WorldSBK 2022 Motorland: Bautista e a Ducati já dão cartas!

Álvaro Bautista está a confirmar porque a Ducati o foi buscar de volta. Ele interpreta como ninguém a Panigale V4R. Por isso, basta que ele acerte na escolha de pneus e o que se viu nas duas corridas de Domingo no Motorland Aragon pode voltar a repetir-se por mais vezes: isolar-se na frente e vencer destacado.

  • Texto: Fernando Pedrinho
  • Fotos: Aruba.it Ducati, WorldSBK, BMW Motorrad WSBK e Fernando Pedrinho

No Sábado já havia ameaçado, perdendo a corrida na última curva para cortar a linha de chegada a somente nove centésimas do vencedor. Só que no Domingo o ‘disco’ virou e a música foi outra. Álvaro aplicou chapa cinco, a diferença em segundos que o separou do segundo classificado, Jonathan Rea.

Não se pode dizer que o fantasma de 2019 esteja de volta, mas quando o vento estiver de feição vai ser complicado barrar a progressão do pequeno talaverano e da sua Panigale V4R. Além disso, o seu companheiro de equipa, Michael Ruben Rinaldi, também está de volta às boas exibições e deu uma boa ajuda na segunda corrida. E todos sabemos que nalgumas pistas, como Misano, o piloto de Rimini anda sempre muito bem.

Acontece que Jonathan Rea é o mais coriáceo de todos os pilotos e já leu esta ‘cartilha’. Na estreia de Álvaro e da Panigale V4R, chegou a estar a 100 pontos do líder. Nunca desistiu de acreditar e venceu o campeonato no final do ano, quando o espanhol iniciou uma série de visitas ao tapete.  O norte-irlandês sai de Aragão contente por saber que tem moto para lutar na frente, num aparente milagre alcançado com a ajuda da Showa.

Toprak Razgatlioglu na travagem para a primeira curva do circuito aragonês, lado a lado com Michael Ruben Rinaldi

Surpreendido pelo Pirelli SC1 pela primeira vez desde que está na Yamaha, Toprak Razgatlioglu limitou os danos no ‘purgatório’ do Motorland, conseguindo a melhor série de resultados nesta pista. Afinal de contas, o problema não estava na borracha italiana mas antes nas afinações escolhidas. O turco aguentou o sofrimento, saiu de Espanha com o melhor conjunto de resultados que alguma vez conseguiu no traçado de Alcaniz e saberá servir a vingança fria.

Negativamente, Scott Redding passou do céu ao inferno e foi sempre a pior das BMW em pista, tornando-se numa sombra do que mostrou na Ducati nos dois últimos anos. Muito trabalho tem o britânico pela frente e toda a equipa da BMW.

Veremos o que o que nos reserva o fim de semana de Assen. Bautista venceu categoricamente as três corridas em 2019, Rea anda sempre bem na pista neerlandesa e Toprak terá uma pista mais favorável à Yamaha pela frente. E será Rinaldi, de novo, a surpresa?

Aceitam-se apostas!

Durante a semana irei analisar a prestação de cada uma das marcas e contar-vos o muito que vi estando por dento. Fiquem atentos.

Honda NT1100 mula de carga despachada e divertida

O ambiente na pousada Guadalupe, situada na aldeia de Monroyo (ou Mont-Roig, em catalão) é de verdadeira ‘aficción’. Os locais convergem ao final do dia para beber umas ‘cañas’, ‘tercios’, e ‘picotear tapas’, os tão conhecidos petiscos espanhóis. Saem pratos de presunto, ’pinchos’ e um rol infindável que César Lombarte e Marisa Oloron, o casal à frente do negócio, delega na família. Conheço o filho, que tem uma BMW R1250GS, de momento com a bateria em baixo. Alerto-o para o risco em que está a colocar a muita eletrónica da moto alemã. Não vai poder ir às corridas porque é o Domingo de Ramos e vai ter muita gente a almoçar no restaurante. O ruído é característico de um bar-restaurante espanhol: ensurdecedor. Num canto, a televisão está ligada na DAZN, o equivalente nacional da Sport TV. Transmite-se a qualificação de MotoGP do Circuito das Américas e toda a gente tem um comentário. Alguns ’moteros’ vieram de Madrid e têm um pequeno iPad na mesa onde seguem a corrida. Aleix Espargaro dá com os costados no chão e Miguel Oliveira deixa-me à deriva naquele mar espanhol.

A Guadalupe é um ponto de passagem de nomes sonantes, não obstante estar situada numa aldeia de pouco mais de 300 almas. A família Sainz já lá pernoitou. Enea Bastianini também, quando era ainda um ‘chaval’. Gino Borsoi, o braço direito de Jorge ‘Aspar’ Martinez e ex-piloto ‘mundialista’, sempre que pode vai lá comer uma costeleta. Seja na ida ou na vinda. Vale a pena ficar por lá. A família é muito simpática e o ambiente descontraído, onde alguns dos locais chegam com motos de enduro a dois tempos, matriculadas.

E a NT1100? ‘Conviveu’ durante a noite com motos de todos os tipos. Maxi-trails, turísticas, desportivas… A capacidade de carga desta moto ajudou-me imenso. Levei muita tralha eletrónica mais roupa para quatro dias. As malas da Shad têm espaço suficiente e, se puderem, optem pelos sacos interiores que são fáceis de arrumar e colocar dentro delas, sem esforço, evitando ter de as levar para o hotel, por exemplo, além de que vai tudo bem mais aconchegado.

A proteção aerodinâmica está aprovada, num para-brisas que é manualmente regulável em altura, através de um sistema de encaixe, notando-se apenas alguma turbulência quando seguimos atrás de um veículo mais alto. Também num ritmo de montanha mas apertado com piso  com variações de inclinação a NT1100 vai requerer alguma atenção na pré-carga de mola e que pena não ser possível fechar um pouco o hidráulico do amortecedor, mesmo que à custa de um menor conforto. Mas falo de velocidades em que os pontos da carta irão ‘à vida’ num instante.

A transmissão por corrente não é defeito… é feitio. Os indefetíveis do mototurismo não vão gostar, os outros talvez não tenham nada a apontar. Contudo, a moto não é fácil de colocar no descanso central, quando carregada, o que pode gerar alguns amuos e frustração.

Os consumos têm andando na casa dos 5,3 l/100 km, num ritmo ‘solto’ em estrada aberta. Subiram um pouco mais no regresso a Madrid, cujos mais de 400 quilómetros percorri em três horas e meia, com uma paragem pelo meio, e dois terços do percurso por uma das ‘rutas moteras’ do Baixo Aragão. O regresso foi fácil e divertido e agora é tempo de a devolver à Honda Iberia, a quem agradeço a cortesia desta experiência e, em particular, ao Carlos Cerqueira.

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