WorldSBK Jerez de la Frontera: já começou a última de 2023

A última corrida da temporada já está na pista para o que se espera ser a consagração de Álvaro Bautista como bicampeão mundial. Porém, foi uma sexta-feira que se resumiu ao segundo treino livre, dadas as condições da pista, onde o piloto mais rápido, Toprak Razgatlioglu, rodou a dois segundos de distância do recorde da ‘pole’ alcançada por Jonathan Rea em 2019.

Mas houve algumas novidades, emoções, despedidas e anúncios de que vos darei contas nas linhas e artigos que se seguem.

  • Texto: Fernando Pedrinho
  • Fotos: WorldSBK e Fernando Pedrinho

A manhã acordou tarde e quando as primeiras Supersport se fizeram à pista, pelas 09.30 locais, o céu encoberto estava ainda bem escuro e quase era necessário uns faróis de resistência para melhor perceber as curvas do traçado. A pista, como se pode imaginar, estava molhada de uma forma nada uniforme, mais parecendo que os pilotos andavam sobre esferas ao mínimo toque no acelerador.

Álvaro Bautista durante o FP1, à espera que a pista secasse

Obviamente, durante a manhã só quatro pilotos se fizeram à pista, entre eles o regressado Leandro Mercado, para o lugar de Éric Granado, e o estreante Florian Alt, com uma CBR1000RR-R da Holzauer, como prémio pelo título alcançado no campeonato alemão da categoria, o IDM.

Com uma sessão de treinos perdida por inteiro, a da tarde foi a única onde os pilotos puderam rodar, mas as manchas de humidade que persistiram na pista revelaram-se traiçoeiras e não deixaram de fazer vítimas. Garrett Gerloff destruiu a sua BMW M100RR logo na primeira volta, e também Alex Lowes não deixou em melhor estado a sua Kawasaki. O campeão do mundo também foi ao ‘tapete’ na curva seis, local onde Dominique Aegerter rubricou um número de circo e se safou de um provável voo forçado.

Toprak o mais rápido, mesmo sem tração

“O sol despertou tarde e só espero que amanhã não chova”, disse Toprak já refeito das emoções de Portimão, “porque esta pista leva tempo a secar”. O turco não foi exceção do coro de vozes que se queixaram da falta de tração. “Mal toco no acelerador a roda de trás derrapa de imediato, sobretudo nas curvas mais longas. Montei um pneu novo para a segunda parte do treino, fizemos algumas modificações nas afinações com que iniciámos a sessão e melhorou ligeiramente”, disse o piloto que encabeçou a lista de tempos. “O Álvaro está muito forte, mesmo sem ter usado um pneu novo, porque o vi a derrapar muito”, comentou, “mas ele é sempre forte nesta pista”. Toprak perdia no último setor, particularmente na sequência de direitas. A frente está fantástica, mas é a traseira que está muito solta sob aceleração”.

E tem sido assim, porque a equipa da Pata Yamaha Prometeom e ‘Stoprak’ começaram mal no primeiro dia de corridas, melhoram no sábado de manhã e surgem nas corridas como candidatos à vitória. Para amanhã, a equipa vai optar por uma moto com maior distância entre eixos. “É a configuração de Portimão, onde senti que a moto estava muitíssimo boa, mas aqui estamos com falta de tração. Aqui pareço que voltei às sensações de Phillip Island, com o Pirelli SC1 traseiro, e sem aderência em parte alguma”.

Remy Gardner volta a surpreender

No meio do caos de aderência, ou falta dela, os pilotos das Yamaha foram os que se ‘orientaram’ melhor, com três YZF-R1 entre os cinco mais rápidos. Remy Gardner voltou a surpreender e vai terminar a época com uma nota muito positiva e em crescendo, terminando em segundo no primeiro dia de contenda. “Não foi um grande dia. Fui o único a meter um pneu que qualificação na última parte do FP2 mas não efetuei uma boa volta, por um erro na última curva”, confessou o filho do ‘crocodilo’ Wayne. “Com o SQ deveria ter entrado no segundo ’39, pelo menos”.

Remy ainda experimentou o SCX standard, super macio, e a versão de desenvolvimento do mesmo, o B0800. “Gostei muito, pois só perdi duas décimas face ao SCQ”.

Gardner confirmou o estado da pista. “Difícil! Muitas quedas e passei por alguns momentos complicados. Não eram as condições ideais para puxar pelo andamento. Sais meio metro da linha e habilitas-te a um grande queda. Foi para rolar, entender as trajetórias e saber onde travar.”

A primeira sessão de treino serve normalmente para definir as afinações. “Tínhamos previsto rolar com o SC0, trabalhar nas afinações, entender a pista e voltar a entrar na ‘onda’. Já o FP2 é o modo de ataque com um novo SCX, novo dianteiro e ver o tempo de vida dos pneus. Mas foi difícil porque tive sempre a mesma tração da primeira à última volta, porque a pista estava muito ‘verde’. Meti então o ‘800’, mas saiu a bandeira vermelha e fiquei com dez minutos de sessão. Foi o que gostei mais e ainda gastei os últimos meses a testar o SCQ, de qualificação, porque a pista vai estar igual e vai ser ainda muito escuro”.

Uma vantagem para o australiano estas condições adversas? “Não, acho que favorece os mais experientes que já conhecem a pista e sabem o que é preciso para andar rápido. Eu preciso de tempo em pista, como vimos nas últimas corridas. Uma sessão de treinos não é concerteza suficiente. Vamos ter de olhar para os dados e ver o que descortinamos para amanhã que funcione melhor”.

Álvaro Bautista rápido mas com queda pelo meio

Queda algo estranha do espanhol que viu a família deslocar-se da Talavera de la Reina a Jerez de la Frontera para celebrar o mais que provável bi-campeonato. “De estranho não teve muito”, começou por dizer. “Passei por cima de uma mancha de humidade. Tentei evitá-las mas não vi aquela muito bem e ao passar por cima dela a frente fugiu”, sem consequências relevantes para piloto e moto. Curiosamente, Bautista não acusou qualquer pressão por estar, praticamente, com o título no bolso. “Sinceramente, estou mais descontraído do que esperava. Pelo menos por hoje (risos). Amanhã veremos. Acho que por não estar a pensar no campeonato, nos pontos, ou na classificação. O objetivo é o mesmo de toda a temporada: senti-me bem com a moto, divertir-me e dar o meu melhor. Para mim é um fim-de-semana como qualquer outro”.

Michael Ruben Rinaldi, sair da equipa oficial pela porta principal

O italiano de saída da Aruba.it não destoou da opinião generalizada. “Pista estranha, não molhada o suficiente para meter os pneus de chuva”, explicou, “mas sem permitir meter os ‘slick’. Ficámos quase todos na box para poupar alguns autocolantes (de pneus que os pilotos têm à disposição) para as sessões seguintes”.

Sem estar perfeita, a pista melhorou o suficiente “para permitir, de forma segura, preparar a moto para as corridas e foi isso que fizémos”.

Rinaldi secundou o seu chefe de equipa e mostrou que se poderá contar com ele para a ‘superpole’  e para a luta pelo pódio.

Dominique Aegerter de susto em susto até ao ‘top 5’

O suíço protagonizou uma acorbacia circense, na mesma curva em que caiu Bautista, ao passar por cima de uma das manchas de humidade da curva seis. “Foi por pouco”, riu-se o colega de equipa de Gardner. “As manchas estavam por todo o lado e criavam alguma ansiedade ao passar pelas curvas 5, 6 e 8”. Um metro de desvio e podias ter sorte ou azar.

Toprak queixou-se da falta de tração, mas as Yamaha parecem ter sido as que melhor lidaram com as confições da pista. “Eu acho que ele foi quem melhor se desenvencilhou nestas condições. Mas se comparares com os dois dias de teste de Janeiro, as condições eram bem melhores e metemos muita borracha no asfalto. Aqui tivémos chuva, mas se ela optar por estar ausente de amanhã em diante a aderência do asfalto vai subir e a posição dos pilotos na tabela de tempos vai-se alterar de alguma maneira, mas espero continuar entre os da frente”.

Ao contrário de Remy, Dominique não utilizou o SCQ de qualificação, mas antes os SCX e o B0800, “com os quais me senti muito bem”.

Phillip Oetl em sexto, mas desempregado

Triste e desapontado, nem o sexto lugar de qualificação animou o pobre Phillip Oetl, que cederá o assento da sua Panigale V4R ao extravagante Andrea Ianone na próxima época. “É tudo o que posso fazer neste momento”, explicou o alemão, “mostrar que ainda tenho potencial mas atualmente não durmo nada bem”.

Com um bom desempenho nas três últimas corridas, o calcanhar de Aquiles do piloto da GoEleven foi o meio da temporada. “Tive alguns problemas técnicos, mas desde a Austrália que foi difícil para nós e a partir de Misano deveríamos ter feito algo mais, porque a moto esteve muito boa desde então. Mas daí até Most eu também cometi alguns erros. Trabalhei esse aspeto na pausa de verão e acho que fiz um bom trabalho. Mas aparentemente pode ter sido tarde de mais. Neste momento estou à procura de emprego!”.

A queda de Alex Lowes

Jonathan Rea e um dia de m…

Taxativo. Para o norte-irlandês tratou-se de um dia de m… “Não tinha tração e passei o tempo todo na box para perceber os problemas”, disse. “Experimentámos um novo pneu, mas os problemas persistiram. Muito ‘spin’ da roda traseira e muita intrusão das defesas eletrónicas”.

Rea conhece o traçado de Jerez como poucos e nas voltas dos testes, mal entrava em pista saiam de imediato tempos-canhão. “O Gerloff saiu à minha frente e o tempo que me ganhava na saída de curva era incrível. Falta algo fundamental na moto. Uma primeira análise  não mostrou nada de muito errado, além da falta de tração. Há muito que fazer e foi um dia muito frustrante”, revelou Rea que nãoi foi além de décimo terceiro”.

Curiosamente, as bases de afinação utilizadas foram as mesmas que a equipa da Kawasaki e Provec utilizam no traçado andaluz. “Estamos tão longe, mas o primeiro consenso a que chegámos foi que se deveria ter tentado outro pneu traseiro, apesar de eu andar normalmente bem com o B0800. Pensámos que o primeiro estava algo inconsistente, mas voltámos a meter a mesma borracha. Nessa altura deveria ter optado pelo SCX para ver as diferenças”.  

Mentideros

Há medida que os lugares da se vão preenchendo, e não é apenas neste campeonato, mas também no MotoGP, a especulação que pende sobre as vagas aumenta de forma proporcional.

Para já o que é certo é que o Team HRC renovou com os seus dois pilotos espanhóis, Iker Lecuona e Xavi Vierge. Farto de esperar pelo destino de Marc Márquez na equipa da Repsol Honda, Iker deve ter percebido que poderia não ir a parte alguma e aceitou a decisão da Honda de o manter no mundial de Superbike, tal como Vierge.

O lugar mais apetecível da grelha é a moto da equipa de Manuel Pucetti, dado que vai ser uma moto idêntica às oficiais. Loriz Baz era uma possibilidade, mas a casa de Akashi traçou uma cruz no francês, ainda recordando as picardias com Tom Sykes na equipa oficial.

Michael Ruben Rinaldi surgia como uma possibilidade para o assento da moto verde, ao mesmo tempo que esperava pela decisão de Lecuona, com olho numa das Fireblade oficiais. Contudo a nossa aposta é que a Aruba e Ducati não irão deixar cair o menino bonito de Borgo Panigale e o riminês estará de novo no ‘paddock’ das SBK com uma das Ducati da equipa de Lorenzo Mauri, a MotoCorsa.

Philip Oetl era dado como certo na GMT94 de Christophe Guyot, mas o peso dos pilotos Yamaha está a vir ao de cima, com Bradley Ray apontado ao lugar que era de Lorenzo Baldassari. Este trocará de montada com o britânico devendo surgir com a YZF-R1 da MotoxRacing, de Sandro Carusi.

Já Leandro Mercado, que veio até ao circuito Ángel Nieto para substituir o lesionado Éric Granado, estará com a equipa oficial da Honda no Mundial de Resistência do próximo ano e deverá também alinhar no campeonato alemão de Superbike (IDM).

Durante o fim-de-semana iremos dando conta das novidades que possam surgir de interesse do mundial de Superbike e das suas categorias.

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