O salão era essencialmente dedicado aos carros, com uma designação que não deixava margem para dúvidas: AutoClássico. Mas as motos aportaram, como sempre acontece, um brilho muito especial a um fim de semana apaixonante e deveras concorrido nos pavilhões da Exponor.
- Texto e fotos: Paulo Ribeiro
E nem todas eram propriamente senhoras de vetusta idade ou sequer damas de encantos balzaquianos. Algumas eram mesmo jovenzinhas, curtas de idade, mas com charme capaz de medir meças a muitas veteranas famosas.
Um regresso aos pavilhões da Exponor, em Leça da Palmeira, Matosinhos, daquele que é o maior evento ibérico de veículos clássicos, reforçando posição de referência entre os certames do sector no sul da Europa. Foram mais de 250 os expositores, ocupando área superior aos 20 mil metros quadrados, atraindo muitos milhares de visitantes ao XVIII Salão Internacional de Automóvel e Motociclo Clássico e de Época.
Mas, afinal, o que leva tanta gente a percorrer centenas de quilómetros – muitos foram os espanhóis que se deslocaram à Feira Internacional do Porto… – para ver motos ultrapassadas pela voragem do tempo, de estética perfeitamente desatualizada e mecânicas obsoletas, com padrões de segurança risíveis nos dias que correm e um grau de conforto abaixo da maioria das pequenas scooters da atualidade?
Sonhos de outros tempos
São várias as motivações. Do saudosismo daquela moto que roubava o sono e alimentava os sonhos nos tempos de liceu à paixão assolapada criada nas imagens das corridas de décadas idas, quando as revistas ainda eram a preto e branco. Das Casal Boss ou Famel Zundapp às DT, RD, RG ou MB-5, passando por outras siglas que despertam as borboletas nos estômagos de quem viveu na segunda metade do século passado.
Os mais antigos veneram as CB da Honda, as GT da Suzuki, as Z da Kawasaki ou as RD da Yamaha. E outros, europeístas convictos ainda antes do nascimento da união, recordam com desmesurada paixão as Triumph Bonneville ou Tiger, as BSA Thunderbolt ou Super Rocket, as AJS Model 18 ou 7R Boy Racer , Matchless G80, Norton Commando e tantas outras. Sem esquecer os motores boxer das germânicas BMW ou as italianas MV Agusta, Laverda, Mondial, Moto Morini, Garelli, Moto Guzzi, Benelli ou Vespa.
Nomes que despertam memórias e histórias, aventuras e paixões capazes de fazer passar horas a fio a recuperar um carburador ou a trazer à superfície todo o brilho dos cromados. Símbolos cujas histórias são ponto de partida para agradáveis conversas sem fim, discutindo a espessura de cada segmento dos pistões ou o tipo de óleo mais adequado. Sem falar dos pneus que, da época, poucos há!
Mesmo quando encontradas num palheiro, votadas ao abandono por várias de gerações, acabam por revelar-se mais dispendiosas que qualquer modelo acabadinho de sair do stand. Mas é isso mesmo que acalenta a paixão de quem não perde um salão de clássicos. No Porto, em Lisboa, em Aveiro ou em Leiria! De quem sabe de cor as referências das peças da(s) sua(s) moto(s), de quem vê muito além da ferrugem superficial.
Negócios de paixão
Motos antigas, clássicas, históricas ou raras que, uma vez mais, ‘encheram o olho’ dos apaixonados das duas rodas e despertaram a curiosidade dos outros. Como a bem recente Ducati Desmosedici RR de 2008, em estado impecável, que poderia ir para a garagem lá de casa a troco de 100 mil euros. Isso mesmo, mil notas de 100 euros, o que não deixa de ser um bom negócio para quem quiser umas das 1500 unidades que foram fabricadas da única verdadeira Race Replica de MotoGP.
Mesmo ao lado, outras divas italianas, de estilo diferente, é certo, mas, ainda assim, encantadoras. Da raríssima versão completamente carenada da Ducati Paul Smart 1000 LE, fabricada em 2006 para celebrar o triunfo do piloto britânico nas 200 milhas de Imola em 1972, à 1098S Tricolore de 2007.
Máquinas muito recentes comparativamente à muito bem restaurada Norton ES2, como motor monocilíndrico de 500 cc, fabricado nos anos 30 do século passado. E até mesmo ao lado da muito mais moderna Lambretta Serveta Puma 5V, de 1974, uma moto de ‘off-road’, ou melhor uma espécie de ‘scrambler’, fruto da associação entre o célebre fabricante de scooters e a marca que, entre 1954 e 1989, esteve sedeada na pequena cidade basca de Eibar.
Exclusividade de todas as cores
Mas muitas outras máquinas interessantes estiveram em exposição na Exponor, para venda ou, simplesmente, para deleite dos visitantes. Como a bela edição Williams F1 Team da scooter BMW C1 200 (à venda por 8500 euros) ou desportivas de 125 cc que fizeram furor em Portugal: Aprilia AF1 Sintesi, Gilera SP01 e a Cagiva Mito.
Bimota YB5, BMW R75/5, R100 RS e K1, Yamaha DT50 MX, Honda VFR 400RR (NC30) e CB1200, Suzuki GT750, Yamaha RZ 250R ou as crossistas Yamaha YZ465, Suzuki RM125, Kawasaki KX125 ou Suzuki PE 250 foram outras das muitas propostas presentes.