Joaquim Rodrigues Jr. carrega pouca bagagem na madrugadora chegada ao Aeroporto do Porto. Como curtos são os sonhos que transporta à partida para a oitava presença no Rali Dakar. Já a ambição, sempre enorme, seguiu no camião da Hero juntamente com as motos e equipamentos que vai envergar nas primeiras semanas de janeiro.
- Por: Paulo Ribeiro
Com a experiência acumulada em mais de três décadas de carreira, Joaquim Rodrigues Jr. tem sempre os pés bem assentes na Terra. O sofrimento acumulado num verdadeiro ‘annus horribilis’ obriga a cautelas redobradas à partida para a Arábia Saudita. No entanto, lá diz a sabedoria popular, depois da tempestade vem a bonança. Ou, como quem diz, depois de um ano terrível o seguinte só pode… ser melhor. O barcelense sabe bem o que é sofrer com lesões e recuperações, mas isso nunca lhe roubou a enorme determinação.
“O ano de 2023 foi realmente muito mau. Começou mal e terminou mal. Logo no Dakar, a queda à 4ª etapa ditou uma fratura no fémur da perna esquerda e mais de meio ano de recuperação física”. Mas Joaquim Rodrigues é daqueles que nunca desiste. E nove meses depois estava pronto para voltar à carga, apostando no Rally de Marrocos para aferir o estado da perna e ganhar ritmo. Mas o azar voltou e uma queda na véspera do arranque da prova marroquina do Mundial de Rally-Raid ditou nova lesão. Desta feita na omoplata!
Foram-se as lesões, veio a gripe
Agora, à partida para Paris de onde seguiu para Riad, Joaquim Rodrigues garante que está “100% recuperado das lesões, tanto do fémur como da omoplata”. Fisicamente em forma, JRod não se safou de um último contratempo num ano para esquecer! É que logo a seguir ao Natal, a dois dias da partida, começou a ter sintomas de uma fortíssima constipação, tornada em gripe, “com tudo a que se tem direito incluindo febre e dores na garganta e no corpo todo”.
“Já não chegava um ano sem competir, praticamente parado e fazendo apenas uns quilómetros de testes no Chile e em Marrocos, para agora ter este problema”. Mas para lá da gripe, logo atacada com paracetamol e antibióticos, há outra preocupação na mente do piloto lusitano. “Ainda assim, o grande problema vai ser o ritmo de competição. Ou melhor, a falta dele depois de um ano parado!”
Limitações que obrigaram a uma estratégia bem mais conservadora. “Há que ir devagar, devagarinho, sem correr riscos e pensar em chegar até ao final. Se isso acontecer, sem grandes contratempos ou azares de maior, até pode ser que dê para um lugar no top-10. Mas pensar em resultados e estabelecer metas nesta altura, depois de um ano sem correr, seria irrealista. No entanto, basta pensar que sem grande ritmo e sem brilhar em etapas, o Franco Caimi (ex-companheiro de equipa na Hero) terminou em 10.º na edição de 2023”.
Manter os ossos direitinhos
Para o único português inscrito nas duas rodas que sabe o que é vencer etapas no Dakar, “o importante é voltar com os ossos direitinhos que já chega de lesões, num ano que começou e acabou mal. Há que esperar que 2024, que agora começa, corra bem melhor. Assim andar com cuidado e procurar o melhor ritmo são os únicos objetivos possíveis” no momento da partida de Joaquim Rodrigues. Que acredita que “na segunda semana talvez esteja melhor, ainda que, se assim for, quando começar a rodar a um ritmo aceitável estará na hora de regressar”. Um regresso que, a concretizar-se a chegada a Yanbu, a 19 de janeiro, poderá nem ser direto para Portugal, antes com uma passagem pela Índia onde JRod tem o estatuto de piloto-estrela.