Tesla Model M, verá alguma vez a luz do dia?

Nunca digas nunca! Mas muita gente já se questionou se a Tesla poderia avançar com o modelo M na sua gama, neste caso com menos duas rodas que os produtos que nos habituámos a ver no catálogo da marca de Fremont, Califórnia. Há até já quem visualize o que seria, expectavelmente, uma das melhores (e mais caras) motos do segmento elétrico.

  • Texto: Fernando Pedrinho
  • Fotos: James Galway Design

A Tesla Motors foi fundada em 2003 pelos empreendedores Martin Eberhard e Marc Tarpenning, obviamente na Califórnia, apesar de atualmente a marca mas prestigiada na produção de veículos totalmente elétricos ser associada ao visionário Elon Musk.

O norte-americano, que nasceu e cresceu em Pretória, na África do Sul, e viveu parte da sua fase adulta no Canadá, esteve na origem da PayPal, o operador de pagamentos e transferência de dinheiro entre utilizadores (na verdade um método alternativo de pagamento muito utilizado) originado da fusão entre a X.com (a ‘start-up’ de Musk) e o banco ‘online’ Confinity. Bom, na verdade, a PayPal já existia dentro do Confinity e era bem mais popular como um serviço de transferência de dinheiro que o assegurado pela X.com de Musk.

Esquiços de James Galway ao redor da eventual Tesla Model M.

A compra da PayPal – o nome escolhido para a empresa resultante – por parte da eBay, o ‘site’ de licitação e comércio eletrónico, por 1,5 mil milhões de dólares, em 2002, garantiu a Elon Musk um pé de meia gordo o suficiente para investir e implementar algumas das múltiplas visões provenientes da sua profícua mente.

A entrada na Tesla dá-se em 2004, quando a marca recorreu ao mercado para financiar o desenvolvimento da Série A, oportunidade que Musk aproveitou para tomar o lugar de presidente do conselho de administração (‘chairman’) da agora designada por Tesla Inc. O seu papel no seio da empresa foi bem mais ativo do que poderia esperar da posição que ocupava o que levou, como já tinha sucedido nas empresas porque passou, à saída de Martin Eberhardt, um dos dois fundadores, e Musk a acumular o papel de presidente executivo (CEO), em 2008, num bulício que terminou em tribunal.

Diferentes funcionalidades.

E sucesso é algo que não tem faltado à marca que, com menos de 20 anos, tem passado por todo o tipo de altos e baixos. Em 2019, com uma produção anual de 369.000 automóveis (a Ferrari, por exemplo, produziu 9.000 unidades), a Tesla tinha um valor de mercado de 160 mil milhões de dólares norte-americanos, o segundo mais elevado da indústria automóvel, atrás somente da Toyota (229 mil milhões de dólares), mas incrivelmente mais do que a soma das duas marcas alemãs, o grupo Volkswagen (95 mil milhões USD) e o grupo Daimler (onde se inclui a Mercedes, com 51 mil milhões USD). A título de curiosidade, surgem a seguir a General Motors (49 bUSD), BMW e Honda (47 bUSD), e a Ford (36 bUSD).

Paleta de cores sólidas.

Mas talvez a parte mais espetacular desta comparação resida no fato de uma empresa que produz apenas 369 mil unidades anualmente, conseguir alcançar um valor que quase duplica o da Volkswagen, que foi o maior fabricante por número de unidades em 2018 (10,1 milhões), seguido da Toyota (9 milhões) e pela General Motors (8,4 milhões). Um verdadeiro toque de Midas, convenhamos!

O descanso lateral é inspirado nos manípulos das portas do Model S. O seu acionamento é hidráulico e é gerido pela central de comando da moto.

E as motos?

Nada, absolutamente nada! Em 2018 surgem relatos de um dos acionistas ter inquirido Elon Musk sobre as pretensões da marca para este mercado. O visionário da energia, movimentação e do espaço, remontou às suas origens africanas, revelando que na sua adolescência era um alegre e habitual utilizador de motos de todo-o-terreno. Mas a festa acabou para ele aos 17 anos, quando a colisão com um pesado quase o levava para o espaço sideral, e não a bordo de um dos foguetões da sua SpaceX, num episódio que ainda retém na memória e que, alegadamente, é o que determina que a Tesla não avance com a Model M.

Os tradicionais retrovisores dão lugar a câmeras traseiras, que exibem, em tempo real, as imagens em dois ecrãs separados centralmente pelo logotipo da marca californiana. A luminosidade da imagem é ajustada automaticamente e os ecrãs são anti-reflexo.

Mas à parte desta decisão emotiva e pouco alinhada com a gestão moderna de uma empresa, aqui no MotoX.pt consideramos que há outras razões de peso para privarem os motociclistas daquela que seria, provavelmente, uma das melhores motos do segmento, dotada dos mais avançados e evoluídos sistemas de gestão de bateria e da rede própria de carregamento que a marca soube, sabiamente, identificar (e edificar) como um dos critérios fundamentais de compra, a par de outros como a autonomia.

A suspensão ‘Smart-Air’ reduz a altura da moto a alta velocidade de forma a reduzir a área frontal da moto e, desta forma, o arrasto aerodinâmico o que leva a um aumento da autonomia. Funciona de forma ativa, ajustando-se ao tipo de condução, independentemente da carga da moto e condições do piso. A carenagem frontal direciona o fluxo de ar de forma contínua por baixo do suporte plano das bateria e a secção traseira.
  • Como se viu acima, a Tesla é uma marca de nicho que produz veículos de elevado valor comercial e prestígio. Em Portugal, por exemplo, os seus modelos são comercializados acima das cinco dezenas de milhares de euros, valores característicos de gamas mais elevadas.
Numa superfície muito lisa por toda a parte, na ausência de um bocal de abastecimento de combustível, o terminal de ligação abre-se quando aproximamos a tomada de carregamento. A ficha não pode ser removida até que a moto esteja desbloqueada.
  • Enveredar pelas duas rodas obrigaria a um investimento para colocar de pé uma fábrica de raíz (por exemplo na China, perto da Gigafactory), para além de obrigar a rever o pacote de baterias mais adequado a uma moto, em termos de dimensões e peso, bem como a necessidade de edificar de raiz (ou ampliar uma já existente) uma fábrica dedicada à produção destas baterias.
Os poisa-pés retráteis, ou de perfil nulo, abrem-se quando a moto detecta a proximidade da chave, numa forma da ‘Model M’ dar as boas vindas ao seu proprietário. Ao rodarem para o interior, integram-se na superfície carenada numa superfície sem descontinuidades. Apesar de uma ergonomia, no mínimo discutível (não conseguimos perceber se James Galway é motociclista), a face posterior é iluminada, incluindo indicadores de direção e farolins de presença em condução noturna.
  • A escassez de materiais, que deverá perdurar nos próximos tempos, e a total dedicação das fábricas de baterias à eletrificação da indústria automóvel nos próximo anos, poderia tirar parte do foco na marca em alimentar o sucesso atual do ‘Model 3’ – atual líder destacado de vendas na Europa, por exemplo – da presente gama e do espetaculares ‘Roadster’ e ‘Cybertruck’.
Como é de esperar que qualquer Tesla, o interface com o condutor da Model M seria um dos mais espetaculares que qualquer motociclista poderia experimentar em cima cima de uma moto.
  • O caminho mais provável seria a Tesla comprar um fabricante deste segmento – como a Zero ou a Energica, por exemplo – e dotá-lo da tecnologia já utilizada na gama automóvel, desde as baterias ao sistema de gestão da mesma, e acesso das motos à rede de carregamento de que é proprietária, ou optar por um fabricante chinês de maior escala e seguir a mesma via.
  • A aquisição de um modelo de produção e carregamento como o a da asiática Gogoro, enquadra-se na orientação vanguardista da Tesla, mas o segmento das ‘scooters’ não é bem a ‘praia’ da marca norte-americana, que prefere volumes mais pequenos e veículos de valor mais elevado e de um segmento ‘premium’.
Integrando os produtos da casa da maçã, um iPhone ou iWatch são suficientes para desbloquear a Model M, de forma automática à medida que o proprietário se aproxima da moto.

Não existindo, de momento, vontade emocional do seu líder nem a necessidade de um reposicionamento em face das atuais tendências que poderão levar à eliminação de motores térmicos a médio e longo prazo, como sucedeu com a Harley-Davidson e a LiveWire (por vários considerada como a melhor elétrica da atualidade) dificilmente veremos a Tesla interessada em enveredar pelas duas rodas eletrificadas, face ao investimento e tempo necessário para o justificar, assim como à dispersão de recursos e meios que a abertura de uma nova frente iria exigir. Isto numa perspetiva de puro crescimento orgânico. Por outro lado, pode levar mais ou menos tempos, mas as marcas alemãs e asiáticas – sem esquecer os gigantes norte-americanos – acabarão por reduzir na diferença tecnológica (gestão das baterias) e rede de carregamento, pelo que é difícil ver a marca do tê a expandir para o mercado duas rodas, à imagem de marcas como a BMW e a Honda, que já detêm na sua estrutura corporativa estruturas de produção e redes de distribuição, ou a Toyota, de certa forma, através da participação na Yamaha, ou mesmo o ativo grupo VW no domínio da eletrificação, proprietário da Ducati através da Audi, apesar da marca italiana ser das mais atrasadas nas intensões de eletrificação da gama.

James Galway, o ‘designer’ é também ele motociclista.

Model M by James Galway

As ilustrações com que demos cor a este artigo são da autoria de James Galway, um ‘designer’ californiano que ganhou notoriedade com esta provocação à Tesla. Também ele californiano e motociclista, é formado em Ciência do Desenho Industrial pela Universidade da Califórnia. Passou por várias empresas, entre elas a MV Forged Wheels, e é atualmente um ‘designer’ tridimensional sénior na área de eletrodomésticos da Bosch. Nas suas palavras, a Model M “é uma moto do segmento ‘premium’. A sua principal característica, e a jóia da coroa, é o ecrã tátil disposto na parte superior da moto e curvado na direção do condutor, que inclui modos diurnos e noturnos para melhor visibilidade e sem motivos para distração. Coloca ao alcance dos dedos o seu rico conteúdo de informação e proporciona conectividade móvel para que possa facilmente encontrar o seu destino, a música favorita ou um novo restaurante”.

Concebida em torno do utilizador, “o ecrã tátil, a informação digital e a instrumentação integra de forma contínua as ligações de internet, navegação, comunicação, dados da bateria e outras informações sobre o estado da moto”.

Verá alguma vez a luz do dia?

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