Os sete quilos extra de Álvaro Bautista

Mal terminou o Mundial de Superbike de 2023 e logo as equipas e pilotos viraram página para entrar na temporada de 2024, com os primeiros testes realizados no Ángel Nieto, em Jerez de la Frontera.

Aureolado com o bicampeonato, Álvaro Bautista e a Ducati Panigale V4R concitavam boa parte das atenções, pois interessava saber as sensações que o piloto espanhol e a sua equipa iriam recolher de uma moto mais pesada.

  • Texto: Fernando Pedrinho
  • Fotos: WorldSBK e Aruba.it Ducati

Com toda a formação da Aruba.it Racing Ducati ainda inebriada com o autêntico festival de títulos alcançados na temporada de 2023 – pilotos, contrutores, equipas e piloto independente, a que se juntaram os do Mundial de Supersport – Álvaro Bautista tinha uma missão muito específica para os primeiros testes de pré-época de Jerez. O bicampeão mundial teria um primeiro contato com a estratégia da marca para se encaixar no novo regulamento técnico e a possibilidade de dar mais algumas voltas com a Desmosedici GP23, com que irá alinhar na próxima prova de MotoGP, a correr-se na pista malaia de Sepang.

Uma queda logo no primeiro dia, na última curva do Ángel Nieto, condicionou o pequeno espanhol com uma dor no pescoço e nas costas. Por outro lado, o tempo chuvoso que se fez sentir, também no sul de Espanha, acabou por não lhe porporcionar os quilómetros extra que gostaria de ter efetuado no protótipo italiano, já que o primeiro dia de testes acabou arruinado pelas condições da pista, demasiado húmida.

Inércia nas curvas de alta velocidade

A equipa da Ducati e Álvaro Bautista terminaram o mundial de 2023 com duas certezas: a que teriam de volta o regime de rotação com que iniciaram a época e que necessitariam de adicionar peso à Panigale V4R, com base no novo regulamento técnico e respetivo peso combinado (moto e piloto). Aliás, o espanhol tinha sido taxativo ao dizer que, se o incremento de peso da sua moto a tornasse inguiável e perigosa, preferia ficar em casa a ter de arriscar o ‘cabedal’ em pista na defesa do bicampeonato.

“Adicionámos peso à moto e, como esperava, não se comporta da mesma maneira”, resumiu Álvaro Bautista o segundo dia de treinos. “Os sete quilograma extra de peso notam-se nas curvas mais rápidas, porque tenho dificuldade para inserir a moto e fazê-la girar”, revelou o talaverano. “A moto ganhou mais inércia e tende a alargar a trajetória”, precisou. “Testámos diversas soluções, mesmo ao nível do motor, e conseguimos uma boa base de dados para analisar durante o inverno. É que ao adicionarmos peso temos que rever toda a afinação base da moto, talvez considerando suspensões mais duras, que não tivémos oportunidade de ensaiar neste teste. O objetivo passou apenas por entender como se comporta a moto com o peso adicional”. Interessava saber como se alterou o comportamento da Panigale V4R bicampeã mundial em pontos como a travagem e aceleração, por via do incremento de massa verificado. “É mais difícil parar a moto, mas é sobretudo nas curvas rápidas onde se nota a maior diferença. Na aceleração está tudo na mesma e não notei alterações”, dizia depois de ter terminado com o quarto tempo mais rápido dos dois dias, batido mesmo pelo seu novo colega de equipa e estreante na categoria, Niccolò Bulega. Mas é certo que a obtenção de um recorde não era o objetivo de Álvaro e do seu chefe de equipa, Giulio Nava, como o mesmo confirmou.

Definir a base na paragem de inverno

Bautista estava inclusivé algo mais sereno e calmo, após as emoções do fim de semana mas, sobretudo, após os receios demonstrados de ensaiar a moto do ano passado significativamente mais anafada. “Estou tranquilo, mas repara que não estive a 100% fisicamentente, após a queda do primeiro dia e que me causou algumas dores nas costas, e isso refletiu-se na minha pilotagem. Como disse, o mais importante era obtermos pontos de referência para ver como vamos desenhar a estratégia de definição da moto em função do novo regulamento. O ‘feeling’ para as novas condições busca-se trabalhando na pista. Por sorte que as sensações são idênticas, com exceção da parte que corresponde a fazer girar a moto, por via da inércia acrescida. Com uma nova base de afinação procuraremos compensar esta nova dificuldade criada com o incremento de peso. Acho que este ano chegámos ao nível máximo do que podemos extraír da Panigale V4R, pelo que o trabalho de inverno deverá incidir em manter esse mesmo nível com a massa que terá de ser adicionada à moto, e o ‘feeling’ que ela me transmitiu ao longo de todo o ano. Eu também vou ver se ganho algum peso, mas como deves imaginar, há limites para o peso corporal que posso aumentar. O importante será chegar à primeira corrida do próximo ano com as sensações e nível de prestações da moto de 2023”.

O teste de Junho, em Misano, com a Desmosedici GP23. Aqui com Michele Pirro e Luigi Dall’Igna.

Perninha no MotoGP

Álvaro não negou estar ainda num período de descontração depois de toda a ‘loucura’ do fim de semana, algo que condicionou – junto com a parte física – a proverbial metodologia do pequeno castelhano. “É verdade, agora só tenho de carregar as baterias e ir para Sepang”, para a corrida de MotoGP, onde vai pilotar uma Desmosedici GP23 da Ducati Corse. “É um bónus para mim”, disse sorridente. “Espero encontrar boas sensações com a moto, trabalhar bem no fim de semana e divertir-me. Não tenho qualquer expetativa de resultado. Apenas dar o máximo e desfrutar da pista que é belíssima e, com alguma pena, não faz parte do calendário do Mundial de Superbike”.

Danilo Petrucci na prova que realizou este ano, em Le Mans, com a GP23 oficial, em substituição de Enea Bastianini.

Mas o que pode fazer Álvaro Bautista nesta incursão no MotoGP? Nada melhor do que questionar Danilo Petrucci, que já foi um oficial Ducati e chegou mesmo a vencer duas corridas na categoria máxima do desporto motociclista, em 2019 e 2020. ‘Petrux’ matou as saudades este ano, quando alinhou em Le Mans e terminou em décimo primeiro. “A Desmosedici GP23 é uma das melhores motos que pilotei na minha vida”, disse. “Em cada volta que fazia com ela pensava que podia ter travado mais tarde e acelerado mais cedo, tal é a qualidade da moto. Acho, por isso, que o Álvaro pode andar muito bem em Sepang. Era mais rápido do que ele quando corremos juntos em 2017 e 2018, mas em Sepang ele era particularmente bom, porque faz sempre muito calor e o asfalto perde muita aderência. Como ele é muito leve, consegue ser bastante rápido nessas condições. O nível no MotoGP, sobretudo no final do campeonato, é elevadíssimo, mas acho que ele pode andar no grupo da frente”.

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