WorldSBK 2022 Motorland: Porque ganha Rea? Bautista pode ganhar amanhã? E o que faltou a Toprak?

Abril 9, 2022

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‘Corridaço’! É assim que se pode definir a corrida inaugural do Mundial de Superbike de 2022. O trio apontado para a disputa das vitórias cumpriu o que dele se esperava e a corrida foi emotiva de princípio a fim decidindo-se na última curva, como mandam os pergaminhos de uma competição acesa.

Jonathan Rea e a Kawasaki resolveram os problemas que apoquentavam a frente da ZX-10RR Ninja na segunda metade do ano passado. Álvaro Bautista mostrou que o seu retorno à Ducati foi o ás de trunfo da marca de Bolonha. Já o campeão do mundo, soube sofrer numa pista onde as Yamaha YZF-R1 nunca se mostraram muito à vontade

  • Texto: Fernando Pedrinho
  • Fotos: Kawasaki WorldSBK, WorldSBK, Aruba.it Ducati e Fernando Pedrinho

Jonathan Rea entrou no campeonato com o pé direito. A proverbial consistência e rapidez do norte-irlandês encontraram a estabilidade necessária no trem dianteiro da Ninja para nunca desistir de lutar pela vitória, nem que seja até à última curva. O natural de Ballymena, ali mesmo ao lado de Belfast, nunca perdeu o controle da cabeça de corrida, mesmo sabendo que a longa reta do traçado aragonês é como ‘sopa no mel’ para o foguete italiano. Vitória perfeita? “Não, para mim perfeita seria se tivesse partido na frente e cortado a meta isolado”, disse-me o britânico. “Mas adorei a batalha e mostrámos os pontos fortes da nossa moto: ágil e estável na travagem”. O trabalho da pré-época focou-se em fazer trabalhar a gama de Pirelli traseiro macios, como o SCX e o 557 – o pneu de desenvolvimento que se tornou no SCX deste ano. “Consegui manter a rapidez até ao fim sob uma temperatura fresca. Nota que nunca havíamos conseguido tirar rendimento do SCX com uns meros 24º C [de temperatura de asfalto]. Todo o mérito para a equipa da Provec, Kawasaki e para a Showa. É uma grande vitória, não por ser a primeira do campeonato mas como o fizemos e com este pneu”.

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“Há três anos o Álvaro deu-me 15 segundos”!

Jonathan confessou mesmo  não se recordar de uma vitória que tenha apreciado tanto como esta. “Há três anos atrás, o Álvaro deu-me 15 segundos com esta moto. Por isso, ganhar nesta pista com ele na Panigale V4R é muito bom para a minha confiança. Esperava terminar no pódio mas vencer é ainda melhor e são 25 pontos logo no arranque”.

E as incontáveis vezes que a moto vermelha passou pela ‘Kawa’? “O que posso eu dizer? A moto é um míssil e ridiculamente rápida. Mas isso não quer dizer que seja a melhor moto da grelha. Podíamos claramente ver o que eu conseguia fazer na travagem e nas mudanças de direção com a ZX-10RR. Também acho que temos melhor tração mecânica que a Ducati. Por outro lado, se é mais difícil para mim nas retas, para ele resulta mais complicado em curva, por isso não me posso queixar muito”. A ultrapassagem na última curva que deu a vitória ao hexacampeão mundial foi o corolário de uma corrida de antologia. “Ele passou por mim tantas vezes na reta que me deu a possibilidade de perceber o que teria de fazer na última volta”, explicou Jonathan. “O Álvaro passava-me a meio da reta, mas dessa vez fê-lo um pouco mais tarde e tentou fechar-me a entrada em curva. Só que travei ainda mais tarde e meti por dentro, tentei fazer-me pequenino e massajar o amortecedor traseiro para não comprometer muito a saída e resultou”.

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Campeonato a três?

E será que Jonathan também acha que este vai ser um campeonato a três? “Hoje foi assim, mas tens pilotos como [Garrett] Gerloff, Alex [Lowes], [Michael Ruben] Rinaldi, [Andrea] ou o Locatelli, que irão aparecer em algumas corridas. Contudo, para a época inteira, o Toprak [Razgatlioglu] e o Álvaro [Bautista] vão ser os meus maiores adversários.”

Estratégias em pista era o que todos esperávamos para ver na primeira corrida do campeonato. “Acho que o Toprak queria manter-se na frente da corrida para controlar o ritmo. Não entendi bem o que pretendia o Álvaro, mas a minha estratégia era ripostar de imediato de cada vez que ele me passasse. Se lhe desse uma ou duas décimas, antes da reta grande, e concedesse outro par de décimas, teria de esforçar em demasia o pneu da frente para recolar. Por sorte hoje tinha uma moto que me ajudou muito”.

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Bautista está de volta para lutar até ao fim

Se há algo que não se pode acusar Álvaro Bautista é de não ter tentado tudo para vencer, depois de dois anos sabáticos na passagem pela Honda oficial. “Depois de tudo o que passei era muito importante acabar esta corrida”, disse o piloto da Aruba.it Ducati. Espetador da refrega inicial entre Rea e o campeão do mundo em título, Bautista manteve-se calmo, até por que sabia ter ritmo para o final da corrida. “Ao fim de alguma voltas o Toprak ficou mais lento e decidi passá-lo, numa travagem para a primeira curva com as três motos lado a lado. Até tenho as marcas no fato do pneu da frente da Yamaha. Acho que o Jonathan entendeu que não podia deixar-me isolar no comando, mas não me importei com os ‘ataques-resposta’ dele, pois como te disse, apenas queria acabar a corrida e não envolver-me numa luta direta. Esta é apenas a primeira corrida: tinha de assegurar um bom resultado e retirar boas sensações de corrida”.

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Ficou claro que se a Ducati é um míssil capaz de alcançar 328 km/h, a Kawasaki tem melhor aceleração na saída de curva. “Perdia em aceleração em todas as curvas”, confessou o piloto de Talavera de la Reina. “Conseguia recuperar em algumas travagens e nas retas, mas de cada vez que o passava na reta longa tinha dificuldades na última curva, sobretudo com o vento que se fazia sentir e empurrava a moto para fora. Nela tentei fechar a linha, mas fiz mais de meia curva com a frente a escorregar e forçá-la para vir para dento, e como a moto do Jonathan gira melhor e tem mais velocidade a meio da trajetória, não foi possível…. Mas foi uma bela corrida e muito divertida. É esta a posição em que tenho de lutar e não o que aconteceu nas duas temporadas anteriores. É uma boa maneira de começar a época”.

Então o que faltou a Álvaro para ganhar? Alguma vez pensou escapar na frente e fazer uma corrida “à lá Bautista”? “Honestamente, nunca pensei nisso. Só queria manter-me na corrida e estar muito concentrado. No par de vezes que andei na frente tive problemas de estabilidade e perdi tempo. Talvez se não viesse da situação que vivi no ano passado tivesse arriscado um pouco mais. Mas tomei a decisão correta”.

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Obviamente, importava ‘provocar’ Bautista sobre o único ponto alcançado por Scott Redding na mudança para a BMW, depois de ter lutado pelo Mundial do ano passado, até à penúltima prova. “Sei perfeitamente o que estará a sentir neste momento e conheço a frustração porque estará a passar”, disse o espanhol. “Deixou uma moto que é muito boa e fácil de pilotar até um certo nível. Além disso, mudar de um V4 para um quatro em linha… deve estar a sentir o que senti nos últimos dois anos. O que tem a fazer é trabalhar para adaptar o seu estilo de pilotagem à moto e tirar o máximo proveito do que ela pode dar. Foi que tentei fazer na Honda”.

O sofrimento do campeão do mundo

Toprak Razgatlioglu é a estrela do momento. Quebrou a série de títulos mundiais de Jonathan Rea e é apontado por toda a gente à equipa oficial da Yamaha na MotoGP, sobretudo se Fabio Quartararo resolver bater com a porta. Mas sabia-se que o arranque do campeonato em Motorland seria tudo menos ‘pera fácil’ para o turco, até porque as YZF-R1 nunca se sentiram como peixe na água no traçado mais longo do mundial.  Terceiro na Sexta-feira, o sultão parecia querer contrariar a tendência do passado ao rubricar a ‘pole position’ na manhã de Sábado. Mas a corrida voltou a determinar uma situação em que o piloto não conseguiu explorar o seu ponto mais forte: a travagem. “Já desde os treinos que vinha a sentir que o pneu da frente perde muito rendimento depois das 10 ou 11 voltas iniciais”, disse-me o piloto da Pata Yamaha with Brixx. “O pneu da frente começa a escorregar demasiado, sobretudo na travagem para a curva 1. É a primeira vez que passo por esta situação na Yamaha, pois costumo gostar muito do Pirelli SC1.” Toprak testou mesmo o novo dianteiro da Pirelli, o SC1 A0674, mas não gostou. “Em condições de maior temperatura esse pneu não é para mim! Sabes que eu gosto de travar forte, mas assim que o pneu dianteiro começa a escorregar nessas circunstâncias, a minha corrida acabou”.

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O piloto da moto azul acabou por sacrificar também o pneu traseiro, que na últimas oito voltas decaiu, tal como já vinha sentido na frente, muito de rendimento. “Andei a lutar com a moto em todas as curvas e acabei por me contentar com a terceira posição. Na curva 7 era particularmente complicado, com a frente a ‘fechar’. Apesar de termos melhorado globalmente nesta pista, ainda sou muito lento nos setores 1 e 3. Não sei se no Domingo vamos conseguir mudar muito esta situação, mas voltaremos em Assen mais fortes”.

Mas será de fato o pneu dianteiro a fonte do problema? “Aí é que está a questão: o ‘feeling’ que a frente me transmite é péssimo! Não acho que seja do pneu, porque o ano passado utilizei o SC1 em todas as corridas e nunca senti este problema. Acho que a origem de tudo isto está nas afinações que estamos a utilizar. Como te disse, esperava que o pneu traseiro decaísse para o fim da corrida, mas jamais o dianteiro, apesar de ter sentido isso na simulação de corrida de ontem à tarde”.

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E qual é para o natural de Alanya, a melhor moto da grelha? “Não sei” atirou de imediato. “A Yamaha é muito boa nas curvas longas, mas esse não é o meu estilo. A Yamaha costumava devorar o pneu traseiro nesta pista, pelo que estamos a jogar com a eletrónica para controlar esse consumo. A Ducati é rapidíssima nas retas e este ano temos de contar com as Honda e BMW nesse aspeto. A Kawasaki é mais como a Yamaha”.

Com 9 centésimas a separem os dois primeiros, a receita está dada e decididamente: temos campeonato!

Honda NT1100 benzida pela chuva

Confesso não me lembrar de uma viagem que tenha feito de moto em que a chuva não tenha aparecido para dar um ar da sua graça. Esta vinda até ao antigo reino de Aragão não constituiu exceção. Obrigado a ficar a mais de 45 quilómetros para leste do circuito, Monroyo é uma pequena aldeola situada nas montanhas. Durante a noite a chuva veio benzer a NT1100, curiosamente num raio muito limitado, pois após alguns quilómetros de estrada, esta estava seca e ao chegar a Alcaniz o sol marcou a sua presença.

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Para a NT1100, com ou sem chuva, vai tudo a eito. Aliás, esta turística vem dotada de uma eletrónica de superbike, com controles de tração, travão-motor, modos de condução e de potência. A minha preferência recai sempre sobre o modo ‘Tour’, com desconexão do controlo de tração, mínimo de travão motor e modo de potência no máximo.

Em estrada nacional a NT1100 tem feio uma média de consumo de 5,3 l/100 km para uma velocidade média de 93 km/h. A sua maneabilidade é notória assim com a facilidade com que nos habituamos ao DCT. Confesso que a falta da manete e pedal direito ainda faz confusão, mas é coisa dos primeiros metros, pois logo entro no modo ’scooter’ e ‘no pasa nada’.

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