Superbikes testaram em Portimão: Ducati e Bautista na frente e quatro pilotos abaixo do recorde do AIA

Superbikes testaram em Portimão

O Mundial de Superbike esteve em plena atividade, antes da primeira corrida já em fevereiro, com quatro dias de testes repartidos por Jerez de la Frontera e no Autódromo Internacional do Algarve. Muitas novidades prometem tornar a edição de 2023 num campeonato ainda mais emocionante e repleto de surpresas, já que as Ducati estão mais fortes, mas as restantes marcas não se negam a esforços para aumentar o grau de indecisão quanto ao vencedor. Com estrelas da MotoGP, da Resistência e do Mundial de Supersport também em pista, as Superbikes testaram em Portimão e mostraram uma montanha de novidades.

  • Texto: Fernando Pedrinho
  • Fotos: WorldSBK, Aruba.it Ducati, Fernando Pedrinho
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O frio matinal que atingiu a Península Ibérica em janeiro, deu lugar a um sol morno que os pilotos aproveitaram ao máximo ao longo das sete horas diárias que a pista esteve aberta.

Com quase quarenta pilotos a contribuírem para um ‘trafego’ intenso, o trio dominador do mundial do ano passado promete ainda mais indecisão quanto ao vencedor de cada corrida do Mundial que terá início já em fevereiro. A estes haverá que juntar Michael Ruben Rinaldi, que rolou como uma autêntica sombra do campeão mundo, assim como Iker Lecuona que mostrou um ritmo muito forte.

Também haverá que confirmar se Andrea Locatelli poderá imiscuir-se de forma mais consistente nos lugares da frente e ajudar Toprak Razgatlioglu a recuperar o número um para as carenagens azuis da Yamaha oficial, ele que foi um dos seis pilotos que entraram no segundo 39, com Lecuona logo atrás.

Superbikes testaram em Portimão
Álvaro Bautista e o inseparável Giulio Nava, seu diretor técnico

Estrelas da MotoGP com motos de estrada

Interessante de seguir a forma discreta como se movimentaram nas boxes e em pista as três estrelas da MotoGP que vieram até ao Algarve. Miguel Oliveira rodou no segundo 43 com a sua Yamaha YZF-R1 (enquanto na chega a Aprilia RSV4X) de treinos e pneus Dunlop de Moto2, deixando para trás alguns dos pilotos do Mundial de Superbike.

De Espanha vieram Pol Espargaró (Honda CBR1000RR-R Fireblade) e Jorge Martin (Ducati Panigale V4S) – com slicks Michlein de Resistência – que ao rodar em 1’42’’5 com uma moto tirada da loja se colou às Superbike de Scott Redding e Axel Bassani, imaginem!!

Por outro lado, muitas caras novas e também motos novas, como as Honda CBR600RR da Mie Racing (associada à madrilena MS Racing) que marcam o regresso da casa da asa ao Mundial de Supersport, onde dominou anos a fio.

Mas que vimos nós pelo reino dos Algarves?

Bautista o mais rápido na remodelada Panigale V4R

Nova Panigale V4R com uma série de alterações visíveis, à parte das internas, que resultaram dos pedidos dos pilotos e da equipa técnica face à primeira versão que durou três anos. A 2023 incorpora estas alterações que obrigaram a homologar uma nova moto, como ditam os regulamentos do Mundial de Superbike.

Se os êmbolos e bielas mereceram a atenção dos engenheiros de Borgo Panigale, é na resposta do motor que reside a maior evolução, com a curva de binário a ser massajada. “A diferença não é grande”, dizia-me Álvaro Bautista que surgiu com um novo penteado que lhe confere um ar mais… normal. “As pequenas alterações que pedimos estão lá. A mudança no motor e eletrónica melhorou a primeira fase da aceleração à saída de curva. Isso melhorou a tração”. O que o campeão mundial fez questão de destacar “é a forma linear como o motor responde. O V4 anterior era muito forte e agressivo”.

Bautista disse mesmo que “esperava algo mais de sensações do motor” na ondulada pista do AIA, “mas senti o mesmo que em Jerez de la Frontera”.

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Mais evolução que revolução

“A moto é mais uma evolução do que uma revolução”, dizia-me Michael Ruben Rinaldi. Vista por fora, os aspetos mais evidentes dizem respeito às asas aerodinâmicas e aos escapes. No caso das primeiras, a asa é rasgada a meio no plano horizontal e inclui o bordo invertido. O que se nota é que são muito mais compactas e, sobretudo, mais finas com quase metade da espessura das anteriores. Álvaro garantiu-me que a carga aerodinâmica gerada é a mesma, “mas são mais bonitas”, rematou com um sorriso.

Confirmando as palavras do seu companheiro de equipa, Álvaro explicou que “a moto é basicamente a mesma do ano passado. O caráter do motor foi suavizado, o que permite utilizar melhor a potência e é menos stressante para o piloto. Nestas condições tão frias conseguimos ser rápidos e consistentes. No resto a moto é muito semelhante à anterior”.

Os escapes são outro ponto evidente com os Akrapovic realizados em titânio a contribuírem para os 240 cavalos anunciados para esta moto. Curiosamente, os escapes das Ducati são todos diferentes entre as equipas da marca, que utilizam soluções da Termignoni (MotoCorsa) ou da Spark (GoEleven).

Tudo ou nada

Álvaro Bautista nem sequer entrou com o pé direito, pois deparou-se com um comportamento da moto bastante estranho. “O feeling que transmitia era péssimo”, disse-me o talaverano. “Só nos apercebemos quando comparámos os setores delineados para o treino com os da corrida e vimos que não eram coincidentes, tal como a saída do pit lane que acontecia mais cedo no teste. A eletrónica estava toda baralhada e não reconhecia o traçado, pois estava ‘feita’ para outra configuração. Por isso, quando a equipa alterou o mapa, a moto ficou outra e voltei a sentir-me muito bem, como já havia sucedido em Jerez de la Frontera”.

A primeira de duas quedas. Esta na curva cinco.

Quedas sem consequências

O atual número um teve mesmo uma queda em cada dia, sem quaisquer consequências para o piloto ou para a moto. “A travagem para curva cinco é sempre crítica. Numa das voltas do primeiro dia entrei mais por dentro da linha ideal e perdi a frente. Já aconteceu no passado, mas não foi nada de especial”.

No dia voltou a repetir a visita ao asfalto, mas um pouco mais à frente, na curva sete, de má memória para Jorge Martin. “Passei o limite quando estava a rolar rápido. Mas é melhor saber onde ele está durante um treino, do que o descobrir da pior forma em corrida”.

Frente inalterada

Encontrar a base

Como é hábito, as equipas e pilotos trabalham muito à procura de uma base consistente que lhes permita, com alterações reduzidas, adaptar a moto o melhor possível às características de cada traçado. “Essencialmente, o trabalho incidiu na procura de um melhor ‘feeback’ da moto. Apesar de termos rodado bastante, não melhorámos relativamente a Jerez de la Frontera e, no primeiro dia, até regredimos nalguns pontos. As sensações que a moto transmite são boas e o ritmo também, mas temos de encontrar algo que nos possa ajudar um pouco mais”, confessou o piloto espanhol no final do primeiro dia.

O frio levou mesmo a equipa acolocar alguma fita nos gigantescos radiadores da Panigalve V4R

O que ficou por mudar?

É certo e sabido que contentar totalmente um piloto de topo é quase uma missão impossível e ‘BauBau’ não é exceção. Por melhorar ficou a “capacidade de girar a moto a meio da curva, isto é, entre a travagem e a aceleração”, revelou. “E também um pouco mais de estabilidade à saída de curva. A teimosia em girar faz parte do caráter de qualquer Ducati, como podes ver nas Desmosedici de MotoGP. Já a estabilidade que referia anteriormente, ou a falta dela, tem mais a ver com o meu [reduzido] peso. Não consigo colocar tanto peso na frente como os pilotos mais altos e por vezes tenho mesmo de me levantar do assento. Não vai ser fácil evoluir nestas áreas pelo que terei de ser eu a encontrar maneira de minimizar este problema”, concluiu.

O massivo monobraço com reforços em fibra de carbono

Mais rápido com o pneu de corrida

As baixas temperaturas da Andaluzia e do Algarve podem ser apontadas como as responsáveis pelo fato de a maior parte dos pilotos terem feito os seus melhores tempos com pneus traseiros de corrida. O piloto da província de Toledo não foi exceção. “Só utilizei o SC0 no primeiro dia. Ainda montei o SCX na última saída, mas não consegui fazer uma volta limpa. Deu para notar que este último empurra muito a roda da frente e não conferia qualquer vantagem nestas condições. O SC0 permitiu-me rodar constantemente no segundo 40 e fazer até algumas voltas no 39 alto”.

Recorde da pista batido

O segundo dia foi mesmo para recorde com a Panigale e Álvaro a serem a dupla que conseguiu percorrer uma volta ao traçado do AIA em menos tempo. A conseguir rodar em 1’39’’035, o número um foi somente nove milésimas de segundo mais rápido que Jonathan Rea e uma décima mais veloz que o seu companheiro de equipa. Toprak também rodou abaixo do recorde do AIA.

Os sorrisos eram muitos na box da marca transalpina. “Os tempos são relativos” minimizava desta forma o seu próprio feito. “O que importa foi o que conseguimos nestes dois dias, particularmente na aderência do pneu traseiro à saída de curva”, disse Álvaro. “Estamos preparados para iniciar o campeonato”.

Apesar da aparente modéstia, há que realçar que o pequeno castelhano foi mais rápido em um segundo face ao alcançado há 12 meses na mesma sessão de testes de inverno. “Estamos em melhor forma que no ano passado, mas está toda a gente a andar muito rápido”, concordou. “Não nos podemos distrair e há que manter a concentração, estar atentos aos detalhes que te podem garantir um lugar na dianteira, mas também relegar-te para baixo na tabela. A realidade das corridas é algo diferente pois estamos em pista todos ao mesmo tempo”.

Título garante maior descontração

O Álvaro Bautista campeão mundial que encontrámos no Algarve está mais calmo e sem aquela expressão, por vezes algo alucinada, de um passado recente. “Estou mais descontraído e confiante”, anuiu. “Só tenho de me focar no meu trabalho pois sei que consigo vencer. É, também, o meu segundo ano consecutivo com a Ducati e conheço muito melhor a moto. Estes testes de inverno foram os melhores de sempre da minha carreira no Mundial de Superbike”.

E o reconhecimento da Ducati ficou bem evidente com a apresentação, em Madonna di Campiglio, conjunta das duas equipas que disputarão os mundiais de SBK e MotoGP, com o tempo igualmente repartido por ambas, algo verdadeiramente sem precedentes. O claro reconhecimento e satisfação por parte da casa de Borgo Panigale Ducati ao campeonato mais importante dedicado às motos de série? “A Ducati tem-se batido pelos dois campeonatos”, disse Bautista. “Falo diariamente com o Gigi [Dall’Igna] em todos os testes sobre os problemas que encontro na moto e acho que o Mundial de Superbike é cada vez mais importante e desperta mais atenções. Pelas lutas com o Toprak e o Jonathan, ás quais espero o Rinaldi se possa juntar, assim como outras surpresas que possam aparecer este ano. O campeonato tem crescido muito e está cada vez mais emotivo”.

E nunca mais chega a corrida de Phillip Island….

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