Aproveitando uma oportunidade única, MotoX.pt entrevistou, em exclusivo, o vice-presidente da CFMOTO Europe. Markus Ferch revelou algumas linhas-mestras da evolução da marca chinesa e deu garantias importantes. Como a de que a CFMOTO será reconhecida pela fiabilidade, qualidade de acabamentos e design”.
- Entrevista: Alberto Pires
- Fotos: CFMOTO
A presença de Markus Ferch no lançamento internacional das CFMOTO CFORCE 450 e CFORCE 525L ofereceu uma excelente oportunidade para ter uma perceção mais abrangente do momento da marca no panorama mundial.
MotoX – Olhando para a atual gama, o que procuraram melhorar quando se debruçaram sobre os 450S/450L/520L ?
Markus Ferch – Seguramente que vão aperceber-se de tudo o que foi feito. Foram muitas as modificações a vários níveis, e ao olharmos para o conjunto podemos considerar que criámos modelos novos. Melhorámos dramaticamente o raio de viragem, que consideramos agora que era demasiado aberto. Preocupámo-nos também com as vibrações, ruído de funcionamento e a temperatura no seu redor, já que o motor produz muito calor. E depois uma infinidade de detalhes que, em conjunto, fazem toda a diferença. Como, por exemplo, a entrada de ar para o motor, ou a ergonomia na sua utilização, fundamentais para o resultado final na sua utilização.
MotoX – Estas melhorias foram baseadas nas apreciações da imprensa, na recolha de informações dos seus utilizadores ou provenientes do departamento de R&D ?
Markus Ferch – Resultou da combinação de todo esse conhecimento. Seguramente que escutamos com atenção o que dizem os nossos clientes. E contamos também com a opinião dos excelentes representantes que temos no mercado, que são profundos conhecedores deste sector. São extremamente exigentes, conhecem os modelos ao mais ínfimo pormenor e não hesitam em enviar-nos relatórios, fundamentais para o nosso processo de desenvolvimento e melhoria.
Crescer (também) nos lugares
MotoX – Relativamente ao gama atual da CFMOTO, porque é que não disponibilizam o U600 com 3 lugares?
Markus Ferch – É uma boa questão porque é útil nesse segmento ter esse terceiro lugar. Ainda não pensámos nisso, mas nunca é tarde para o fazer. No próxima geração essa característica será seguramente levada em consideração.
MotoX – Relativamente à gama desportiva, para quando a inclusão de versões com 4 lugares, já que, pelo menos em Portugal e no mercado de aluguer, seriam seguramente bem recebidos?
Markus Ferch – Curiosamente é grande a procura dessa opção nos EUA. Na Europa não sentimos que haja essa procura, e há também dificuldades em contornar aspetos legais da sua homologação. O peso é diferente e por isso podemos não conseguir incluí-lo nas classes existentes. Estamos a trabalhar nisso mas não consigo dar-lhe uma data para a sua disponibilidade. Para fazer ‘off-road’ não seria difícil, já para a conseguir a homologação… muda tudo.
MotoX – Para quando modelos desportivos com 200 cv ?
Markus Ferch – Tudo tem o seu tempo, mas estamos a trabalhar nisso. Brevemente poderemos apresentar uma versão de alta performance do Z 1000 Sport R, mas não lhe posso revelar para já muito mais.
MotoX – Referiu, durante a apresentação, a chegada dos modelos elétricos. Quando é que vão ser desvendados e comercializados?
Markus Ferch – Vamos apresentar no final deste ano os modelos mais pequenos, para os utilizadores mais novos, e dentro de 3 anos teremos versões elétricas dos modelos existentes. Acreditamos que é necessário ter esses modelos no catálogo. Há muitos utilizadores que não percorrem muitos quilómetros por dia, e depois porque, politicamente, há a vontade de investir e criar as condições para o crescimento da mobilidade elétrica. Nós vamos seguir essa orientação.
Seguir o exemplo europeu no resto do Mundo
MotoX – Qual a importância do mercado europeu para a CFMOTO?
Markus Ferch – É um mercado vital para a CFMOTO porque é onde temos a posição mais dominante de todos. Somos a marca líder na Europa, e construímos o nosso sucesso neste mercado. No futuro o maior crescimento acontecerá noutros continentes. Nos EUA a nossa quota de mercado é inferior à que registamos na Europa, como tal tem um potencial de crescimento superior. Mas não queremos perder o que já conquistámos aqui. São 500 milhões de consumidores, é um mercado de importância estratégica para nós, mas é também um mercado mais difícil que os outros por causa das normas existentes.
MotoX – Estão a equacionar de alguma forma uma presença oficial no mercado europeu?
Markus Ferch – Estamos muito satisfeitos com a nossa estrutura de distribuição. No total são 18 aqueles que nos representam, e grande parte do nosso sucesso deve-se ao seu empenho. É também uma forma de partilhar o risco. Há também benefícios na gestão das questões legais de cada país. Neste momento contamos com distribuidores excelentes, muito profissionais, e não estamos a pensar em alterar esta situação.
MotoX – Disse na apresentação algo que me impressionou, que em 2/3 anos todo o catálogo seria diferente. Como é possível uma melhoria e expansão com essa dimensão?
Markus Ferch – Temos uma capacidade de produção realmente extraordinária, mas aprendemos, no passado, que essa capacidade não basta. Tem de ser acompanhada por um centro de investigação e desenvolvimento, um design de acordo e um adequado posicionamento no mercado. São muitos os fabricantes chineses que sabem como produzir, mas poucos sabem como construir uma marca. Nós estamos no grupo daqueles que o aprenderam a fazer. Já trabalhei com muitos grandes fabricantes, e é fascinante perceber a rapidez da dimensão registada pela CFMOTO. Algumas das parcerias estratégicas foram muito importantes para nós.
Podíamos ter comprado o nome de uma marca europeia…
MotoX – A mudança de fabricante para marca é uma mudança difícil ou realizável?
Markus Ferch – Acho que é uma mudança muito difícil. Quem tiver capacidade para produzir consegue fazê-lo. Vi muitos fabricantes produzirem para terceiros o que eles encomendavam, 5 contentores para um, 10 contentores para outro, mas isso nunca aconteceu com a CFMOTO. Esta marca está presente na bolsa de valores de Xangai mas pertence a uma família que sempre quis ser uma marca e não apenas um fabricante. Apesar de muitos aconselharem a escolher um nome diferente, ou a comprar um nome europeu, sempre defenderam que queriam usar o nome CFMOTO. E evoluir de fabricante para marca, tendo agora como objetivo ser uma marca Premium. É este o próximo passo!
MotoX – Testei a CFMOTO MT 650 há cerca de 3 anos. Gostei sinceramente da moto, mas não me impressionou, não fiquei a sonhar com ela! Olhando para o que a CFMOTO produz agora percebe-se melhor o caminho percorrido. O que podemos esperar para daqui a 3 anos?
Markus Ferch – Pode esperar muito porque, reconhecendo que não basta saber produzir. Estamos pela primeira vez a desenhar e a criar motos que serão devidamente apreciadas no mercado internacional, e não apenas no mercado doméstico. Temos projetos com o estúdio de design austríaco Kiska e recentemente com o estúdio italiano Modena 40, especialista no design de motos desportivas. Introduziremos assim, no futuro, o design europeu, que será seguramente apreciado por muitos mais mercados que não apenas o doméstico. As motos que vamos introduzir vão ser mais apelativas emocionalmente. Algo que é distinto relativamente ao mercado dos Moto4, onde a predominância vai para a sua funcionalidade. Seremos reconhecidos pela fiabilidade, qualidade de acabamento e design.