

Com a ronda de Donington a ter início já amanhã, Jonathan Rea e a Kawasaki partem na liderança do campeonato, a jogar em casa e numa pista que lhes é particularmente agradável em termos de desempenho e resultados. A candeia vai na frente ‘ilumina’ com vinte pontos de avanço sobre o desafiante Toprak Razgatlioglu, que tem vindo paulatinamente a reduzir a diferença cavada pelo norte-irlandês logo na ronda de abertura, em Aragão. Mas pelo que vimos em Misano, vai ser tudo menos fácil para o líder.
- Texto: Fernando Pedrinho
- Fotos: WorldSBK

Tive muita sorte, dizia Jonathan Rea depois de se ter livrado de uma monumental queda, ao melhor estilo Marc Márquez, deslizando interminavelmente sobre o deslizador do joelho direito, quando perdeu a frente da ZX-10RR Ninja, entre as curvas 1 e 2 do traçado de Misano.
No primeiro dia Rea exibiu a sua consistência habitual com dois pódios, atrás de Michel Ruben Rinaldi e Toprak Raglatioglu. Utilizei um novo pneu dianteiro cujo código não consigo precisar, que não gostei nos treinos de sexta-feira, por culpa do pneu traseiro, mas que voltei a utilizar na ‘superpole’ com bons resultados. O pneumático em questão era o Pirelli SC1 A0508 que é um dos novos dianteiros de desenvolvimento da marca italiana, sendo que as três variantes SC1 são os dianteiros mais macios disponíveis. Olhámos para os dados das dez primeiras voltas de corrida de sábado e parece que ‘fritei’ o pneu dianteiro quando seguia no cone de aspiração da moto do Michael [Ruben Rinaldi]. A frente começou a escorregar bastante, melhorando quando já tinha alguma distância para o Toprak.

O Michael esteve fantástico e acho que só era melhor que ele nas curvas rápidas, porque utilizei um par deles bem grande para me manter com ele lá na frente. Aprendi muito com o Rinaldi e o Toprak na corrida, com indicações para melhorar no Domingo. Atrás andei com o novo SCX A0557 (cujo composto é idêntico ao super macio SCX mas a carcaça é mais rígida, quando Rea costuma optar habitualmente pelo mais duro SC0) que achei muito bom e me permitiu fazer 1’35’’4 na última volta, o que constituiu o novo recorde da volta em quase um segundo. As primeiras voltas foram de muita agressividade. Senti que ninguém me queria deixar escapar na frente da corrida, mas o Michael esteve muito bem e deu-me uma boa boleia para escapar do Toprak e do Scott.
Toprak passou Rea que pensou ainda ser possível repassar o turco, mas ele estava a debater-se com os mesmos problemas que eu, sobretudo em parar nas curvas 4, e depois das duas direitas rápidas 9 e 10, mas ele não estava a cometer erros. Rea perdeu praticamente primeira sessão de sexta-feira, sem travão traseiro no FP1, por isso lutar pelo pódio foi para ele uma vitória. Não sabíamos se devíamos alterar muito a moto ou mantê-la como estava, o que foi algo stressante. Não testámos aqui na última sessão em que estiveram quase todas as equipas e isso criou alguma indefinição

O mais espantoso foi mesmo a forma como o campeão mundial evitou um ‘tralho’ descomunal ao melhor estilo da formiga atómica de Cervera, que é como quem diz, Marc Márquez. Estou muito contente porque nunca tinha feito um número de circo desta magnitude. Foi puro instinto. A frente fechou e dei por mim com a moto apoiada na bota e no deslizador. Foi puro ‘dirt track’ e nada que se treine. Depois de a endireitar, travei o mais que podia, entrei na gravilha e voltei a reentrar na pista. Pura sorte!
A ZX-10RR Ninja continua a ser a moto mais polivalente de toda a grelha, embora a YZR R1 tenha dado um passo de gigante, sobretudo na área em que todas parecem sofrer um pouco mais que as motos verdes oficiais, e que é sobre o asfalto muito quente. Com tantos tipos de pneus como o SC0, o SCX ou o novo SCX A0557 conseguimos manipular a moto de modo a tirar o máximo proveito, o que demonstra que a ZX-10RR trabalha bem numa vasta janela de opções.
Não obstante todas as vicissitudes e uma queda quase garantida, Rea consegue manter a compostura e, acima de tudo, manter-se na frente do seu arqui-rival da Ducati, Scott Redding. Vocês só perguntam pelo Scott, Scott, Scott… Francamente, há outros pilotos que vejo como os meus maiores opositores e acho que é desrespeitar o Toprak estar sempre a falar do Scott. O Michael destruiu-nos a todos em Misano. Sem dúvida que o Scott é mais um piloto para bater e no ano passado foi o meu maior rival, mas este ano é o Toprak que está em segundo. Contudo, num dia menos bom é fundamental terminar no pódio, como no sábado, em que não foi o meu talento que me colocou no degrau mais baixo, mas sim a sorte e uma grande ajuda de Deus.

De novo terceiro na corrida de Domingo, com o dia muito mais quente. A temperatura não subiu como esperado no ombro do pneu e faltou-me estabilidade. Sacrifiquei aderência no limite do pneu e consequentemente na capacidade de virar a moto, mas manter um bom comportamento na travagem. O Toprak estava com bom ritmo e senti que talvez conseguisse bater o Michael Ruben, mas quando ele acelerava para as três direitas era impossível passá-lo, apesar dos erros que estava a fazer na última esquerda de acesso à reta da meta. Podia atacá-lo depois da curva 1, mas assim que ele ‘engatava’ não era mais possível. Havia muita gente a andar rápido e sem cometer erros. Vi logo que ia pagar o mínimo erro. A ZX-10RR não é uma moto fácil de parar e virar, prefere fluidez e que se utilize a muita capacidade de tração que tem disponível e travagem a direito. Depois do erro de Sábado vi que não ia dar para muito mais e acomodei-me com o terceiro posto.
A equipa técnica e Jonny ainda pensaram em alterar a altura das mesas de direção para dar mais confiança na frente, mas sabíamos que isso nos ia penalizar nas mudanças de direção. Estava muito mediano a negociar as curvas 3, 5 e 6, o que me castigou muito e não me permitiu aproveitar os pontos onde eram mais forte, como a travagem para as curvas 1, 2 e 4. Tive alguns avisos, mas o Toprak e o Michael estiveram muito bem. Para conseguir o resultado tenho de estar em completa harmonia com a moto e não foi isso que aconteceu.

Louvor a Rinaldi e Razgatlioglu
O Michael esteve impressionante todo o fim-se-semana. O seu ritmo era impressionante e rodar em 1’33’’7 com pneus de corrida é igual ao que eu fiz na primeira qualificação. Isso mostra o que ele tem no ‘bolso’ e é capaz de fazer. Então o que faltou em Misano? A moto é muito pesada para mudar de direção. Tinha de lutar muito com ela nas cambiadas das curvas 1 à 5. Se fosse agressivo com ela, mexia-se muito e acusava muita transferência de peso entre a traseira e frente, além de perder em aceleração. Faltava-nos aderência no limite do pneu, mas a Ninja compensa isso quando a levantamos e tem muita tração no ombro do pneu traseiro.
Assiste-se a uma mudança geracional, com pilotos dez anos mais novos que Rea a quererem um maior quinhão da recompensa? Sim e isso é bom. Há muita malta no paddock que está aqui pela experiência que têm. Há míudos muito talentosos na ‘Supersport’ e na ’SSP300’ que merecem uma oportunidade para serem promovidos à categoria de ‘Superbike’. O ‘Manu’ Gonzalez foi impressionante em Misano e já mostrou ser um grande talento. Qualquer diretor e equipa privilegia a rapidez, mas muito perto desse critério vem a experiência. O Toprak e o Michael não são jovens, mas são ambos muito talentosos e os próximos campeões. Já questionado sobre os pilotos de MotoGP que vêm para a ‘Superbike’… prefiro não falar disso. Acho que está à vista de todos, é como comparar laranjas com maçãs. Mas fazem o Mundial de ‘Superbike’ ficar muito bem na fotografia (risos).

Donington deve adequar-se melhor ao nosso conjunto. É um traçado muito mais fluido. Posso formar uma peça única com a moto, ‘massajá-la’ ao longo da volta, como nos dois primeiros setores. E o último é um setor Kawasaki, em que paras a moto e aceleras. Acho que vamos ser fortes.
O chá está servido!
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