A presença de Ivo Lopes no Algarve é a segunda oportunidade do português Mundial de Superbike. Um regresso saudado ainda que não na equipa que muitos esperariam. Oportunidade surgida tardiamente, apenas no decorrer desta semana, que traz o piloto da Amadora de regressa ao palco do mais importante campeonato dedicado às motos de série.
- Texto e fotos: Fernando Pedrinho
Como é seu hábito, a primeira coisa que fez Ivo Lopes no Algarve foi tentar perceber a sua montada, que tripula pela primeira vez. E em apenas duas sessões livres, conseguiu bater o seu companheiro de equipa por meio segundo. Com uma moto que é sobejamente conhecida por não ser a mais competitiva da grelha.
Foi com surpresa que o telefone de Ivo Lopes tocou na passada terça-feira. Tarran Mackenzie, da Petronas MIE Honda Racing, não havia obtido aprovação médica para alinhar na prova algarvia, a primeira passagem das SBK em Portugal. A CBR1000RR-R Fireblade do escocês estava livre e a equipa liderada por Midori Moriwaki necessitava de um piloto de última hora para o substituir, lesionado na passagem por Donington.
O mesmo havia sucedido em Most, na Chéquia, com o norte-americano Hayden Gillim e o argentino Leandro ‘Tati’ Mercado a alinharem como pilotos de substituição do duo magoado. “Nem imaginas a confusão que foi trazer o Gillim do Kentucky para a República Checa”, dizia-me Heather Watson, uma velha conhecida do ‘paddock’ e que agora tem a responsabilidade de comunicação das equipas Honda no Mundial de Superbike.
BMW autorizou Ivo Lopes no Algarve
Para ver Ivo Lopes no Algarve precisou da autorização da BMW para alinhar, ele que vinha de uma prova do campeonato espanhol de Superbike há pouco mais de duas semanas. “Falámos com as que pessoas com que tínhamos de falar e não houve qualquer problema”, revelou Ivo. “Aliás, quero agradecer-lhes por isso, pois sabemos que é outra marca, outra moto e outro campeonato, mas o meu sonho é um dia ser parte integrante desta grelha”, confessou. “Pediram-me apenas que me divertisse e fizesse o melhor ao meu alcance, pelo que venho sem expectativas mas querendo sempre mais”.
Lopes tinha todo o meu material em Espanha e foi um amigo que o trouxe para o Algarve no dia das verificações. E o que se viu na pista da Mexilhoeira Grande foi uma repetição do Catalunha Barcelona, quando se estreou no campeonato como piloto oficial, em substituição de Michael van der Mark. Ivo integrou-se bastante bem com Mick Shanley, o director técnico de Tarran Mackenzie e o seu engenheiro de dados. “Estou muito grato por estar aqui e não me acho mais do que os outros. Falei muito com a equipa e transmiti-lhes a minha ideia sobre a moto. Eles foram muito simpáticos para comigo e sabem da dificuldade que é andar com uma moto deste campeonato, porque os pilotos que têm pilotado a Fireblade têm-se deparado com diversos problemas. Sei que não vai ser fácil!”
Moto completamente diferente
Ivo Lopes tem por base de comparação as motos muito menos desenvolvidas com que corre em Espanha e Portugal, mas também a experiência inolvidável de pilotar a M1000RR no ano passado. “Esta Honda é completamente diferente”, confirmando o que se esperava ouvir. “Já o é numa configuração ‘stock’, quanto mais na versão ‘Superbike’. É como se subíssemos dois patamares distintos. As motos deste campeonato são algo mais rígidas, com suspensões e braço oscilante distintos, e com muita potência. Relativamente à M1000RR, a BMW é mais larga e a frente está mais apoiada no asfalto. A Honda é mais fina e com mais movimentos que criam um pouco mais de instabilidade”.
Mas o que é particularmente difícil na Fireblade, por comparação com as mais amigáveis Yamaha, Kawasaki e até as eficazes Ducati? “Eu venho ainda algo preso por estar mais feito a outra moto e categoria. A maior dificuldade que senti foi fazê-la entrar em curva, ou seja nas mudanças de direção. Melhorámos para o segundo treino mas o problema persiste”.
Um quadro a exigir mudanlas
Uma questão de construção do quadro ou mais simples de resolver? “Acho que é uma questão de afinação”, disparou. “A moto é fácil e intuitiva. É uma verdadeira moto de corrida mas há que achar as afinações que mais se encaixem na tua pilotagem”.
Ivo Lopes no Algarve começou por rodar no segundo 44 na primeira sessão de treinos livres, logo mais lento que as Supersport mais rápidas no AIA. Mas acabou no segundo 43’5, deixando o seu companheiro de box, Adam Norrodin, a meio segundo de distância. “Eu não conheço o limite da moto nem o meu limite com ela, o que influi nos teus níveis de confiança” disse. “Há que descobrir esses limites e os pedidos de alterações que transmiti à equipa foram bons porque baixei quase sete décimas. Trabalhei num aspeto básico, que gosto muito na minha moto e que se prende com a transferência de massa na travagem e aceleração. De início senti a moto muito baixa e não tinha qualquer sensação com ela, da frente em particular”.
Algo que se podia resolver com a regulação de altura? “Sim, exatamente! Subimos a traseira e foi um passo de gigante. Tanto assim que entrei com pneus usados e efetuei logo a melhor volta do treino da manhã onde tinha utilizado pneus novos. Também tenho de alterar um pouco a minha pilotagem, pois nesta Honda o travão motor é muito diferente da minha BMW. Eu gosto de ter muito efeito de travão motor, mas com esta eletrónica não é possível obter tanto desse efeito como desejaria. Acho que os pilotos e a equipa sofrem um pouco por não o ter no nível requerido, sobretudo na última parte do traçado. Isso obriga-nos a utilizar muito o travão traseiro, algo que eu não gosto em particular”.
De olho nas oficiais?
Sonhar não custa, porém Ivo Lopes tem os pés bem firmados no chão e já entendeu a tarefa hercúlea que tem pela frente. “Vou para a corrida sem expetativas”, rematou de forma sincera.” Vou tentar arrancar bem e ir com o grupo dos pilotos Yamaha que andam mais atrás. Esta malta tem muitos mais quilómetros com estas motos e isso notou-se perfeitamente nalgumas rodas que consegui seguir em pista. E o facto de jogar em casa não me ajuda nada, porque Portimão é um traçado nada fácil, sobretudo se tens de lutar com a moto e ainda estás a descobri-la. Eu já entendi onde perco e ganho e vamos tentar mudar isso com a equipa. O que apenas posso pedir é chegar ao segundo 42 alto no FP3, o que já seria bastante positivo para mim.
E as oficiais? “Eu sou muito realista e tenho perfeita noção da diferença de quilometragem e horas em cima da moto face ao pelotão Honda. A equipa oficial parece ter encontrado algo para aqui, pois eles estão a andar um pouco mais à frente do que é habitual”.
Ivo andou com os Pirelli SC1 e SC2 na dianteira. Com o mais duro sentiu algumas dificuldades, “sobretudo no ângulo de inclinação máximo em curva, com a frente a escorregar, mas sem fechar, algo que não aconteceu com o SC1, o que foi muito positivo”.
Ivo Lopes no Algarve a descobrir como travar
O novo recruta da Petronas MIE Racing teve ainda de se adaptar à travagem Nissin e às suspensões da Showa, mais um nível de dificuldade para superar. “Eu já tinha testado os travões da Nissin em sessões de com a BMW, em 2021 e 2022, e gosto bastante. Já sobre as Showa não consigo dar uma sensação tão clara porque é tudo diferente nesta moto. Se já tivesse andado de Fireblade com Öhlins poderia ter um termo de comparação, mas não é o caso”.
“Para já, vejo que é possível travar muito forte no primeiro ponto da travagem, mas as suspensões recuperam demasiado rápido. Do que os pilotos que aqui andam se queixam mais é da última parte do curso. A suspensão dianteira não afunda como queremos nessa derradeira fase. A forquilha parece ter um travão que impede mais afundamento. Eu não senti tanto, mas parece ser esta a queixa mais generalizada sobre a Showa”.
Haverá mais uma novidade de Ivo Lopes no Algarve sobre o regresso ao Mundial de Superbike, mas que apenas podemos revelar no domingo!