Com os treinos das equipas do Mundial de ‘Superbike’ a decorrerem com uma frequência nunca vista, é tempo de olharmos para alguns dos pormenores e novidades para o campeonato deste ano. Começamos com a vencedora das últimas seis edições consecutivas dos títulos de pilotos e construtores, a Kawasaki.
- Texto: Fernando Pedrinho
- Imagens: WorldSBK
Jonathan Rea conquistou ambos os títulos em 2015 e 2016, com a ZX-10R Ninja, ‘saltando’ para a versão de ‘duplo erre’ nos anos seguintes. Com a fórmula vencedora a acusar as dentadas de uma concorrência cada vez mais feroz e determinada a quebrar a invencibilidade verde, a casa de Akashi saiu com um modelo novo para 2021, que permita a Jonathan Rea e Alex Lowes fazer ponto de mira ao hepta-campeonato. Não será fácil, mas Rea voltou a ser dos mais rápidos nos diferentes testes realizados e tem acumulado muitas voltas de desenvolvimento e validação, não obstante algumas sessões encurtadas devido à inclemência meteorológica.
Uma evolução contida e algo discreta de uma fórmula vencedora que convém não mexer muito e aproveitar toda a experiência da Kawasaki, Provec e Pere Riba para alcançarem conjuntos muito equilibrados e capazes de andar bem em qualquer traçado.
A nova aerodinâmica dita um formato e linhas completamente diferentes na nova Ninja. Em lugar de optar pelas asas mais convencionais, a Kawasaki optou antes por integrar toda a funcionalidade aerodinâmica num bloco único, o que dá todo este ar mais vasto na frente da ZX-10RR de 2021. Os pilotos já confirmaram a eficácia das novas formas nas zonas mais rápidas ao reduzir a tendência para sair em cavalinho e ao plantar a dianteira nas curvas de maior velocidade, através da sustentação negativa gerada pela superfície aerodinâmica integrada na carenagem dianteira.
Os esforços de travagem são cada vez maiores, pelo que a moda da ‘MotoGP’ de tirar a perna de fora implica a necessidade de um bom apoio da perna contrária contra o reservatório de combustível. Os adesivos rugosos colados nas laterais do tanque, como já havíamos visto nas GSX-RR de MotoGP, marcam presença na campeã mundial.
Alex Lowes testou e acabou por adotar estas asas que surgem lateralmente na parte anterior mais elevada do reservatório de combustível da sua moto. O britânico revelou ao Moto X que esta solução o ajuda a levantar a moto e a deitá-la para a seguinte nos câmbios resultantes de curvas sucessivas em sentidos opostos.
Outro pormenor do pedido expresso de Alex Lowes ao seu chefe que equipa, Marcel Van Duinker, para o ajudar a virar a ZX-10RR Ninja.
A Provec estreou estas pequenas aletas nas laterais da traseira a Ninja no AIA de Portimão, em Março, após recomendação da Kawasaki na sequência das indicações obtidas nos testes em túnel de vento. É esperado um ligeiro ganho de velocidade máxima por conta de uma saída menos turbulenta do fluxo aerodinâmico, que gera força de arrasto que tende a travar a moto e que beneficiava os pilotos que a precediam através um maior efeito do cone de aspiração.
Vista lateral das bem integradas aletas na traseira da ZX-10RR Ninja. Tal como sucede na MotoGP, o aspeto aerodinâmico das motos está debaixo de olho dos engenheiros e muito do trabalho de desenvolvimento está a ser comprovado em banco de ensaio. Os ganhos desta solução são incomparavelmente mais baixos que os alcançados com o novo formato estreado na dianteira, mas com as vitórias e ‘poles’ a serem discutidas ao milésimo de segundo, todos os detalhes contam.
Novo braço oscilante resultado das diversas soluções ensaiadas nas diversas sessões de teste que começaram logo em Novembro passado, algumas delas que já existiam e voltaram a ser avaliadas. Lowes trabalhou muito nesta área para conseguir uma solução que lhe possibilite uma maior tração em curva e lhe permita conservar os pneus ao longo da corrida.
Rea já vinha a testar a nova pinça dianteira da Brembo desde Novembro, em Jerez de la Frontera, e acabou por adotá-la. Os seus verdadeiros benefícios ainda não se fizeram sentir, já que as alhetas colocadas na parte anterior da pinça visam proporcionar uma maior eficácia no arrefecimento do conjunto de travagem, sobretudo nos dias de muito calor como se fizeram sentir no ano passado – em pleno pico de Verão – nas pistas andaluza e algarvia. KA pinça é em tudo inspirada na solução adotada para a MotoGP no ano passado. Também a Showa trabalhou muito nos interiores das suas suspensões, visando manter a supremacia contra a concorrente sueca que equipa o restante plantel das marcas oficiais.
O motor também é novo e para além de uma entrega de potência diferente, garante 500 rpm extra no regime máximo, algo que Jonathan Rea já vinha a ‘reclamar’ face aos mísseis da Ducati e Honda.