

- Texto: Mário Campos
Tombos…..!
Quedas…..!
Esbardalhanços …..!
Deslizamentos ( à lá Marc Marquez )……!
Espojamentos ( Alentejo )….!
Quem nunca tombou, ou caiu, ou se esbardalhou, ou se espojou ( os deslizamentos são um exclusivo do Marc Marquez ), que atire a primeira ….. embalagem de mercurocromo.
Ouvir motociclistas “empedernidos”, com centenas de milhares de kms percorridos, garantirem em tertúlias,…..que NUNCA caíram, de moto, faz-me, de imediato, lembrar dos pescadores e dos caçadores……!
Robalos de 300 kg apanhados, à mão ( ! ) na praia de Mira, ou leões mortos à dentada ( quase sempre a arma encrava, antes, nestes filmes ), numa savana do Zoológico da Maia,…….., são histórias deliciosas sobre a vaidade humana, e/ou a gabarolice, também humana !
Portanto, afirmo aqui, despudoradamente que caí, que tombei, que me esbardalhei, e que me espojei, várias vezes ao longo de milhões de kms feitos de moto !
E……não tenho vergonha ?
Não.
Tinha se fosse …(desses ) caçadores, e/ou pescadores…..!
Segue compilação ( ainda hoje estou para descobrir, porque é que o som desta palavra, me fascina….), mais ou menos cronológica:
TS 125 Hustler lá pelos finais da década de 70, numa curva de saída da Auto-estrada:.
O pneu novo da frente ,com formato Trial ( quadrado ) em vez de Trail / arredondado ), após inclinar,…..inclinar….inclinar, passou do limite (quadrado ) e…. chão…..(incrível, como nesses tempos, não tínhamos à nossa disposição todas as medidas e tipos de pneus, a não ser que fôssemos a Espanha).
As luvas , estilosas (neve ?) saltaram logo, pelo que a chegada à praia da Madalena, que devia ser triunfal, foi uma vergonha, com joelhos e mão esfolados.
Castigo suplementar: não poder treinar e jogar voleibol, durante mais de um mês.
Suzuki TS 125 ER, início da década de 80, na recta do campismo da praia da Madalena, um canito branco, pequenito tipo caniche de colo, sai desarvoradamente, do meio do pinhal.
Tive a imediata sensação de que o ia atropelar, mas….que,….. para mim,….. “não havia crise”, dado o tamanho da roda dianteira da trail (se não conhecem vão ver o que era uma Suzuki TS 125 ER). Para minha grande surpresa, mal a roda da frente lhe tocou, qua l”manteiga em focinho de cão”, a moto saiu-me de baixo, e cai estrepitosamente.
Não me aleijei desta vez.
Não havia público, e ainda bem…., porque enquanto me levantava, e à moto, vejo o raça do canito , na berma a rir-se para mim, e a fazer-me um manguito!
Castigo suplementar: ainda hoje tenho pesadelos, com canitos brancos e manguitos.

BMW K 100 RS 16 VV, no início da década de 90, na …portagem dos Carvalhos, sentido Norte/Sul, na AE1.
Paro, na portagem, para a minha mulher recolher o ticket,.
Os breves segundos parado, foram suficientes, para embaciar a viseira do capacete estreado nessa manhã e…… a falta de “conhecimento do produto” impede-me de entreabrir, ligeiramente, a viseira, pelo que arranco devagar, enquanto tento (luto….!) abrir a dita viseira.
Do lado de lá da portagem, havia uns mecos em cimento,, angulosos, com uma corda a separar as vias,……..!
Subo devagar, em 1ª….. um desses mecos, completamente às cegas e caímos os dois, de lado a cerca de 10 metros da máquina da portagem…..
BMW partida.
Pé da minha mulher, partido também.
Castigo suplementar : ter que aparecer, muito embaraçado, no passeio do motoclube, ….de carro.

BMW K 1100 LT, em meados da década de 90 no centro de…..Sintra (repleto já na altura de turistas).
Por nabice, ou aselhice , ou mesmo distração, tento colocar a dita K 1100 LT no descanso central, num espaço empedrado.
A moto cai-me estrepitosamente, para o outro lado.
Reunem-se logo,…… 50 turistas (os japoneses a tirar fotografias)..
Avanço demasiado) decidido , para o outro lado, e com uma força inumana, levanto a moto à primeira, mas….passando o ponto de não retorno.
Não retorno ?
Sim, caiu para o outro lado….!
Os japoneses deixam de tirar fotografias, ao ver uma BMW K 1100 LT a ser tratada como uma torrada, à saída da torradeira.
Faltam-me as forças depois desta 2ª queda, e a vergonha ruboriza-me as faces.
Uma alemã , com físico de Valquíria, manda vir na língua dela, claramente revoltada e indignada, por ver um produto do seu pais a ser “tratado” daquela maneira..
Sou ajudado por almas caridosas , a colocar, definitivamente, a moto direita.
Oferecem-me queijadas e apoio moral.
Castigo suplementar : quando estou quase a dar de “frosques” ouço um parvalhão, sentado numa esplanada, à beira do “acontecimento “, a dizer para um amigo: “…dever ser lançador do peso,…… num clube de atletismo”!
BMW R 1200 C, na garagem de um pequeno hotel em Beja, nos finais da década de 90.
Faço a viagem de Lisboa para Beja , “embrenhado” nas imagens do filme do 007 com o Pierce Brosnan ao guiador de uma moto igual, a saltar entre prédios, a conduzir com uma moça presa a ele por algemas, e em cima do depósito, e dar gás nas varandas dos primeiros andares, etc…etc…etc..(foi toda a viagem).
Entro na garagem do pequeno hotel em Beja.
Silêncio absoluto.
Não está ninguém…!
E se, eu…..?
Sem pensar duas vezes, faço uma …..”à lá…… Pierce Brosnam”….., !
Com a moto em andamento, estico-lhe o longo descanso lateral (como nas Harle…), e ao chegar ao meu sítio escolhido, para estacionar, deixo-me inclinar, docemente……, para a esquerda, contando com o dito cujo descanso,……… já estirado.
Em câmara lenta,, eu e a moto, unidos umbilicalmente , caímos fragorosamente para o lado esquerdo.
O estupor do descanso tinha recolhido ou…..não tinha sido esticado na totalidade…!
Primeira reação, ainda no chão e debaixo da moto. estará alguém a ver ?
Uns segundos, em silêncio, debaixo, dos 270 kg, levam-me a concluir que, na garagem não há …….vivalma!
Segunda reação : sair de baixo da moto.
Terceira reação : levantar a moto (perpassam-me pela cabeça, imagens de Sintra, pelo que sou comedido na força a aplicar).
Quarta reacção, observar os estragos..
Castigo suplementar : tremendo abalo no ego motociclista, o que, anos mais tarde, me desincentivou, de treinar a manobra do Marc Marquez , de cair deslizando e levantando a moto com a perna e o cotovelo.
E pronto…!
Houve mais duas situações , mas que não considero, tecnicamente,,….. quedas ou tombos.
Uma em 1991, na barriga do ferry para as ilhas gregas, quando a BMW K 100 LT se espojou , apesar de amarrada, com uma tempestade marítima provocada pelo ventos Alíseos ( os marinheiros desincentivaram-me de a colocar de pé, por dois motivos ; ia cair outra vez, …..e um deles ……tinha familiares em Sintra,e tinha ouvido falar de ….”um português, que, uns anos antes…” possuído “pela força, “amandou” a mesma moto ao chão duas vezes,….seguidas, uma para cada lado ).
A segunda situação, na fábrica da BMW, em Berlim – 1999, quando nos ensinaram a levantar, com elegância e ponderação, a nóvel BMW 1200 LT, propositadamente deixada cair, com suavidade, até tocar nas asas (escondidas ) de proteção lateral.
Um dos instrutores alemães ainda veio falar comigo, para saber se…” se tinha sido eu, em ……..Sintra (rais me partam !), a deitar uma K 1100 LT ao chão duas vezes seguidas”,……. cena essa vista pela sua mulher….a…,a……..Valquíria !).
Daí para a frente, eu ….NUNCA mais caí, ou me esbardalhei, ………..o que me leva (outra vez !) para os pescadores das falésias de Olhão que apanham congros com 12 metros de comprimento, apenas com um garfo de restaurante., ou para os caçadores da Gorongosa, que apanham 10 avestruzes, sem ratoeiras (pintam uma de cor de rosa, e essa fica tolhida de vergonha, enquanto as outras 9,…. ficam sem forças ,……de tanto rir)..
Qual destes tombos ou quedas me marcou mais ?
Pois o primeiro, e daí o titulo desta croniqueta: “Não há horror, como o primeiro”.
Ps1. O pé da minha mulher ? Sarou melhor e mais rápido, do que o meu ego ferido.
Ps2. Caçadores /pescadores deste meu país: “não me levaindes a mal, sff, e,….. se puderem, deixainde-me” inscrever numas das vossas confrarias gastronómicas.! Pode ser?
Prometo que vos divirto falando de protótipos de motos com 18 bufadeiras, ou de records em Bonneville, com foguetes descartados pela NASA, com rodas e que chegaram aos 3700 km/h, em 3 segundos..
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