Mundial de Superbike, frescas e boas de Portimão

  • Texto: Fernando Pedrinho
  • Fotos: WorldSBK, Alex Photo – Matteo Lepri

Considerada a ronda mais decisiva do Mundial de Superbike, a ‘montanha russa’ do AIA pode ditar seriamente qual será o próximo campeão mundial da categoria, seja de pilotos ou de construtores. Jonathan Rea joga praticamente em ‘casa’, numa pista onde ele e as vitórias andam de mãos dadas. O norte-irlandês poderá contar ainda com a ajuda do seu companheiro de equipa, Alex Lowes, muito rápido mas também a contas com uma lesão num dos pulsos. Já Toprak Razgatlioglu ainda padece do congestionamento que evidenciou em Jerez de la Frontera e que lhe tira alguma energia.

E como se tudo não bastasse, parece que a chuva pode marcar presença por terras algarvias logo na madrugada de Domingo.

Pirelli ‘raciona’ o pneu traseiro mais brando

É uma das decisões do fabricante italiano que causou algum sururu no ‘paddock’. Considerada a pista mais exigente para os pneus, a seguir a Phillip Island, a combinação do traçado do AIA (e as suas curvas longas) e a nova superfície mais abrasiva (que hoje marcou 47º Celsius) levam a que a casa de Milão impeça que o pneu ultra brando traseiro SC X possa ser usado por mais de 13 voltas, conforme me dizia Flavia Maffeis, diretora de comunicação do único fornecedor de borrachas para as três categorias que integram o mundial. “No ano passado vimos que alguns pneus desenvolveram bolhas, pelo que resolvemos não arriscar, à imagem do que já havia sucedido em Phillip Island, por isso os pneus que utilizem o composto ultra brando SC X, só poderão ser utilizados na corrida da ‘super pole’”, confirmou Flavia.

Nem mesmo que as temperaturas desçam, como se espera para sábado e domingo, onde poderá mesmo chover, o traseiro SC X – e seus derivados como o A0557 – serão utilizados. Alguns pilotos protestaram contra esta decisão e insistiram, contudo, em utilizar o A0557 nas corridas longas. “Sinceramente, não entendo a lógica desta decisão”, dizia-me Jonathan Rea. Trazer o pneu para o fim de semana e dizer que só pode fazer a corrida curta não me parece uma boa política de marketing. A Pirelli devia trazer apenas pneus que sirvam em qualquer corrida, ou dar a possibilidade de as equipas os usarem se assim o decidirem. Mas se é uma questão de segurança…”. Com pilotos e equipas a dizerem ser capazes de fazer toda a corrida com o ultra brando SC X, Jonathan sorriu. “Eles que tentem e mostrem isso mesmo!”

Já Garrett Gerloff, da GRT Yamaha, ironizava com a situação. “Eu preferia que todos tivessem de usar o mesmo pneu e está feita a escolha! Era mais fácil para a afinação da moto e ninguém se enganava (risos)”.

Já Scott Redding estava admirado por não poder utilizar os pneus com o composto ultra brando. “Não verificámos um desgaste alarmante no pneu traseiro, para te ser franco”.

Jonathan Rea mostra quem manda no AIA?

Jonathan Rea era o espelho da felicidade, pelo comportamento da moto e resultado do trabalho realizado pelos técnicos da Provec. Após tantas mudanças realizadas na ZX-10RR, o norte-irlandês começou por dizer que “nunca me senti tão bem em cima da moto como agora, desde o início do campeonato”. Jonathan executou uma série longa de voltas com os tempos a baixarem constantemente. “Normalmente, quando começas com um ritmo muito forte o pneu acaba por perder tração, especialmente nesta pista, em que aplicas muita energia no pneu traseiro ao longo da última curva, o que não aconteceu”.

O teste aqui realizado foi importante para perceber o comportamento do SC0 standard e da sua variante A0415 [composto brando], assim como das duas soluções novas para a frente da marca italiana.

A sua opinião sobre o AIA é sempre curiosa. “Esta pista é pouco convencional e coloca muitos desafios, pelo que o piloto pode ter ainda mais influência no tempo por volta, sobretudo na forma como posiciona e move o corpo. Acho que a minha experiência no motocrosse ajuda. Consigo compensar algumas coisas com a pilotagem, mas a moto tem de funcionar bem.”

A escolha de pneus está praticamente decidida. “O mesmo que em Jerez: A0415 na traseira e a nova opção na frente [SC1 A0721]. O SC0 é uma possibilidade, mas não gosto da carcaça que é muito flexível e mexe-se demasiado, o que não é bom para a última curva. A única dúvida que tenho é para a corrida curta, onde devo tentar o A0557 traseiro, possivelmente no ‘warm-up’. Em corridas disputadas com calor, quando escolho o ultra brando acabo por sofrer porque altera muito o equilíbrio da nossa moto. A Pirelli tem feito um bom trabalho ao permitir diferentes escolhas, mas isso também causa um problema porque podes errar na opção que tomas”.

Loris Baz, o melhor das Ducati

Loris Baz veio para Portimão com os “mesmos objetivos e espírito de Jerez [de la Frontera]”. Convidado pela Go Eleven para as duas últimas corridas disputadas na Península Ibérica, após a lesão contraída nas costas por Chaz Davies na Catalunha. O francês, que é piloto da Ducati Nova Iorque, está a reaprender o que é pilotar com pneus Pirelli, já que no MotoAmerica, o campeonato norte-americano, utiliza as borrachas da Dunlop.

Curiosamente, Baz revelou que “quando a pista está quente o pneu ‘mexe’ bastante. Não significa que não tenha aderência, mas a carcaça move-se muito. Isso faz com que eu corte gás, quando tenho de o manter e acreditar. A moto acaba por ondular mais do que acontece quando utilizo os Dunlop”.

Incrível é saber que da prova andaluza para os altos e baixos de Portimão, Baz apenas alterou o equilíbrio da moto. “Alterámos a altura da frente, que estava muito alta, e o habitual na eletrónica. Também mexemos na posição dos poisa-pés, pois nesta pista utilizas muito as pernas para carregar a frente”.  

Com tudo isto, o natural de Sallanches terminou o dia em quinto e como melhor piloto das Panigale V4R. “Só quero divertir-me e apontar a um lugar entre o oitavo e sexto posto”.

Garrett Gerloff recupera a moral

Desde o incidente de Assen, em que mandou ao chão o seu companheiro de marca e principal contendor ao título, Toprak Razgatlioglu, que Garrett Gerloff se afundou nos lugares da classificação. No AIA, o texano parece ter recuperado algum do brilho que cedo demonstrou ao atravessar o Atlântico para disputar o Mundial de Superbike. “Tem sido duro”, disse Garrett algo magoado. “Não acho que seja o piloto que se tem descrito por aí. E quero provar que posso pilotar sem causar os incidentes que aconteceram”.

Sobre o alegado ralhete da Yamaha com a ameça de que o piloto da GRT ficaria em apuros se algo semelhante voltasse a suceder. “Não foi bem assim. Nada me foi dito dessa maneira de forma explícita. Mas a mensagem passada acabou por ser que não deve acontecer de novo com qualquer piloto”, disse algo embaraçado.

Sobre a escolha dos pneu traseiro Garrett acha que a grelha se vai dividir, “porque os dois pneus disponíveis são muito semelhantes, e se achas que consegues ganhar uma décima, ou mais de segundo por volta com uma determinada opção, isso pode gerar uma diferença mais notória no final da corrida”.

Alex Lowes corre, não corre?

“A nossa moto dá-se muito bem com esta pista, onde é muito estável e divertida de pilotar”, dizia Alex Lowes, que conseguiu o segundo posto, mesmo a ter de passar pela clínica móvel para ver o estado do seu pulso direito magoado em Montmeló. “Ainda não sei se vou conseguir alinhar em todas as corridas do fim-semana”, à imagem do que sucedeu em Jerez, em que falhou a segunda corrida longa, ambas disputadas no Domingo. “Quando rolas sózinho em pista podes fazer o que quiseres, sair mais largo, fazer as tuas trajetórias e andar ao ritmo que quiseres. Mas quando tens outros pilotos à tua volta tens de ter a certeza de controlar tudo a 100%. Se não estás em condições, não corres! Em Jerez fiquei com a mão toda inchada depois dos 40 minutos de uma corrida muito intensa, que não consegui recuperar em apenas hora e meia para a segunda corrida. Não teria sido correto para os outros se tivesse alinhado à partida. Aqui vou ter de verificar o meu estado, sessão após sessão”.

Com o braço engessado até quinta feira, o britânico acabou por falhar o programa de golfe que tinha planeado com o norte-americano Jason Pridmore (lembram-se dele na BMW S1000RR do Team Penz no Mundial de Resistência), que veio até ao Algarve para assistir à corrida do ’22’ da Kawasaki.

Leon Haslam regressa ao BSB?

Leon Haslam surpreendeu pela rapidez demonstrada com a CBR1000RR-R Fireblade SP oficial. “A rapidez evidenciada nos treinos e nos testes não se materializa na corrida, onde somos inconsistentes e chegamos a rolar dois segundos mais lentos”, confidenciou o britânico. “A nova afinação que experimentámos hoje é muito mais estável e não esperava chegar tão alto em termos de rapidez”.  Leon foi um pouco mais especifico. “O chassis é estável mas estamos a tentar perceber como manter a eletrónica mais estável. O nosso ‘set-up’ anterior poderia ser muito bom para fazer uma volta rápida, mas não era muito consistente durante a corrida. Por isso, trabalhámos para a afinação estável em corrida e, talvez pelas características da pista, o tempo acabou por sair”, confirmou o filho de ‘Rocket’ Ron, que destruiu uma Fireblade na sessão da manhã. “Com tantas mudanças que temos efetuado em áreas e componentes importantes, a estabilidade do pacote tem sido tudo menos estável. Numa sessão com tempo frio posso ser segundo ou terceiro, a poucas décimas do Jonathan [Rea], mas logo a temperatura sobe 15 graus e parece que estou noutra moto. E aqui assumo parte da culpa por ter puxado na direção de alta prestação, que acaba por se demonstrar menos estável na corrida. Por isso estamos a tentar esquecer o tempo por volta, em detrimento de maior consistência”.

E o futuro? “Não há nada de concreto. É corrida a corrida. Se não ficar no Mundial com a Honda o mais certo é regressar ao BSB [o campeonato britânico de Superbike]. Não falei com ninguém propositadamente, mas para a semana terei de começar a olhar pelo meu futuro. Tenho uma boa relação com a Honda, que tenho no coração, mas também com a Kawasaki, por quem já corri. Acho que sou respeitado pela minha experiência, resistência e capacidades de desenvolvimento. Vamos ver o que nos trás o futuro, não descartando qualquer hipótese”.

Scott Redding liga Jerez a Portimão… de bicicleta

Scott Redding ‘entreteu-se’ a experimentar diferentes mapas de motor e a conhecer a pista com o novo asfalto. “O vento era problemático e nas zonas mais altas da pista passei por dois calafrios”, revelou o piloto da Aruba.it Ducati. “A pista tem agora apenas um par de ressaltos e muito mais aderência”. Mas a história em torno do britânico foi a sua vinda de Jerez de la Frontera até Portimão de bicicleta, num percurso de 360 quilómetros. “E aqui estou!”, dando umas palmadas nas coxas. “Gostei e espero voltar a repetir com um grupo maior se se repetir esta sequência Jerez e Portimão, em memória do Den Berta Viñales”, confessou. Scott foi acompanhado pelo fotógrafo da equipa, Matteo Cavadini, em etapas de 12 horas. “É a minha forma de lidar com a tensão e limpar a cabeça”.

E aqui chega a história da tosta mista gigante. “Parei num sítio, já em Portugal, e pedi uma tosta mista grande e apareceu com uma tosta mista de meio metro! Gosto muito da comida portuguesa. Não deu para fazer tudo pela costa, pois tens o parque natural [Doñana] que nos obrigou a ir para Sevilha e adicionar 60 quilómetros ao percurso. Utilizei a aplicação ‘Commute’ e só nos enganámos uma vez, o que é impressionante. Comemos bem, à beira-mar, na segunda à noite e depois de ter chegado, fui no dia seguinte logo para a praia onde estive deitado o dia todo e só me levantei para comer. De bicicleta ou moto vês muitas coisas que jamais serias capaz de ver de dentro de um carro”.

Toprak congestionado

Toprak Razgatlioglu foi um dos pilotos que também foi à clínica móvel, continuando com a voz anasalada que já demonstrava em Jerez de la Frontera. “Não me afeta muito, mas sinto-me com menos força”, revelou o líder do mundial, ainda assim capaz de realizar 18 voltas consecutivas com bons tempos. O PCR realizado na Andaluzia revelou resultado negativo.

Quanto ao pneu traseiro, “o SC 0 está a funcionar bem. O Garrett experimentou o A0557 e os resultados foram muito idênticos. Este tem mais tração quando levantas a moto, mas nesta pista, com curvas muito longas e rápidas, não tiras tanta vantagem e o novo asfalto dá-te mais aderência, o que acaba por beneficiar o SC 0 [de composto mais duro]. Na corrida vai ser preciso preservar o pneu traseiro e ver como está de aderência depois de 10 voltas. Amanhã vamos experimentar outra afinação que me permita girar a moto mais facilmente”.

Tuga power

No maior contingente de sempre a participar na Supersport 300, Tomás Alonso, na Ninja 400 da Quaresma Racing, foi o melhor dos ‘wild card’ lusos, em 37º e a três segundos do mais rápido, o regressado Tom Booth-Amos. Dinis Borges, outro ‘wild card’ com a Ninja 400 da Speed Master, foi 39º, enquanto o residente Santiago Duarte fechou a tabela de 42 pilotos a mais de cinco segundos do líder.

De Benelli TRK 502 em Portimão

Viajámos até Portimão numa Benelli TRK 502, equipada com o conjunto de malas Shad Terra, que nos permitiu trazer muita bagagem desde Vila Nova de Gaia até à solarenga província algarvia. Obrigado ao Hugo Santos e à Multimoto por aceitarem o desafio!

Com um cruzeiro interessante e boa ergonomia, a TRK 502 tem ainda pela frente outra missão que mais tarde vos darei conta. Para já, são cem quilómetros diários entre Montechoro e a pista da Mexilhoeira Grande que temos diariamente pela A22. Com um consumo médio de 5,5 l/km, a autonomia atinge confortavelmente os 250 quilómetros com um depósito, mas já conseguimos superar a marca dos 300, com a italiana fabricada na China, a concitar olhares de curiosidade por onde passa e justificam o sucesso de vendas que tem alcançado em Portugal.

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