Historicamente, todos sabemos que o início de campeonato na pista do Motorland Aragon costuma ser mais complicado para umas marcas do que para outras. A Yamaha é uma delas e a YZF-R1 nunca se sentiu como ‘peixe na água’ na variedade de situações colocadas pela pista de Alcaniz. Ainda assim, o atual campeão mundial saiu de Espanha com o melhor resultado de sempre alcançado na pista malfadada para as cores da marca dos três diapasões e andou mais perto dos lugares da frente do que nunca, colecionando três pódios.
Toprak está mais vivo do que nunca e há que contar com ele para a revalidação do título alcançado em 2021
- Texto: Fernando Pedrinho
- Fotos: WorldSBK e Fernando Pedrinho
Tradicionalmente, a YZF-R1 sempre sofreu na pista aragonesa. Não é nada de explicitamente muito negativo, como vimos com outros construtores, mas fica claro que Kawasaki e Ducati têm conseguido aquele extra com o asfalto seco que as outras ainda tentam alcançar neste traçado.
A Yamaha surge, assim, numa espécie de ‘purgatório’: sofre com o paraíso à vista. E os notáveis avanços alcançados pela marca japonesa no ano passado, que lhe permitiram repetir o ceptro de Ben Spies em mais de 30 anos de campeonato, pagaram dividendos este ano.
Razgatlioglu andou sempre na liça pelos lugares cimeiros, sendo apenas surpreendido pelas dificuldades colocadas pela dianteira, onde a falta de confiança gerada é fatal para o campeão das travagens como a falta de ar para qualquer ser humano.
Um problema nunca sentido antes
“Lembras-te da minha qualificação em 2020 e no ano passado?”, perguntou-me o piloto turco. “A Yamaha nunca se sentiu à vontade nesta pista, mas o terceiro lugar que alcancei na sexta feira foi muito importante para conseguir uma boa posição na corrida”, dizia-me o ‘sultão’ no primeiro dia de treinos. Toprak estava particularmente contente com o pneu traseiro pois “não o matei, o que é muito importante para a segunda metade da corrida [as últimas nove voltas]”.
Mas aqui surgiram as primeiras complicações que haveriam de marcar todo o fim-de-semana. “Entre a décima e a décima primeira volta o pneu dianteiro caiu muito de rendimento e a frente passou a escorregar demasiado”. De tal maneira na longa e rápida última curva o número um teve mesmo de recolher à box.
“É a primeira vez que me deparo com este problema na Yamaha com o Pirelli SC1 com que sempre corri”, revelou o natural de Alanya. “O pneu da frente a perder rendimento é uma novidade, quando é sabido que esta pista costuma ‘comer’ a borracha traseira”.
E o novo pneu de desenvolvimento da Pirelli, o SC1 A0674? “Testei-o mas não é para mim, em condições de calor como aqui. Eu gosto de travar muito forte e preciso de um bom pneu dianteiro”.
O certo é que Toprak despertou na melhor forma na manhã de Sábado e logrou mesmo alcançar a ‘pole’. Só que na corrida desse dia ficou demonstrado que o fim-de-semana aragonês seria um muito provável ‘affaire’ entre Kawasaki e Ducati. O que se passou então? “O que já te tinha dito: a frente começou a escorregar e acabei por esforçar o pneu traseiro que caiu bastante de rendimento a oito voltas do fim!”. Ficaram os importantes pontos da terceira posição.
Ainda assim, ‘Razga’ foi suficientemente honesto para reconhecer os que problemas da frente podem não ter origem na borracha italiana, em exclusivo, mas antes “na afinação da moto”, confidenciou. “Eu perco muito tempo na entrada das curvas, especialmente na sete, e ao fim de oito voltas a minha corrida acabou”.
Sabendo-se deste problema, porque atacou o piloto turco, nas voltas iniciais, como se não houvesse amanhã? “Porque a moto transmitia muito boas sensações”, ripostou na sua calma habitual. “Ao fim de oito voltas deixou de ser possível entrar para a curva ‘pendurado’ nos travões, porque a frente ‘fechava’ repentinamente”. Toprak sentiu que a melhoria em rapidez da manhã não foi acompanhada pelo ritmo de corrida. “Sou muito lento nos dois primeiros setores da pista”, explicou, “por causa da má sensação transmitida pela frente”.
Esperem para ver em Assen
No Domingo, Phil Marron e sua equipa técnica alteraram as afinações da YZF-R1 de Toprak. “Senti muito melhor a moto, mas o problema da borracha dianteira manteve-se”, disse. E de novo uma coleção de terceiras posições que, relembro, são o melhor resultado global alcançado pelo campeão do mundo nesta pista com a Yamaha. “Já te disse: não somos fortes nesta pista! Mas amealhámos bastantes pontos para o campeonato e voltaremos mais fortes. Agora só quero ir para casa onde já não estou há bastante tempo”.
Mas considera o piloto otomano que o fantasma de 2019 pode estar de volta, com Bautista e a Ducati a vencerem destacados? “Em 2019 nem via o Álvaro porque ele desaparecia na frente de toda a gente. Mas o ano começou agora e mantive-o à vista em todas as corridas, o que é bom sinal (risos)”.
Outro fantasma é o resultado de Assen, no ano passado… “Tentei manter o pneu traseiro, porque ainda conhecíamos mal as novas soluções apresentadas pela Pirelli. Na primeira corrida passei o [Scott] Redding, a duas voltas do fim, mas quando vi as bandeiras vermelhas mostradas percebi que tinha acabado de perder o segundo lugar. Na segunda corrida, atiraram-me ao chão na primeira curva. Mas acho que vamos chegar a Assen muito fortes, onde vamos optar pela versão completa da moto de 2021”.
Tecnicamente falando, é o regresso ao passado
Estava dado o mote para explorar algumas das alterações de 2022: a eletrónica. “Eu não usei a a nova eletrónica que testámos na pré-época. Neste fim de semana andei sempre com a do ano passado. Sei que os outros pilotos da Yamaha estão com a nova configuração mas eu não: sinto-me muito melhor com a que tínhamos em 2021”.
Mas o regresso ao passado não termina no reino dos eletrões. “Também voltaremos às afinações anteriores para Assen. O lado bom (risos) é que num fim-de-semana posso usar a do ano passado e no seguinte a moto de 2022”.
O campeão do mundo e a sua Yamaha estão bem vivos. E como vimos na edição do ano passado, até ao lavar dos cestos (fase para que ainda falta muito) é vindima!
De Honda NT1100 no Motorland Aragon
Fomos até à primeira corrida do Mundial de Superbike com a novíssima Honda NT1100. Foram mais de 1200 quilómetros com a turística bicilíndrica gentilmente cedida pela Honda Iberia, a quem agradeço e, em particular, a Carlos Cerqueira.