Regresso à estrada: Uma história de Lobos, contrabandistas e outros carnavais
Autor: Paulo Ribeiro
Março 18, 2022
Texto: Paulo Ribeiro Fotos: Lobos da Neve, FMP, MCP Acabou a fome… de estrada! O alívio das limitações ditadas pela pandemia permitiu dar um uso ainda mais intenso (leia-se: turístico!) às motos. A presença de várias centenas de motociclistas na Figueira da Foz para a Apresentação Oficial do 24.º Portugal de Lés-a-Lés foi apenas mais…

- Texto: Paulo Ribeiro
- Fotos: Lobos da Neve, FMP, MCP

Acabou a fome… de estrada! O alívio das limitações ditadas pela pandemia permitiu dar um uso ainda mais intenso (leia-se: turístico!) às motos. A presença de várias centenas de motociclistas na Figueira da Foz para a Apresentação Oficial do 24.º Portugal de Lés-a-Lés foi apenas mais uma prova evidente do fenómeno pós-pandemia. Como o foram a Concentração Invernal Lobos da Neve ou os vários passeios, organizados por clubes e concessionários nas últimas semanas. A normalidade parece ter voltado às motos!
A matemática da saudade
As contas são fáceis de fazer. Foram 763 dias entre as duas apresentações do Lés-a-Lés. Dois anos, um mês e quatro dias de espera pelo reencontro. E foram 735 dias entre as invernais da alcateia. Muito tempo sem convívio, com a borracha dos pneus a ressequir nas garagens e as carenagens a ganharem pó. Por isso, todos os momentos são agora vividos com renovada intensidade.
Como aconteceu no parque de campismo da Freguesia de Tortosendo e na zona de lazer da Ponte Pedrinha onde o Moto Clube Covilhã Lobos da Neve montou generoso e bem organizado espaço para receber algumas centenas de convidados. Que, reunidos em redor de enorme fogueira que durou os três dias do encontro, trataram de colocar a conversa em dia. E assim recordando o tempo passado entre aquela que, curiosamente, foi a última concentração ao vivo antes da pandemia e a primeira após os sucessivos confinamentos e outras medidas sanitárias.
Pelo meio, depois de enganar o frio que se fez sentir, tempo para assistir aos shows acrobáticos do Rui M. Santos ou do inesgotável Paulo Martinho, aos concertos dos Rock’N Riders,Trotil, King Size, David Antunes and the Midnight Band ou Calle del Ruido. Mas também para ouvir animada tertúlia com a presença dos padrinhos do evento e bem conhecidos motociclistas Gracinda Ramos e Rodrigo Ribeiro. Além, claro, de um pequeno mas bem interessante ‘bike-show’; do Passeio das Estrelas, em emotivo momento em memória dos motociclistas falecidos; ou da Missa e Benção recordando o saudoso Padre Zé Fernando.
Na Figueira da Foz para descobrir… a zona raiana
Com as conversas em dia e muitos abraços trocados, todos deixaram a promessa de reencontro em breve, numa das próximas concentrações do calendário da Federação de Motociclismo de Portugal. Alguns acabariam mesmo por encontrar-se ainda mais rapidamente, num outro evento sob a égide da FMP, na Figueira da Foz. Onde a Comissão de Mototurismo deu a conhecer as linhas gerais do 24.º Portugal de Lés-a-Lés que, de 9 a 12 de junho de 2022, vai ligar Faro a Bragança, com passagem por Castelo de Vide e nova visita à Covilhã. Cujos motivos de interesse e forte dinâmica colocam o mais importante núcleo urbano da Serra da Estrela no caminho de todas as rotas motociclistas!
Na Figueira da Foz, também cada vez mais no roteiro do Lés-a-Lés mesmo quando o evento não passa junto às suas aprazíveis praias, a enorme adesão foi uma espécie de antevisão do enorme sucesso que se espera de mais uma edição da maior maratona mototurística da Europa.
Edição, a 24.ª, marcada pelo regresso à quase deserta zona raiana, e onde o pouco trânsito e uma paisagem por vezes inóspita, reforçarão o estatuto de grande aventura de descoberta nacional. E até internacional, considerando as várias incursões em território espanhol, através de algumas das mais remotas passagens fronteiriças do mapa lusitano. Algumas delas carregadas de estórias de contrabandistas e das travessias a salto que marcaram uma época da História de Portugal.
Forte animação carnavalesca
Trata-se, já se sabe, do grande prato mototurístico a cada ano, antecedido por inúmeros aperitivos servidos por clubes ou concessionários aos seus sócios, clientes e amigos, sob a forma de passeios mais ou menos curtos. Onde o destino, a temática ou o almoço, são apenas motivos para a viagem. Para os quilómetros de prazer de condução e para o convívio. Que tanta falta fez durante dois anos de triste memória.
O Moto Clube do Porto, por exemplo, uniu-se à Mototrofa e levou a cabo o seu já tradicional Passeio de Natal… no Carnaval! Adiado em dezembro, encontrou lugar no calendário no dia de Entrudo, reforçando os motivos de interesse com o intuito solidário.
Rapidamente esgotou a lotação prevista e levou caravana de mais de uma centena de motociclistas através do Minho rumo à Branda da Aveleira. Trajeto de espanto através da Mata da Albergaria, no Gerês, marcado ainda pela assombrosa vista da aldeia fantasma de Aceredo, deixada à vista pelo incrível recuo das águas represadas pela barragem do Alto Lindoso.
Carnaval também aproveitado como pretexto para o passeio organizado pela Motoboxe, o bem conhecido e dinâmico concessionário Honda no Porto, que levou clientes e amigos até Lamego. O altivo santuário de Nossa Senhora dos Remédios foi ponto final de um percurso que levou a caravana desde o Porto, através das serenas paisagens da Murtosa, e onde as máscaras marcaram pontos. As carnavalescas porque as outras, de que já todos estamos cansados, vão aos poucos e poucos desaparecendo do nosso dia-a-dia. Sinal de melhores tempos, também
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