Tal como sucedeu com os dinossauros, as minúsculas 50cc de Grande Prémio há muito que se extinguiram. Por isso, será cada vez mais complicado vê-las evoluírem numa pista. E esta Ringhini 50 ainda menos! Pesando menos que as compras do supermercado, zumbindo em frequências que quase só os cães poderiam escutar, estas pequenas balas superavam alegremente os 160 km/h. Nasciam como fruto de grande engenho e enorme paixão. Franco Ringhini é disso um bom exemplo.
- Texto: Fernando Pedrinho
- Fotos: Bonhams
Em primeiro lugar, Franco Ringhini tornou-se conhecido quando se junto ao esforço de competição de outro visionário transalpino do motociclismo, Giancarlo Morbidelli. Contudo, iniciou a sua atividade como desenhador de motores na Guazzoni. Marca que nos anos de 1960 e 1970 se concentrava nos segmentos de baixa cilindrada, tendo como modelos mais conhecidos a Cadetti e a Matta. Só que Ringhini deixava já a sua assinatura nestes motores a 2 Tempos ao rodá-los 180 graus. A admissão ficava assim para a frente e o escape para trás, com este a ser dotado de uma válvula rotativa na respetiva janela.
A aventura Morbidelli
Em 1968, Franco inicia a sua aventura na Morbidelli, mantendo o mesmo desenho nos motores concebidos para a aventura mundialista de 1969, que utilizava na sua moto e na do seu colega de equipa, Eugenio Lazzarini. A Morbidelli 50 foi a primeira moto de competição bem sucedida da equipa de Pesaro. E isto apesar de Lazzarini ter terminado em vigésimo primeiro, com uns meros seis pontos, e Ringhini cinco lugares atrás e uma mão cheia de pontos.
Ringhini manteve-se na equipa de Giancarlo Morbidelli até 1973, altura em que cedeu o seu lugar a Jorg Möller, para formar a sua equipa. Pelo meio, ainda desenhou o motor de 125cc que Gilberto Parlotti utilizou com sucesso na campanha de 1970, tendo mesmo vencido o GP da Checoslováquia.
A Ringhini 50
Franco Ringhini tornou-se num preparador independente, como era hábito na época, criando séries limitadas de 50cc de competição e chegando mesmo a construir motores para outros construtores, como era o caso da Bimota.
Em 1973 a FIM obrigava a que as ‘abelhinhas’ de GP50 utilizassem motores monocilíndricos e um máximo de seis relações na caixa de velocidades. Franco desenhou então um motor com cotas de 40x36mm, o que lhe dava uma capacidade de 49,7cc. E que era capaz de debitar 14 cavalos a um regime de 14.500 rotações por minuto.
O resto, é aquilo que está à vista: cilindro inclinado para diante, quadro tubolar, forquilha telescópica, braço oscilante com um par de amortecedores verticais, travões de tambor (180mm, à frente, e 130mm, atrás) e jantes de 18 polegadas de diâmetro. Tudo isto num pacote que pesava apenas 60 kg.
Vale a pena ver o filme ‘caseiro’ que a leiloeira Bonhams preparou para a unidade das fotos e que está num estado de conservação impecável. Esta Ringhini 50 foi leiloada em Agosto de 2020 por pouco menos de 10.000 libras.
E para quem goste do tema, a leitura do livro escrito por Mick Walker, Italian Racing Motorcycles, é simplesmente obrigatória.
Pela Península Ibérica
Nos anos ’70, o protecionismo ibérico impedia que motos de origem japonesa corressem em Espnha, por exemplo. Não raro, alguns dos pilotos espanhóis contornavam esta proibição com alguma imaginação. Franco Ringhini dava uma ajuda ao preparar pequenas séries de Yamaha TZ125 e TZ250 às quais mudava diversas peças e componentes por forma diminuir o conteúdo de origem nipónica, que depois vendia a ‘nuestros hermanos’. Não era por acaso que o seu representante era um piloto do campeonato espanhol…