Passeio por Espanha na companhia do João Araújo
Autor: Jorge Casais
Maio 3, 2021
Texto e fotos: Jorge Casais No ano passado, num dos passeios por Portugal na companhia do João Araújo, surgiu a ideia de, em Agosto, irmos percorrer estradas além-fronteiras. Colocámos 2 hipóteses em cima da mesa. Ou passávamos pelos Picos da Europa e depois seguíamos para os Pirinéus ou então, começando também pelos Picos da Europa,…

Texto e fotos: Jorge Casais
No ano passado, num dos passeios por Portugal na companhia do João Araújo, surgiu a ideia de, em Agosto, irmos percorrer estradas além-fronteiras. Colocámos 2 hipóteses em cima da mesa. Ou passávamos pelos Picos da Europa e depois seguíamos para os Pirinéus ou então, começando também pelos Picos da Europa, percorríamos depois a Ruta de la Plata, Sierra de Grazalema, Ronda e Sierra Nevada. A escolha recaiu sobre esta segunda hipótese e que boa foi a escolha que fizemos. O resumo da viagem foi:
Percorridos – 3759 km
Horas efectivas de condução – 49h19m Total de horas em passeio – 59h02m
Altitude máxima – 1676 m Motos – Yamaha Super Ténéré e Yamaha Ténéré 700

09.08.2020 – 1º Dia Picos da Europa de Rio de Onor até Fuente Dé
Saímos bem cedinho pela manhã para aproveitar bem o dia. O ponto de encontro escolhido foi a estação de serviço de Penafiel na A4, tendo seguido na mesma até Bragança.
Como não poderia deixar de ser, cruzamos a fronteira com Espanha pela aldeia de Rio de Onor. Digo que não poderia deixar de ser porque esta aldeia tem sido um ponto de partida, chegada e de passagem em muitos dos passeios que faço. Não é apenas a aldeia em si mesma que me atrai, mas as várias possibilidades de rotas para lá chegar, “sempre pelos caminhos mais curtos claro”, bem como as paisagens que as acompanham. Mas voltando ao nosso passeio… a nossa primeira paragem programada era no Lago de Sanabria. Fomos bafejados pela sorte, pois a manhã estava bem azul e límpida permitindo que os reflexos da paisagem circundante no lago estivessem absolutamente incríveis. Como era cedo também não apanhamos quase trânsito nenhum pelo que pudemos parar as motas onde bem nos apeteceu e ter a estrada só para nós. Para quem nunca visitou recomendo este spot e já agora aproveitar e conhecer as estradas das montanhas de Manzaneda. Mas isso são outras “histórias”.

Depois desta paragem, seguimos viagem sempre por estradas nacionais e tal como estipulado, passamos por Castrocontrigo, La Bañesa (local famoso pelas corrida de motas que aqui se realizam), Mansila de las Mulas (conhecida pelo facto do Caminho de Santiago de França por aqui passar) e, finalmente, Riaño onde paramos para abastecer e tirar mais algumas fotos.
Esta chegada a Riaño é sempre um momento daqueles, pois para quem já visitou estes parques em Espanha sabe que vai entrar num “mundo” fantástico. Se para mim era mais uma vez, já para o meu amigo João era estreia, pelo que a única coisa que lhe disse, para aumentar a sua curiosidade, foi que iria a partir de agora entrar numa realidade motard que, não sendo única e a melhor que iria conhecer durante a sua via de motard, estaria certamente entre as melhores.
Atestados os depósitos das nossas motas lá arrancamos de novo em direcção a Collado de Lesba, Mirador del Corzo, Potes e Fuente Dé, pois estes eram os pontos de paragem programados para este primeiro dia.

Em Fuente Dé ainda estivemos para subir no elevador, mas o calor era enorme e o cansaço também não ajudava pelo que resolvemos vir até ao hotel em Lon para, relaxadamente, comermos umas tapas e bebermos umas cervejinhas. Que bem que soube este momento à sombra.
Tínhamos planeado ir até Potes para jantar, mas acabámos por não o fazer porque, como é normal nos Picos, o tempo fez das suas e começou a chover e bem. Costumo dizer que, tal como nos Açores, nos Picos conseguimos num dia encontrar as quatros estações do ano. Esta “profecia” acabou por nos acompanhar quase durante todo o dia seguinte mas não estragou de forma alguma o passeio, como partilharei mais adiante.

Para a memória deste primeiro dia fica o raio da roda de trás da minha ST que se lembrou de partir no Collado de Lesba. Feito o telefonema para a MOTOCAR para saber se poderia prosseguir viagem, fiquei descansado por saber que se não andasse de “roda no ar” e a fazer trilhas, poderia prosseguir viagem sem sobressaltos. Confesso que nos primeiros km andava apreensivo, mesmo com a informação que tinha recebido, mas também confesso que foi sol de pouca dura, pois rapidamente me esqueci do ocorrido.
Algumas destas estradas até que pedem o enrolar com maior veemência do nosso punho direito, no entanto a ideia era mesmo saborear a estrada e a paisagem, pelo que foi sempre em ritmo de “pastar a vaca” que andamos. E que bem que soube este ritmo.

Terminou assim este nosso fantástico primeiro dia. Sempre com paisagens de cortar a respiração em grande parte do trajecto desde que entramos no Parque Natural de Montesinho.
Destaco o troço de estrada entre Collado de Lesba até La Veja. Muita curva e contra curva e muito sobe e desce. Quanto à paisagem o Parque de Montesinho, Lagos de Sanabria e a partir do momento que deixamos Riaño para trás, foi todos eles pontos altos deste primeiro dia de viagem.
Reconheço que sou bastante selectivo nos hotéis em que fico, mas desta vez tive que me sujeitar ao que havia disponível. Tempos de Covid assim o obrigaram, pois todos aqueles meses com as nossas liberdades coartadas, quer em Portugal quer em Espanha, levou muito motociclista a escolher como destino os Picos da Europa.
No final do dia o João começava a ficar rendido a esta paisagem e estradas… mas o melhor, dizia-lhe eu, ainda estava para vir. Iríamos passar no dia seguinte por uma zone pouco concorrida pela comunidade motociclista mas por onde eu gosto particularmente de passar.
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10.08.2020 – 2º Dia Picos da Europa de Fuente Dé a Villablino
Percorridos – 554 km Horas efectivas de condução – 07h44m
Total de horas em passeio – 10h46m. Altitude máxima – 1731 m
Pela manhã bem cedo arrancámos do hotel em Lon com uma irritante chuva miudinha. Felizmente a mesma não nos acompanhou por muito tempo, bastava o João parar para colocar o forro de chuva que a mesma parava imediatamente. No entanto, alturas houve em que o nevoeiro era cerradíssimo, mas nada que nos fizesse desistir e prosseguir com o que estava planeado para este segundo dia.
Primeiro destino foi Covadonga, sabendo de antemão que uma visita aos lagos estava fora de questão, pelo que lá fomos pela N-621 até Unquera onde paramos para tomar um café. Pelo meio ficou a magnífica passagem pelo “Desfiladero de La Hermida”, troço de estrada com cerca de 20 km onde somos quase todo o tempo acompanhados, ora pelo nosso direito ora pelo esquerdo, pelo Rio Deva. São inúmeros os desníveis neste rio que formam pequenas cascatas todas elas com uma beleza ímpar. Dá vontade de estarmos constantemente a parar e registar o momento em fotografia e/ou vídeo.

Tomado o café seguimos em direcção ao tal conjunto de estradas que, de todas as vezes que por aqui andei nunca me cruzei com motociclistas. Como gosto de percorrer este set de estradas seria óbvio partilhar com o João as mesmas. Desta vez até tive mais sorte, e claro o João também, porque contrariamente a outras vindas por aqui o céu estava bem azul e límpido.
De Unquera seguimos, quase sempre com o rio Cares a acompanhar-nos, por Narganes, Las Arenas, Ortiguera, Meré, Rales flectindo aqui em direcção a Nueva para de novo aqui chegados apontarmos as nossas motos em direcção a Llamigo, Riensena e Corain. Este conjunto de estradas é divinal quer pela paisagem, quer pelo constante sobe e desce com inclinações incríveis, quer pelas constantes curvas, quer ainda pelo contacto constante com a vida animal, doméstica e selvagem. Uma delícia para quem gosta de conduzir uma moto.

Chegados a Soto de Canga lá fomos até Covadonga onde paramos no Santuário. Como já tinha vindo aqui algumas vezes fiquei a descansar e a guardar as motos enquanto o João andou a visitar as redondezas. Sim, descansar porque nesta altura o pé direito, que tinha alguns dias antes largado a bota de talas, lembrou-se de ficar a doer. Na altura não disse ao meu amigo nada, mas que o raio da perna e pé doíam e doíam bem.
Como o tempo não dava para tudo, passámos pelo centro de Cangas de Onis sem parar e dirigimo-nos em direcção ao “Desfiladero de Los Beyos” que, como é óbvio, é um “must go”. Realço que é um prazer conduzir ao longo de toda a estrada N-625. Sim, claro que parámos no mirador de Oseja de Sajambre. Faz parte pelo que não poderíamos passar sem fazermos o respectivo registo fotográfico.

Voltando ao “Desfiladero de Los Beyos”, este é troço de estrada com cerca de 12 km onde somos acompanhados pelo rio Sella, uma vezes pelo nosso lado esquerdo e outras pelo lado direito. Também este é um lindo rio, com uma cor típica das águas de montanha e com muitos desníveis formando pequenas cascatas lindíssimas. Tal como no desfiladero que passámos pela manhã, também este dá vontade de estarmos constantemente a parar para deixar o momento captado nas nossas máquinas de vídeo e/ou fotográfica.
Lá fomos seguindo pela N-625 até a mesma encontrar a LE-2711 pela qual viramos. Contudo não nos apercebemos que estaríamos sem gasolina e decorridos alguns km percebemos que a estação de serviço mais perto seria em Riaño, pelo menos era o que os nossos GPS’s indicavam. Toca a voltar para trás e vir até Riaño atestar os depósitos e fazer de tudo de novo para cima té voltarmos a entrar na LE-2711 em direcção a Posada de Valdeón, Santa Marina de Valdeón, Portilla de la Reina, Boca de Huérgano, Riaño e, alguns km mais à frente cortarmos à esquerda pela CL-635 onde iniciámos a entrada num outro parque o de Montaña de Riaño y Mampodre. Seguiram-se então as estradas AS-117, AS-116, AS-265, AS-227 e L-495. Saliento que ao passarmos por este conjunto de estradas já estávamos a percorrer outros dois parques, os de Ubiñas de La Mesa e de Somiedo. Foi neste último parque que a subida e descida do mesmo se fez com um nevoeiro tal que conduzir a mais de 30 km/h teria sido uma inconsciência total. Não se via um palmo à frente do nariz. Foi pena, pois estou certo que o João iria apreciar bastante a paisagem deste troço. Fica para uma próxima que ele aqui venha.

Apesar de termos planeado para este dia cerca de 500 km nem por isso foram várias as paragens. A paisagem merece-o sem dúvida alguma. Não querendo menosprezar outros pontos de paragem e outros miradores, existem dois que destaco. Os “miradores de Valdéon e o de Pandetrave ambos com vista sobre o vale de Valdeon. São soberbos.
O dia terminou em Villablino num hotel bem melhor que o da noite anterior e onde jantámos no centro da localidade realmente bem. Foi a cereja em cima do bolo a forma como acabamos este dia. Não ficaria terminada esta partilha deste passeio pelos três parques que visitamos se não referisse que os mesmos são de facto uma maravilha que, para nós Portugueses aqui do norte, estamos à distância de poucas horas.

Posso afirmar que já conheço Espanha, tirando a região dos Pirinéus Espanhóis, razoavelmente bem. Não tenho dúvidas em seleccionar esta zona dos Montes Cantábricos como a melhor região de Espanha para passearmos de moto.
Vídeos
11.08.2020 – 1º Dia “Ruta de la Plata” (de Villablino a Cáceres)
Percorridos – 582 km Horas efectivas de condução – 07h49m
Total de horas em passeio – 11h17m. Altitude máxima – 1382 m
Uma vez mais iniciámos o nosso dia bem cedo para podermos fazer frente ao que tínhamos para percorrer. Cerca de 600 km de Villablino até Cáceres. Fizemos um bocadinho de batota porque esta estrada tem o seu início em Gijon mas nós fomos apanhar a mesma em Campomares, ou seja, alguns km à frente do seu início.
De Villabino até Campomares percorremos a CL-626 que é uma bonita estrada rodeada de paisagem a condizer, tendo depois tomado a AP-66 até ao ponto inicial deste dia para podermos ganhar algum tempo. Realço que este foi um dia com algumas peripécias relativamente à a decisão de qual a roupa a usar, pois no decorrer da viagem as nuvens eram assustadoramente negras e com muito vento à mistura em algumas zonas. No entanto, cedo cheguei uma vez mais à conclusão que sempre que o João decidia colocar os forros de chuva, andávamos alguns minutos e lá voltava a ficar o tempo outra vez seco… mas as nuvens bem negras e o vento continuavam lá. Foi uma constante. O que dizer desta Ruta de la Plata? A nossa opinião até Cáceres foi a mesma. Voltaremos a fazê-la? Não. Era uma perda não a fazer? Sim.

O começo é simplesmente fantástico, com uma subida constante montanha acima e com muita curva e paisagens deslumbrantes a acompanhar. Recomendo vivamente este troço em que passamos com a paisagem do parque Natural de Ubinas de la Mesa sempre ao nosso redor. Passado este momento o percurso até Cárceres é um verdadeiro tédio com retas de km e km e uma paisagem muito rica em monotonia.
Claro que tivemos aqui e ali alguns momentos interessantes, quer em termos de condução quer de estrada, mas este primeiro dia de Ruta não nos provocaram qualquer tipo de entusiasmo. Será que foram os dois dias nos Picos da Europa e arredores que nos colocaram a fasquia muito alta? Não, julgo que não. É mesmo um tédio.
Esta Ruta de La Plata é para ser saboreada não pela estrada ou paisagens em si mesmas, mas pelas inúmeras localidades pelas quais passamos. É “coisa” para ser feita no mínimo entre 5 a 7 dias, isto é, seleccionar bem as aldeias, vilas ou cidades que desejamos visitar, fazer as respectivas paragens e visitas e depois seguir para o próximo ponto de paragem. Este não foi minimamente o nosso objectivo, bem pelo contrário, a nossa intenção foi podermos dizer a nós mesmos que já percorremos a homóloga Espanhola da EN2 e percebermos se a mesma vale apena ou não para uma segunda visita num outro ano.

No final deste dia e já sentados num excelente restaurante no centro de Cáceres, resolvemos ver os consumos das nossas máquinas. É certo que a maior parte dos km até agora percorridos foram em modo de “pastar a vaca” mas os consumos que vínhamos a registar eram brutalmente baixos o que nos tem permitido rolar com menos paragens para abastecer.
A T700 do João estava então com uma média de 3.8 l/100 km e a minha ST com 4.7 l/100 km. Nada mau.
Vídeo
12.08.2020 – 2º Dia Ruta de la Plata (de Cáceres a Ronda)
Percorridos – 460 km. Horas efectivas de condução – 06h53m
Total de horas em passeio – 09h44m. Altitude máxima – 1194 m
Saída de Cáceres com destino a Ronda por volta das 09h00m. Embora fossem menos km a percorrer que nos dias anteriores sabia que iríamos ter pela frente muito boa estrada e paisagem que nos iriam obrigar a muita paragem. Mais uma vez até Sevilha foi um tédio, mas depois de apontarmos as motos em direcção à serra de Grazalema começou verdadeiramente o dia. E que dia de passeio.
O Parque Natural da serra de Grazalema é algo inesquecível e imperdível. Certamente que repetirei este trajecto mas nessa altura com mais calma para poder saborear ainda mais as magníficas paisagens com que somos brindados durante todos este percurso. Certamente que essa visita não será em Agosto para evitar apanhar o calor intenso que apanhámos. As estradas são de montanha com subidas e descidas bem acentuadas, curvas para todos os gostos, mas que requerem a nossa atenção pois para além do trânsito de turistas como nós, o piso é escorregadio e parece até vidrado.

A entrada nesta serra fez-se por Zahara de la Sierra e aqui entramos na CA-9104 que nos levou até encontrarmos a A-372. Esta localidade fica situada na encosta de um morro, criando uma mancha branca sobre a mesma, originando um contraste interessante. Lá no alto vemos vestígios do que foi uma fortificação. Ao serpentearmos esta CA-9104 são vários os pontos onde o embalse de Zahara se cruza com o nosso olhar. É certo que é uma represa, que não é um lago natural, mas se nos abstrairmos desse facto a “pintura” até que é bastante agradável.
Tal como tinha previsto foram várias as vezes que parámos para podermos apreciar a paisagem que nos rodeava. Certamente que falhámos alguns spots bem interessantes porque as nossas paragens eram escolhidas também pelas sombras. Dois que não falhámos foram o Mirador Puerto de los Acebuches e o Puerto de las Palomas. De facto quem os seleccionou teve bom gosto. Ambos a permitir ter um olhar sobre o embalse e sobre Zahara de la Sierra como pano de fundo.

Saliento aquele troço desta CA-9104, alguns km antes de chegar ao Mirador de Puerto de Las Palomas pelo ziguezagueado, sempre a subir, onde cá em baixo conseguimos olhar para cima e ver por onde iremos passar. É precisamente este tipo de estradas que aprecio bastante, quando estou num determinado ponto e consigo alcançar com o olhar para onde irei, seja para cima ou para baixo. Já na A-372 e à Vila que dá o nome a este parque, Grazalema, apontamos as motos para a CA-9123, passando desta forma para o outro lado da serra. Deparamo-nos com uma paisagem um pouco diferente, mais seca, mas também interessante ao nosso olhar. São alguns km sem vivalma, ou melhor, sem atravessarmos povoações, sendo a única excepção Gaidovar.
Chegados ao final desta CA-9123 vemos de novo o Embalse de la Zahara sobre a nossa esquerda. Estávamos então no lado oposto por onde tínhamos entrado neste parque, deixando para trás uns km de condução fabulosos. O nosso destino, Ronda, já não estava longe. No entanto, enquanto planeava este passeio achei que seria uma perda não passar por Setenil de las Bodegas, pelo que as estradas que se seguiram foram a MA-8407 e a CA-4223. Claro que chegados a esta vila a paragem foi obrigatória, muito embora não tivéssemos entrado naquela rua com as rochas a cobrir a mesma. Tempos de COVID e o acesso era muito condicionado. Tiradas a fotos da praxe seguimos pela CA-9122, MA-7403, MA-428 e A-6300 para apanharmos a A-374, que nos levou até à lindíssima cidade de Ronda.

O raio do vírus Chinês até que foi um ponto positivo, para nós claro, porque para o turismo da cidade estava a ser uma desgraça total. Pudemos andar a deambular por Ronda sem os atropelos usuais de turistas. Até parecia que a cidade era só para nós. Nunca tinha visitado Ronda, assim como o João, mas ficámos rendidos. Cidade muito bonita, bem arranjada, com bons restaurantes e hotéis. A ponte pode ser o seu Ex-libris, mas tem muitos outros monumentos que valem a sua visita. Tive pena de não ter sido possível visitar a praça de touros, mas em contrapartida pudemos ir até ao portão de Almocabar, jantar na praça do Socorro, visitar os jardins da casa del Rey Moro, etc…
O hotel onde ficamos era óptimo e estreamos uma nova ala do mesmo (Hotel Don Miguel). Fomos tratados como lordes. Na manhã seguinte partimos em direcção a Sierra Nevada para visitarmos algumas Pueblas Blancas e terminaremos em “Hollywood”.

Por último, resta lembrar as inúmeras vezes que fomos abordados pela polícia por estarmos a tirar fotos junto aos mecos que marcam os km desta Ruta de la Plata. Era impressionante, pois pareciam que caiam do espaço. Se das primeiras duas ou três vezes não tivemos a preocupação de ver se haveria polícia, até porque não sabíamos que eles “chateavam” os motociclistas, das outras vezes já olhávamos se haveria a remota possibilidade de aparecer um carro patrulha. Inacreditavelmente, e vindos sabemos nós lá de onde, apareciam sempre.
Vídeo
1 – https://youtu.be/aq7P8yF1oTw
2 – https://youtu.be/LIEf_1VewaU
13.08.2020 Pueblas Blancas – Sierra Nevada a terminar em Fort Bravo
Percorridos – 511 km Horas efectivas de condução – 08h07m
Total de horas em passeio – 11h45m. Altitude máxima – 1731 m
Bem cedo pela manhã fomos brindados no hotel com um pequeno-almoço divinal, no terraço do hotel, com um olhar para a famosa ponte de Ronda. O que estava planeado para este dia era bastante ambicioso pois seria sair de Ronda e atingir o primeiro ponto sempre por estradas Nacionais. No entanto o que aconteceu realmente foi um pouco diferente, pois perto da localidade de Loja não conseguimos encontrar a estrada que o Garmin nos indicava (não existia mesmo) e acabamos por andar em modo Off Road sem querer.
Como é óbvio perdemos muito tempo e mal conseguimos encontrar a estrada novamente apontámos para a A92 e seguimos na mesma até Granada e depois na A44 saindo aqui em direcção a Lanjáron que era o nosso primeiro ponto de paragem. Já com a situação sobre controlo voltámos ao trajecto planeado.

Mas que passeio fantástico. Estradas top e repletas de curvas de todos os tipos, subidas e descidas também de todo tipo, ora mais ou menos íngremes, qualidade do alcatrão duma forma geral muito boa, havendo contudo que ter sempre cuidado porque em algumas zonas fica “vitrificado” e torna-se muito traiçoeiro. A escorregadela é garantida. Para visitar as Pueblas Blancas em Agosto, de moto, é preciso gostar mesmo muito de rolar. As temperaturas são muito elevadas e a paisagem muito “seca” ajuda a tornar a situação ainda mais quente. Certamente que nunca mais porei aqui um pé em Agosto. Acho que o João é da minha opinião.
A paisagem que nos acompanhou durante todo o percurso é fantástica. Como já partilhei acima, muito seca mas com uma vegetação muito típica para conseguir vencer Invernos e Verões com temperaturas extremas e em sentidos opostos.

Das estradas saliento:
– a subida a Cáñar, que é uma ida pela vinda, mas divinal. Fez-nos bastante lembrar, quando estávamos lá em cima, a estrada que dá acesso a Unhais da Serra quando vimos pela Nave de Santo António. Mesmo muito parecido com aquele encadeado de curvas a lembrar um mini passo de montanha. Foi também aqui que aproveitámos para fazer uma refeição ligeira e, sobretudo, repor líquidos, pois o calor era verdadeiramente insuportável e com toda aquela roupa de mota a transpiração e consequente perda de líquidos era inevitável.
– a passagem na A-4132 pela Puebla de Pampaneira, bem como a Puebla em si mesma. Ainda é possível ver muitos vestígios da época de ocupação Mourisca no seu casario. A sua implantação fica no sopé da montanha e o enquadramento da Puebla é muito bonito. Uns km mais à frente, a não perder a paragem no Mirador de Poqueira com uma paisagem bem interessante. Imagino que no Outono este spot seja divinal.
– a passagem pela Puebla de Trevélez, ainda pela A-4132. Esta Puebla é considerada a mais alta de Espanha, situando-se a cerca de 1650 m de altitude, e é sobejamente conhecida pela qualidade dos seus presuntos que, infelizmente à hora a que passamos, era de siesta, pelo que estava tudo fechado. Numa daquelas placas que se encontram junto à estrada foi possível ler que esta Puebla está “encostada” a duas das montanhas mais altas de Espanha (Mulhacen e Alacazaba) e tal é bem visível.
– a passagem na A-4130 pela Puebla de Bérchules. Esta é também uma Puebla bastante bonita e arranjada e com muitos vestígios ainda de ocupação Mourisca. Passa por esta localidade o maior rio de Sierra Nevada… pelo menos foi o que nos disse um habitante local. Esta estrada A-4130 faz-nos passar por várias Pueblas bastante interessantes tais como, Mecina Bombáron, com alguns fortes vestígios Mouriscos mas também Medievais. Daqui já foi possível ver, embora que bem longe, o mediterrâneo. Yégen, Válor, Mecina alfahar, Mairena e Laroles são outras 5 pueblas servidas por esta estrada. Todas elas brancas, como é óbvio, e cada uma com os seus encantos.
– a estrada A-337 toda ela repleta de paisagens incríveis e estrada a condizer com muita curva, subidas e descidas para todos os gostos
– a estrada AL-5402 que nos trouxe até Láujar de Andarax. Nas tais placas de estrada foi possível ler que esta localidade teve a sua importância na conquista de territórios aos Mouros e é considerada a aldeia mais antiga de Espanha. Não entramos em Andarax para visitar, mas pelo que vi será certamente uma daquelas pueblas que não deixarei de o fazer numa próxima passagem por aqui.
– a estrada AL-3404 entre as localidades de Ohanes e Rágol. Um verdadeiro carrossel com uma paisagem rude, mas fantástica, a acompanhar-nos todo o tempo.

Já começava a ser tarde pelo que seguimos em direcção a Mini Hollywood com alguma vivacidade, deixámos o modo de “pastar a vaca” e mudámos o mesmo para “race”. Mesmo assim quando atingimos o destino não conseguimos visitar nem Mini Hollywood nem Fort Bravo. Tivemos que nos contentar com o registo fotográfico de longe.
Como não havia nada marcado para passar a noite olhamos para mapa e acabamos por decidir ir até Aguadulce e aí ficar num hotel enorme, mas praticamente vazio devido ao raio do vírus Chinês.
O check in no hotel foi um verdadeiro filme de terror, hoje e a esta distância até que foi caricato, mas na altura só me apeteceu desatinar. As medidas de segurança implementadas eram inacreditáveis.

Vídeos
1 – https://youtu.be/oyFJP5fTk4c
2 – https://youtu.be/LhkQ141N6Fo
14.08.2020 Aguadulce – Braga (João) Matosinhos (eu)
Percorridos – 1142 km Horas efectivas de condução – 10h13m
Total de horas em passeio – 13h36m Altitude máxima – 1734 m
Último dia e dia de regresso a casa.
O calor que apanhámos, principalmente no dia anterior, desmotivou-nos um pouco pois neste dia a previsão seria para se manter, pelo que decidimos vir para casa em duas etapas (disse eu ao João). O que estaria previsto era virmos pela AE até Vila Real de Santo António, “aterrarmos por aqui”, e no dia seguinte arrancarmos bem cedo em direcção a nossas casas. O que aconteceu realmente foi que, deu-me uma daquelas ouras, e o regresso foi directo de Aguadulce a nossas casas. O João ainda hoje me deve estar a rogar pragas.
De facto viemos por Vila Real de Santo António mas já que estávamos ali e ainda era cedo eu disse ao João para seguirmos e talvez dormirmos em Aljustrel. Lembro-me que ele olhou para mim desconfiado, pois já são muitos milhares de km que temos percorrido juntos, e disse a sério? De certeza que não vamos dormir hoje a casa? Ao que lhe respondi que não, nem pensar. Entretanto chegados a Aljustrel, e como era ainda cedo, desafiei o João perguntando-lhe se não seria mesmo melhor prosseguirmos viagem e ir dormir a casa. Claro que o João depois desta minha “maldade” só poderia dizer que sim.
Grande passeio na EXCELENTE companhia do meu Amigo João. Agora fica a questão: onde vamos em 2021? Em 2019 ACT, 2020 Espanha, 2021 ?!?!?!?!
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