WorldSBK 2022: Rea e a Kawasaki na frente, com Lowes em forma

Após longa espera, o Mundial de Superbike saiu finalmente para a pista, com Jonathan Rea a confirmar a rapidez dos testes de pré-temporada, conseguindo na manhã um tempo que, no combinado nas duas sessões, o colocou na frente de Álvaro Bautista por três décimas.

Já Alex Lowes parece estar de regresso à boa forma, isento de lesões, e a sua rapidez poderá levá-lo a capitalizar um lugar no pódio se algo de menos ortodoxo se passar com os três da frente. Mas o que mudou na Kawasaki este ano?

• Texto: Fernando Pedrinho
• Fotos: Kawasaki WorldSBK, WorldSBK e Fernando Pedrinho

Sexta-feira deu as primeiras indicações do que será o Mundial de Superbike deste ano. Ao trio de suspeitos do costume, há que descontar Scott Redding e adicionar, como prevíamos, Álvaro Bautista. As Honda e BMW ainda têm pela frente algum trabalho pela frente para almejar aos lugares cimeiros por mérito próprio.

Mas é sem sombra de dúvida a recuperação da competitividade por parte da Kawasaki que está a dar que falar e a devolver aos dois britânicos a consistência de comportamento de que tanto se queixaram no ano passado.

Jonathan Rea estava, naturalmente, satisfeito com o resultado do primeiro dia de treinos. “O programa de testes foi o mais difícil, pois foi aí que definimos o ‘pacote’ que vamos utilizar neste fim de semana”, confirmou o norte- irlandês. “Na FP2 ensaiei um um pneu alternativo para a corrida, atrás e à frente, e acho que sabemos bem o que fazer para a corrida”.

A temperatura do asfalto vai decidir a escolha dos pneus, ficou claro nas conversas entabuladas com os diversos pilotos. “Tenho um bom ritmo e sei que se tiver de puxar durante uma volta não vou ter dificuldades. Só tenho de efetuar uma boa largada. Mas estou empolgado. É a primeira corrida do ano. Nunca me tinha sentido assim até hoje, pois normalmente começamos o campeonato em Phillip Island, onde o ambiente é algo diferente”.

O que mudou na ZX-10RR Ninja

“Mudámos alguns componentes da ciclística, mas a mais importante foi a alteração da forquilha dianteira da Showa. Apesar de terem sido alterações discretas, acho que demos um passo em frente em termos de competitividade.” As alterações na moto visam essencialmente a estratégia de corrida, “particularmente ao nível da eletrónica, onde esperamos poupar mais o pneu traseiro. A forquilha dá-me um ‘feeling’ diferente da frente e dá-me uma margem no limite um pouco mais ampla, em perceber mais facilmente onde está esse limite”. Questionado sobre os detalhes do comportamento da nova especificação da forquilha Showa, Jonathan sorriu e ripostou: “Gosto muito de ti, mas teria de te matar se te contasse (risos). Repara, essencialmente ajuda na entrada em curva. Lembra-te que no ano passado a traseira empurrava muito a frente e colocava o pneu dianteiro numa crise permanente. Chegava ao limite do pneu no gume da lâmina e agora, o que conseguimos foi um pouco mais de margem nessa fase”.

Rea conseguiu o melhor tempo de sexta-feira logo na segunda volta do FP1, o que deixou meio mundo de boca aberta. “Acho que comi um bom pequeno-almoço (risos). Fiz logo 1’49”3 na primeira volta lançada e fui ainda um pouco mais rápido na segunda, onde saiu o tempo. Eu tenho no painel da minha moto um indicador do tempo parcial por setor. Quando vi o tempo do primeiro setor pensei que o Davide [o engenheiro de dados de Jonathan] se tinha enganado nos pontos de referência.

Jonathan considera os dois pneus traseiros da Pirelli (SCX e SCQ) muito idênticos. Se a temperatura do asfalto subir acima dos 25º – 30º C é onde teremos de fazer a escolha.

Alex Lowes rápido, rápido

“Eu não sou suficientemente rápido para andar com joguinhos sobre o meu ritmo”, começou por dizer na nossa conversa com o britânico. “Trabalhei muito com pneus usados, comparativamente aos outros. Agora sei que entre a volta 9 e 18 da corrida vamos ter moto para essa fase, e foi nisso que trabalhei particularmente. Habitualmente ensaiava o pneu mais macio no final da sessão mas não corri riscos, pois no ano passado estive lesionado quase toda a época, e não queria começar a deste ano nessas condições. Estou bem fisicamente, sinto-me bem e posso pilotar decentemente. Ainda estou algo atrás dos três da frente e ando na luta com o Garrett [Gerloff] e o [Andrea] Locatelli. Se conseguir aguentar-me não muito longe dos da frente na segunda parte da corrida posso ser muito forte. Talvez isso não aconteça, mas tem sido assim que planeámos o fim-de-semana. Estou a ficar velho, tenho de ir de uma forma estável e  não posso andar a fundo o tempo todo” (risos).

De novo as alterações na Ninja

“Esta manhã ensaiei uma colocação do eixo do braço oscilante que eleva um pouco mais a traseira da moto, para me dar mais estabilidade na traseira, mas acabava por empurrar demasiado a roda dianteira. É uma alteração demasiado radical que não vou usar amanhã. Também experimentei uma geometria da frente com mais avanço (trail) , para me dar um pouco mais de margem, o que funcionou bastante bem. Eu sei que é o oposto do que Johnny tem, mas adapta-se melhor ao meu estilo de pilotagem. Depois vai ser uma questão de temperatura do asfalto. Abaixo dos 28º C vou optar pelo SC0 traseiro (mais duro), com que fiz a melhor volta nos testes do início da semana. Acima disso, opto pelo SCX (mais brando). Mas sabemos o que temos de fazer”.

Alex confirmou que as mudanças na moto são muito poucas e que a forquilha Showa com novas especificações é a maior alteração. “A nova suspensão da frente tem mais curso o que ajuda no ‘trail braking’ (quando a moto entra para a curva apoiada nos travões). Viste bem como o Jonathan tinha de usar a frente da moto no ano passado, sobretudo na segunda parte da temporada, com a roda a frente a bloquear e obrigá-lo a ir em frente. A moto agora funciona melhor nessa área. Ainda lutamos com alguma falta de aceleração, pois todos os outros parecem ter melhorado em termos de velocidade. Acho que vou ter de perder algum peso (risos) para ser mais rápido nas retas”.

Honda NT1100 benzida pela chuva

Confesso não me lembrar de uma viagem que tenha feito de moto em que a chuva não tenha aparecido para dar um ar da sua graça. Esta vinda até ao antigo reino de Aragão não constituiu exceção. Obrigado a ficar a mais de 45 quilómetros para leste do circuito, Monroyo é uma pequena aldeola situada nas montanhas. Durante a noite a chuva veio benzer a NT1100, curiosamente num raio muito limitado, pois após alguns quilómetros de estrada, esta estava seca e ao chegar a Alcaniz o sol marcou a sua presença.

Para a NT1100, com ou sem chuva, vai tudo a eito. Aliás, esta turística vem dotada de uma eletrónica de superbike, com controles de tração, travão-motor, modos de condução e de potência. A minha preferência recai sempre sobre o modo ‘Tour’, com desconexão do controlo de tração, mínimo de travão motor e modo de potência no máximo.

Em estrada nacional a NT1100 tem feio uma média de consumo de 5,3 l/100 km para uma velocidade média de 93 km/h. A sua maneabilidade é notória assim com a facilidade com que nos habituamos ao DCT. Confesso que a falta da manete e pedal direito ainda faz confusão, mas é coisa dos primeiros metros, pois logo entro no modo ’scooter’ e ‘no pasa nada’.