Mundial de Superbike, frescas e boas de Portimão

Outubro 2, 2021

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  • Texto: Fernando Pedrinho
  • Fotos: WorldSBK, Alex Photo – Matteo Lepri

Considerada a ronda mais decisiva do Mundial de Superbike, a ‘montanha russa’ do AIA pode ditar seriamente qual será o próximo campeão mundial da categoria, seja de pilotos ou de construtores. Jonathan Rea joga praticamente em ‘casa’, numa pista onde ele e as vitórias andam de mãos dadas. O norte-irlandês poderá contar ainda com a ajuda do seu companheiro de equipa, Alex Lowes, muito rápido mas também a contas com uma lesão num dos pulsos. Já Toprak Razgatlioglu ainda padece do congestionamento que evidenciou em Jerez de la Frontera e que lhe tira alguma energia.

E como se tudo não bastasse, parece que a chuva pode marcar presença por terras algarvias logo na madrugada de Domingo.

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Pirelli ‘raciona’ o pneu traseiro mais brando

É uma das decisões do fabricante italiano que causou algum sururu no ‘paddock’. Considerada a pista mais exigente para os pneus, a seguir a Phillip Island, a combinação do traçado do AIA (e as suas curvas longas) e a nova superfície mais abrasiva (que hoje marcou 47º Celsius) levam a que a casa de Milão impeça que o pneu ultra brando traseiro SC X possa ser usado por mais de 13 voltas, conforme me dizia Flavia Maffeis, diretora de comunicação do único fornecedor de borrachas para as três categorias que integram o mundial. “No ano passado vimos que alguns pneus desenvolveram bolhas, pelo que resolvemos não arriscar, à imagem do que já havia sucedido em Phillip Island, por isso os pneus que utilizem o composto ultra brando SC X, só poderão ser utilizados na corrida da ‘super pole’”, confirmou Flavia.

Nem mesmo que as temperaturas desçam, como se espera para sábado e domingo, onde poderá mesmo chover, o traseiro SC X – e seus derivados como o A0557 – serão utilizados. Alguns pilotos protestaram contra esta decisão e insistiram, contudo, em utilizar o A0557 nas corridas longas. “Sinceramente, não entendo a lógica desta decisão”, dizia-me Jonathan Rea. Trazer o pneu para o fim de semana e dizer que só pode fazer a corrida curta não me parece uma boa política de marketing. A Pirelli devia trazer apenas pneus que sirvam em qualquer corrida, ou dar a possibilidade de as equipas os usarem se assim o decidirem. Mas se é uma questão de segurança…”. Com pilotos e equipas a dizerem ser capazes de fazer toda a corrida com o ultra brando SC X, Jonathan sorriu. “Eles que tentem e mostrem isso mesmo!”

Já Garrett Gerloff, da GRT Yamaha, ironizava com a situação. “Eu preferia que todos tivessem de usar o mesmo pneu e está feita a escolha! Era mais fácil para a afinação da moto e ninguém se enganava (risos)”.

Já Scott Redding estava admirado por não poder utilizar os pneus com o composto ultra brando. “Não verificámos um desgaste alarmante no pneu traseiro, para te ser franco”.

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Jonathan Rea mostra quem manda no AIA?

Jonathan Rea era o espelho da felicidade, pelo comportamento da moto e resultado do trabalho realizado pelos técnicos da Provec. Após tantas mudanças realizadas na ZX-10RR, o norte-irlandês começou por dizer que “nunca me senti tão bem em cima da moto como agora, desde o início do campeonato”. Jonathan executou uma série longa de voltas com os tempos a baixarem constantemente. “Normalmente, quando começas com um ritmo muito forte o pneu acaba por perder tração, especialmente nesta pista, em que aplicas muita energia no pneu traseiro ao longo da última curva, o que não aconteceu”.

O teste aqui realizado foi importante para perceber o comportamento do SC0 standard e da sua variante A0415 [composto brando], assim como das duas soluções novas para a frente da marca italiana.

A sua opinião sobre o AIA é sempre curiosa. “Esta pista é pouco convencional e coloca muitos desafios, pelo que o piloto pode ter ainda mais influência no tempo por volta, sobretudo na forma como posiciona e move o corpo. Acho que a minha experiência no motocrosse ajuda. Consigo compensar algumas coisas com a pilotagem, mas a moto tem de funcionar bem.”

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A escolha de pneus está praticamente decidida. “O mesmo que em Jerez: A0415 na traseira e a nova opção na frente [SC1 A0721]. O SC0 é uma possibilidade, mas não gosto da carcaça que é muito flexível e mexe-se demasiado, o que não é bom para a última curva. A única dúvida que tenho é para a corrida curta, onde devo tentar o A0557 traseiro, possivelmente no ‘warm-up’. Em corridas disputadas com calor, quando escolho o ultra brando acabo por sofrer porque altera muito o equilíbrio da nossa moto. A Pirelli tem feito um bom trabalho ao permitir diferentes escolhas, mas isso também causa um problema porque podes errar na opção que tomas”.

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Loris Baz, o melhor das Ducati

Loris Baz veio para Portimão com os “mesmos objetivos e espírito de Jerez [de la Frontera]”. Convidado pela Go Eleven para as duas últimas corridas disputadas na Península Ibérica, após a lesão contraída nas costas por Chaz Davies na Catalunha. O francês, que é piloto da Ducati Nova Iorque, está a reaprender o que é pilotar com pneus Pirelli, já que no MotoAmerica, o campeonato norte-americano, utiliza as borrachas da Dunlop.

Curiosamente, Baz revelou que “quando a pista está quente o pneu ‘mexe’ bastante. Não significa que não tenha aderência, mas a carcaça move-se muito. Isso faz com que eu corte gás, quando tenho de o manter e acreditar. A moto acaba por ondular mais do que acontece quando utilizo os Dunlop”.

Incrível é saber que da prova andaluza para os altos e baixos de Portimão, Baz apenas alterou o equilíbrio da moto. “Alterámos a altura da frente, que estava muito alta, e o habitual na eletrónica. Também mexemos na posição dos poisa-pés, pois nesta pista utilizas muito as pernas para carregar a frente”.  

Com tudo isto, o natural de Sallanches terminou o dia em quinto e como melhor piloto das Panigale V4R. “Só quero divertir-me e apontar a um lugar entre o oitavo e sexto posto”.

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Garrett Gerloff recupera a moral

Desde o incidente de Assen, em que mandou ao chão o seu companheiro de marca e principal contendor ao título, Toprak Razgatlioglu, que Garrett Gerloff se afundou nos lugares da classificação. No AIA, o texano parece ter recuperado algum do brilho que cedo demonstrou ao atravessar o Atlântico para disputar o Mundial de Superbike. “Tem sido duro”, disse Garrett algo magoado. “Não acho que seja o piloto que se tem descrito por aí. E quero provar que posso pilotar sem causar os incidentes que aconteceram”.

Sobre o alegado ralhete da Yamaha com a ameça de que o piloto da GRT ficaria em apuros se algo semelhante voltasse a suceder. “Não foi bem assim. Nada me foi dito dessa maneira de forma explícita. Mas a mensagem passada acabou por ser que não deve acontecer de novo com qualquer piloto”, disse algo embaraçado.

Sobre a escolha dos pneu traseiro Garrett acha que a grelha se vai dividir, “porque os dois pneus disponíveis são muito semelhantes, e se achas que consegues ganhar uma décima, ou mais de segundo por volta com uma determinada opção, isso pode gerar uma diferença mais notória no final da corrida”.

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Alex Lowes corre, não corre?

“A nossa moto dá-se muito bem com esta pista, onde é muito estável e divertida de pilotar”, dizia Alex Lowes, que conseguiu o segundo posto, mesmo a ter de passar pela clínica móvel para ver o estado do seu pulso direito magoado em Montmeló. “Ainda não sei se vou conseguir alinhar em todas as corridas do fim-semana”, à imagem do que sucedeu em Jerez, em que falhou a segunda corrida longa, ambas disputadas no Domingo. “Quando rolas sózinho em pista podes fazer o que quiseres, sair mais largo, fazer as tuas trajetórias e andar ao ritmo que quiseres. Mas quando tens outros pilotos à tua volta tens de ter a certeza de controlar tudo a 100%. Se não estás em condições, não corres! Em Jerez fiquei com a mão toda inchada depois dos 40 minutos de uma corrida muito intensa, que não consegui recuperar em apenas hora e meia para a segunda corrida. Não teria sido correto para os outros se tivesse alinhado à partida. Aqui vou ter de verificar o meu estado, sessão após sessão”.

Com o braço engessado até quinta feira, o britânico acabou por falhar o programa de golfe que tinha planeado com o norte-americano Jason Pridmore (lembram-se dele na BMW S1000RR do Team Penz no Mundial de Resistência), que veio até ao Algarve para assistir à corrida do ’22’ da Kawasaki.

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Leon Haslam regressa ao BSB?

Leon Haslam surpreendeu pela rapidez demonstrada com a CBR1000RR-R Fireblade SP oficial. “A rapidez evidenciada nos treinos e nos testes não se materializa na corrida, onde somos inconsistentes e chegamos a rolar dois segundos mais lentos”, confidenciou o britânico. “A nova afinação que experimentámos hoje é muito mais estável e não esperava chegar tão alto em termos de rapidez”.  Leon foi um pouco mais especifico. “O chassis é estável mas estamos a tentar perceber como manter a eletrónica mais estável. O nosso ‘set-up’ anterior poderia ser muito bom para fazer uma volta rápida, mas não era muito consistente durante a corrida. Por isso, trabalhámos para a afinação estável em corrida e, talvez pelas características da pista, o tempo acabou por sair”, confirmou o filho de ‘Rocket’ Ron, que destruiu uma Fireblade na sessão da manhã. “Com tantas mudanças que temos efetuado em áreas e componentes importantes, a estabilidade do pacote tem sido tudo menos estável. Numa sessão com tempo frio posso ser segundo ou terceiro, a poucas décimas do Jonathan [Rea], mas logo a temperatura sobe 15 graus e parece que estou noutra moto. E aqui assumo parte da culpa por ter puxado na direção de alta prestação, que acaba por se demonstrar menos estável na corrida. Por isso estamos a tentar esquecer o tempo por volta, em detrimento de maior consistência”.

E o futuro? “Não há nada de concreto. É corrida a corrida. Se não ficar no Mundial com a Honda o mais certo é regressar ao BSB [o campeonato britânico de Superbike]. Não falei com ninguém propositadamente, mas para a semana terei de começar a olhar pelo meu futuro. Tenho uma boa relação com a Honda, que tenho no coração, mas também com a Kawasaki, por quem já corri. Acho que sou respeitado pela minha experiência, resistência e capacidades de desenvolvimento. Vamos ver o que nos trás o futuro, não descartando qualquer hipótese”.

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Scott Redding liga Jerez a Portimão… de bicicleta

Scott Redding ‘entreteu-se’ a experimentar diferentes mapas de motor e a conhecer a pista com o novo asfalto. “O vento era problemático e nas zonas mais altas da pista passei por dois calafrios”, revelou o piloto da Aruba.it Ducati. “A pista tem agora apenas um par de ressaltos e muito mais aderência”. Mas a história em torno do britânico foi a sua vinda de Jerez de la Frontera até Portimão de bicicleta, num percurso de 360 quilómetros. “E aqui estou!”, dando umas palmadas nas coxas. “Gostei e espero voltar a repetir com um grupo maior se se repetir esta sequência Jerez e Portimão, em memória do Den Berta Viñales”, confessou. Scott foi acompanhado pelo fotógrafo da equipa, Matteo Cavadini, em etapas de 12 horas. “É a minha forma de lidar com a tensão e limpar a cabeça”.

E aqui chega a história da tosta mista gigante. “Parei num sítio, já em Portugal, e pedi uma tosta mista grande e apareceu com uma tosta mista de meio metro! Gosto muito da comida portuguesa. Não deu para fazer tudo pela costa, pois tens o parque natural [Doñana] que nos obrigou a ir para Sevilha e adicionar 60 quilómetros ao percurso. Utilizei a aplicação ‘Commute’ e só nos enganámos uma vez, o que é impressionante. Comemos bem, à beira-mar, na segunda à noite e depois de ter chegado, fui no dia seguinte logo para a praia onde estive deitado o dia todo e só me levantei para comer. De bicicleta ou moto vês muitas coisas que jamais serias capaz de ver de dentro de um carro”.

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Toprak congestionado

Toprak Razgatlioglu foi um dos pilotos que também foi à clínica móvel, continuando com a voz anasalada que já demonstrava em Jerez de la Frontera. “Não me afeta muito, mas sinto-me com menos força”, revelou o líder do mundial, ainda assim capaz de realizar 18 voltas consecutivas com bons tempos. O PCR realizado na Andaluzia revelou resultado negativo.

Quanto ao pneu traseiro, “o SC 0 está a funcionar bem. O Garrett experimentou o A0557 e os resultados foram muito idênticos. Este tem mais tração quando levantas a moto, mas nesta pista, com curvas muito longas e rápidas, não tiras tanta vantagem e o novo asfalto dá-te mais aderência, o que acaba por beneficiar o SC 0 [de composto mais duro]. Na corrida vai ser preciso preservar o pneu traseiro e ver como está de aderência depois de 10 voltas. Amanhã vamos experimentar outra afinação que me permita girar a moto mais facilmente”.

Tuga power

No maior contingente de sempre a participar na Supersport 300, Tomás Alonso, na Ninja 400 da Quaresma Racing, foi o melhor dos ‘wild card’ lusos, em 37º e a três segundos do mais rápido, o regressado Tom Booth-Amos. Dinis Borges, outro ‘wild card’ com a Ninja 400 da Speed Master, foi 39º, enquanto o residente Santiago Duarte fechou a tabela de 42 pilotos a mais de cinco segundos do líder.

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De Benelli TRK 502 em Portimão

Viajámos até Portimão numa Benelli TRK 502, equipada com o conjunto de malas Shad Terra, que nos permitiu trazer muita bagagem desde Vila Nova de Gaia até à solarenga província algarvia. Obrigado ao Hugo Santos e à Multimoto por aceitarem o desafio!

Com um cruzeiro interessante e boa ergonomia, a TRK 502 tem ainda pela frente outra missão que mais tarde vos darei conta. Para já, são cem quilómetros diários entre Montechoro e a pista da Mexilhoeira Grande que temos diariamente pela A22. Com um consumo médio de 5,5 l/km, a autonomia atinge confortavelmente os 250 quilómetros com um depósito, mas já conseguimos superar a marca dos 300, com a italiana fabricada na China, a concitar olhares de curiosidade por onde passa e justificam o sucesso de vendas que tem alcançado em Portugal.

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