Mundial de Supersport. Dominique Ägerter quase campeão!

  • Texto: Fernando Pedrinho
  • Fotos: WorldSBK, Fernando Pedrinho

Com o programa de Sábado cancelado em virtude da tragédia que se abateu sobre o ‘paddock’ do Mundial de Superbike e levou ao desaparecimento de Dean Berta Viñales, o programa resumiu-se às corridas de Domingo, pois a família do malogrado piloto pediu que o programa continuasse e os pilotos honrassem a sua memória alinhando nas corridas.

E na Supersport foi mais um ‘show’ de superioridade do suíço Dominique Aegerter, que leva já dez vitórias esta época e deu-se ao luxo de falhar as duas corridas da Catalunha para alinhar na MotoE e tentar o título nas motos elétricas. Mas já lá vamos.

O piloto de Röthenbach im Emmental, uma aldeia do cantão de Berna, estava naturalmente satisfeito, apesar de naturalmente consternado com os acontecimentos do dia anterior. Mas como fez Dominique parecer tão fácil uma vitória num campeonato tão disputado como o das ‘Supersport’, num ano em que as R6 da Evan Brothers não aparecem como as permanentes dominadoras? “(risos) ganhar uma corrida nunca é fácil. Temos trabalhado arduamente na preparação da moto e na minha condição física. Arranquei bem, forcei o ritmo nas dez voltas iniciais para deslocar do grupo. As sete voltas finais podem ter parecido um passeio, mas é difícil manter a concentração quando tens uma vantagem de cinco a dez segundos”.

Também a Ten Kate Racing parece ter recuperado a senda vitoriosa que conta do seu palmarés na ‘Supersport’, e por onde já passaram campeões mundiais como Fabien Foret, Chris Vermeulen, Karl Muggeridge, Sébastien Charpentier, Andrew Pitt, Michael van der Mark e o inevitável Kenan Sofuoglu. “Eles têm feito um enorme esforço para trazer sempre alguma evolução para cada corrida. Esta YZF R6 está agora muito rápida, o que não acontecia no arranque da época. Por outro lado, eles sabem o que há que mudar na moto quando a pista sobe cinco graus de temperatura, como aconteceu no Domingo. A isso só tenho de adicionar a minha experiência, concentração e o espírito de competição que respiramos na equipa”.

E são já dez vitórias esta época, algo impossível de antecipar quando a temporada de 2021 arrancou. Quantas mais estão ainda para vir até ao final da época? “Quantas corridas faltam para o final? Seis?”, ripostou o natural de Röthenbach im Emmental, uma aldeia do cantão de Berna, soltando uma franca gargalhada. “Seria bom se pudesse ganhá-las todas, mas o objetivo é qualificar bem nos treinos, lutar pelas primeiras três posições de cada corrida e vencer sempre que a oportunidade se deparar pela frente. Conheço Portimão, mas desconheço San Juan Villicum [na Argentina] e Mandalika [a prova estreante na Indonésia e que encerrará o campeonato] será uma novidade para toda a gente.

Dispondo de uma vantagem de 62 pontos sobre o sul-africano Steven Odendaal, da Evan Bros, com 150 pontos ainda em disputa, Ägerter pode saír de Portimão com o título do bolso. As suas possibilidades de conquistar o ceptro são altíssimas, pelo que interessa saber se o radar das equipas está apontado ao coriáceo suíço para ‘vôos’ noutras categorias. “Estou muito próximo de assinar novamente com a Ten Kate, mas devo dizer-te que fiquei algo desapontado, depois de ter ganho nove corridas, de não ter recebido qualquer proposta das equipas de ‘Superbike’. Talvez já seja uma raposa velha para a Moto2 [Ägerter tem 30 anos, contra os 35 do seu compatriota, Thomas Luthi, que abandona a categoria no final desta temporada], mas há pilotos nas ‘Superbike’ com 38 anos. Ainda não sou campeão mas esperava que já houvesse contatos nesse sentido. E espero que se continuarmos nesta tendência vitoriosa, possamos levar a Ten Kate Racing de volta ao Mundial de Superbike”.

Faltava saber se o suíço já acabou com as caixas de partilhas efervescentes, depois da penalização averbada na derradeira prova da MotoE, em Misano, onde numa entrada ao melhor estilo ‘supermoto’, não conseguiu evitar o toque com Jordi Torres, que acabou no chão, retirando a vitória a Dominique que foi o primeiro a ver a bandeira axadrezada. “Pfff nem me fales! Sempre que penso nisso continuo a achar que o Jordi cometeu o erro de querer ganhar a corrida quando não necessitava de o fazer para se sagrar campeão, pois bastava ser segundo. Por isso, acho que ele levou a corrida ao extremo e acabou por cair. Eu não o quis deitar ao chão, mas ele sabia que eu iria tentar passa-lo na travagem na última volta. Foi uma manobra dura mas eu estava por dentro e dentro dos limites da pista. Não compreendo uma penalização tão dura da parte da direção de corrida”.

Philipp Öttl e o meteorito… de borracha

Philipp Öttl deixou Dominique Ägerter na frente, depois de um episódio que afetou a Kawasaki ZX-6RR Ninja da Pucetti Racing. “Acho que apanhei um pedaço de borracha que me causou um sério problema na frente da moto. Consegui perceber que não tinha o pneu furado, mas estava algo assustado”.

Satisfeito com o regresso ao pódio e com o desempenho da equipa, mas não por ter perdido a possibilidade de lutar pela vitória pelo incidente acima descrito, o piloto de Bad Richenhall sabe que Portimão é uma “pista complicada, mas que foi reasfaltada no ano passado e espero seja menos irregular”. Podes ficar tranquilo no que respeita a essa preocupação, Philipp.

Tuuli e a MV Agusta com tração em excesso

Niki Tuuli alcançou o seu segundo pódio da temporada com a exótica MV Agusta F3 675. Contudo, muitos mais espinhos do que rosas no fim de semana do finlandês, que me confessou continuar “sem sentir a frente da moto. Mudámos a moto do avesso em cada sessão de treinos e no ‘warm-up’. Fui para a corrida sem saber o que me esperava, pois voltámos a alterar tudo”, revelou o natural de Myrskylä, uma localidade de 1.800 habitantes localizada a noroeste de Helsínquia. A sorte protege os audazes e a situação melhorou, “mas ainda perco muito em curva, pois quando utilizo o corpo para curvar a frente ‘fecha’ e o pneu escorrega. Quando alcancei o [Philipp] Öttl, apanhei três sustos e quando vi que tinha um segundo de vantagem para o [Manuel] Gonzalez, preferi garantir o pódio, que neste momento é mais importante que cair a tentar chegar ao segundo lugar”.

E como se compara a MV Agusta com a tetracilíndricas de 600cc da Yamaha e Kawasaki? “A MV Agusta é muito forte em geral. Perde na travagem, mas o maior problema surgiu com o novo pneu traseiro da Pirelli. Com o SC 0 [mais duro], viste a facilidade com que pilotei a moto no Motorland e no Estoril. Mas com SC X, a traseira ganha muita tração e acaba por empurrar a frente. Eu gosto de trajetórias mais fechadas, em que deslizo a moto até ao vértice e depois faço rodá-la com o acelerador. Com o SC X já não consigo fazer deslizar a traseira e a frente ameaça ir embora constantemente. As Yamaha e Kawasaki conseguem tirar partido do SC X, mas nós ficámos na mesma. Se toda a grelha alinhasse com o SC 0, a história seria outra”.

Será o caso em Portimão? “A MV Agusta tem um bom registo no AIA. Gosto muito da pista mas vai ser difícil. Só espero que tenhamos um bom ‘feeling’ logo na sexta feira”.

Em Jerez de la Frontera de BMW R1250RT

Tentando assistir às provas ao vivo levando uma moto de um dos fabricantes que alinha no Mundial de Superbike, desta vez tocou-nos em sorte uma BMW R1250RT, que a Carmen Mora, da BMW Espanha, rapidamente nos disponibilizou.

Ligando Madrid à terra do vinho de xerez pela A4, para fugir aos dilúvios pontuais que a depressão em altitude veio a causar um pouco por toda a Península Ibérica, será escusado dizer que os 630 quilómetros de distância foram percorridos com uma ‘perna às costas’, tais as aptidões da bávara para o mototurismo, com apenas uma paragem de reabastecimento e um ritmo bem despachado. Proteção, equipamento e desempenho dinâmicos estão mais refinados do que nunca nesta versão da ‘road tourer’, que exibe ainda um novo visual.

Durante o regresso, no Domingo, deu para ‘trabalhar’ o controle de velocidade de cruzeiro adaptativo e continuar a descobrir a muita informação disponível no novo painel de instrumentos ‘à lá série 7’, assim como a conetividade com a aplicação ‘Connected’, da BMW Motorrad. Conforto em alta, motor melhor do que nunca, dinâmica com ajuste eletrónico e autonomia para parar apenas uma vez num trajeto despachado rapidamente pela autoestradas da prata e do sudoeste. Claramente, a melhor RT de sempre!

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