Esta será, talvez, das coisas mais difíceis, mais desafiantes e mais penosas que consegui na vida. Estou orgulhoso, desculpem a soberba e a falta de modéstia, mas mereço, porque esta deu-me mesmo cabo dos nervos e foi conseguida a ferros!
- Texto e fotos: Alex Kossack
Hoje, sinto-me como se tivesse conseguido um quadro de Miguel Angelo, ou mesmo de Da Vinci ou a fonte da juventude! Verdadeiro “Unbtanium”! Consegui algo mais difícil de encontrar que o El Dorado, o Santo Graal ou mesmo uma nau carregada de ouro.
Já na altura, há 30 anos, sem internet e sem google, com as viagens mais dificultadas, era quase impossível conseguir, e os custos afastavam qualquer um da intenção, quanto mais hoje, volvidos 31 anos! Sonhava eu com eles, nos anos 90, o sonho de um dia ter algo assim, mas tinha de vender a moto para o poder comprar, e isso não!
Não eram nada fáceis de arranjar, pois quem os fabricava, Rob Muzzy, fazia-os quase exclusivamente para a sua equipa de competição, o Team Muzzy Kawasaki, onde de 1990 a 1998 correram nomes como Dough Chandler, Miguel Duhamel, Aaron Slight e Scott Russell. Este último campeão do mundo em 1993 com uma ZXR com escape e preparação Muzzy.
Só mais tarde, e já cavalgando nos louros dos feitos obtidos, Campeão do Mundo de Superbikes em 1993, Campeão AMA, vitória nas 8 horas de Suzuka, etc., (aliás foi pela mão de Rob Muzzy que Wayne Rainey e Eddie Lawson começaram nas Superbikes nos anos 80) é que Rob Muzzy se interessou na comercialização e na venda ao público, desta feita com o logo um pouco diferente, com letras inclinadas.
Há coisas que foram feitas e destinadas uma para a outra, binómios perfeitos. Coisas como queijo da Ilha e um bom Porto, um bom charuto Cubano e um Courvoisier Imperial, cerveja fresca e tremoços, eu e a minha mulher, uma ZXR K1 e uma linha de escape em Titânio feita à mão por Rob Muzzy!
Sendo também uma moto difícil de encontrar, a ZXR 750 R K1, e ao contrario da mais normal ZXR J, esta só se poderá considerar completa quando acompanhada por um escape Muzzy, da saída dos cilindros até ao guarda lamas de trás. Ouro e azul, chá e torradas. O som de uma sinfonia a 4 tempos, que nos dias de hoje roça o deboche e a ilegalidade, mas ao qual ninguém fica indiferente.
Consegui encontrar o Graal!!
Depois de muito procurar e depois de centenas de e-mail’s para trás e para a frente, centenas de buscas na net, no ebay, até ao Craigs List recorri, inúmeras mensagens para cá e para lá, uma ida de propósito aos Estados Unidos, numerosas chamadas para Inglaterra, no final lá deram fruto e consegui encontrar um Muzzy ! Mas não era um Muzzy qualquer.
Este é de origem, foi feito em 1992 para a Moto do Scott Russell e nunca chegou a ser montado. Estava numa caixa de cartão, ainda semi embalado quando o vi pela primeira vez! Encontrei-o por acaso, uma noite, ao ler um post num fórum dedicado à ZXR K, fórum este que encontrei num grupo do Facebook sobre a ZXR 750, em que um fulano, (de quem entretanto me tornei amigo), e que tinha sido mecânico do Team Muzzy Kawasaki, contava que tinha conseguido comprar a ZXR K1 do Scott Russel em 1991 e 1992.
Ele tinha ficado com os restos da moto de competição do Scott Russel, toda desmontada e bastante mal tratada, bem como o espólio dessa mota. A intenção era reconstruir, mas faltou-lhe tempo e o projecto morreu. Mais tarde vendeu a moto para Inglaterra onde o novo comprador ia também ele refazer a moto, mas também não foi longe. A moto ainda em caixas, atravessou o Atlântico e parou ali.
Uns anos mais tarde, o Inglês, que também não tinha tempo, abandonou o projecto e graças à internet e aos fóruns acabou por vender a moto ao dono inicial, o qual escreveu um artigo e um post sobre o restauro da moto do Scott Russel. Entre conversas, vi sem querer um vídeo da montagem da moto, e BINGO! Ali estava o escape, ainda dentro do caixote!
Deixa mandar uma mensagem, pode ser que ainda tenha peças para a minha K1…
Recebi a resposta uns dias depois, infelizmente tinha tudo, menos a panela, que tinha ficado na Inglaterra.
Hello? England? You happen to have? “yes I do”!! E, ao fim de 30 anos, lá juntei em Portugal, na minha K1, uma parte que estava nos EUA, uma que estava em Inglaterra e um tubo intermédio que mandei fazer no Reino Unido, adaptado pelo Mário Guerra, e com juntas que me recomendou o meu amigo Orlando. Consegui o conjunto! O Graal da Kawasaki.
Tenho uma K1 com uma linha completa Muzzy! Continuo a ter o escape de origem, que guardo religiosamente, por estar imaculado, mas como ando muito na K1 ao menos ando como quero! Isto porque admiro a moto como estando de origem.
Mas, como não é uma J e sim uma K, foi feita para usar o Muzzy, quero que se lixem as mas línguas e os restantes, sou um purista!
De salientar que tive de mandar instalar um DB Killer, porque o som do escape em titânio é estrondoso, maravilhosamente melódico e fantástico, mas cada vez que acelerava os alarmes dos carros tocavam, as senhoras dos lares tinham orgasmos, e as vacas davam leite azedo.
Assim, o Mário fez-me um sistema que permite montar e desmontar o DB Killer em segundos, porque eu gosto de andar na lei, mas de vez em quando, sou o Scott Russel, pelo menos aqui na minha rua!
Tentei ainda, em vão, contactar o Rob Muzzy, por intermédio de um amigo que tenho no Indiana e que o conhece pessoalmente, mas este já está velhote, só quer é sopas e descanso, por isso nem sequer o incomodei.
Pelo que li algures, a última vez que deu à costa publicamente foi num restaurante qualquer em 2017 e já não queria saber muito de motos. Estrada sem pavimento por esse caminho.