Michael van den Mark caminha com dificuldade. Coxeia e aparenta rigidez de movimentos. Mas o sorriso e humor continuam os mesmos. Bem como a determinação de andar rápido e vencer. O neerlandês não esconde que tem sido duro, muito duro e que chegou mesmo a ponderar pendurar o fato e capacete.

- Texto: Fernando Pedrinho
- Fotos: Victor Barross, WorldSBK
“A recuperação tem sido dura”, largou durante um longo suspiro e cair de ombros. A fratura do fémur, durante a passagem ‘caseira’ por Assen, veio na sequência de outra na tíbia, durante a pré época. “São dois anos consecutivos nisto… Estou a 99% da forma física ideal. A perna é ainda um problema. Não dói mas interfere nas mudanças de direção da moto. O meu problema é o ritmo. Preciso de ter mais tempo em cima da moto”.
As sessões de fisioterapia são ainda uma constante do quotidiano de Michael van den Mark. “Esta semana estive muito motivado, mas acho que exagerei no treino e já estou arrependido porque estou muito rígido. Normalmente, isso não colocaria qualquer problema, mas quando deixas de utilizar uma perna por algum tempo a potência muscular não reaparece tão rápido quanto desejarias”.
Treinar sem olhar para o espelho
Michael não treinou em frente a um espelho, para ‘calibrar’ a forma de andar, escolhendo antes a bicicleta. “Só pedalava com uma perna, a direita. Mesmo lesionada, é a perna que utilizo mais. Todos os exercícios que efetuei foi para voltar a utilizar a perna lesionada. É engraçado perceber como funciona o cérebro e quão difícil é repor a normalidade”.

Nesta ronda de Portimão o que muda em relação ao ano passado? “Em 2021 estava chover e ganhei a Superpole Race no AIA. E nessa altura consegui correr maratonas (risos). Mais a sério, sou o mesmo Michael de sempre. Continuo a querer ganhar mas estou mais calmo, pois não tinha outra opção. Contudo, se a oportunidade surgir vais ver o ‘velho’ Michael”.
A reunião com o antigo companheiro de equipa, Toprak Razgatioglu, para a época de 2024 não podia passar ao lado desta conversa. “Vamos ter o piloto mais talentoso na grelha em cima da nossa moto”, disparou o natural da terra do queijo bola, Gouda. “Isso dá-me uma motivação adicional. A BMW vai ‘puxar’ muito nas sessões de teste de pré-temporada e tudo isso dá-me muita confiança. Pessoalmente, vou querer andar na moto o mais que puder”.

Abandono fez parte da equação
Perante tanto infortúnio e episódios demolidores para a confiança do mais coriáceo, Michael van der Mark chegou a considerar todas as possibilidades quanto ao futuro da sua carreira de piloto. “Acho que quem tiver passado por uma situação semelhante à minha e diga que não ponderou abandonar a competição não é uma pessoa honesta”, disse com um ar sério. “Houve momentos de fraqueza, não vou negar, mas depois pensava: o que é que vou fazer a seguir? Pensar que tinha de ir trabalhar todos os dias de manhã e voltar ao fim do dia… não, prefiro continuar a competir!”.
