca. À eterna juventude junta a maturidade, a certeza de quem sabe o caminho a trilhar e, não menos importante, de quem aceita as mudanças do tempo sem lamúrias. Sem discretas mudanças de roupagens ou um simples retoque estético para recuperar aquela magia que faz voltar cabeças à sua passagem. Nada disso!
Há que ousar, que acompanhar o ritmo da mudança, da evolução técnica e estética. Mesmo que isso possa causar arrepios na espinha aos mais inveterados puristas. E se, na verdade, o perfil é facilmente reconhecível, olhando com mais atenção percebemos que quase tudo mudou. Nomeadamente o icónico quadro em treliça de aço que deu lugar a uma estrutura em alumínio, de inspiração nos chassis desenvolvidos nas pistas do Mundial de Superbikes.




À facilidade de sempre, juntou-se ainda a eficácia dos tempos que correm, com as mais recentes vantagens eletrónicas, herança dos sucessos desportivos de MotoGP. E se fica um ligeiro amargo de boca ao assistir ao desaparecimento do quadro tubular, a verdade é que a Ducati tudo fez para ajudar a esquecer esse detalhe.

Espírito inalterado
Com promessas de mais diversão para os motociclistas mais experientes, mas maior acessibilidade para os menos rodados, a versão atual da Monster continua a conciliar na perfeição estilo minimalista e atitude atrevida. Agora mais agressiva por força do aumento de potência, mas também mais fácil, graças à maneabilidade melhorada, na busca do melhor de dois mundos.
Deixemos de lado a subjetividade da avaliação sentimental e centremo-nos em questões objetivas. Se é verdade que a Monster pode até ser confundida com uma qualquer japonesa em parado, não menos verdade é que basta ouvir os primeiros acordes do motor para uma identificação inequívoca. O ribombar dos dois cilindros colocados em L (o famoso V a 90º com o cilindro dianteiro quase paralelo ao solo) não deixa grande margem para dúvidas. O bem conhecido som, de rouca irregularidade, deixa ouvir o trabalhar da distribuição desmodrómica e remete para as origens deste Testastretta 11º de 936 cc, conhecido da Hypermotard, Multistrada e SuperSport 950. São 111 cavalos (às 9250 rpm) o que pode parecer um aumento irrisório face aos 109 cv da Monster 821, mas é uma diferença que, na verdade, parece muito maior.

Alterações que, ao contrário do que se possa pensar, não adulteram a filosofia Monster, antes reforçam o inalterado espírito, com mecânica agora assente no motor mais acessível tal como no passado com o L de 904 cc da SuperSport. Facilidade a toda a prova, reforçada – é sempre bom lembrá-lo… – pela eletrónica em conjunto atrativo para os mais jovens e para as sempre muitas condutoras encantadas com um espírito único.
Monstro de corrida
Não se pense, porém, que este bloco, aparentemente dócil, afasta os mais experientes motociclistas. A potência é suficiente para uma enorme diversão e a forma como é disponibilizada por mudar, do dia para a noite, com um simples toque de botão. É que, por debaixo de uma pele de cordeiro, de uma inofensiva naked, esconde-se um verdadeiro lobo!
Os três modos de condução (Urban, Touring e Sport) são completamente personalizáveis com ajuda da unidade de medição inercial (IMU) que garante máximo aproveitamento de cada uma das ferramentas apresentadas.
Do anti cavalinho ao controlo de tração ajustável em curva, do Launch Control ao cornering ABS tudo é ajustável à vontade do condutor candidato a piloto.
Comecemos pelo Urban, modo que limita a potência a 75 cavalos, suavizando a resposta do acelerador e aumentando o nível de intervenção do ABS e do controlo de tração, para perceber a facilidade da nova Ducati Monster+. Facílima em cidade e aveludada em estrada, a italiana mostra-se assim perfeitamente apta para os novatos como para uma utilização invernal.

Banco de série com 820 mm de altura pode ser substituído por opcional que reduz altura para 800 mm, sem beliscar o conforto, existindo ainda kit de rebaixamento das suspensões que permite diminuir a distância ao solo para muito acessíveis 775 mm
Reduz os riscos de sustos nos pisos escorregadios e mostra-se extremamente amigável é certo, mas, ao encontramos um troço de estrada aberta, queremos mais. Aí basta pressionar o botão que também aciona os piscas e com o cursor mesmo por cima desse interruptor, escolher um dos modos completos (111 cv) e cortar gás para que a eletrónica reconheça e valide as nossas intenções.

Novo sistema da embraiagem hidráulica permitiu reduzir em 20% a força necessária para a acionar
Turismo em ritmo despachado
Vamos ao Touring, para andar rapidinho, mas sem as grandes exigências desportivas, normais numa Ducati. Resposta mais direta às rotações do punho direito com aproveitamento de toda a potência disponibilizada pelo motor, mas ainda sem a agressividade do modo Sport.

Ângulo da coluna ligeiramente mais fechado (24º) contribui para uma direção mais reativa e uma melhor leitura do piso sob a roda da frente
É então chegada a altura para máxima diversão, apoiada numa eletrónica que permite mesmo alterar uma série de parâmetros dentro de cada modo de condução. E, com a moto parada, podemos mudar o controlo de tração (8 níveis) e o ABS (3), incluindo o funcionamento em curva, além do Wheelie Control.
Já agora, depois de uma paragem para ajustar a montada, nada como aproveitar para testar o Launch Control instalado na Ducati Monster+!
Informações exibidas no painel TFT de 4,3”, de excelente legibilidade, onde se pode, entre outras informações, confirmar gasolina existente no depósito e autonomia restante, a velocidade engrenada ou o nível de intervenção do anti cavalinho. Do 4, que deixa bem claros os cortes de ignição para manter a roda dianteira no chão, ao nível 1, permitindo sair das curvas lentas com a frente em ligeira e controlada levitação. Sistema que pode ser ajustado de forma independente dos outros controlos ou desligado.
Malabarismos sem cortes
Quanto ao controlo de tração, ajustável em oito patamares e com função adaptada para curva, é particularmente sensível nos níveis mais elevados, onde existe maior intervenção. Quando a tração é duvidosa sente-se o trabalho do sistema, com cortes particularmente notórios. Algo que deixa de incomodar nos níveis mais baixos, com uma resposta mais precisa. E que de tão apurada quase não de dá por ela, permitindo condução rápida e muito divertida. Mas sem abdicar daquela mais-valia de segurança no limite. Só aconselhável a ‘stunters’!
Claro que, para tirar o máximo partido dos sistemas de controlo de cavalinhos ou de tração, é aconselhável o uso do Quick Shifer instalado de série na Ducati Monster+. Com excelente funcionamento, nos dois sentidos, em velocidades/rotações médias e altas, mostra-se mais renitente em utilização urbana ou turística, aconselhando aí a utilização da superleve embraiagem hidráulica.






Voltemos ao espírito Monster para entender o maior paradigma da nova proposta de Borgo Panigale. Aquando do lançamento, foi utilizado o mais desportivo dos quadros disponíveis: a estrutura em treliça de aço da 851/888. A desportiva que deu os títulos do Mundial de Superbikes de 1990 a Raymond Roche e de 1991 e 92 a Doug Polen. Agora a opção de modernidade só podia passar pela estrutura em alumínio inspirada na Panigale V4 e que utiliza o motor como elemento portante.
Cura de emagrecimento
O resultado, além da redução de peso de 4,5 kg face ao quadro da Monster 821 o que equivale a dizer cerca de 60%!!!, é uma maior rigidez torsional. Que, na prática, traduz-se na maior precisão em curva e estabilidade em velocidades elevadas, sem que isso represente uma menor agilidade. Isto por força das mudanças operadas na geometria da ciclística.




A distância entre eixos foi encurtada para 1474 mm e o ângulo de viragem cresceu 7º face à 821, ganhando imenso na facilidade de condução em meio urbano, com muita leveza nas mudanças de direção. E nas curvas encadeadas mostrou-se muito mais intuitiva e, não menos importante, menos cansativa. Provavelmente não se lembram daquela posição de condução estirada sobre o depósito, com o corpo alongado para chegar ao guiador, dificultando as manobras mais apertadas. Pois bem, se não se lembram, não vai ser nesta nova Ducati Monster+ que a vão recordar.

Iluminação full-LED com o tradicional farol arredondado acompanhado por piscas com cancelamento automático e tecnologia ‘swiping’, acendendo de forma progressiva
Dançar com máxima segurança
Sem pôr de lado o conforto possível, a Ducati Monster+ reforça aposta na eficácia desportiva. O banco está mais estreito na dianteira que permite melhor controlo com os joelhos, além de facilitar a tarefa de apoiar os pés no solo. A ergonomia foi revista, com banco mais próximo 65 mm do guiador enquanto os pés estão mais baixos (10 mm) e mais adiantados (35 mm). Ou seja, uma posição mais direita, menos cansativa e com uma maior visibilidade sobre a estrada. E sem prejuízo da facilidade de inclinação e inserção em curva.
Obviamente que esta análise sobre a facilidade dinâmica não ficaria minimamente completa sem a abordagem do amortecimento. Fornecido pela KYB, e onde impera simplicidade e eficácia. Valores que estão na base da própria filosofia Monster!
Na dianteira, a forqueta invertida com jarras de 43 mm de diâmetro e 130 mm de curso é desprovida de qualquer tipo de ajuste. Simples. E funciona bem em todo do tipo de pisos e de condução. Eficaz. O que não é sinónimo de perfeição! No paralelo urbano ou estradas em pior estado sobrepõe-se a rigidez desportiva ao aveludado turístico. E nas bossas causadas pela intromissão das raízes de árvores no asfalto a resposta revela-se brusca. Eficaz, é certo, mas nem sempre a mais suave. Mas, acelere-se o ritmo e, aí sim, ganha elogios a opção da Ducati, sem nunca se descompor mesmo nas travagens mais violentas.


Eficácia brutal mas… suave
E que poder de travagem apresenta a Ducati Monster+! Simplesmente brutal em termos de eficácia e com uma progressividade e tato inicial que permite abordagem milimétrica a cada curva. Um dedo na manete que aciona a bomba radial basta para controlar as modernas pinças monobloco (Brembo M4.32) que mordem os discos de 320 mm. Para se perceber a eficácia basta dizer que o ABS apenas deu sinais de vida quando a provocação foi bem para lá dos limites! E apenas para ver se a luz indicadora do sistema não estaria avariada…
Sistema que muito beneficia da eficácia dos Pirelli Diablo Rosso III. Ppneus de perfil desportivo que atingem rapidamente uma boa temperatura de funcionamento e garantem grande facilidade nas mudanças de direção. Seja como for, a tarefa foi simplificada com a adoção de unidade traseira mais estreita (180/55). Entretanto, além de maior agilidade, exponencia a redução de peso e nova geometria ciclística rumo a sensação de leveza nas transições, mesmo nas mais rápidas.
Honrar a história
Disponível no tradicional vermelho ou preto Stealth, ambas com jantes em negro, ou no cinzento Aviator com jantes vermelhas utilizado nas fotos, a Ducati Monster+ mostrou, antes de mais, um enorme respeito pela história. De facto, mantém o espírito de harmonia entre conforto, facilidade e eficácia que dura desde 1993, mas está perfeitamente adaptada aos tempos modernos.
Na quarta geração, a Ducati Monster+ é a mais fácil de conduzir e a mais eficaz em todo o tipo de situações. Perdeu carisma com a troca da treliça pela estrutura em alumínio? Enfim, os saudosistas dirão que sim. Contudo eu digo apenas para a experimentarem sem ideia pré-concebidas. Está diferente, isso é inquestionável! Mas está ainda mais Monster com atualizações a todos os níveis (ciclística, motor, eletrónica…) que garantem mais eficácia, mais diversão, mais segurança e mais facilidade.
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