Yan Haimei. A Benelli foi, é e será uma marca italiana

Autor:  Paulo Ribeiro

Julho 6, 2022

Carinhosamente tratada pelos italianos como Klara, a chinesa Yan Haimei é a CEO da Benelli QJ desde 2007. A mulher-forte da centenária marca quis deixar bem claro que “a Benelli nasceu há 111 anos como uma marca italiana, o que continua a ser e sempre será”. Em entrevista exclusiva a MotoX.pt aquando da apresentação da…

Carinhosamente tratada pelos italianos como Klara, a chinesa Yan Haimei é a CEO da Benelli QJ desde 2007. A mulher-forte da centenária marca quis deixar bem claro que “a Benelli nasceu há 111 anos como uma marca italiana, o que continua a ser e sempre será”. Em entrevista exclusiva a MotoX.pt aquando da apresentação da Benelli Leoncino 800 e 800 Trail, revelou ainda novos caminhos de crescimento para o fabricante de Pesaro.

Entrevista Yan Haimei CEO Benelli 03 - MotoX
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  • Texto: Paulo Ribeiro
  • Fotos: Benelli

A imagem quase maternal de Yan Haimei, sublinhada por uma voz melodiosa e um sorriso genuíno, contrasta com a determinação que mostra na defesa da sua marca.

Criada como oficina de reparação de veículos de duas rodas em 1911, pela recém-viúva Teresa Boni Benelli para garantir a subsistência dos seis filhos, a Benelli mostrou recursos inovadores desde a primeira hora. Aos filhos juntaram-se seis funcionários para fabricar algumas das peças necessárias na reparação de bicicletas e ciclomotores. Depois do sólido crescimento numa fase inicial, desenvolvendo-se muito durante a I Guerra Mundial, o declínio começou com a destruição do segundo grande conflito universal. E seguiu-se uma história conturbada, com gestões ruinosas, vendas e aquisições sem grande sentido ou visão estratégica.

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Até que, em 2005, a Benelli foi comprada pelo grupo Zhejiang Qianjiang Motorcycle Group Co., ou simplesmente Qian Jiang Motorcycle, proprietária de marcas como a Keeway ou a QJmotor. E que, desde 2016, é controlada pelo enorme grupo industrial e financeiro Geely Holding Group.

Amor sem fronteiras

Realidade que Yan Haimei conheceu ainda durante a vida universitária, na Hungria, e que a levou a atravessar a fronteira, conduzindo 1000 quilómetros entre Budapeste e Pesaro para… ficar apaixonada. Mais do que simples negócio, foi amor à primeira vista, com casamento em 2007, quando assumiu a posição de Chief Executive Officer da Benelli. Onde a entrega e respeito pela tradição do mais antigo fabricante transalpino reforçou os valores da alcunha dada pelo professor de língua húngara. Afinal Klara significa “talentosa, inteligente, transparente e luminosa, mas também desembaraçada, livre e sem preconceitos”.

Entrevista Yan Haimei CEO Benelli 07 - MotoX
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“A Benelli era uma marca de nicho, mas a nossa estratégia sempre foi e continua a ser, colocá-la como italiana, com design europeu e um posicionamento ajustado, também em termos de preços, para todos os motociclistas. Desde essa altura que sempre trabalhamos nesse sentido. E tentamos, todos os dias, fazer o nosso melhor para colocar a Benelli no lugar que merece uma marca com 111 anos de vida”.

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Um trabalho que deu nova pujança ao símbolo do leão, agora colocado num patamar elevado e longe das dificuldades técnicas e financeiras que marcaram boa parte da sua história. O caminho passa agora pela verdadeira implantação mundial.

“A grande diferença é que deixou de ser uma marca de nicho e está a ser recolocada num nível médio/elevado, para que todas as pessoas tenham a possibilidade de ter uma moto ou scooter da Benelli”. E vai mais longe, não temendo a comparação com os grandes players do mercado mundial. “Honda ou Yamaha não são marcas de nicho e é esse é o caminho correto. Por isso vamos seguir essa direção, garantindo boa imagem e boa qualidade para todos e não apenas para algumas pessoas”. Reposicionamento da marca que representou “a decisão mais acertada mesmo representando enorme mudança e acarretando alguns riscos”.

A ‘invasão’ chinesa

A propriedade chinesa da Benelli, como de muitas outras marcas a nível mundial, e a crescente dependência do ‘rebranding’ de modelos fabricados na China e vendidos com os mais diversos símbolos, criou uma nova realidade. Fenómeno em crescente expansão na Europa e que, em Portugal, foi bem visível na recente edição da Expomoto, no Porto.

“É normal que cada vez mais fabricantes chineses estejam presentes em todo o mundo. E vão ganhar mais espaço de mercado até porque a qualidade e a tecnologia está a melhorar muito rapidamente na China”. Uma realidade que não é surpresa para Yan Haimei que, em contrapartida, responde com uma verdadeira novidade.

“A chegada da QJmotor como marca própria a Espanha em Portugal não vai mudar rigorosamente nada na estratégica da Benelli! A QJ é um grande grupo com possibilidade de lançar diferentes marcas com diferentes posicionamentos de mercado. Assim, a Benelli e a QJ terão um posicionamento diferente, de molde a cobrir mais espaço de mercado”. E aponta a indústria automóvel como exemplo de longa data, onde o Grupo VW detém as marcas Audi, SEAT, Skoda, Bentley, Lamborghini, Bugatti, Porsche.

EXPOMOTO 2022 70 - MotoX
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“O importante é manter a estratégia de posicionamento das marcas e preços dentro de um grupo/empresa/organização para não haver confusões” reitera a CEO da Benelli. Que não descarta a possibilidade de vir a equacionar “a colocação da Benelli como marca de luxo do grupo Qianjiang. Até porque a Benelli tem uma imagem mais forte e consolidada dentro do grupo”.

Aproveitar sinergias

Mas, para que não restem dúvidas, garante que “há espaço suficiente para a QJmotor. E, por isso mesmo, as redes de concessionários serão diferenciadas, nomeadamente em Portugal e Espanha. Aliás, em todos os países a rede de distribuição deve ser diferente. Até porque não é a forma correta de trabalhar com as duas marcas na mesma loja”.

Separação no capítulo comercial que, pelo menos para já, não existe na produção. Mas que, tudo aponta, deverá vir a acontecer. “Por uma questão económica, a produção começou com plataformas muito semelhantes, mas que, no futuro, poderão ser diferentes. A estratégia passa, aliás, por deixar essas diferenças serão bem visíveis, com plataformas completamente diferentes”.

Entrevista Yan Haimei CEO Benelli 11 - MotoX
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E já que de estratégias falamos, porque não o desporto para aumentar a visibilidade no mercado mundial? Voltar a ter a Benelli nas pistas de todo o Mundo é um sonho para os amantes do desporto motorizado e para os apaixonados da marca de Pesaro. Mas o envolvimento poderia até surgir por intermédio da QJmotor à semelhança do trabalho efetuado pela CFMOTO ou CPI no Mundial de Moto3…

“Um dia, sim, deveremos estar lá, precisamos encontrar o momento correto, a altura acertada em termos económicos. Para uma fábrica de motos juntar-se à competição é sempre um sonho. Todas as marcas de motos e as pessoas que lá trabalham têm esse sonho, essa grande paixão de estar em MotoGP por exemplo”.

Entrevista Yan Haimei CEO Benelli 01 - MotoX
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De pés bem assentes na Terra, Klara logo refreia os ânimos. “Em alguns países isso poderá ter algum efeito, mas não em todos . Claro que, pessoalmente, o mais importante é garantir que, se a Benelli entrar na competição, será com motor próprio. Porque estar na competição com um motor de outro fabricante não seria muito profissional”. E na Benelli não se brinca com um legado centenário!

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