Yamaha: do purgatório ao paraíso
Autor: Fernando Pedrinho
Agosto 24, 2021
Texto: Fernando PedrinhoFotos: WorldSBK, Yamaha Racing, BikeSport / GeeBee Images, Fernando Pedrinho Era apontado como o principal favorito a vencer na estreia do circuito de Navarra, depois de ter sido mais rápido nos treinos e sabendo-se que a Yamaha é a ‘superbike’ mais fácil de fazer girar. Mas as coisas não correram como previsto e…


- Texto: Fernando Pedrinho
- Fotos: WorldSBK, Yamaha Racing, BikeSport / GeeBee Images, Fernando Pedrinho
Era apontado como o principal favorito a vencer na estreia do circuito de Navarra, depois de ter sido mais rápido nos treinos e sabendo-se que a Yamaha é a ‘superbike’ mais fácil de fazer girar. Mas as coisas não correram como previsto e os dois oficiais da Pata Yamaha with Brixx, Toprak Razgatlioglu e Andrea Locatelli, não só qualificaram abaixo do previsto como não tiveram andamento para Scott Redding e Jonathan Rea nos dois primeiros dias. Mas porquê? “Não estive forte na maior parte do fim de semana”, disse-me o piloto turco. “A moto não vira nalgumas curvas e não sinto o que ela está a fazer. Na corrida não foi tão mal, mas preciso de mais alguma coisa. Tenho de tentar um pneu diferente assim como jogar com a eletrónica”.
A menos boa qualificação de Toprak na ‘superpole’ indiciou que algo não estava como previsto na YZF R1. “A moto está estranha! Gosto dela mais direita mas sinto-a demasiado sobre a frente e não consigo fazer girár-la”.

A consistência e maturidade alcançada pelo protegido de Kenan Sofuoglu este ano está à vista com a presença constante nos lugares de pódio e na diferença que o separa para o líder do campeonato. “Sim, isso é verdade, mas não chega!”.
Com Scott Redding a recuperar a sua conhecida combatividade, o campeonato será disputado a três? “O Scott está rápido, é verdade, mas há que não esquecer que em determinadas pistas a Ducati é muito boa, sobretudo nas retas e quando faz calor. Depois desta corrida gosto de todas as pistas que aí vêm, mas só espero que não chova em Magny Cours”.
O ‘milagre’ de Domingo. O que foi diferente?
Mas o ‘milagre’ surgiu no domingo pelo que interessava saber que ‘mezinhas’ utilizou a equipa técnica da Pata Yamaha With Brixx para inverter a tendência Ducati das corridas anteriores.
O abraço que Phil Marron deu ao técnico da Öhlins no final da corrida veio carregado de simbolismo. Falei com o irlandês no fim da corrida que me confirmou uma alteração da afinação das suspensões, bem como do pinhão de ataque da YZF R1. “Não teve a ver com aceleração, nada disso, mas antes para reduzir o ‘chattering’ que o Toprak se queixou após a corrida da ‘super pole’”.

Toprak viu-me e sorriu. “Finalmente tivemos corrida!”. As mudanças introduzidas permitiram ao piloto turco “sentir melhor a moto e pilotar de outra forma. Depois comecei a ver que trazia três a quatro décimas de vantagem para o Jonny [Rea] percebi que não ia ser fácil para ele manter-se na minha roda. Rodei sempre em bons tempos de forma consistente e quando a vantagem aumentou para um segundo sabia que podia descontrair um pouco. Finalmente chegou a vitória depois de um fim-de-semana que não foi nada fácil”.

Sair da primeira linha também teve a sua importância. “Sim, porque no sábado arranquei da oitava posição e saí mal, o que me atrasou para o grupo da frente. No domingo, consegui passar o Scott logo na primeira volta e imprimir um ritmo que me permitiu liderar toda a corrida”.
E agora segue-se Nevers Magny-Cours, “a minha pista favorita em França, mas nunca rodei lá com a R1. Espero que seja também a minha primeira vez a rolar com a pista seca. Estou de novo à frente do campeonato, mas só me foco em vencer cada corrida, e as próximas não vão ser diferentes”.
Toprak sai na liderança do campeonato para França, tendo superado a marca histórica de 1000 pontos na sua carreira, empatado na pontuação com Jonathan Rea. O turco alcançou a sexta vitória da época, algo que só Ben Spies e Noryuki Haga conseguiram fazer antes para a Yamaha. O Mundial de Superbike ‘recomeça’ em Setembro, depois de ‘zerado’ em Navarra!

No ano de estreia, Locatelli está (quase) lá!
Perante o trio que disputou todas as vitórias até ao momento (Toprak, Rea e Redding), Andrea Locatelli lidera o grupo que se segue, onde surgem ainda Alex Lowes e, a espaços, Garrett Gerloff e as duas BMW oficiais. O melhor dos estreantes este ano e atual campeão em titulo de Supersport, veio confirmar que as Yamahas YZF R1 são, porventura, a moto mais equilibrada da grelha e passíveis de bons resultados nas mãos de pilotos de estilos tão distintos como Toprak e os outros. “O quarto lugar é o máximo a que posso aspirar neste momento”, dizia-me Andrea. Razão para a sessão de cavalinhos que se seguiu ao final da corrida de domingo? “Há que desfrutar o momento. Uma corrida não é um funeral! Tenho de estar contente: pilotei bem e junto com a minha equipa não temos cometido erros. Seguramente, ainda temos de melhorar para colar ao grupo da frente e ser capaz de lutar pelo pódio. Mas não esquecer que estou a rodar no máximo das minhas capacidades e necessito de um pouco mais de experiência”.

Algo que não falta aos três da frente… “Se na corrida de Domingo não tivesse cometido um erro ao tentar passar o [Scott] Redding, o Jony [Rea] não me tivesse tentado passar e o Alex [Lowes] não me tivesse tocado talvez me pudesse ter mantido com os da frente”. Sem dúvida uma quantidade substancial de ‘ses’ e muitos acontecimentos para processar por parte do jovem de Bérgamo. “Quando vi o Jony com todos aqueles problemas a atrasar-se, se estivesse mais perto poderia ter tentado a sorte. Mas estou contente porque foi um ótimo fim de semana para nós”. E agora Magny-Cours… “onde nunca andei numa Superbike, mas não tenho qualquer pressão sobre mim. Vamos continuar desta forma e acho que podemos voltar a fazer boas corridas”.

A pressão de ser piloto oficial
Tal como ele, Michael Ruben Rinaldi ascendeu à equipa oficial, mas com resultados muito aquém do esperado, se excetuarmos o excecional fim-de-semana de Misano. O que faz com que o ‘rookie’ oficial da Yamaha consiga fazer bem melhor que o mais experiente jovem transalpino da Aruba.it Ducati que, dizem as ‘bocas’, não está a gerir muito bem o receio de voltar a ser relegado para a equipa satélite da GoEleven, de onde veio por troca com o ex-oficial Chaz Davies? “Eu estive debaixo de alguma pressão na primeira metade da temporada, porque integrar uma equipa oficial não é fácil. Eu trabalho com um grande grupo de pessoas e as da Yamaha têm sido muito boas para mim, poupando-me a uma pressão desnecessária. Talvez eu tenha mais experiência de competição que o Michael Ruben, não sei. Somos amigos, mas desconheço as razões da diferença. Agora sou um homem e não o adolescente que veio para as corridas, pelo que uma atitude mais madura pode estar a ajudar-me a gerir a pressão de ser um piloto oficial”.

Com pistas mais favoráveis que já conhece a constituírem a segunda metade do campeonato, o que falta a Locatelli para formar o quarteto de favoritos à vitória em cada corrida? “Este é o meu primeiro ano como piloto de Superbike, estamos a andar muito bem e junto aos da frente. Nunca pensei ser capaz de alcançar este nível em tão pouco tempo e logo no ano de estreia. Na melhor das hipóteses pensei que talvez conseguisse um ou outro bom resultado nas provas do fim da época. Mas isso aconteceu já em Assen, onde subi pela primeira vez ao pódio. Agora, pela frente, só tenho os três grandes nomes: Jonathan, Redding e Toprak! Eles são o meu próximo alvo. Não vai ser fácil, com certeza, tenho de aprender um pouco mais, e vamos tentar já em Magny Cours reduzir a diferença para eles e intrometer-me na luta”.

A Yamaha é a Superbike mais equilibrada?
E do que vê em pista a YZF R1 é a mais completa e versátil superbike da grelha, em função dos resultados alcançados pelos dois oficiais da Pata Yamaha With Brixx e pelo texano da GRT Yamaha, Garrett Gerloff? “Melhorámos muito a moto no inverno e o meu ‘feeling’ imediato quando a pilotei pela primeira vez foi de muito agrado. Ainda temos alguma falta de potência, que nos leva a perder tempo nas retas, mas a R1 consegue ter maior velocidade de passagem em curva e parece também ser mais fácil de virar e inserir em curva. Nunca andei com as outras motos, é o meu primeiro ano na Superbike e também com os pneus da Pirelli. Hoje, por exemplo, a frente estava sempre a ‘fechar’ mas acabei por não cair. Ainda estou a descobrir os limites da moto e do pneu, pelo que ainda tenho de puxar um pouco mais e entender melhor o conjunto, se quero reduzir a distância que me separa do trio da frente”.
Poderá ser já em Barcelona, pista que lhe assenta como uma luva?
2.500 quilómetros de V-Strom e outras tantas curvas
Levo já 2.500 quilómetros com a DL1050XT V-Strom da Moteo, em menos de uma semana. Depois do fim-de-semana de corridas em Los Arcos, na comunidade autónoma e província de Navarra, o regresso foi por Madrid, pela deliciosa estrada de Soria, rumando depois a Vilar Formoso e com uma escapadinha ali para os lados de Seia, para rever a família. Daí até Gaia foi por estradas do interior que me levaram a passar pela Barragem de Fagilde, as serras de São Macário e da Freita, terminando já no litoral Atlântico.
A V-Strom foi uma fiel companheira e uma incrível máquina de viagem, com autonomias a superarem confortavelmente os 300 quilómetros. Proteção aerodinâmica e posição de condução perfeitas, o assento podia ser melhor, pois ao fim de 200 quilómetros consecutivos damos por nós a mudar de posição perante as queixas do fundo das costas. Muito ágil e fácil de manobrar a baixa velocidade, o consumo médio situou-se nos 5 l/100 km, pois houve ainda uma boa porção de auto-estrada pela frente.
Mais do que uma boa surpresa, a confirmação de que a Suzuki sabe fazer boas motos, como vos darei conta muito em breve numa análise mais detalhada a este modelo.
O nosso obrigado à Moteo e ao incansável Carlos Coutinho.
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