Está cumprida a estreia de Ivo Lopes no Mundial de Superbike como piloto oficial da Rokit BMW Motorrad WorldSBK. O português foi convidado pela casa de Munique para substituir o lesionado Michael van der Mark, de quem ‘herdou’ a moto e a respetiva equipa técnica. Sempre a deparar-se novas situações para aprender, como o caso da corrida ‘Superpole’ desta manhã, Lopes mostrou progresso em cada saída para pista, rolando junto com pilotos de créditos firmados e superando todas as expetativas, num campeonato de nível elevadíssimo.
- Texto: Fernando Pedrinho
- Fotos: Matteo Cavadini, Fernando Pedrinho
Com um treino de aquecimento e duas corridas para hoje, a chuva resolveu aparecer de uma forma inconsistente, para elevar ainda mais a fasquia de dificuldade na estreia do piloto luso. Ivo logrou uma excelente ligação com a sua equipa técnica, capitaneada por Markus Eschenberger e o engenheiro de eletrónica, Sébastien Jonkers, mas também com os mecânicos que não esconderam a boa surpresa que constituiu a participação do piloto apoiado pela marca bávara.
Não só não caiu como os tempos por volta e ritmo de corrida melhoraram de forma consistente. E tudo isto numa moto “nada fácil de pilotar”, confessava-me um dos seus mecânicos. O seu companheiro de equipa caiu na corrida de sábado e abandonou na de domingo, rodando sempre à vista de Ivo Lopes.
Ditar as mudanças necessárias na moto
Poderia esta estreia ter sido melhor? “Sim, porque eu quero sempre mais e quero estar na frente”, dizia Ivo com a sua habitual vivacidade e alegria. “Foi perfeito! Na sessão de aquecimento correu tudo muito bem. Efetuámos algumas modificações na moto a meu pedido. Isso foi bom porque significa que os técnicos entenderam o que queria. A moto esteve sempre muito dura e as suspensões não trabalhavam, sobretudo a traseira, afetando a durabilidade do pneu”.
Por isso, a equipa, onde a presença do técnico da Öhlins era quase permanente, colocou uma mola de menor constante, logo mais macia, “para fazer trabalhar mais a suspensão e aliviar muita da carga passada ao pneu”, revelou. “Assim que entrei para pista vi logo que a moto havia mudado completamente após as primeiras três curvas. A equipa ainda me questionou se seria pelas condições da pista [temperatura mais baixa e céu encoberto a ameaçar chuva] mas respondi que não, que eu era capaz de notar isso se fosse o caso”.
‘Sprint’ de Ivo Lopes no Mundial
A ‘Superpole race’ é sempre uma corrida difícil porque se trata de um autêntico sprint de dez voltas, “além de que tinha de arrancar detrás com muita gente na frente e por ter chuviscado antes da corrida”. Mas o contentamento no fim da corrida, em que terminou em décimo quinto, colado nos escapes de Bradley Ray (o campeão britânico de Superbike) era por demais evidente. Inegavelmente “foi muito positivo e fui muito rápido”. De fato, Ivo terminou a 14 segundos de Bautista e rolou em 1’42’’515 (quase o seu tempo que qualificação), perdendo uma posição mesmo no final “quando começou a chover e eu não queria cair”.
O foco principal estava na segunda corrida de Domingo, onde manteve a moto intocada “pois queria ser eu a adaptar-me mais à moto. A corrida foi, por um lado fantástica pois mantive o ritmo que tinha planeado. Senti-me bem, consegui entender a perda de rendimento do pneu traseiro e o que havia a fazer quando isso sucede”.
À frente de pilotos bem mais experientes
“Fomos rápidos e competitivos até o pneu acabar, pelo que não posso pedir muito mais”. Ivo terminou em décimo sétimo e mais uma curva teria conseguido passar Loriz Baz, que pilotava uma moto igual à sua mas da equipa Bonovo Action BMW, de Michael Galinsky e Michael Laverty. Deixou para trás nomes como os de Lorenzo Baldassari, Tom Sykes ou Isaac Viñales, e protagonizou novo duelo com Bradley Ray. Que pilotou a mais amigável Yamaha YZF-R1 da MotoXracing (não, não se trata da equipa de competição do vosso MotoX.pt).
Além disso, efetuou diversas voltas em 1’42’’, o ritmo necessário para andar com o grupo da frente, com natural exclusão das Ducati oficiais que desapareceram de todos no comando. “Foi importante mostrar que tenho capacidade para andar com estes pilotos, independentemente de ter muita ou pouca experiência com a moto. Os pilotos que andam aqui têm muita experiência, alguns vieram mesmo do MotoGP, pelo que saio de Barcelona muito contente”.
O regresso à realidade, em Valência
Ivo Lopes regressa ao campeonato espanhol de Superbike já no próximo fim de semana, com a corrida de Valência. É óbvio que esta experiência pode ser vista com um treino de altíssimo nível. “Foram mais quilómetros acumulados, mas o lado menos bom é que vou voltar a uma moto ‘nova’. É que passei aqui três dias com um M1000RR bem diferente da minha, pneus distintos e quando chegar a Valência vai ser outra realidade. Não vou cair na tentação de começar a mudar a minha moto de uma ponta à outra. Antes a ter calma e adaptar-me a ela”.
E para quando outra oportunidade?
Se os testes da BMW Motorrad para Misano, na próxima semana, deverão ser reprogramados ou mesmo cancelados, face à perspetiva de condições climáticas altamente inconstantes, também é quase certo que Michael van der Mark deverá falhar a próxima ronda, a ter lugar nesse mesmo circuito, no início de junho. Poderá estar no ar uma repetição da presença de Ivo no lugar do neerlandês? “Não se falou nada. O importante é agradecer à ROKiT BMW Motorrad WorldSBK pela oportunidade dada e se outra surgir cá estaremos”.
Em conversa posterior com o diretor do programa desportivo da BMW Motorrad, Marc Bongers, o mesmo confirmou estar muito satisfeito por esta oportunidade do piloto português. Mas não ficou claro que tal se possa repetir caso Michael não recupere a tempo. Independentemente de tudo, Ivo Lopes tem de estar muito orgulhoso pela imagem que deixou na sua passagem pelo Mundial de Superbike.