Viagem a Nordkapp, de Alta a Nordkapp.
Julho 13, 2021
Jorge Casais12.07.2021 Existem dias para esquecer e certamente este foi um deles. Ora vamos lá somar o que correu mal. 1 – Acordar e verificar que de facto a previsão do tempo por onde iria andar era de chuva, nevoeiro e vento. Não dei a devida atenção para ver se seria muita ou pouca chuva,…

- Jorge Casais
- 12.07.2021

Existem dias para esquecer e certamente este foi um deles. Ora vamos lá somar o que correu mal.
1 – Acordar e verificar que de facto a previsão do tempo por onde iria andar era de chuva, nevoeiro e vento. Não dei a devida atenção para ver se seria muita ou pouca chuva, muito ou pouco nevoeiro ou ainda muito pouco vento.
2 – Vou tomar o pequeno-almoço e levo sempre comigo o forro do casaco da moto, pois costumo logo a seguir fumar um cigarro no exterior. Deixei o forro nas costas do casaco e fui tratar de vida. Isto é, fui arranjar o meu pequeno-almoço. Quando chego à minha mesa não vejo o casaco. Pensei que o colaborador do hotel, por engano, tivesse pensado que ficou ali esquecido e fui ter com ele. Não tinha sido ele. Sem fazer muita algazarra fui entretanto falar com o chefe de mesa e explicar o sucedido. Estava um grupo de 7 motociclistas Ingleses numa mesa próxima e notei que alguns deles estavam com uma ar de desaprovação a olhar de lado para mim. Pensei eu para os meus botões, então desaparece o forro do meu casaco e ainda estão a olhar de soslaio para mim? Não foi isso não, eles estavam era a reprovar a atitude de um dos colegas que “pegou no forro sem querer”. Já estava a desvairar e meti ao barulho o gerente do hotel explicando pela terceira vez o que ocorreu. Entretanto o grupo saiu e misteriosamente e o casaco foi deixado no balcão da recepção.
Ainda quiseram ver as imagens de vídeo e eu expliquei que tinha mais que fazer do que andar feito polícia. Apareceu o casaco e é o que me interessava.
3 – Tinha planeado atestar gasolina ainda em Alta, mas como estavam muitas motos e autocaravanas olhei para o que me restava, verifiquei no Garmin a estação de serviço mais perto e lá fui eu todo contente. Oooooooooops, a estação de serviço já não existia e a próxima era só em Skaidi, e rezei para que não acontecesse o mesmo. Tinha realmente a moto a necessitar de gota para fazer face aos km que por aí vinham, sabendo que iria andar por territórios onde não haviam estações de serviço…
4 – Quando venho de Havøysund e chego ao encontro da E69 parecia que estava traçado o meu destino na ida a Nordkapp. Felizmente que vesti o casaco de chuva quando atestei o depósito da ST, pois deste ponto em diante não tive um passeio mas sim um suplício que parecia nunca mais terminar. Chuva, muuuuuuuuuuito Vento e nevoeiro não faltaram. Houve zonas nesta estrada E69 em que cheguei a pensar voltar a ST para trás. A moto estava tão inclinada, ora para um lado ora para o outro, que parecia que me estava a deitar nas curvas propositadamente. Mas lá continuei estoicamente em direcção ao destino.
Muita pancada levei por ali acima. Por vezes com a 3ª engatada e indo a não mais de 20 ou 30 km/h, mota ia de um lado ao outro da estrada e isto piorava quando me cruzava com camiões de longo curso. Era cá uma abanadela a juntar à que já estava a levar!
5 – Por fim chegado ao Nordkapp, está uma simpática menina num “guichet” onde supostamente podemos comprar o ticket de acesso ao “recinto”, ou apenas um ticket grátis para o parque, não dando acesso ao tal “recinto”, mas podendo ir a pé até junto da esfera armilar. Acontece que NEM ISSO! A menina com o ar mais cândido da vida e com, segundo ela, muita pena, avisou-me que posso estacionar a moto mas está interdito o acesso a partir de determinado ponto à esfera armilar. A SÉRIO?! Fiquei a olhar para ela uma eternidade, não por ser uma rapariga bonita, mas sem saber se a havia de insultar (não tendo ela culpa nenhuma) ou se agradecer a forma simpática que me deu a notícia. Mal ela sabe que vim de Portugal… É que nem sequer consegui tirar uma foto à distância com a máquina fotográfica que possui um bom zoom. Nada mesmo!
De facto, quando a estrada começa a subir depois do Nordkapp camping, veio juntar-se ao vendaval um nevoeiro cerrado. Se calhar se não fosse tão obcecado teria tipo o bom sendo de voltar para trás porque de certeza que melhor não ia ficar.
6 – Entretanto, junto à cabina, paro a moto, tenho o cuidado de colocar o lado do descanso a receber o vendaval, estou a tirar outras luvas da Top case mais apropriadas para este temporal e catrapum, a moto com o vento a dar-lhe tombou para o outro lado. Dá para imaginar como era forte pois a ST é bem pesadinha, e como ando com a moto com a suspensão no máximo de altura, no descanso lateral até fica bastante inclinada.
Bem, para além deste desfiar de desgraças adorei ter ido até Havøysund, mesmo com aquela chuvinha molha tolos a cair o tempo todo. Consigo imaginar a loucura que será passear por esta estrada 889 num dia de sol. Atribuo a esta estrada, que faz parte do tal roteiro das estradas cénicas, nota 10 em 10. Sendo esta uma estrada relativamente curta, são cerca de 85 km, encontramos sempre uma boa estrada a percorrer com cenários/paisagens diferentes.
Um primeiro de poucos km, e que vai até onde a 889, encontra a Fv182. Muito tipo “tundra”. Neste percurso não capturei nenhuma foto. Depois de Russelv começa então uma zona impressionante de bonita e ao mesmo tempo brutal e rude… sempre com o mar como pano de fundo. Provavelmente sou eu que gosto deste tipo de passeios, com paisagens com este tipo de montanhas…


Depois iniciamos uma pequena subida e a paisagem volta a mudar, entramos para o miolo das montanhas com o mar sempre lá em baixo, com muitas enseadas idílicas à mistura. Duvido é que tenha muitos veraneantes. Nesta zona as paragens eram rápidas, mesmo muito rápidas, porque os mosquitos pareciam Rottweilers a tentar morder.



Entretanto colam-se o verde à rudeza da rocha nas zonas mais elevadas desta estrada e encontro a harmonia perfeita… como digo, pelo menos para mim.



Um dos poucos locais em que podemos parar sem ser à tugalês é em Selvika, onde existe uma curiosa escultura em betão mas que se enquadra bem no spot.


Ainda neste local, depois de me ter cruzado com várias manadas de renas, consigo ver ao longe duas, meias despardaladas e escondidas. Estavam bem longe de mim mas a ver todos os meus movimentos.

Quando ontem planeei esta ida a Havøysund, depois de algumas pessoas com quem falei, pensei que ia encontrar uma pequena aldeia com meia dúzia de pessoas a sobreviver do que o mar lhes dava. Bolas, não podia estar mais enganado, como é que naquele fim do mundo vim encontrar o que as fotos abaixo mostram? Confesso que não estava mesmo nada à espera.



Depois virei a ST para trás e vim pela mesma estrada 889 até encontrar a E69. Mais uma vez o facto de ter feito esta estrada nos dois sentidos levou-me a ver “coisas” que não tinha visto.
Até acho que esta estrada fica mais bonita de percorrer quando vimos de Havøysund em direcção à E69.
Se em termos motociclísticos a coisa até estava a correr bem, apesar da chuvinha irritante que apanhei quase todo o tempo, entrei na E69 e tudo muda de figura. Passei quase do Céu para o Inferno, bem, inferno também nem tanto, para o purgatório. Todo o tempo a levar com chuva e muito vento, piorando, e aqui sim entrando no inferno, como já referi inicialmente, a partir do Nordkapp camping.
Fotos nenhumas. Espero que consiga algumas imagens nos vídeos que fui fazendo e que as mesmas ilustrem o que é que um Tuga andava a fazer naquelas condições climatéricas no fim do mundo. Só mesmo por obstinação ou castigo é que se percorrer aquela estrada naquelas
GRRRRRRRRRRRRRRRRRR… É verdade que vim ao Cabo Norte, é verdade que o fiz a solo, é verdade que adorei todos os minutinhos que por aqui andei. Mas porra, nem uma foto consigo tirar à esfera armilar? Mesmo de longe com uma objectiva X2000?
Contas à vida…
- Estadia – 145.00€
- Refeições – 33.00€
- Gasolina – 30.00€
Somando tudo dá:

- (*) Estes consumos são retirados do computador de bordo da ST. No início de cada dia faço reset aeste parâmetro.
- Realço a vermelho quando tenho despesas não previstas ou associadas à manutenção, prevista, da ST.

- Percorridos – 436 km Horas efectivas de condução – 07h19m Total de horas em passeio – 09h07m
- Altitude máxima – 384 m Moto – Yamaha Super Ténéré
Vídeo
Wikilok
https://pt.wikiloc.com/trilhas-motociclismo/12-07-2021-alta-to-nordkapp-78087345
Partilha este artigo!