Mais do que simples evolução da conhecida versão 500, a SYM Maxsym TL 508 é a nova ameaça ao topo de vendas das maxi-scooter desportivas. Por fora, as mudanças são bastantes discretas. Por dentro, existe todo um mundo de novidades. A começar pelo motor, que, de comportamento tão diferente, pode dizer-se novo. E continuando em adereços eletrónicos que sustentam tamanha ambição de chegar ao topo.
- Texto: Paulo Ribeiro
- Fotos: Alberto Pires
O conceito é bem conhecido e recolhe cada vez mais simpatia. A comodidade e sentido prático de uma scooter somada à eficácia dinâmica e prazer de condução de uma moto. Filosofia criada pela Yamaha com a XP500 T-Max, no longínquo ano de 2000, e cimentada nas versões seguintes, até à atual TMAX 560.
Pioneirismo que valeu liderança incontestada durante mais de duas décadas apesar do crescente número de ameaças. Ou melhor, de candidatas a um trono que, sem ser inalcançável, exige muito trabalho e persistência. E pede também arte e engenho.
Curiosamente as duas mais diretas concorrentes da japonesa chegam de Taiwan. A Kymco AK550 e SYM Maxsym TL 508, cuja evolução reforçou – e de que maneira! – a competitividade no segmento. Uma classe de máquinas criada a pensar nos utilizadores urbanos que procuram proteção aos elementos e espaço para guardar um capacete ou transportar uma mochila em segurança. E que não querem abdicar da mobilidade divertida e de performances, que permitam desligar do trabalho no regresso a casa.
Mudanças elevadas à 43.ª potência
E, neste particular, as mudanças na SYM Maxsym TL 508 foram enormes. É que 43 centímetros cúbicos podem fazer muita diferença. Mais até do que aquela que se possa imaginar. O bloco de dois cilindros paralelos com duas árvores de cames à cabeça, 8 válvulas e refrigeração líquida cresceu dos 465 cc para os atuais 508 cc. Aumento conseguido à custa de mais 3 mm no diâmetro dos pistões (de 65 para 68 mm), mantendo o curso de 70 mm.
O resultado mais visível na ficha técnica foi o aumento de 11,7% no valor de potência máxima, para os atuais 44,5 cavalos (33,5 kW), ainda dentro do valor (35 kW) para ser conduzida com carta A2. São mais 4,8 cv que fazem diferença efetiva na aceleração desde o arranque e, sobretudo, na resposta no miolo do conta rotações.
Mudança que, sem criar uma superdesportiva ou uma ‘dragster’ campeã dos semáforos, garante força sempre suficiente. Mesmo com dois adultos a bordo, as deslocações interurbanas ou até de fim de semana, estão longe de ser uma seca. Até porque todo o conjunto contribui para comportamento exemplar.
Há que contar ainda com uma força de binário bem distribuída ao longo de toda a gama de rotações. E que mostra particular ênfase a partir das 3000 rpm até ao pico obtido às 5250 rpm (49,9 Nm). Regime ideal para uma utilização com tanto de despachada e entusiasmante como de fácil e económica.
Um bloco oferecedor de bom efeito de travão motor, ajudando na condução desportiva em estradas recurvadas, e que é muito equilibrado. Acelerações fortes, mas naturais, sem aqueles repelões que pode vezes são confundidos com o ‘punch’ de motor. Com o aprofundar da relação, como o fizemos no primeiro teste efetuado em Portugal, ao longo de 1500 quilómetros, vamos descobrindo outros detalhes.
Música com acordes desportivos
Foi o caso do momento de cortar gás para reduzir ou até evitar a utilização dos travões. Ponto de partida para uma condução fluida, permitida pela grande disponibilidade na entrega da potência e garantia de rapidez em segurança e conforto.
Com uma sonoridade distinta, graças à ignição a 360º dos dois cilindros, o motor destaca-se ainda pelo baixo nível de vibrações. Conseguido, diz a marca, à custa de solução tecnológica que funciona como um falso terceiro cilindro. Está em posição invertida aos dois reais e cumpre a função do tradicional veio de equilíbrio com maior eficácia.
Motor muito agradável, com sonoridade grave de toque desportivo e nada incomodativo, cuja resposta ganha outra dimensão pelo pouco usual sistema de transmissão. A corrente metálica – em vez da correia de borracha, interna ou externa – aproxima ainda mais a SYM Maxsym TL 508 do universo das motos verdadeiras. Mesmo se, tal como estas, apresenta o inconveniente de obrigar a uma muito mais cuidada manutenção.
E se, no capítulo motriz, está ao nível da concorrência, também na parte ciclística tem fortes argumentos para esgrimir. O motor está colocado em posição central, fixo a um quadro tubular, que garante elevada rigidez. A estabilidade é inatacável e a menor distância entre eixos (1543 mm) frente às rivais proporciona acrescida agilidade. Sem prejuízo da precisão!
Em utilização urbana chega a rivalizar com as mais pequenas 250 e 300 cc, apenas exigindo alguma atenção ao peso de 227 kg em ordem de marcha.
Que, na realidade e devido à distribuição otimizada pelos dois eixos (50/50%), só se faz sentir nas manobras mais apertadas a velocidades reduzidas. E aí surge e importante ajuda de um banco que é bastante acessível por força de uma altura ao solo de 795 mm e com a parte dianteira redesenhada.
Proteção de boa qualidade, mas…
Um banco que está mais estreito e facilita o escorregar para diante para melhor apoiar os pés no solo. Isto sem prejuízo do conforto, ampliado com o prático encosto lombar, ponto de partida para uma boa posição de condução e duas possibilidades para colocação dos pés. Do mais vertical, para utilização desportiva, ou lançados para diante, em atitude mais relaxada. Em ambas as configurações, o guiador está a distância acertada para evitar cansaço – mesmo em tiradas mais longas – e permitir um bom controlo. A retificar apenas a largura do apoio dos pés que, em dias de inverno, agradeceriam uma maior área para proteção acrescida.
Melhor proteção garante a parte superior da carenagem frontal e o ecrã, regulável em duas posições. De forma elétrica? Não. Através de manípulo? Não… Com recurso a uma chave Umbraco H5 para desapertar quatro parafusos e escolher entre as duas posições possíveis. Não é, seguramente, a solução mais prática, até porque a chave não vem no estojo de ferramentas, mas não é nenhum bicho de sete cabeças. Além de que, para uma utilização urbana, a posição inferior é a mais adequada e apenas na perspetiva de viagens maiores é aconselhável a passagem ao nível superior.
Em ambas as alturas, a proteção é boa ao peito e cabeça, sendo que os condutores mais altos poderão lamentar a menor defesa aerodinâmica aos ombros e parte superior do capacete. Efeito de circulação do ar que não afeta os retrovisores, rebatíveis, facilmente ajustáveis e oferecedores de boa visibilidade. No entanto, em cidade, são criadores de momentos de conflito com espelhos de carros mais altos, tipo SUV, exigindo algum cuidado e um pouco de ginástica.
Da despensa alcatifada ao farol em chamas
Seguindo a linha de raciocínio do lugar do condutor, falar do painel de instrumentos, 100% digital, em TFT. Que permite três configurações estéticas e oferece tão boa visibilidade quanto legibilidade. Afinal são conceitos diferentes sendo que o primeiro é exponenciado pelo ajuste automático da luminosidade. Já o segundo pode ser adequado em função daquilo que o condutor quer saber, dando primazia às informações mais pertinentes.
Que pode ser o relógio para evitar atrasos na chegada ao trabalho como àquele encontro ou o conta rotações para dar o melhor tratamento ao motor. Ou o velocímetro para reduzir a probabilidade de ser apanhado pelos radares de tolerância zero. Esses que hão de ajudar as forças policiais a cumprir as previsões do orçamento de estado. E para uma condução mais poupadinha tem até indicação de consumo instantâneo. Mesmo se, nos cinco módulos de informação oferecidos em cada uma das configurações, não tem o gasto médio de combustível ou a autonomia…
Acima de tudo é um painel condizente com o muito bom nível de equipamentos. De que fazem parte as manetes reguláveis e a iluminação integral em LED. Com destaque para o farol traseiro, LED Optical Filme com efeito tridimensional de chamas. Bem como o espaço sob o banco, alcatifado, com luz de cortesia e amortecedores para um funcionamento mais preciso e suave. E com espaço para um capacete integral/modular ou mesmo dois capacetes jet. Ademais existem ainda dois espaços no avental dianteiro, sem chave, sendo que um deles alberga uma tomada USB QC 3.0. Daquelas que permitem carregamentos rápidos e evitam o sobreaquecimento dos aparelhos em carga.
Quando o bom senso trava a alma desportiva
A nível de equipamento, há ainda dois descansos com o lateral a funcionar como travão de parque automático. Basta abrir para garantir que a moto não escorrega mesmo nos locais mais inclinados. Já o central, muito prático para lubrificar a corrente de transmissão, revelou-se mais fácil no momento de estacionar do que para arrancar.
Elevado patamar qualitativo confirmado pelos sistemas de travagem e amortecimento. Qualidade que rima com desportividade, graças a suspensão invertida de 41 mm de diâmetro e 120 mm de curso. Elemento que garante conforto no asfalto deteriorado ou no paralelo, ao mesmo tempo que cumpre cabalmente exigências de maior atrevimento. Componente oferecedor de bom ‘feedback’ da roda dianteira, uma vez que permite correções e ajustes intuitivos. Nota para as mesas fixas com três parafusos, aumentando a firmeza em momentos de maior pressão.
Assim as forças de torsão são praticamente eliminadas o que permite usar e abusar dos dois discos recortados, de 275 mm de diâmetro, acionados por pinças de fixação radial. Travagem com potência à medida de todas as necessidades embora o tato não seja o melhor, revelando demasiada progressividade. Menos mal que garante maior conforto em utilização urbana da SYM Maxsym TL 508…
Em contrapartida, na traseira, melhor a suspensão, entregue a monoamortecedor ajustável em pré-carga e com vistoso sistema Multilink em posição lateral, do que a travagem. Que, a cargo de um a disco de 275 mm e maxila de pistão único, revela inegável tendência a despertar o ABS da Continental. Está lá para isso mesmo, é certo, mas mostrou-se algo intrusivo quando se pretende espremer o muito potencial desportivo da maxi-scooter de Taiwan.
Alegria de vocação eletrónica
Atitude desportiva exaltada pelas rodas de 15 polegadas, em fundição oca para maior leveza e agilidade, e pneus de dimensões generosas. Assim, os Maxxis Supermax S3 (120/70 e 160/60 atrás) revelaram comportamento muito sóbrio em piso seco. Brilham essencialmente pela facilidade na transição em curva e pela confiança que incutem nas maiores inclinações, sem sustos ou reações estranhas. Por perceber ficou o comportamento em piso molhado, já que as mudanças ambientais parecem afastar cada vez mais a chuva do nosso País.
Mesmo tendo um motor bem alegre, uma ciclística deveras competente e um nível de comodidade que permite ir muito além da zona de conforto normal para este tipo de veículos, a verdade é que a SYM Maxsym TL 508, cujo vídeo pode ver aqui, tem outros trunfos de peso. E que estão entre as grandes novidades na versão 2022 da maxi scooter.
Centram-se essencialmente na parte eletrónica e contribuem para a segurança e sentido prático. Caso do motor que, mesmo respeitando as limitações impostas pelo Euro5, ganhou em potência é agora apoiado pelo controlo de tração. Sistema TCS que garante maior eficácia e segurança em pisos onde o grau de aderência fica abaixo do recomendável e que pode ser desligado.
Outra das novidades pode ficar… no bolso. A chave inteligente, a.k.a. Key Smart, simplifica o arranque já que funciona por proximidade. E que, naturalmente, obrigou a mudanças na zona do tradicional canhão de ignição, agora substituído por um manípulo retro iluminado. Dessa forma, através de movimentos de pressão e rotação, permite bloquear a coluna de direção, abrir o tampão do depósito de gasolina e ligar a ignição. Já o banco, esse abre-se através de botão colocado mesmo ao lado ou, em caso de falha elétrica, com recurso à chave suplente em canhão colocado no espaço à esquerda do avental.
Argumentos de uma princesa ambiciosa
Dona de uma estética cujas linhas extremamente atuais dispensaram qualquer intervenção digna de registo, a SYM Maxsym TL 508 está disponível em duas cores. Pode ser adquirida por 10 499 euros em cinzento Nardo ou preto mate. Que não no azul arroxeado das fotos exclusivo desta unidade, vista em salões e algum do material de divulgação da SYM.
Decorações que enaltecem as linhas desportivas, com arestas vivas (apesar de algumas terem sido arredondadas de forma quase impercetível) e volumes bem vincados de moto-scooter que se destaca ainda pelo bom nível de economia. Afinal, ao competitivo preço junta-se a oferta de 5 anos de garantia, além de consumos que ficaram abaixo dos 4,6 L/100 km anunciados pela marca.
De fato, ao longo de uma semana em todo o tipo de pisos e utilizações, a solo como a dois, em autoestrada e cidade, a média global ficou-se pelos 4,46 L/100 km. Com o depósito sempre atestado da mesma forma rigorosa, foram efetuadas médias de consumos entre os 4,25 e os 4,8 L/100 km. Ou seja, com 12,5 litros de capacidade, é garantida uma autonomia real para lá dos 200 km antes de ver acender a luz da reserva.
Em suma, mais um entre vários argumentos de peso da princesa SYM Maxsym TL 508 face à rainha da categoria, a Yamaha TMAX 560 já testada em MotoX.pt.