Gorou-se a expetativa criada em torno da possível estreia de Ivo Lopes no Mundial de Superbike. Foram várias as forças envolvidas nesse sentido, mas o esforço não deu os frutos esperados e teremos de esperar novamente para ver o piloto da Amadora a alinhar na série mais importante destinada às motos de produção.
- Texto: Fernando Pedrinho
- Fotos: Iván Terrón, Jorge Casais, WorldSBK e Fernando Pedrinho
MotoX.pt foi testemunha exclusiva da solicitação efetuada pelo presidente da FIM, Jorge Viegas, ao diretor desportivo da BMW Motorrad, Marc Bongers, no primeiro dia da ronda do Estoril. Sabemos, também, que o Autódromo Internacional do Algarve liderou esta missão, com envolvimento dos seus mais altos responsáveis, e que a Dorna, por intermédio de Gregório Lavilla, acedeu a fornecer os pneus e a inscrição. FIM e BMW Portugal eram as restante entidades envolvidas numa moto que seria trazida pela equipa que participa no Mundial de Resistência, baseada na Bélgica e capitaneada pelo nosso velho conhecido, Steven Caesar.
Fomos ao encontro de Marc Bongers, que nos deu a perspetiva vista do lado da BMW Motorrad. “É verdade que o presidente Jorge Viegas gostaria muito de ter um piloto português a participar na prova de casa, mas há muitos detalhes de organização a ter em conta”, referiu o neerlandês.
“Seria ingénuo pensar que se coloca um piloto em cima de uma moto destas e o resuldato sai de imediato. Olha para o Jake Gagne que sagrou-se bicampeão norte-americano de SBK, alinhou nesta prova com a sua equipa e moto e classificou em décimo sexto. É tão difícil! O Ivo participa no campeonato espanhol de SBK na equipa do Ilya [Mikalchik] que está bem acima dele na classificação [o ucrâniano é terceiro, a 60 pontos do líder, Esteve ‘Tito’ Rabat, enquanto o luso ocupa o sétimo lugar da geral, a 74 pontos do seu companheiro na BMW [Easyrace Team], mas tenho de admitir que este último tem melhor apoio dentro da equipa. O próprio Ilya sentiu dificuldades na duas oportunidades que teve de alinhar neste campeonato, mesmo tendo direito a quatro dias de preparação com a moto com que acabou por alinhar. Fez sétimo em Aragão, numa altura em que o [Scott] Redding ainda andava perdido”. Os resultados do ucraniano, não foram além de décimo quinto, na segunda corrida de Aragão e de Most. Além disso, olha para a ronda britânica, em Donington, onde [Tarran] Mackenzie, campeão em título, alinhou mas ninguém o viu [terminou em décimo quarto e décimo quinto nas duas corridas]”.
“É certo que se trata de um piloto português a querer correr perante o seu público, mas para nós traduz-se num enorme esforço de meios e custos. Por isso, ou é bem preparado, com dois dias de testes com a moto que vai alinhar, ou não se deve fazer. Eu sei de um piloto a quem foi oferecido para alinhar como ‘wildcard’ em Portimão, noutra marca, mas que recusou se não tivesse um plano de preparação bem claro, pois não queria fazer uma triste figura. Estas oportunidades não surgem muitas vezes, pelo que quando acontecem devem ser bem preparadas”.
A BMW Motorrad chegou mesmo a colocar uma oferta na mesa [sabemos que foi na casa das dezenas de milhares de euros]. “Nenhuma das equipas que participa no Mundial de Superbike [no caso da BMW, a SMR, de Shaun Muir em representação da equipa oficial, e a MGM, de Michael Galinski e com as cores da Bonovo Action], poderia disponibilizar uma terceira moto. É logisticamente impossível. Seria a equipa de resistência que iría assegurar a presença do Ivo em Portimão, com um custo elevado como se pode imaginar. Ainda assim, se a FIM, o AIA e a BMW Portugal quisessem suportar esse esforço com uma contribuição da nossa parte, estariamos dispostos a fazê-lo [uma vez que a Dorna foi a primeira a concordar fazê-lo]”.
As pessoas não entendem o nível de competição deste mundial
Bongers nunca se cansou de referir o elevado nível de competição que se vive no Mundial de Superbike desde há muito tempo, que não deixa qualquer margem para os ‘local heroes’ brilharem nas provas caseiras. “Um piloto que tenha corrido em superbikes a nível nacional até pode ter vantagens por correr numa pista que, em teoria, conhece melhor que os estrangeiros. Ao fazê-lo, nessa mesma pista mas no Mundial de Superbike, não terá a mínima hipótese de um resultado de relêvo. As pessoas subestimam o nível que se vive neste campeonato. Quando és o heroi local e vences o campeonato nacional, por certo terás talento. Mas quando passas para o Mundial de Superbike, o talento não é uma vantagem mas antes uma condição necessária, juntamente com a capacidade de trabalhar no duro, afinações precisas e toda a uma série de outras variáveis.
Para Marc Bongers a decisão de substituir a categoria de ‘Superstock 1000’ pela ‘Supersport 300’ não foi a melhor. “Era uma categoria que permitia juntar todo o talento dos campeonatos nacionais e ter estes jovens pilotos a correr nas mesmas pistas com os pilotos de Superbike, ao mesmo tempo que ficavam debaixo do radar das equipas e construtores que disputavam o Mundial. Os melhores pilotos poderiam ter uma oportunidade de ascender no final da época, como sucedeu com o [Markus] Reiterberger, o [Michael Ruben] Rinaldi, ou o [Lorenzo] Savadori que foram todos campeões europeus, ou o Troprak [Razgatlioglu] que também por lá passou, e conseguiram um lugar no Mundial. Agora, o que se vê é os pilotos a ascenderem da Moto3 à Moto2, depois MotoGP para virem depois para Mundial de Superbike”.
E muitos pilotos que passam do MotoGP para o Mundial de Superbike têm percebido que não se trata de um ‘passeio no parque’, mas antes um ‘reality check’ que pode ser bem árduo de digerir. “Se tu dizes isso, então imagina o que aconteceria se o Ivo alinhasse sem qualquer tipo de preparação… Eu prefiro dizer não para proteger estes pilotos, mas ao mesmo tempo não tenho nada para oferecer que lhes permita aceder e crescer neste campeonato. É muito difícil!”.
A experiência de um ‘wildcard’
“Eu lembro-me da experiência porque passou o [Markus] Reiterberger no ‘wild card’ que realizou em Nürburgring, em 2013”, recordou Marc Bongers. “Ele passeava todo ‘inchado’ pelo ‘paddock’, porque era o herói nacional, e ao fim de cinco voltas da FP1 entrou na boxe com os braços paralisados pelas cãibras. No IDM [o campeonato alemão de Superbike] entrava, olhava para a paisagem e quando lhe apetecia fazia o tempo de qualificação. Agora olha para o ‘Jonny’ Rea: sai da box e na primeira volta e ‘bang’: faz logo um ‘tempaço’. Voltando ao Reiterbeger, no regresso às boxes estava em estado de choque, pela forma como os pilotos do mundial o passavam por ambos lados. Há detalhes neste campeonato que não podem ser subestimados e que me levam a não recomendar a participação de um piloto para o proteger. Afinal de contas, recebemos pedidos deste tipo de todos os países. Um ‘wildcard’ só deverá acontecer quando tivermos a certeza de que o podemos preparar da forma correta”.
Esperamos, por isso, que os ‘astros’ se alinhem e possam proporcionar ao piloto português uma participação condigna e com condições que lhe permitam explanar todo o seu talento e capacidade no palco mais importante destinado às motos derivadas de série já no próximo ano.
De Madrid a Portimão de BMW K1600GT
Desde o AIA ao Alvôr e outras praias algarvias, a K1600GT tem evoluído com toda a compostura e facilidade pelas sinuosas estradas do barrocal algarvio. Marc Bongers, da BMW Motorrad e o restante staff do construtor bávaro ficaram surpreendidos com a nossa viagem desde a capital espanhola até ao circuito portimonense.
Bongers conhece bem a K1600GT e chegou a rodar em pista com a versão ‘bagger’, como a Road America, que o deixou impressionado pela rapidez e dinâmica. ‘En passant’, até comentámos o interessante que seria a participação no ‘King of the Baggers’, do MotoAmerica, mas neste momento a série está ‘blindada’ a fabricantes norte-americanos e motores de dois cilindros.
A K1600GT parece um autêntico íman e nos locais onde a estacionámos muita gente apareceu a questionar o seis inscrito nas laterais do motor ou outros, mais bem informados sobre este modelo, surgiram com as mais variadas questões e comentários, que têm tornado a convivência com esta moto numa experiência bem divertida. Sobretudo quando se pulsa o motor de arranque e se dá voz ao barítono de seis cilindros…