- Jorge Casais
- 03.07.2021 – 8ª Etapa
Hoje dei comigo a pensar qual foi o melhor dia, qual a melhor estrada, qual a melhor paisagem, qual a localidade mais bonita que terei percorrido até ontem, no que diz respeito à Noruega é claro. Esta hora “Zen” aconteceu bem cedo enquanto saía de Skei e entrava na estrada E39. Não foi preciso perder muito tempo com este pensamente pois imediatamente descobri que gostei de tudo e que não conseguia criar uma hierarquia. A sério, tudo, mas mesmo tudo, é magnífico.
Entretanto liguei para casa e a falar com a minha esposa contei-lhe que estava a adorar todos os pedacinhos de estrada, todos os pedacinhos das localidades pelas quais passei, todos os bocadinhos de paisagem que me entraram olhos dentro. Também partilhei com ela que de facto a Suíça e a Áustria, citando dois países que também são bastante montanhosos, são igualmente fantásticos… mas que na minha opinião lhes falta ali qualquer coisa. A resposta sábia da Patrícia
foi que é como comparar Beethoven a Mozart ou vice-versa. Foram ambos grandes compositores mas a grandiosidade e genialidade de Beethoven tem ali mais qualquer coisa. É isso mesmo. A Noruega tem tudo aquilo que quer a Suíça quer a Áustria possuem, mas vai mais longe. Claro que esta é a minha opinião. Discutível como é óbvio, e nem sequer ouso contradizer quem possua opinião distinta. Quando planeava esta viagem sabia que tinha que ir a Skei e sabia também que tinha de ir a Ålesund. Para ligar as mesmas a oferta de estradas não é muita, mas depois de alguma pesquisa na Net “apostei” no trajecto que fiz hoje. Tooooooooooop. Muito bom. Excelente.
Posso até dividir o dia de hoje em dois momentos.
– Um primeiro calmo e sereno, com uma estrada em que, entre Utvik e Stryn, circulamos junto ao fiorde Innvikfjorden, não sem passarmos por um pequeno passo de montanha que se inicia uns km após Byrkjelo e termina em Utvik. Depois de Klakegg entramos num vale e somos acompanhados, durante alguns km, pelo rio Stardalselva (fui ver como se chamava ao google maps, como é óbvio não fazia menor ideia qual seria o nome deste rio) que tanto se transforma em rápidos, como cascatas ou num rio calmíssimo. Uma presença sempre agradável. Eu pelo menos aprecio bastante este tipo de paisagens com um rio a acompanhar-me. Mais abaixo este rio acaba num lago lindíssimo, numa paisagem idílica para, uns km mais à frente, darmos de caras com um lago ainda maior, também ele envolvido por uma paisagem de cortar a respiração.
Entretanto começo uma subida em direcção a Byrkjelo e quando olho pelo retrovisor, UAU, tive que parar para apreciar aquele momento.
De novo a rolar e, passados muitos poucos km e após ter cortado à direita pela Fv60, a paisagem obriga-me a parar de novo. Comecei a pensar que se continuar assim, mesmo tendo programado um dia com cerca de 250 km, nunca mais acabo esta etapa.
Estava a chegar ao tal “pequeno” passo de montanha que referi atrás, e no seu início tem um miradouro no qual podemos ver o serpenteado que vamos descer, e o imponente fiorde Innvkfjorden, o tal que percorri bem ao meu lado esquerdo.
A descida é de facto bastante acentuada, com um bom piso e sempre ladeada por um arvoredo que, desculpem a minha ignorância, não faço a mínima ideia qual seja. Para mim é um cruzamento de Cedros com os Pinheiros típicos destas bandas. O dia estava a prometer e a correr bem.
Chegado então cá abaixo a Utrik e continuando pela Fv60 vou, como já referi, ser acompanhado pelo Innvkfjorden. São poucos os túneis e os que existem não são assim tão extensos, pelo que podemos gozar este momento durante muito tempo. Filmei e espero que tenha ficado bem. Mas em Utrik, novamente, consegui encontrar um bar que servia um café à maneira. Que sorte. Aproveitei e tomei dois de seguida.
“Bota” a moto a rolar de novo já com os tais cafés a saberem-me pela vida e sigo agora pela 15. Começa aqui o tal outro momento.
– O segundo mais “dramático”, imponente, grandioso. Inicia-se uns km após Stryn e já a rolarmos na estrada 15, que depois é complementada com a 63, que no seu final se situa no Miradouro de Ørnesvingen. Infelizmente não consegui parar a moto tal era a romaria de carros, motos e autocarros de turismo. Andei mais um pouco e parei num outro que não tem o mesmo impacto, é certo, mas teve que ser. Também aqui na saída de Styr sou acompanhado pelo rio Stryneelva. Ao nosso lado direito a montanha é imponente e as cascatas que por ela correm abaixo são imensas. Nesta montanha ainda vemos que lá em cima a neve não derreteu, ou melhor, com o calor que se tem vindo a sentir nestes últimos dias acho que não vai ficar lá por muito tempo.
Passamos por um lago enorme, Oppstrynsvatnet, tendo a água uma cor incrível e que dá para perceber que deve ser bem gelada.
No extremo do lago, no sentido de condução que levava, entro num passo de montanha em sentido ascendente, por entre montanhas grandiosas e duas cascatas a condizer. Chegado ao cimo sou enfiado num túnel, pois a estrada 15 tem uma cancela nesta zona, que me leva alguns km sempre a subir e que termina já a cerca de 850 metros de altitude. Estava quando entrei no mesmo a cerca de 250 metros. Por aqui dá para ter uma ideia de como o túnel subia de facto.
Esta secção da estrada 15 é mesmo imponente. Nota-se que não é fácil viver por estas bandas no Inverno. Mas no Verão, pela enorme quantidade de casas que existem, e que por acaso se notava que estavam ocupadas, deve ser um correr de gente a refugiar-se neste lugar inóspito mas brutalmente bonito.
Entretanto a estrada que se segue é a 63. Bem lá no alto mais um imponente lago, Djupvatnet, com a particularidade de ainda ter muitos blocos de gelo, bem grossos e grandes, a flutuar.
Enquanto na primeira parte do passeio a paisagem era mais verdejante agora era, de uma forma geral, mais agreste, com mais pedra à vista, com muito neve e gelo ainda por derreter. Se é que tal acontecerá alguma vez. Depois deste lago inicia-se uma descida bastante acentuada e em formato de passo de montanha até chegarmos a Geiranger. Ui que romaria que é cá em baixo, já para não falar na enorme quantidade de carros uns, indo como eu a descer em direcção a Geiranger e, outros, a subir na direcção de Djupvatnet.
Em Geiranger não resisti e parei apenas para uma foto com um troll que estava mesmo à beira da estrada.
A descida é deslumbrante pois o que temos diante de nós é o fiorde de Geirander que, quando andava a preparar esta viagem, o vi citado como um dos mais bonitos, sendo até classificado pela Unesco. Dos que vi até agora, e aquilo que consegui ver dos mesmos, este é de facto o mais imponente.
Passada a localidade de Geirander novo passo de montanha que nos leva até ao tal miradouro. Parei, não no Miradouro, mas num outro umas centenas de metros mais à frente, mas que não se consegue ver o fiorde a correr na direcção do mar… que ainda lhe faltam cerca de 100 km para lá chegar. Sim, este é dos fiordes mais compridos da Noruega.
Já estava com o dia de passeio feito, pois dos pontos que referi ao longo do texto acima eram os mais relevantes… mas a Noruega é uma verdadeira caixa de pandora que nunca deixa de nos surpreender quando menos esperamos.
Na estrada 650, depois de ter saído do Ferry, no qual entrei em Eidsdal, sou mais uma vez obrigado a arranjar um miradouro Tuga, com a moto a fingir que nem está ali, para captar uma outra perspectiva do tal imponente fiorde de Geirander.
Sigaaaaaaaaaaaaaaaaaaaa que amanhã vou até Trondheim.
Continhas… ora vamos lá ver como estão.
Já agora peço desculpa mas a tabela abaixo não tinha valores correctos na coluna Custos (com todas as despesas incluídas). Agora sim estão correctos. Peço desculpa.
- Estadia – 150.00€ Scandic Hotel (Ålesund).
- Refeições – 30.00€
- Gasolina – 34.00€
- Somando tudo dá 216.00€
- Percorridos – 242 km. Horas efectivas de condução – 04h25m. Total de horas em passeio – 06h38m
- Altitude máxima – 1037 m. Moto – Yamaha Super Ténéré
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