Com Donington já à porta no próximo fim-de-semana, será bom rever o que poderão as marcas e pilotos fazer perante a consistência esmagadora do duo Jonathan Rea / Kawasaki. Poderá a Ducati fazer frente ao gigante verde, apostando em Michael Ruben Rinaldi? Conseguirá o italiano repetir o brilharete de casa na pista inglesa onde não se dá tão bem?
- Texto: Fernando Pedrinho
- Fotos: WorldSBK, Aruba.it Ducati
Nas duas primeiras rondas da época, disputadas no Motorland de Aragão e no Estoril, Redding ganhou pelo menos uma corrida. Mas a irregularidade foi o apanágio de ambos os fins-de-semana, e a repetida aposta da Ducati oficial para este ano acabou por fazer perder preciosos pontos para Rea, vítima de queda ou de má escolha de pneus.
Michael Ruben Rinaldi, promovido a piloto oficial, por troca com o galês Chaz Davies, parecia ainda mais perdido, com um desacerto que poderia ter terminado na manga longa de Domingo no circuito português, mas que Garrett Gerloff fez questão de perpetuar como dúvida eterna, ao acertar em cheio na Panigale V4R do italiano, na travagem para a Parabólica interior.
O Circuito Marco Simoncelli, em Misano, tem-se revelado historicamente como um traçado favorável às motos vermelhas da marca de Borgo Panigale. Poderia a Ducati dar uma cambalhota e voltar à luta?
Dito e feito!
Só que não por aquele que todos estariam à espera. Sim, a Ducati voltou a brilhar a e recuperar a sua áurea, mas por intermédio de um rapidíssimo Michael Ruben Rinaldi, que só não conseguiu o pleno ao ser travado da última vitória por um inspirado – e apontado verdadeiramente ao título – Toprak Razgatioglu.
Michael foi o mais rápido na sexta-feira mas qualificou-se apenas na segunda linha da grelha, o que não foi impeditivo do que se viu daí para a frente. Tinha ritmo e podia ter andado mais rápido, disse o piloto da casa – é natural de Rimini. O Jonny cometeu um erro, ganhei quatro segundos de vantagem que consegui manter sem ter de puxar muito. A demonstração serviu para calar muitos detratores que já se levantavam questionando a sua contratação para a equipa oficial. Se as pessoas criticam o Marc Marquez, quem sou eu para não ser alvo de críticas?, questionava Ruben no final da corrida de Sábado. Só tive de manter a concentração, pois gosto desta pista e sabia que podia obter bons resultados este fim-de-semana.
Ruben sabia que tinha de apertar o ritmo para forçar um possível erro de Rea ou pôr-se a salvo de uma luta direta na última volta. O Jonathan é um ‘osso duro de roer’ num confronto direto na última volta. No fim da corrida disseram-me que ele tinha feito o impossível ao salvar uma queda mais do que certa, mas ele é um enorme talento.
Perfeição alcançada?
A perfeição não existe, contestou o piloto da Aruba.it Ducati quando lhe perguntámos se era o que havia alcançado na pista da Riviera Adriática. Conseguimos obter um bom ‘feeling’ da moto mas podemos ainda melhorar para as últimas voltas da corrida.
Tendo ganho a sua primeira corrida de ‘Superbike’ em 2020, em Aragão, a vitória em casa com a moto oficial é algo completamente distinto. Se adicionas tudo isso que disseste, vencer é uma situação normal. Por isso temos sempre de reunir as condições para alcançar essa normalidade. Posso até confessar-te uma coisa. Quando voei de volta de Portugal para Itália, depois da corrida do Estoril, viajei junto com o engenheiro de corrida e eletrónica do Jonathan Rea (ndr – Davide Gentile). Eu disse-lhe que quero ganhar com o Jonny em pista, porque ele é tão rápido que vencer sem ele na pista não tem o mesmo sabor.
Mas como é ter o ‘Hulk’ na peugada de um piloto? Huhhh… sinceramente ando melhor debaixo de pressão. Quando não tenho essa pressão, necessito de ir buscar qualquer coisa que me permita concentrar. Por isso, nas últimas nove voltas só pensei em puxar, mas a 90%, porque tinha quatro segundos de vantagem. Mas garanto-te que não foi fácil.
Então o que falta ainda? O Toprak é melhor do que nós na travagem e este é um ponto que tenho vindo a levantar desde a primeira corrida e no qual ainda não estamos a 100%. Donington é uma pista onde tenho sentido dificuldades, mas também o sentia no Estoril e este ano fui mais rápido um segundo na corrida do que no ano passado, com a pista bem mais fresca. Penso que podemos escrever uma nova página.
O respeito por Toprak
A cena divertida protagonizada por Michael Ruben Rinaldi e Toprak Razgatioglu no final da corrida de Domingo, onde o italiano parece estrangular o piloto turco, é bem reveladora do bom ambiente entre estes dois pilotos que estão a protagonizar a mudança geracional no Mundial de ‘Superbike’. É normal que isso suceda, dizia-nos o misanês. O Toprak vem da extinta categoria de Stock 600, onde corremos juntos. Com a maturidade aprendemos a respeitar-nos mutuamente, algo que não acontecia antes. Andamos no limite e isso significa que ambos estamos a fazer um bom trabalho este ano. Quanto à mudança geracional, primeiro precisamos de bater os mais velhos e estabelecidos!
Alívio
Estará Michael Ruben aliviado com os resultados por ter sido a escolha da equipa oficial? Procuro sempre o limite e fazer o melhor que sei. Se hoje tivesse terminado em quinto, mas sabendo que tinha dado o máximo de mim, teria ficado feliz da mesma forma, mesmo que o resultado agradasse a poucos. Quando estás bem contigo e segues os teus sonhos e objetivos, é isso que te vale nos maus resultados, pois ninguém acredita em ti com tu. É o teu sonho, não o de outra pessoa, tens de manter a motivação nos maus momentos e esperar pelos bons.
Muito calor piora a situação da Panigale V4R
O calor tórrido de Domingo acabou por favorecer as Yamaha, em detrimento das máquinas vermelhas. O asfalto estava muito mais quente, o que representa, na prática, uma pista diferente e distintas sensações passadas pela moto, e um risco acrescido, revelou Michael Ruben. Com a mesma estratégia de se isolar na frente e fugir ao pelotão, o italiano não conseguiu repetir a dose das duas corridas anteriores, sendo mesmo passado por Toprak Razgatlioglu. Dei 120% para o voltar a passar mas quase caí por duas vezes e nas últimas quatro voltas não consegui aproximar-me, pelo que optei pelo segundo lugar em vez de deitar tudo a perder com uma queda. Precisava mesmo dessa vitória, mas tenho de reconhecer que ele e a Yamaha foram melhores, pois não arriscámos mudar muita coisa de sábado para domingo, por isso tive mais dificuldade em manter um ritmo elevado.
Voltando a optar pelo novo Pirelli SCX A0557 de desenvolvimento, mais macio que o SC0 mas mais duro que o SCX standard, Rinaldi revelou ter sido a escolha acertada. A moto tinha um comportamento totalmente diferente, mas devido à temperatura do asfalto, que na hora da partida se cifrava nos 55 ªC.
Andrea Dovizioso, ex-piloto MotoGP da Ducati e atualmente ligado aos testes de desenvolvimento da Aprilia RS-GP, era para ter aparecido na boxe da sua antiga marca para dar alguns conselhos a Rinaldi. Com as restrições impostas pela Covid-19 não conseguimos arranjar-lhe um passe de entrada e ele, na sexta-feira, enviou-me uma mensagem a dizer que ia antes fazer motocrosse até porque eu já era primeiro nos treinos livres. Como eu sei que ele odeia cobras, respondi que para a próxima lhe ia colocar uma serpente numa das suas botas de motocrosse (risos). O diretor geral da Ducati Corse, Luigi Dall’igna, também foi notado na sexta- feira, onde se inteirou de perto dos progressos do projeto ‘Superbike’ da casa de Bolonha, regozijando com a prestação de Michael Ruben.
Que venha de lá o tira-teimas de Donington!