São quase 90 anos, uma idade que poucos alcançam. E os que lá chegam… sabe-se lá em que condições. Mas quando vemos um ‘bisavozinho’ como Sammy Miller, de sorriso colado a andar de moto num dos mais emblemáticos festivais de velocidade e a fazê-lo, ano após ano, a esperança e a vontade de o imitar nos anos que ainda temos pela frente como motociclistas agigantam-se. No fim de contas… velhos são os trapos.
- Texto: Fernando Pedrinho
- Fotos: Goodwood Festival of Speed
Samuel Hamilton Miller nasceu ainda na primeira metade do século passado, precisamente em 1933, na cidade norte-irlandesa de Belfast. Correu pela primeira vez em 1951, quando tinha aos 16 anos, para se tornar numa espécie de ‘Toni Bou’ britânico da época. É que conquistou onze títulos nacionais de trial, mais dois europeus da modalidade e nove medalhas de ouro nos ISDE…
Polivalência absoluta
O asfalto surgiu um pouco mais tarde. Terminou em terceiro no Mundial de 250cc, em 1957, ganhando duas vezes a clássica do Ulster, a North West 200. Pilotou motos tão diversas como a AJS 7R, mas também as Mondial, NSU, Ariel, BSA ou a espanhola Bultaco e, por fim, a Honda.
Sendo a Ariel a marca que mais associamos a Sammy Miller, o seu papel foi determinante no desenvolvimento das motos de trial como hoje conhecemos, na altura com o motor a dois tempos. A Sherpa T foi criada em apenas 12 dias e ganhou fama quando Miller conseguiu superar uma secção que ninguém havia conseguido até então.
Contudo, que merece honras de museu é mesmo a Ariel HT5, uma 500cc que Miller aligeirou e desenvolveu a partir da Ariel Red Hunter. Só para ilustrar o enorme sucesso refira-se que acabou por ser integrado no departamento de desenvolvimento da marca britânica, mais tarde absorvida pela BSA. Reflexo, afinal, dos inúmeros sucessos que alcançou com esta unidade que recebeu a chapa de matrícula GOV 132 e faz parte da coleção do Museu… Sammy Miller.
Eterno Sammy Miller
Sammy tem demonstrado uma longevidade invejável, aparecendo ano após ano nos desfiles de um dos mais importantes certames mundiais de clássicos (e não só): o Festival de Velocidade de Goodwood. Gilera 500 Quattro, BMW Rennsport. Moto Guzzi 500 V8, MV Agusta 750, AJS E90 Porcupine ou a Honda RC181 foram algumas das motos com que desfilou pela subida dos jardins do palacete do antigo Lorde March, atual Duque de Richmond.
Ver o sorriso escancarado na cara do norte-irlandês, de cabelo branco totalmente desgrenhado, mais parecendo um petiz acabado de receber um brinquedo, é de uma total inspiração para aqueles que, como eu, já passaram a meia idade e questionam, com cada vez maior frequência, se serão capazes de alinhar numa corrida de velocidade, todo-o-terreno ou de qualquer outra modalidade. Sammy Miller é o exemplo vivo da alegria que é andar de moto e vê-lo trocar uma mais que provável bengala ou andarilho por algumas das clássicas mais competitivas e difíceis de pilotar das suas épocas, é algo de verdadeiramente invejável e demonstrador de que a idade é, não raro, mais uma questão mental do que física.
‘Long life to you, Sammy Miller’!