Entusiasmante mistura dos ditames da moda e da filosofia de diversão que acompanha a renovação da gama Yamaha, a XSR700 é interessante variação ao tema café-racer. Muito mais do que simples réplica vintage, é interpretação moderna de fenómeno… intemporal
- Texto: Paulo Ribeiro
A receita é simples e o sucesso garantido. Um aspeto minimalista, banco curto e plano, guiador largo e farol redondo, grande simplicidade de linhas, uns quantos pormenores de classe e está feita uma moto nostálgica. Tanto mais capaz de agradar ao mercado, quanto mais embrulhada seja na recuperação histórica de modelo de tempos idos.
A Yamaha tinha tudo isso mas, seguindo o conceito da família Sports Heritage, decidiu ir mais além e criou versão personalizada de série da naked MT-07. Clássica por fora, moderna por dentro seria uma boa forma de caracterizar a XSR 700 que, porém, revela ser algo mais. Mais até do que simples recuperação do conceito, imagem e filosofia da XS 650, belíssima máquina da década de 1970, ou mesmo da SRX, café-racer com motor monocilíndrico de 40 cavalos que, apesar dos atributos, teve discreta carreira comercial entre 1985 e 1997.
Versão intemporal da bem-sucedida MT-07
Imbuídos do entusiástico espírito de reinvenção da marca, técnicos e designers da Yamaha recordaram esses exemplos, pegaram na MT-07 e meteram mão à obra. Ou melhor, entregaram a revisão estética a quem está mais dentro do mundo da moda (Shinya Kimura, Jens von Brauck, JvB-moto), recolhendo ensinamentos para criar a primeira das Faster Sons. Onde sobressaem as variações essencialmente cosméticas face à versão 700 da gama Masters of Torque.
Farol, depósito, secção traseira, luz de stop, guiador ou o banco foram alguns dos componentes modificados em moto que, apesar de ter banco mais alto (10 mm) e ser mais pesada (4 kg), mantém grande acessibilidade que caracteriza a MT-07. Posição de condução fácil, como simples são as manobras, mesmo com o motor desligado, ajudadas também pelo guiador mais alto e largo. Que, em andamento, ajudam a encontrar facilmente atitude relaxada e de tendência hipster.
Mudanças também no painel de instrumentos, trocando imagem futurista por mais adequado mostrador redondo. Que apesar de informações bem completas e com toque de modernidade digital, oferece legibilidade apenas moderada. Iguais são os comandos – mesmo se a economia de escala não beneficia imagem tecno retro… – de bom toque mesmo se a proximidade entre alguns botões pode causar inusitadas buzinadelas quando se pretende desligar os piscas.
Quando o estilo disfarça a genica
Bem sentados em banco de desenho elegante e cómoda posição, os primeiros metros são reveladores das semelhanças com a máquina que serviu de inspiração. Desde o som que sai do curto escape em posição inferior à suavidade no arranque, com embraiagem macia a apoiar motor bem cheio desde os mais baixos regimes. A partir das 2000 rotações por minuto não há qualquer hesitação, antes acelerações lineares que sublinham grande facilidade utilização, trunfo de peso sobretudo para uma nova geração de motociclistas, mais preocupada com aspetos funcionais do que com performances estratosféricas.
Mas, desenganem-se as almas mais críticas, a Yamaha XRS700 está longe, muito longe mesmo, de ser um poço de apatia. Basta acelerar de forma mais convicta para libertar alma mais aguerrida, em atitude que pode ser exponenciada com irreverentes toques de embraiagem. Altura em que a boa tração e fácil subida de rotação (contributos da arquitetura Cross Plane) podem provocar mudanças na ordem universal pré-estabelecida, com agradável e facilmente controlável tendência de levitação da roda dianteira.
Ocasião, também, para recordar a eficácia ciclística conhecida da MT-07, assente em valores de facilidade e rigor, capaz de resistir à intimidação mesmo quando o ritmo acelera. Simplicidade na entrada em curva como na transposição de massas nas viragens alternadas, ajudada pelo perfil bem arredondado dos pneus Pirelli Phantom Sportscomp, de padrão clássico mas sem temores mesmo quando os avisadores dos poisa pés roçam no asfalto.
A eficaz simplicidade da Yamaha XSR700
Comportamento de eficaz simplicidade, com geometria que permite fácil correção de erros ou omissões e condução de improviso, sem levantar obstáculos a inopinadas correções de trajetória. Rigidez adequada a utilização descomplexada, coerente com o sistema de amortecimento, de suavidade que leva a dianteira a afundar-se nas travagens mais fortes, sem vocação racing antes exaltando o conforto em todas as situações. E sempre com inatacável segurança, com conjunto de travões de funcionamento progressivo mas oferecedor de potência suficiente, acompanhado por ABS de série, eficaz mas de entrada em funcionamento longe da fineza dos modelos topo de gama… que custam mais do dobro!
Económica, elegante e eficaz, a Yamaha XSR700 assume filosofia clássica em roupagens modernas, privilegiando leveza, agilidade e facilidade de utilização, sem ser, em última análise, espartilhada pela imagem. Que pode, afinal, ser personalizada com recurso à enorme lista de acessórios, reforçando argumentos de moto que promete fazer as delícias dos adeptos da exclusividade, sem descurar valores de acessibilidade e eficácia.