Mal acabou a época de 2023 e nem 48 horas depois teve início a temporada de 2024 com os primeiros testes de preparação para a trigésima sexta reedição do mais importante campeonato mundial destinado a motos de produção.
Muitas cores e animação no Ángel Nieto, com vários pilotos a mudar de equipas, quedas e caras novas de permeio.
Entre elas, uma das mudanças mais badaladas foi a de Jonathan Rea da Kawasaki para a Yamaha, que passa a ser o terceiro construtor representado pelo piloto da Irlanda do Norte.
- Texto: Fernando Pedrinho
- Fotos: WorldSBK e Yamaha Racing

Rea surgiu muito bem disposto e apesar do acolhimento dedicado pela sua nova equipa, os sorrisos e abraços com os elementos da sua anterior formação foram um sinal de que a sua saída foi bem digerida por todos.
A principal novidade diz respeito ao seu diretor técnico, que é agora Andrew Pitt, que deixa assim idêntica função que desempenhada com Andrea Locatelli. Pitt é um australiano, tal como a mulher de Jonathan, que conhece bem o seis vezes campeão mundial. Por duas vezes campeão mundial de Supersport, Andrew conseguiu o segundo título, justamente na frente do seu companheiro de equipa, o recém-chegado Jonathan Rea. Uma natural ‘dobradinha’ das Honda CBR600RR com as cores da Hanspree, em 2008, numa época em que a Ten Kate Racing dominava a categoria sem contestação. De igual modo, o britânico volta a reencontrar o seu antigo engenheiro de dados, Davide Gentile e ‘levou’ consigo o seu antigo mecânico da Provec, Iuri Pallarés.





Senti-me em casa na R1
O primeiro dia de habituação à Yamaha saldou-se pelo quarto melhor tempo no final do dia, com uma queda pelo meio na curva 13, onde caiu tambem Álvaro Bautista. “Finalmente posso falar no assunto”, disse um sorridente Jonathan Rea vestido de azul. “Desde que assinei o contrato que estou super entusiasmado [com a ideia de pilotar a YZF-R1 oficial]. Mas de repente, esta manhã estava tão nervoso por perceber como iría sentir a moto, se conseguiria ser rápido e toda uma série de dúvidas que se dissiparam no final da primeira volta. Senti-me em casa com a R1 logo de mediato”.
A ergonomia foi um aspeto diferenciador para a ZX-10RR de tantos anos. “Na box, estranhei a posição de pilotagem face ao que estava habituado, mas assim que saí do ‘pit lane’ e cheguei à curva dois pareceu que estava em cima da minha moto de sempre”. Houve, contudo, dois pontos a melhorar. “A área por detrás da bolha de carenagem e o seletor de mudanças, para me sentir mais confortável”.

A Yamaha YZF-R1 esteve sempre conotada como a moto mais fácil de guiar, ou de entender se preferirem, da grelha do Mundial. “Há motos mais amigas do piloto que outras”, começou por dizer, “e para te ser franco, entrar no segundo do ritmo de corrida é fácil, de um modo geral. A parte mais dura é rodar mais rápido. O que gostei na Yamaha é o caráter do motor, que se adapta muito ao meu estilo de pilotagem, porque te dá aquela sensação de binário e empurrão. A entrega de potência é linear, o que me agrada muito. Os pilotos que correram com esta moto antes de mim, os pilotos de teste e a equipa de desenvolvimento criaram um pacote muito bom. Mas isto também porque, amíude, sou eu que ‘sigo’ a personalidade da moto”, referindo-se a uma maior adaptabilidade do piloto à moto em vez do contrário. “Como te tinha dito no sábado, quando o [Andrea] Locatelli me passou na corrida, esbocei um sorriso e disse para os meus botões: é isto que que quero, uma moto que se deixe pilotar sem esforço no final da corrida. Ao experimentar hoje a YZF-R1 consegui entender porque o Toprak [Razgatloglu] consegue pilotar daquela forma e porque a Yamaha tem potencial para ganhar corridas. Estamos no início e há que seguir o trabalho. Fiz, no máximo, 12 voltas lançadas e está tudo ainda muito cru”.

YZF-R1 feita para o estilo Toprak?
Mas terá a Yamaha caído na tentação de extremar a YZF-R1, nestes últimos quatro anos, ao ponto de servir apenas para a pilotagem do turco? “Não estou seguro disso! A configuração base da moto com que arranquei hoje é utilizada por muitos pilotos da Yamaha e nesta pista as afinações dos pilotos da marca são muito semelhantes. Como disse, apenas modiquei pontos da posição de pilotagem e confiei na base que a equipa achou ser a melhor para começar”.
Curiosamente, Rea teve uma pequena queda na última curva quando seguia atrás do quinquegenário Max Biaggi [sim, leram bem]. “Tentei passá-lo por fora e alarguei um pouco a trajetória, acabando por perder a frente numa zona mais húmida, mas vi que isso aconteceu a outros pilotos no mesmo sítio”.

A chuva miudinha que apareceu a meio do dia acabou por condicionar ainda mais uma pista cujas condições “estavam longe de perfeitas. Por isso, decidimos rolar apenas na parte da manhã”, concluiu.
E chuva é o que se espera para quarta feira, de modo algum esperada de forma negativa pelo novo recruta da casa dos três diapasões. “Vai ser benéfico rolar no molhado para perceber como reage a moto nessas condições”, confirmou, “e amanhã vamos aproveitar o dia todo”.




A vantagem das equipas Yamaha
Niccolò Canepa, campeão do mundo de resistência e treinador dos pilotos do Mundial de Superbike, revelou-se de particular importância para Jonathan Rea, “pois pudémos comparar a telemetria de outros pilotos, que é uma das vantagens da Yamaha, ao ter diversas equipas satélite muito bem apoiadas e com pilotos rápidos, como o Remy [Gardner] e o ‘Dómi’ [Aegerter], e deu para ver o que fizeram ao longo de todo o fim-de-semana passado. O desenvolvimento e os dados disponíveis são muito bons, o que permite fazer todo o tipo de comparações entres os pilotos”.

E a comparação com Toprak, faz sentido, dado o seu estilo mais radical? “Claro que sim, porque ele faz as coisas corretas e a analogia faz todo o sentido. Além disso, há que não esquecer que ele foi o piloto mais bem sucedido da Yamaha nos últimos anos. Já estabelecemos paralelismos e nalgumas áreas eu sou mais rápido, embora noutras tenha de melhorar. Nota que a equipa me disse que, em algumas corridas, os dados do Bradley Ray e do [Lorenzo] Baldassarri, por exemplo, mostravam que eles eram os mais rápidos [Jonathan referia-se a Imola]. Este é um ponto forte da Yamaha: a maneira como as equipas comunicam entre si. Não vai ser benéfico apenas para mim, mas para todos os pilotos da marca”.
